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Em 2006, O médico e o monstro (The strange case of dr. Jekyll and mr. Hyde), do escritor escocês Robert Louis Stevenson, completou 120 anos, sendo seguramente um dos livros mais adaptados para o teatro, cinema e televisão em todo o mundo. |
Biografia
de Robert L.Stevenson.
Nascido em
Edimburgo em 1850, Robert Louis Balfour Stevenson era filho de um próspero
engenheiro civil. Seu pai desejava que ele seguisse sua profissão, porém a má
saúde e a fraca disposição de seu filho fizeram que ele escolhesse o curso de
Direito na Universidade de Edimburgo, porém sua crescente desilusão com a
respeitabilidade presbiteriana (religião de seus pais) conduziu a frequentes
discussões e ele acabou distanciou-se de sua família, preferindo em vez disso
levar uma vida boêmia. Em 1875, quando Stevenson completou seus estudos de
Direito, já estava determinado a tornar-se um escritor profissional.
Com cerca de
vinte anos ele começou a sofrer de severos problemas respiratórios . Na
tentativa de aliviar seus sintomas, ele passou grande parte de sua vida
viajando para climas mais quentes; e foi enquanto vivia na França, em 1876, que
conheceu sua futura esposa, Mrs. Fanny Osbourne, uma mulher dez anos mais velha
do que ele. Em 1879, ele a seguiu até a Califórnia, viajando em um navio de
imigrantes, e depois ambos se casaram, assim que o divórcio dela foi
oficializado.
As primeiras
obras publicadas de Stevenson, Uma Viagem pelo interior (1878) e Viagens com um
burro nas Cervennes (1879), baseadas em suas próprias aventuras, foram seguidas
por um fluxo constante de artigos e ensaios. Todavia, foi somente em 1883 que
apareceu sua primeira obra de ficção extensa, A ilha do tesouro.
O reconhecimento
que Stevenson recebeu após a publicação de A ilha do tesouro cresceu com a
publicação de O estranho caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde (O médico e o monstro) e
Raptado, em 1886. Em 1888, ele levou sua família para os Mares do Sul,
novamente em busca de um clima que melhor se coadunasse com suas condições de
saúde. Após estabelecer-se em Samoa, ganhou reputação como contador de
histórias, especialmente entre os nativos. Morreu de uma hemorragia cerebral,
enquanto trabalhava em sua obra-prima inacabada, Weir of Hermiston, em 1894.
Resumo
da Obra: O Médico e o Monstro.
Lançado em 1886
sob o título original de The Strange Case
of Dr. Jekyll and Mr. Hyde,
o livro conta basicamente à história de um médico, Dr. Henry Jekyll, e sua
relação conturbada com sua segunda personalidade, o diabólico Edward Hyde.
A história
começa quando Dr. Jakyll pede que seu amigo, o advogado londrino Mr. Gabriel
Utterson, elabore seu testamento. Mr. Utterson se surpreende ao perceber que o
maior beneficiário deste testamento seria o desconhecido Mr.Hyde.
Preocupado e
curioso, Mr. Utterson começa a investigar. Em sua busca ele chega até um amigo
pessoal do Dr. Jakyll, o também médico Dr. Lanyon que lhe indica um pequeno
laboratório nos fundos da casa do Dr.Jekyll, onde Mr. Hyde é visto
constantemente.
Sua busca chega
ao fim quando Mr. Utterson fica frente a frente com Mr. Hyde. E o que mais lhe
chama a atenção é a sua aparência física grotesca e deformada.
Ainda mais
desconcertado, Mr. Utterson vai conversar com o Dr. Jekyll sobre o porquê de a
herança ser deixada para uma pessoa desta qualidade. O doutor diz que é
necessário, mas não lhe explica os motivos. Mr.Utterson resolve não mais se
intrometer.
Um ano depois,
uma criada foi a única testemunha de um crime bárbaro que chocou Londres. Sir
Danvers Carew, influente cidadão londrino e cliente de Mr.Utterson, foi morto
brutalmente com socos, pontapés e golpes de bengala. Bengala esta, que
pertencia ao Dr. Jekyll.
A Scotland Yard
em busca por informações vai até o escritório de Mr. Utterson, que prontamente
coloca o misterioso Mr.Hyde como principal suspeito.
Mr. Utterson,
então, vai até a casa do Dr. Jekyll, lhe avisar do perigo que representa o tal
do Mr. Hyde. Contudo, o médico lhe afirma que há tempos não o vê e que este lhe
havia deixado uma carta de despedida.
O tempo passou e
apesar da pequena fortuna oferecida pela cabeça de Mr. Hyde, este não fora
encontrado.
O livro segue,
até que Dr. Lanyon descobre alguma coisa sobre o misterioso Mr. Hyde, mas o
choque é tão violento que ele acaba falecendo pouco tempo depois. Contudo,
pouco tempo antes de morrer ele entregou um bilhete para Mr. Utterson, obrigando-lhe
a prometer que só o abriria após a morte do Dr. Jekyll.
O tempo passa e
a vida segue seu curso, até o dia em que o mordomo do Dr. Jekyll chega até a
casa de Mr.Utterson dizendo que o médico havia se trancado há semanas no porão
e que quando lhe chamam, ele responde com uma voz extremamente diferente.
Ao chegar a
casa, Mr. Utterson arromba a porta do porão e encontra o procurado Mr. Hyde
vestido com as roupas do Dr. Jekyll, caído ao chão, já sem vida, ao lado de uma
carta assinada pelo médico.
Mr. Utterson
então lê a carta em que o próprio Dr. Jekyll dizia ter um lado sombrio, e que
para dar vazão a este lado, ele acabou por criar uma fórmula que o transformava
em outra pessoa (tanto no físico, quanto no psicológico). Contudo, estas
transformações saíram do controle (principalmente após o assassinato do senhor Carew),
e ele já não era capaz de comandar as transformações, que ocorriam sem seu
consentimento.
Mesmo após parar
de tomar a poção, ele percebeu que já havia tanto de Mr. Hyde dentro de si, que
já não havia modo de parar as transformações. Se antes a transformação
dominante era a do Dr. Jekyll, agora era Mr. Hyde o principal. Sendo este o
motivo pelo qual ele resolveu se trancar.
Em seus últimos
momentos de controle e lucidez, Dr. Jekyll se pergunta: Quando Mr.Hyde não
puder mais se transformar em mim, e tomar consciência de que ele será preso
qual será a sua reação? E a reação dele foi o suicídio.
Análise
da Obra.
Poucos livros de
terror se tornaram tão influentes quanto O Médico e o Monstro. Mesmo que não se
tenha lido uma única linha do livro original, tenho toda a certeza que o enredo
principal (o médico que toma uma poção e se transforma em um monstro) não lhe é
de todo um mistério.
O que mais me
surpreendeu no livro, foi à desconstrução do monstro como eu sempre imaginei.
As mais diversas versões feitas para o cinema, desenhos animados, teatro, etc,
apresentam versões que beiram a mutação. Como no caso da versão apresentada no
filme A Liga Extraordinária de 2003, que apresenta um Mr. Hyde extremamente
lunático e musculoso.
Essas versões
geraram um efeito de pré-visualização nos leitores de hoje, que os leitores
contemporâneos ao livro não tinham. Acredito que a reação dos leitores de 1886
foram mais chocante ao descobrirem que ambos eram a mesma pessoa, já que não
havia um pré-conceito sobre qual seria a relação entre o Dr. Jekyll e o Mr.
Hyde.
Já hoje (no meu
caso), eu senti uma pontinha de desapontamento ao saber que o monstro (que eu
sempre acreditei ser uma réplica do Incrível Hulk do século XIX) é na verdade
um corcunda feio que chuta crianças e mata velhos a bengaladas...acho que fui
com muita sede ao pote. Contudo, deixo claro aqui, que este fato não desmerece
a obra que é um clássico e merece ser lida.
Nascido da
preocupação do calvinista Stevenson com a morte e o lado mais escuro da
natureza humana, O Médico e o Monstro foi inspirado na vida dupla de um
habitante de Edimburgo, na Escócia, chamado William Brodie: de dia ele era um
respeitado marceneiro; à noite, roubava as casas dos moradores da cidade.
O caso é que, a
obra nos apresenta o caráter duplo da personalidade humana, Mr Hyde (o monstro)
não foi um efeito colateral da misteriosa poção. O monstro já existia dentro do
pacato Dr. Jekyll, a única coisa que a poção fez foi coloca-lo pra fora.
Moralismos à
parte, a
formula do Dr. Jekyll pode ser comparada às drogas, sejam elas legais ou
ilegais. Pessoas extremamente introvertidas, quando bebem se tornam os
piadistas da turma; Homens pacatos, espancam as mulheres após dois goles de
cachaça; Pessoas extremamente ansiosas, contemplam a natureza após dois dar um
“bola”. E como no livro, não são as drogas que criam uma outra personalidade,
elas apenas dão vazão ao nosso lado monstro (ou médico) que tanto reprimimos
para viver em sociedade.
Podemos até
mesmo afirmar que somos todos, metade Médico e metade Monstro.
Curiosidades.
Foi
esta a primeira obra a inserir a Scotland Yard no universo literário.
Referências: