quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Quando a bolha estoura

As crises financeiras vão e voltam como as estações do ano, sempre repetindo o mesmo roteiro.
William Cirilo Teixeira Rodrigues
De uma hora para a outra, a crise bateu. A bolsa de valores, que não parava de quebras recordes de alta, despencou. Dinheiro virou coisa rara no mercado. Empréstimos minguaram e todo mundo passou a gastar menos. Aí piorou de vez: sem crédito nem clientes, empresas que até outro dia tinham seus maiores lucros na história não conseguiram mais equilibrar as contar. De cada 100 companhias, 72 fecharam as portas. E as que resistiram perderam valor no mercado.(...)
Pode até parecer uma notícia referente à mais recente crise financeira, mas tudo isso aconteceu em 1967, na Inglaterra. O governo precisou intervir para colocar rédeas no mercado financeiro depois que uma bolha de crescimento econômico estourou e deu lugar à maior crise financeira da história até então. As semelhanças entre esse mundo de 300 anos atrás e o de agora deixam claro: a última crise não tem nada de nova nem significa o fim do capitalismo. As crises de hoje são maiores porque não há mais fronteiras econômicas como no séc.XVII. Mesmo assim, seguem o roteiro de outras dezenas de bolhas econômicas que estouram ao longo da história.
O mercado moderno, com empresas controladas por milhares de acionistas, começou na Holanda, em 1602. Foi quando a Companhia das Índias Orientais, que comercializavam especiarias, dividiu sua propriedade em partes iguais e minúsculas (as ações) para financiar com mais facilidade suas empreitadas marítimas. Todo mundo dividia as despesas na hora de comprar as ações e tinham direito a uma parcela do lucro. Era um negócio de risco: ninguém sabia qual seria o lucro de uma expedição. Se os barcos demorassem para voltar do Oriente, algum acionista podia achar que eles afundaram e tentar vender sua participação na companhia antes que ela própria afundasse. Aí o jeito era vender por um preço menor que o original. Agora, quando vinha a notícia de que os barcos estavam chegando carregados, a expectativa ia lá pra cima e as ações podiam ser vendidas por um preço bem maior.
A febre das ações chegou com tudo na Inglaterra no final daquele mesmo século XVII, graças a um certo capitão de navio chamado William Phillips. Em1687, ele voltou de uma viagem com 32 toneladas de prata e baús de jóias retirados de um navio espanhol que naufragara. Isso rendeu 190 mil libras (R$ 105 milhões em valores de hoje) para dividir entre os financiados da expedição o que assegurou um retorno de 10.000%. Inspirados no sucesso dessa empreitada, surgiram dezenas de projetos de caça ao tesouro que lançaram ações no mundo. O dinheiro rolou solto durante a fase do entusiasmo, mas logo se chegou à conclusão de que não havia tantos tesouros assim no mar. As ações das expedições despencaram, contrariando a expectativa  exageradamente otimista de que subiriam para sempre. Quando veio a queda, o resto também desmoronou. Muita gente ficou sem dinheiro para pagar dívidas e credores levaram calote.
Apesar do baque, contudo, a euforia do séc. XVII serviu para construir o mundo a que você está acostumado. Graças ao “cassino” das ações, a Companhia das Índias pôde financiar e inventar o comércio global. A especulação ajudou a bancar também a Revolução Industrial, para citar outro momento crucial da história. De crise em crise, a história continua a ser escrita.
Os passos de toda crise.
1. Olha a onda: Novas oportunidades de investimento (internet, imóveis, etc) criam chance de lucros cada vez maiores no mercado.
2. Euforia: Quanto mais lucro se espera, mais ações sobem. Investidores novatos entram no negócio.
3. Fase maníaca: Companhias novas lançam ações para aproveitar a euforia. Pessoas e empresas fazem fortunas da noite para o dia. O crédito é facilitado.
4. Estouro da bolha: As expectativas de lucro não viram realidade. Investidores fogem. Bancos tomam calote. O crédito some, a economia trava. E vem a crise.

Matéria retirada da revista curso preparatório Enem 2011 ed abril. Adaptada da Superinteressante 16/10/2008

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