domingo, 14 de abril de 2013

Sete Perguntas e Respostas Sobre O Príncipe de Maquiavel.



Por: William C.T. Rodrigues
1) Como Maquiavel define política? Quais suas principais características?
Antes de Maquiavel, os tratados sobre política eram todos envoltos em uma moral cristã, sendo a única maneira concebível de se governar propostas por leituras de textos religiosos. Ele rompe com a tradição, separando a moral da política. Se antes o príncipe era um coadjuvante na política frente ao poder do deus cristão, agora o soberano tornou-se atuante sendo quase como uma divisão das ações, o que foi um grande avanço.
O livro, escrito de maneira bem organizada e direta, funciona quase como um guia de autoajuda aos governantes, explicando passo-a-passo a melhor maneira de manter no poder.
2) Discorra acerca da virtú e fortuna, no âmbito dos valores e práticas que devem ser trabalhadas pelo Príncipe.
Dois conceitos muito utilizados dentro da obra de Maquiavel são virtú e Fortuna. Virtú pode ser entendido como força, potência, merecimento ou competência de um governante em conquistar ou/e manter o poder fazendo o que for preciso, diante das necessidades, para alcançar um objetivo. Já fortuna pode ser entendida por sorte alguém que por força do acaso (ou de Deus como cita Maquiavel) conquiste o poder ou/e o mantenha graças aos acasos do “destino”.
3) Caracterize os tipos de principado apresentados por Maquiavel, os modos como estes são formados (ou usurpados) e estabeleça uma comparação entre eles.
Para Maquiavel existem duas formas de Estado: a república ou o principado. O autor simplesmente ignora a primeira e se atém somente ao principado. Esses principados podem ser hereditários (um príncipe torna-se rei após a morte do pai) ou novos. Os principados novos podem ser recém criados ou anexados pelo príncipe. Entre os principados anexados pode haver os principados que já estão acostumados com o príncipe anexador (como no caso de um casamento real em que as coroas se unem), ou livre e teve que ser conquistado a força. Essa conquista pode ter sido feita com tropas próprias do príncipe ou com tropas “emprestadas” de outro soberano.
Ou seja, existem basicamente dois tipos de principados, os hereditários e os anexados. Manter um principado hereditário é basicamente simples, pois o príncipe herda além do reino a lealdade dos súditos de seu pai. Já a conquista e em especial a manutenção de outros principados é mais complicada e requer uma grande virtú por parte do príncipe conquistador.
4) Sheldon Wolin afirma que os teóricos políticos em suas análises refletem sobre a seguinte indagação: “¿Qué tipo de conocimiento necesitan gobernantes y gobernados para que se mantenga la paz y la estabilidad?”. A partir dessa premissa desenvolva uma resposta sobre as lições que Maquiavel apresenta para o príncipe no que se refere à tomada de poder e sua manutenção?
Para Maquiavel o príncipe deve, após tomar o poder, procurar de todas as formas mantê-lo. Para isso o autor defende o medo como arma de lealdade, pois, o amor pode em pouco tempo se transformar em frustração enquanto o temor é “mantido pelo receio do castigo”. Entretanto, o príncipe deve evitar de todas as maneiras cabíveis ser odiado por seus súditos. O ódio do povo ocorre quando se ataca a honra e a propriedade destes, salvo isto, um príncipe pode seguir reinando, sendo temido por seus súditos mas não odiado por eles.
5) No capítulo XXVI o autor escreve “Não se deve, pois, deixar passar esta ocasião, a fim de que a Itália conheça, depois de tanto tempo, um seu redentor”. Relacione a afirmação com o contexto das cidades italianas na época de Maquiavel e a centralização da autoridade.
A Península Itálica no tempo de Maquiavel não era como nós a conhecemos hoje, ocupada por um Estado-nação chamado Itália, unificado econômica e politicamente, que tem como língua oficial o italiano, etc. O próprio conceito de Itália não era relevante, o que existia durante a vida de Maquiavel na península itálica eram diversos pequenos Estados- que não raramente guerreavam entre si- de culturas diferentes, línguas diferentes, etc.
Entre estes Estados, os mais poderosos eram, o Reino de Nápoles, os Estados Pontifícios, a República de Veneza, o Ducado de Milão e o Estado Florentino, local de nascimento de Maquiavel.
Tudo isso envolto em meio à aura de renovação concebida pelo Renascimento, forma o contexto em que Maquiavel concebeu sua obra. Ao final de sua obra ela clama aos Médici que tomem o poder em toda a Itália. Para o autor a península chegou a um ponto de extremo caos necessitando de um novo e único príncipe, capaz de colocar toda a região em ordem.
6) Para você qual o capítulo ou os capítulos mais importantes da obra? Justifique sua resposta.
A meu ver, o capitulo XVIII pode não ser o mais importante da obra, nem o mais original. Mas ele resume em algumas poucas palavras todo o espirito da obra. Sempre que ela é evocada, vem à tona a máxima de Maquiavel de que os fins justificam os meios e é justamente neste capítulo que ela se apresenta da seguinte forma “nas nações de todos os homens, principalmente os príncipes, o que importa são os fins e, sejam quais forem os meios empregados, serão sempre honrados e louvados”.
7) Identifique os elementos presentes em “O princípe” retomados pela teoria realista das Relações Internacionais.
Em Relações Internacionais, o pensamento de Maquiavel foi, posteriormente, “adotado” pela teoria realista. Quem tem o Estado como figura central nas relações entre os diversos países. No realismo a ideia de guerra inevitável permeia toda a corrente, ou seja, os conflitos bélicos entre os Estados é algo inevitável, as relações geram conflitos e estes conflitos, invariavelmente, terminam em disputas bélicas.
Maquiavel, que acredita na maldade inerente do homem, afirma que guerras somente podem ser postergadas – e sempre em beneficio do adversário – e não evitadas. 

