domingo, 15 de maio de 2016

Fichamento: "A Interpretação dos Sonhos" de Sigmund Freud. Cap 05

Considerado o maior trabalho de Sigmund Freud (1856-19390), "A Interpretação dos Sonhos" é o livro que inaugura a era da psicanálise. Neste estudo, o Mestre de Viena apresenta uma instância da mente que era,até então, ignorada: o inconsciente. Esse pressuposto foi o estopim de uma revolução teórica que permeou o debate sobre o comportamento humano no século XX.
(P.97) Cap. V: O material e as fontes dos sonhos.
(P.98) Freud trabalhou em seu primeiro capítulo com as três características da memória nos sonhos:
1) Os sonhos mostram, preferencialmente, impressões dos dois dias anteriores;
2) Fazem sua escolha com base em diferentes princípios de nossa memória de vigília, já que não relembram o que é essencial e importante, mas o que é acessório e despercebido;
3) Têm a sua disposição as impressões mais primitivas da nossa infância e até fazem surgir detalhes desse período de nossa vida que, parecem triviais no estado de vigília e que acreditávamos ter caído no esquecimento à muito tempo.
A) Material recente e irrelevante nos sonhos.
Em todo sonho é possível encontrar um ponto de contato com as experiências do dia anterior. Sendo assim, é possível começar a interpretar um sonho procurando um acontecimento da véspera que o ocasionou.
(P.99) Os acontecimentos da véspera podem funcionar como instigadores e puxar lembranças de um passado longínquo para o sonho. Ou seja, um acontecimento recente pode funcionar como um gatilho para que o inconsciente selecione seu material em qualquer parte da vida do sonhador, contanto que haja uma linha de pensamento ligando a experiência do dia do sonho (as impressões recentes) com as mais antigas.
 (P.106) Outro ponto interessante é que não é um fato recente vivido que estimula o sonho. Mas uma lembrança trazida à tona por um devaneio, por exemplo, pode se tornar um instigador de sonho. O sonho pode, portanto, ser instigado por um processo interno que se tornou recente graças ao pensamento do dia anterior.
Freud então enumera as diferentes fontes de sonhos possíveis.
a) Uma experiência recente e psiquicamente significativa, que é diretamente representada no sonho;
b) Várias experiências recentes e significativas, combinadas numa única unidade pelo sonho;
c) Uma ou mais experiências recentes e significativas, representadas no conteúdo do sonho pela menção a uma experiência contemporânea, mas irrelevante;
d) Uma experiência significativa interna (por exemplo, uma lembrança ou um fluxo de ideias) que é, nesse caso, invariavelmente representada no sonho por uma menção a uma impressão recente, irrelevante.
Na interpretação dos sonhos, uma condição é sempre atendida: um componente do conteúdo do sonho é a repetição de uma impressão recente do dia anterior. Essa impressão representada no sonho pode pertencer, ela própria ao círculo de representações que cercam o verdadeiro instigador do sonho (como parte essencial ou insignificante) ou pode provir do campo de uma impressão irrelevante vinculada às ideias que cercam o instigador do sonho por elos mais ou menos numerosos. A aparente multiplicidade das condições dominantes é, na verdade, apenas dependente das alternativas entre um deslocamento ter ou não ocorrido.
(P.107) Convém lembrar que o valor da impressão recebido durante o estado de vigília pode perder sua capacidade de influenciar os sonhos logo ela fique alguns dias mais velha.
Mas, então, como é possível que impressões do cotidiano que não se tornaram sonho surjam depois de muitos anos nos nossos sonhos? Esses elementos, que eram originalmente irrelevantes – tanto nos sonhos, quanto nos pensamentos – já não o são agora, a partir do momento em que assumiram (por meio do deslocamento) um valor materialmente significativo.
(P.111) B) O material infantil como fonte dos sonhos.
Segundo Freud o sonho inclui impressões que remontam da primeira infância e que não nos parecem acessíveis à memória no estado de vigília.
(P.116) Quanto mais alguém se aprofunda na análise de um sonho, com mais frequência chega ao rastro das experiências infantis que desempenharam seu papel entre as fontes do conteúdo desse sonho.
(P.128) As fontes somáticas[1] dos sonhos.
Já vimos nos capítulos anteriores que existem três espécies diferentes de fontes somáticas de estimulação dos sonhos: os estímulos sensoriais objetivos provenientes de objetos externos, os estados internos de excitação dos órgãos sensoriais com base apenas subjetiva, e os estímulos somáticos provenientes do interior do corpo.
E muitos pensadores, erroneamente, acreditam ser estas à única fonte dos sonhos.
(P.129) Porém, por mais atraente que seja essa teoria, ela possuí um ponto fraco. Todo estímulo somático onírico que exija que o aparelho mental adormecido o interprete por meio da construção de uma ilusão pode dar origem a um número ilimitado de tais tentativas de interpretação – isto é, pode se representado no conteúdo do sonho de uma imensa variedade de representações.
(P.130) Quando se adota apenas essa teoria percebemos que ela é incapaz de apresentar qualquer motivo que reaja a relação entre o estímulo externo e a representação onírica escolhida para sua representação.
E por que a mente deforma o estímulo externo durante o sonho se é sabido que a mente é capaz – mesmo adormecida – de interpretar corretamente as impressões sensoriais externas. Um exemplo é o fato de a pessoa acordar mais facilmente quando é chamada pelo nome.
A influência externa (estimulação somática dos sonhos) é uma teoria incompleta, uma vez que nem todos os estímulos externos se transformam em sonhos. Quando sou estimulado externamente durante o sonho posso ignorá-lo, acorda, me livrar dele e só em último lugar sonhar com ele.
(P.133) Para Freud a natureza essencial do sonho não é alterada pelo fato de se acrescentar material somático a suas fontes psíquicas: o sonho continua a ser a realização de um desejo, não importa de que maneira a expressão dessa realização de desejo seja determinada pelo material correntemente ativo.
Os estímulos externos, dependendo do sonhador, pode despertá-lo ou se interligar ao sonho, mas nunca ser a causa do sonho, pois todo sonho é sempre a realização de um desejo.
(P.134) Existem muitos casos de estímulos externos que são integrados ao sonho e não deixam o sonhador acordar. Assim, todos os sonhos são, num certo sentido, sonhos de conveniência; servem à finalidade de prolongar o sono, em vez de acordar. Os sonhos são como guardiões do sono, e não perturbadores dele.
(P.137) Quando os estímulos nervosos eternos e os estímulos somáticos internos são suficientemente intensos para forçar a atenção psíquica para eles, então – desde que seu resultado seja sonhar e não acordar – eles servem como um ponto fixo para a formação de um sonho, um núcleo em seu material; busca-se então uma realização de desejo que corresponda a esse núcleo, tal como se buscam representações intermediárias entre dois estímulos psíquicos do sonho. Nesta medida, em diversos casos, o conteúdo onírico é ditado pelo elemento somático. Neste caso é possível que um desejo que não esteja de fato corretamente ativo seja invocado para a construção de um sonho. O sonho, porém, não tem outra alternativa senão representar um desejo na situação de ter sido realizado; ele enfrenta o problema de procurar um desejo que possa representar-se como realizado pela sensação corretamente ativa. Quando esse material imediato é de natureza dolorosa ou aflitiva, isso não significa necessariamente que não possa ser utilizado para a construção de um sonho. A mente tem a seu dispor desejos cuja realização produz desprazer. Isso parece autocontraditório, mas torna-se inteligível quando levamos em conta a presença de duas instâncias e uma censura entre elas.
Como vimos, há na mente desejos “recalcados” que pertencem ao primeiro sistema e a cuja realização se opõe o segundo sistema. Quando os desejos recalcados rompem a censura do segundo sistema podemos ter sonhos desprazerosos e perturbadores.
(P.138) Assim, para Freud, as fontes somáticas de estimulação durante o sono, a menos que sejam de intensidade incomum, desempenham na formação dos sonhos um papel semelhante ao desempenhado pelas impressões recentes, mas irrelevantes, deixadas no dia anterior.
Ou seja, são introduzidos para ajudar na formação de um sonho caso se ajustem apropriadamente ao conteúdo de representação derivado das fontes psíquicas do sonho, mas não de outra forma.
(P.140) D) Sonhos Típicos.
Em geral é impossível interpretar um sonho de outra pessoa, a menos que ela se disponha de nos comunicar os pensamentos inconscientes que estão por trás do conteúdo do sonho.
Em regra geral, cada pessoa tem a liberdade de construir seu mundo onírico segundo suas peculiaridades individuais, tornando o sonho ininteligível para as outras pessoas.
Mas em contraste com isso, há um certo número de sonhos que quase todo mundo tem e que talvez tenham o mesmo sentido para todos.
(α) Sonhos embaraçosos de estar despido.
Os sonhos de estar nu diante de estranhos pode vir acompanhado ou não do sentimento de vergonha.
Freud só se preocupa aqui com os sonhos acompanhados de vergonha em que se tenta fugir ou esconder-se, sendo-se então tomado por uma inibição que impede a fuga. Somente com este acompanhamento o sonho se torna típico.
(P.141) Em geral os espectadores da nudez são indiferentes e não possuem expressões faciais definidas.
(P.142) Para Freud esse tipo de sonho baseia-se em lembranças da mais tenra infância, quando somos vistos em trajes inadequados tanto por membros da família, quanto por estranhos. Este é a única época em que não sentimos vergonha de nossa nudez.
As impressões da primeira infância lutam para alcançar sua reprodução nos sonhos. Portanto, os sonhos de estar despido são sonhos de exibição.
(P.144) (β) Sonhos sobre a morte de pessoas queridas.
Quando se sonha com a morte de um ente querido pode haver dois caminhos (tipos): um onde o sonhador não fica abalado, triste com a morte e aquele em que o sonhador fica profundamente abalado e pode chorar amargamente durante o sono e o sonho.
O primeiro tipo de sonho não será analisado.
Mas o segundo, onde a pessoa fica desconsolada, é um desejo de que a pessoa em questão venha a morrer.
(P.145) Já sabemos que os desejos realizados nos sonhos nem sempre são desejos atuais. E o desejo de morte geralmente ocorreu em alguma ocasião durante a infância do sonhador.
Ninguém nasce moral, a moralidade vem com o amadurecimento e as lembranças de ódio das crianças são suprimidas. Portanto, muitas pessoas que hoje amam seus parentes e se sentiriam desolados se eles morressem, abrigam desejos maléficos contra eles em seu inconsciente (sobre os quais não possuem controle), datando de épocas anteriores. E estes desejos são passíveis de se realizarem nos sonhos.
(P.146) Os sentimentos hostis entres irmãos e irmãs causados pela disputa pela atenção dos pais, por exemplo, devem ser muito mais frequentes na infância do que é capaz de perceber o olhar distraído do observador adulto.
(P.147) Lembrando que a ideia de morte para uma criança, em nada se assemelha a ideia de morte para um adulto. A morte para a criança é simplesmente “ir embora”, “deixar de incomodar os viventes”.
(P.148) O motivo causador dos sonhos de morte dos pais são diferentes do dos irmãos.
(P.149) O primeiro amor da menina é seu pai, e do menino sua mãe. E os mimos de pais e mães respondem à isso. Os pais mimam as meninas e as mães aos meninos. Mas esse amor não pode ser demonstrado em sua plenitude, sendo o pai no caso dos meninos e a mãe no caso das meninas, o rival que impede a concretização desse amor. É aqui que desejamos a morte de nossos pais.
(P.151) Aqui Freud finalmente apresenta o complexo de Édipo.
(P.152) Contudo, nós conseguimos na medida em que não nos tenhamos tornados psiconeuróticos, desprender nossos impulsos sexuais de nossas mães e esquecer o ciúme de nosso pai.
(P.154) Se muitos sonhos são totalmente reconfigurados por uma censura interna, como é possível que um sonho tão macabro quanto a morte de um parente passe despercebido pelo crivo da censura?
Segundo Freud isso acontece porque, primeiro é algo tão perturbador que a censura do sonho não está preparada para conter esse impulso. Segundo, o sonho surge de uma preocupação com a pessoa no dia anterior ao sonho.
(P.155) Agora que já sabemos que as crianças são extremamente egoístas, podemos ligar isso aos sonhos. Os sonhos são a realização de um desejo e esses desejos são sempre egoístas. Mesmo que disfarçado, o ego amado aparece em todos os sonhos.
(P.157) (γ) Outros sonhos típicos.
Freud não consegue encontrar uma explicação razoável para os sonhos de voar, flutuar ou cair.
(P.158) (δ) Sonhos com exames.
Nada de interessante.

Referências:
FREUD, Sigmund. Interpretação dos Sonhos. 1. Ed. São Paulo. Folha de S. Paulo, 2010. P.97-159.



[1] Somático: condições que se referem ao corpo. Emprega-se esta expressão em oposição ao que é psíquico e concerne ao espírito.