sábado, 13 de abril de 2013

Resenha do livro A Democracia na América de Alexis de Tocqueville.


Por: William C. T. Rodrigues
Em 1831 os aristocratas Alexis de Tocqueville e Gustave de Beaumont foram aos Estados Unidos, sob o pretexto de estudar o sistema prisional norte americano. Inspirados pelos boatos de que neste país as instituições “garantiam a felicidade” do homem comum partiram rumo ao pedaço anglo saxão da continente americano. Onde ambos ficaram por cerca de nove meses e anotaram tudo o que puderam sobre esta nova sociedade, sua economia e seu sistema político único no mundo.
A política americana exerceu fascínio imediato sobre Tocqueville, em especial a participação das pessoas comuns no processo político. De volta à França e com base em seus escritos, lança em 1835 o volume um do livro Da Democracia na América.  Livro que visa abordar os EUA dos anos 30 do século XIX, suas virtudes e seus defeitos. Utilizando-a como exemplo para a recém-formada II República Francesa.
Tocqueville foi um pensador extremamente precoce. Oriundo de uma família da antiguíssima nobreza normanda, nasceu em Paris em 1805 e com apenas 26 anos empreendeu a viagem que foi o marco intelectual de sua teoria política.
No primeiro volume de A Democracia na América, o autor trata das leis e costumes. E deixa claro que para ele não cabe à República Francesa copiar a República norte-americana, pelo contrário, “a República Francesa deve ser diferente, mas os princípios de ordem, de ponderação dos poderes, da liberdade verdadeira, de respeito sincero e profundo ao direito são indispensáveis a todas as Repúblicas”. Ou seja, a França deveria aprender com os Estados Unidos, mas construir sua própria democracia.
Logo no prefácio de seu livro, Tocqueville deixa claro o que lhe deixou mais encantado sobre a sociedade norte-americana: a igualdade de condições. Diferente da França pré-revolucionária, onde os homens eram determinados a viver conforme a origem de seu nascimento, os EUA apresentavam um estímulo ao desenvolvimento pessoal e consequentemente a própria democracia.
Segundo ele, esta igualdade de condições e esta democracia – única no mundo - podem ser explicadas através da origem dos anglo-americanos. Pois, os imigrantes que fundaram este novo país, apesar de diferentes entre si, possuíam diversos aspectos em comun. Tocqueville aponta três fatores determinantes para o surgimento destas novas instituições em solo americano. 1) os pais fundadores desta nova nação eram provenientes de uma Inglaterra marcada por lutas políticas e religiosas, e assim aprenderam a amar a liberdade. 2) são contemporâneos da ideia de governo comunal, o germe das instituições livres, com as ideias de soberania do povo. 3) ao chegar a América perceberam a impossibilidade de implantação de uma aristocracia territorial no novo mundo, pelo fato, de uma inicial impossibilidade de administrar imensos pedaços de terra.
A combinação destes princípios, com a educação possuída por estes pioneiros foi determinante para o desenvolvimento das instituições democráticas estadunidense. Pois, diferente das outras colônias americanas, povoadas por desterrados incultos, católicos e miseráveis, os EUA foram povoados pela classe média puritana Inglesa.
Chegando a América, estes gozaram de extrema liberdade e independência política. Nomeavam magistrados, estabeleceram regulamentos de polícia e promulgavam leis com base em seus textos sagrados para si mesmos. Junto a isto, as leis políticas eram extremamente democráticas e abertas à participação popular real e ativa. Fato que leva Tocqueville a compará-la com Atenas.
A religiosidade é algo muito presente nas instituições da Nova Inglaterra, pois para os puritanos “satanás tende a manter os homens na ignorância das escrituras”, e para evitar tal fato a educação é obrigatória a todas as crianças. Tocqueville percebe então, que “na América, é a religião que conduz ao saber; é a observância das leis divinas que conduz o homem à liberdade”.
É interessante o fato, de como a sociedade anglo-americana consegue combinar dois elementos tão contraditórios, quanto religião e espírito de liberdade de forma tão plena, que ambos parecem reforçarem-se. “A religião como salvaguarda dos costumes; os costumes, como a garantia das leis e penhor da sua preservação”.
A situação social dos cidadãos dos EUA é marcada por seu caráter democrático e igualitário. Um exemplo é que diferentemente da Europa, onde não existe a partilha da terra entre os filhos – cabendo somente ao primogênito à posse da terra – o que cria um vínculo familiar com a terra favorecendo a manutenção da aristocracia, nos EUA a terra é dividida igualitariamente entre todos os descendentes, destruindo a relação familiar com a terra e garantindo a rotatividade da mesma. A própria inteligência dos anglo-americanos é igualitária (não existindo nem eruditos, nem completo estúpidos), estabelecendo-se ali um nível mediano. A educação primária para todos garante o mínimo de conhecimento necessário para a participação política dos cidadãos. Em nenhum outro país os homens são tão iguais em fortuna e em inteligência como nos EUA.
Na política isso significa a garantia da manutenção da soberania popular da igualdade e da liberdade. Sendo esta soberania popular um eco dos costumes garantido pelas leis políticas. As leis que surgem nos EUA, não são externas a sociedade, mas debatidas e compostas pelo próprio povo através dos agentes do poder executivo, ou seja, a representatividade nos EUA é algo que garante o poder popular.
Outro sistema politico norte-americano que chamou a atenção de Tocqueville foi o sistema de federação que dá nome ao próprio país. Na época eram 24 estados quase independentes, que juntos davam corpo a União. Dentro dos estados, o poder político era descentralizado em comuna, condado e poder estadual a fim de garantir uma melhor abrangência e participação política. A comuna representa o poder local, é lugar onde se desenvolve a participação direta dos cidadãos, o condado representa o poder judiciário com sua corte de justiça, seu xerife executor das leis e um prisão para os criminosos. Por fim, o estado representa o poder legislativo dividido entre senadores e representes. Ao governo federal cabe a paz, a guerra, o comércio internacional, regular o dinheiro, os correios, etc.
Tocqueville se debruça sobre quase todas as instituições políticas norte-americanas. Como sua constituição altamente mutável, as atribuições dos poderes, atc.
Esta sociedade lhe apresenta regras, modelos, hábitos, que o levaram a considerar a democracia americana como um sistema político singular. Sendo este o único regime político capaz de proporcionar liberdade de expressão, de crença, de mobilidade social, de liberdade (livre arbítrio) e igualdade de condições para participar do jogo democrático.
O sistema político americano é, portanto, um regime democrático por excelência, uma vez que os membros dos três poderes são escolhidos através do sufrágio universal realizado frequentemente. Frequência esta, que garante a limitação e a rotatividade do poder. A vontade da maioria constitui a verdadeira força de um Estado Democrático, no entanto, o autor alerta para o fato de que, deve se tomar cuidado para que em um determinado momento a vontade da maioria não se torne ditadura para a minoria.
Por fim, Tocqueville apresenta as três principais causas de sustentabilidade da república americana: 1) condições geográficas (território americano); 2) a existência de boas leis; 3) hábitos, costumes e crenças (estes vão se repetindo durante os anos, caso sejam viáveis e aprovados pela maioria são conservados). Entretanto, estes três sustentáculos da sociedade americana, apenas obtém estabilidade graças ao sufrágio universal e a crença no princípio de igualdade política.

Tocqueville demonstra de que forma o Estado norte-americano é resultante da vontade de participação, de autonomia dos seus cidadãos desde os primeiros momentos do processo de colonização. E que os EUA de hoje não é obra do acaso, mas o resultado de um povo que desde seus primórdios tomou-se a si mesmo como objeto, e procurou compreender sua condição e afirmou sua vocação é a liberdade. (Deluca, Bazzanella, 2012)

Podemos dizer, que Tocqueville escreveu para uma burguesia francesa recém-chegada ao poder, ansiosa por estabelecer um sistema político que seguisse o rumo de seus interesses, e a democracia norte-americana com sua mobilidade social, igualdade de oportunidades e sufrágio universal é exatamente o que ela buscava em sua luta contra o Antigo-regime. Ou seja, pode-se dizer, que “a democracia é a forma mais adequada para responder aos interesses da emergente burguesia” (Deluca, Bazzanella, 2012)
Bibliografia:
DELUCA, D. BAZZANELLA, S: A Democracia na América Revista Brasileira de Educação e Cultura – ISSN 2237-3098. Centro de Ensino Superior de São Gotardo. Número V Jan-jun 2012.
TOCQUEVILLE, Alexis: A Democracia na América. ed Martins Fontes, São Paulo-SP, 2º ed. 2005.
Sites: