domingo, 28 de outubro de 2012

Fichamento: A Memória Evanescente de Leandro Karnal.


 Resumo:
O que são os documentos? Os documentos falam por si mesmos? Qual o trabalho do historiador? Imparcialidade existe? Um documento falso deve ser descartado?
Estas são algumas das questões apresentadas por Leandro Karnal e Flávia Tatsh. De maneira fácil e objetiva os dois historiadores fazem uma introdução na percepção da relação entre historiadores e documentos.
Boa Leitura!

Fichamento: A Memória Evanescente.
(P.09) O documento é a base para o julgamento histórico. Destruídos todos os documentos sobre um determinado período nada poderia ser dito por um historiador. Uma civilização da qual não tivéssemos nenhum vestígio arqueológico, nenhum texto e nenhuma referência por meio de outros povos, seria uma civilização inexistente para o profissional de História?
(P.10) Se o documento é tão importante, então: o que é um documento histórico? Iniciando da ideia mais difundida, o documento histórico é uma folha – ou várias – escrita por alguém importante. Ex: a carta de Pero Vaz de Caminha.
Carta de Pero Vaz de Caminha.
Essa visão omite a história do documento, ou seja, como determinado grupo e determinada época consideravam que aquela folha estivesse na categoria de um verdadeiro “documento histórico”. Ex. a carta de Pero Vaz de Caminha, nada mais era que uma simples carta perdida por durante duzentos anos na Torre do Tombo, até ser resgatada em 1773 e publicada em 1817. E aos poucos, no contexto da valorização nacional foram publicadas e republicadas durante todo os século XIX e XX.
(P.12) Ou seja, o crescimento da importância da carta de Caminha se deve ao crescimento do Brasil, do surgimento do nacionalismo, etc.
Em suma, o documento não é um documento em si, mas um diálogo claro entre o presente e o documento. Resgatar o passado e transformá-lo pela simples evocação. Todo documento histórico é uma construção permanente.
O documento também pode varar de acordo com os agentes que o leem. Ex. um funcionário da cultura do Estado Novo poderia ver em Caminha a certidão de nascimento do Brasil. Um indigenista a certidão de óbito de muitas populações indígenas. Mesmo ambos reconhecendo a importância do documento, ele pode gerar leituras opostas. Um documento, várias leituras. Além disso, o foco sobre o documento pode mudar de acordo com o recorte feito.
(P.13) Assim, um documento como a Carta de Caminha não tem importância em si, eterna e imutável, mas é um “link” que estabelecemos com o passado. Hoje é uma peça fundamental da história brasileira, mas pode no futuro voltar a ser perdido e considerado irrelevante.
A mutabilidade do documento tem relação com o sentido que o presente confere a tais personagens ou fatos.
(P.14) Um Conceito em Expansão.
Apenas no século XIX triunfou a ideia do documento como “prova histórica” superando o termo usado até então: monumento.
Rapidamente o documento foi reconhecido como fonte. Entretanto: a definição do que vem a ser um documento foi amplamente debatida. No século XIX a Escola Metódica tinha certeza de que um documento é, em essência, algo escrito e todo debate girava em torno de sua autenticidade ou não. Para os autores da Escola Metódica, Langlois e Seignobos, a questão central da história é a heurística documental, sendo única e exclusivamente o trabalho do historiador a busca, seleção, crítica e classificação documental.
A Escola dos Annales, colaborou para o alargamento da noção de fonte. Ao determinar que o historiador seria guiado por tudo que fosse humano.
(P.15) Surgiu a história sobre praticamente tudo, ampliando assim o termo documento histórico.
(P.16) Em síntese, a noção de documento ampliou-se muito mais do que os historiadores tradicionais queriam, mas, igualmente, não atingiu o patamar de “qualquer coisa”. Talvez a mudança mais expressiva do documento não esteja num novo objeto, mas num novo estatuto epistemológico da “verdade” no documento. Na visão tradicional da História, um documento falso era considerado nulo para a interpretação. Assim como o documento fantasioso. Com o advento da história nova até mesmo os documentos falsos ganham interpretação: por qual motivo se inventou este documento?
(P.18) Le papier souffre tout...
Os franceses têm um ditado de que “o papel aguenta qualquer coisa”. Com isso a cultura popular francesa expressa certo ceticismo quanto a papeis usados como documentos históricos. O papel aguenta qualquer coisa, ideia, sofre calado, jamais se rebela contra o autor. O que garante a autenticidade de um documento escrito?
Por mais que hoje, documentos falsos possam servir para análise histórica, a busca pela autenticidade continua fundamental.
(P.19) A falsificação atinge todo objeto de valor, com objetivos variados. Nazistas falsificavam objetos arqueológicos da civilização ariana, Stalin falsificava fotografias , etc.
Conclusão em aberto: O que é um documento histórico?
(P.20) Um documento é tudo aquilo que um determinado momento decidir que é um documento.
(P.21) Um documento é dado como documento histórico em função de uma determinada visão de época. Ou seja, o documento existe em relação ao meio social que o conserva. Mesmo que o conceito de documento se amplie ao limite, sempre haverá documentos mais importantes que outros.
(P.22) O “fetiche” pela fonte primária é uma verdadeira distorção do processo de produção da História (Keith Jenkins). De que esta fonte “falaria por si” e que ao historiador só caberia ler o inquestionável.
(P.24) Em síntese, documento histórico é qualquer fonte sobre o passado, conservado por acidente ou deliberadamente, analisado a partir do presente e estabelecendo diálogos entre a subjetividade atual e a subjetividade pretérita.
Link para o texto completo:
Bibliografia:
KARNAL, L; TATSH; F. G. A Memória Evanescente. In: PINSHY, C.B; LUCA, T.R. de (orgs). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

MIGRAÇÃO DE RETORNO LATINO-AMERICANA NO ATUAL CONTEXTO DA CRISE GLOBAL: BRASIL, PARAGUAI E CHILE

Trabalho de Introdução  as   Relações Internacionais realizado por:
Damian Yvo Paredes Penazola
Diego Roberto Acosta Torres
Rhaone Bernini Beltrame
Vania Macarena Alvarado Saldivia
William Cirilo Teixeira Rodrigues
            RESUMO
        O presente trabalho pretende analisar um fenômeno que está começando a ocorrer no âmbito migratório mundial devido às crises no sistema econômico atual, provocando o regresso de imigrantes que deixaram seu país de origem para ir a um mais desenvolvido em busca de oportunidades que ajudem a satisfazer suas necessidades básicas substanciais.
 Um dos pontos importantes para esta pesquisa é o levantamento bibliográfico que há tido em livros, notícias, gráficos e informes de organizações internacionais que trabalham com a temática de migração (OIM, ONU). Outro ponto é a percepção das bases históricas que permitem conhecer o surgimento e utilização do conceito de migração.
Para este fim, a pesquisa focalizou em três países, que são: Brasil, Paraguai e Chile; através da análise de seus perfis migratórios e da constatação se cumprem ou não a hipótese de regresso devido à crise econômica mundial. A pesquisa se concentrou fortemente nas análises do perfil migratório destes países para que seja possível constatar as necessidades que as pessoas têm, e, portanto, poder compreender suas buscas no momento da decisão de migrar. Também se busca conhecer os países prediletos como foco de atração de imigrante e porque estão deixando de serem centros de chegada de imigrantes.
Pode-se afirmar que os questionamentos-base foram contestados com êxito e deixou como fruto a possiblidade de fazer uma projeção do que poderia acontecer com o fenômeno migratório em curto prazo.
Boa leitura.


Segundo o dicionário Silveira Bueno, migração é o ato ou ação de mudar de país ou de um lugar, sendo o imigrante aquele que sai e emigrante aquele que chega. Este ato de deslocamento humano em busca de melhores condições de trabalho, qualidade de vida, segurança, etc., pode parecer algo relativamente recente, fruto do desenvolvimento de novas tecnologias de transporte extremamente rápidas e eficientes, posteriores as revoluções industriais. Facilitando, assim, grandes deslocamentos humanos para outros países, como no caso do Brasil que durante os séculos XIX e XX recebeu milhares de imigrantes italianos, alemães, japoneses, árabes etc.
Entretanto, este ato é tão antigo que não remonta ao inicio da civilização e nem mesmo ao surgimento do Homo sapiens. Há 1,8 milhão de anos, o Homo Erectus já deixava a África, rumo à Europa e ao leste da Ásia. E os motivos que os impulsionaram para essa mudança ainda continuam quase os mesmos - viver melhor. Graças a este ímpeto humano pelo movimento, em 12.000 a.C. todos os continentes do planeta já haviam sido povoados, e estas migrações continuaram mesmo após o surgimento da agricultura (entre 8000 e 4000 a.C.) e do sedentarismo resultante dela. Ou seja, o homem sempre esteve em constante movimento.
Com o advento da agricultura o homem tornou-se sedentário, propiciando o surgimento de grandes civilizações. A partir deste acontecimento homens e mulheres migravam de regiões periféricas, de menor desenvolvimento, para os grandes centros civilizacionais da Ásia, África, Oriente Médio e Europa. Se antes, os seres humanos vagavam sem rumo em busca de melhores terras, caças, fugindo do frio, da seca e da fome, a partir deste momento se caracteriza um novo tipo de migração, a migração direcionada. Que apesar de ter quase a mesma finalidade (busca por melhores condições de vida) se caracteriza por ter um destino certo: as regiões mais desenvolvidas naquele momento. Tipo de migração que perdura até a contemporaneidade.
Desde a colonização Brasil, Chile e Paraguai, assim como a maioria absoluta dos países latino-americanos, sempre foram países recebedores de imigrantes: espanhóis, italianos, portugueses, árabes, africanos, japoneses, chineses, e mais uma infinidade de outras nacionalidades são as responsáveis pela miscigenação de nosso continente. Entretanto, constata-se que a partir da segunda metade do século XX inicia-se um processo de emigração de brasileiros rumo a outros países em especial EUA, Japão e Europa.
Esse processo de imigração de latino-americanos rumo a países mais desenvolvidos inicia-se em um contexto continental de ditaduras e instabilidade nas economias nacionais. Segundo Raphaela Mattos de Barros Fontana e Cezar Guedes, “depois de 50 anos de crescimento contínuo o mercado brasileiro sofreu um inflexão onde o crescimento do emprego formal (com carteira assinada) dá lugar a informalidade (...) Portanto é o desemprego (...) que explica o crescimento da emigração brasileira”.
O fio condutor desta pesquisa será o recente movimento de regresso destes emigrantes latino-americanos aos seus respectivos países, em especial Brasil, Paraguai e Chile. Para isso se levanta algumas questões sobre este movimento que serão de fundamental valia para o desenvolvimento do projeto: a crise financeira mundial, que afeta em especial os países mais desenvolvidos, é a responsável por esse movimento? O regresso é pontual ou perdurará por vários anos?
Assim, tem-se por objetivo montar um panorama geral a partir da análise dos casos brasileiros, chilenos e paraguaios, e entender se esse “repatriamento” ocorre de maneira uniforme entre esses três países.
A União Europeia, junto com a América Latina e Caribe (ALC), propôs pela primeira vez um estudo dos perfis migratórios em um seminário de comunicação sobre migração e desenvolvimento, realizado em 2005. Segundo este estudo, o perfil migratório deve “analisar a situação de mercado de trabalho, taxas de desemprego, demanda e oferta de trabalho, escassez de mão de obra qualificada por setor e ocupação, as qualificações demandadas no país, qualificações disponíveis na população de diáspora, fluxos migratórios, fluxos financeiros relacionados com a migração, incluindo as remessas dos migrantes, assim como os aspectos de gênero e idade”.
Nesse contexto, deve-se entender que as migrações na América Latina são um fenômeno demográfico que iniciou devido a razões comuns, que generalizam alguns dos motivos do por que as pessoas decidem se mudar em busca de uma provável vida melhor em terras estrangeiras.
Como afirma o psicólogo estadunidense Abraham Maslow, em sua teoria de humanista da autorrealização, “o ser humano está objetivamente orientado até a busca de metas e objetivos para a satisfação de suas necessidades, tanto biológicas como cognitivas, e, nos países que expulsão, as condições para alcançar esse objetivos estão marcadas pela situação de crise permanente e violência perpétua”.
Para entender este processo de formação dos perfis migratórios, deve-se ter em mente que os mesmos têm mudado ao passar dos anos, e que, em cada país da América Latina, há um perfil diferente, mas que ao mesmo tempo é verídico o compartilhamento de fatores comuns. Umas das mudanças mais significativas foi o papel da globalização no mundo, haja vista que gera uma interconexão entre países, continentes, e a capacidade de conhecer as oportunidades que há em outros lugares do mundo. Outra mudança importante é que os migrantes das últimas décadas já não vão a lugares desabitados nem a nações novas em épocas de consolidação, como foi o caso de milhões de imigrantes europeus durante o século XIX que chegavam a América do Sul. Este panorama muda no século XX, convertendo a América Latina em um dos principais centros de expulsão de população, obrigando-a a ir, principalmente, a países desenvolvidos, estruturados e politicamente avançados, deixando o processo de integração mais difícil.
Ao tentar formar um perfil, há de se levar em conta que América Latina é uma região heterogênea e que o perfil migratório muda dependendo do país, mas há fatores que continuam através do tempo. Assim, refere-se a uma região historicamente dependente, tanto política e econômica das grandes potências.
As causas mais comuns que levam a migração e extremamente importantes para a estruturação no perfil migratório são:
· Causas socioeconômicas: há uma relação direta entre desenvolvimento socioeconômico e migração. Portanto se poderia dizer que também há uma relação entre subdesenvolvimento e imigração; esta é uma das causas mais frequentes dos imigrantes, já que a questão de fome e miséria está latente em muitos dos países de origem destes imigrantes.
· Causas políticas: esta foi uma das principais razões de migração nos anos 70 e 80 nos países latino-americanos, já que, em muitos deles, a democracia foi interrompida e foram interpostas ditaduras. Ainda assim permanece uma porcentagem importante de migrações políticas que se dão principalmente pelo sentimento de perseguição e vingança, mesmo que tenham adotado novamente um sistema democrático.
· Causas culturais: este item engloba vários fatores (religião, idioma, tradição, costumes etc.) e é muito considerado pelo imigrante, já que é aqui onde se encontram as bases das oportunidades, e que são importantes no momento de decidir, por exemplo, as possibilidades educativas que o país receptor tem, entre outras.
Segundo um levantamento feito pelo Ministério das Relações Exteriores com base na apuração feita por consulados e embaixadas em 2010, cerca de 3,1 milhões de brasileiros vivem no exterior, dos quais quase a metade dos emigrantes está nos Estados Unidos com um total de 1.433.146 imigrantes legais. Ainda segundo esse relatório, as cinco maiores colônias brasileiras no exterior, contando os EUA, são: Japão (230.552), Paraguai (200.000), Reino Unido (180.000) e Espanha (158.761).
Segundo a socióloga Isabel Baeta, autora do artigo “Emigração Brasileira”, “o emigrante brasileiro tem o perfil de classe média baixa, são jovens, no início principalmente do sexo masculino, que ganhavam a vida aqui como bancários, professores secundários, comerciários etc. E que nos países de destino, empregam-se em serviços de baixa qualificação, como lavadores de pratos, arrumadeiras e faxineiros” isto quando são legais, pois no caso dos imigrantes ilegais, a maioria vive de subempregos.
Com o advento da crise financeira que afetou principalmente os EUA, Europa e Japão – locais de grande concentração de brasileiros- e o bom desempenho econômico dos países latino-americanos, em especial o Brasil com seu calendário de grandes festas como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, fez crescer a chegada de estrangeiros e a volta de brasileiros conforme anunciou a Reuters com base nos dados do IBGE divulgados em abril deste ano.
Ainda segundo a Reuters, foram 268.486 pessoas que vieram ao Brasil em 2010, contra 143.644 em 2000. Marden Campos, técnico do IBGE acredita que “esse aumento de imigrantes de retorno pode estar refletindo a volta de um grande número de brasileiros que deixaram o país nas décadas de 80 e 90”.
Os principais países de origem dos imigrantes são EUA (51.933), Japão (41.417), Paraguai (24.666), Portugal (21.376) e Bolívia (15.753). Sendo os principais estados de destino São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás.
Esta chegada em massa de estrangeiros e o regresso de brasileiros estão intimamente ligados à crise econômica, uma vez que, em todos os países afetados, os imigrantes são os primeiros a serem demitidos. E sem condições de se manterem economicamente não veem outra opção que não seja o retorno. Em alguns casos, a dificuldade é tamanha que o emigrante não possuiu condições financeiras de comprar sua passagem de retorno. É o caso do que acontece com os brasileiros em Portugal (país duramente afetado pela crise), em que em 2009 a embaixada brasileira teve que comprar 315 passagens de retorno, enquanto em 2010 foram 562 passagens - um aumento de 78%.
A crise, o desemprego e o enfraquecimento do cambio que tornou desvantajoso o envio de dinheiro ao Brasil, estão entre os motivos principais de regresso. Esta combinação explica a queda de novos fluxos migratórios a partir de 2008, de acordo com o Banco Mundial (Bird). Porém para o jornalista Luis Nassif “o retorno em massa não é uma regra, porque as condições de vida nos países fornecedores de imigrantes não mudou muito e há milhões deles já enraizados no exterior, com famílias e relações sociais firmemente estabelecidas”. Contudo, ainda segundo Nassif, o Brasil continua repatriando muitos emigrantes, “atraídos pelo bom momento da economia”, pois, “13,7% dos mais de três milhões de brasileiros que viviam e trabalhavam fora do país voltaram para casa nos últimos anos”.
Com base nestes dados, pode-se chegar a algumas conclusões. Muitos brasileiros que viviam no exterior encontraram dificuldades de manter o mesmo padrão de vida e enviar remessas financeiras consideráveis a sua família aqui no Brasil, ou seja, entre passar dificuldades em outro país e estar com sua família, muitos optaram pelo regresso, em especial neste momento em que o Brasil se tornou a sexta maior economia do mundo. Entretanto, hoje as migrações não ocorrem mais no sentido de colonização, mas de migrações de consumo. O sonho de consumir um bom carro e uma casa confortável são os principais fatores que levam as pessoas a tentar a vida em outros países, quando a aquisição destes bens torna-se muito difícil o regresso é a melhor opção. Ou seja, acredito que esta será uma fase temporária, pois a vontade de consumir muito em um pequeno espaço de tempo levará muitos brasileiros ao exterior assim que esta crise se abrandar.
Segundo dados da Organização Internacional para a Migração, cerca de 550.000 paraguaios vivem na Argentina, seguido da Espanha com 135.512, Brasil (40.000) e EUA com 20.000. Ou seja, cerca de 70% dos paraguaios que vivem fora do território guarani estão concentrados na vizinha Argentina, um número a se considerar levando em conta que a população paraguaia é composta por cerca de seis milhões e meio de pessoas. Entretanto, esses números são passiveis de contestação, pois segundo Sebastían Bruno do grupo de Estudos Sociais da Universidade de Buenos Aires, estima-se que há entre 450.000 e 500.00 paraguaios em solo argentino – o que não deixa de ser um número expressivo.
Contudo, o caso paraguaio se diferencia dos casos brasileiro e chileno, pois tendo a maioria de seus emigrantes vivendo em um país vizinho, de mesma língua e integrante de um mesmo bloco econômico, que se predispõe a livre circulação de pessoas, o controle de fronteira é inútil e a contabilização da entrada e do regresso fica prejudicada. É provável que esse processo de migração Paraguai-Argentina se assemelhe mais ao caso dos brasiguaios que aos poucos foram chegando e hoje se tornaram uma parte expressiva da população paraguaia.
Porém existem algumas estatísticas sobre o regresso de paraguaios ao país no contexto da crise atual. Entre os anos de 2005 e 2007 o movimento de repatriação era estável, em torno de 1600 paraguaios voltavam ao seu país todos os anos, contudo a partir de 2008 o gráfico toma uma posição ascendente e os regressos quase triplicaram, chegando em 2010 a 4.276 pessoas.(Anexo 1). A maioria proveniente da Argentina.
Uma explicação para esse fenômeno pode estar no recente boom econômico paraguaio, com crescimento em torno de 15% em 2010 e de quase 7% em 2011 que atraíram de volta muitos trabalhadores que estavam no exterior.
O excelente desempenho na agricultura e a introdução de novas tecnologias no campo tiveram um papel fundamental na absorção da mão-de-obra existente e a repatriada, garantindo aos que recém-retornaram ao país uma boa readaptação.
Por fim, ficou claro que, por a maioria dos emigrantes paraguaios estarem na Argentina, a repatriação não foi tão profunda como no caso brasileiro. Em números absolutos o regresso de 4000 pessoas é algo quase que insignificante, entretanto demonstra um movimento de volta ao lar que foi estatisticamente surpreende. Neste caso específico do Paraguai, não temos fontes suficientes que comprovem, de forma absoluta, que o aumento no numero de regressos foi algo motivado pela crise internacional. 
Segundo os dados do Ministério de Relações Exteriores do Chile, através da Direção da Comunidade Chilena no Exterior (DICOEX) e do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), 487.174 chilenos residem fora do país, representando cerca de 3% da população estimada do país (16.267.278). Do total de imigrantes, 43,3% se encontrava na Argentina, 16,6% na Espanha, 5,9% nos Estados Unidos, 5,6% na Suécia, 5,2% no Canadá e 4,8% na Austrália. (Anexo 2)
Assim como ocorreu no Brasil e no Paraguai, vários chilenos se viram motivados a imigrar para outros países cujo índice de desenvolvimento humano e economia eram superiores. Neste contexto remessas optaram por sair do país em busca de uma nova vida e melhores oportunidades de trabalho, salários mais elevados, educação e saúde de qualidade.
Entretanto houve um ponto de quebra no processo migratório com a advinda da depressão econômica atual, que está revertendo o fluxo de saída do país andino e se está convertendo a um fluxo de retorno. Esses chilenos começaram o processo de retorno dos países afetados onde se encontravam, porem com diferentes métodos de adaptação. “Uma parte dos latinos tem retornado porque seus países estão resistindo melhor às crises, e outra adquiriu a nacionalidade do país ao qual chegaram como imigrante”, aponta o professor do departamento de Geografia Humana da Universidade de Valencia Juan Miguel Albertos. Este é o caso do Chile, que tem, segundo informe publicado pelo programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em 2009, o melhor índice de desenvolvimento humano (IDH) da América Latina e do Caribe e ocupa o posto de 44º em nível de países e territórios de um total de 182.
São milhares de famílias que estão sofrendo diretamente a situação de retorno, refletindo em um aumento disparado nas solicitações de ajuda com custos de passagem de volta a ONGs e ao governo, havendo listas de esperas para tramites de três meses ou mais.
O problema mais grave é a falta de documentos, na maioria por parte dos ilegais, que, sem trabalho e sem redes sociais de apoio, estão passando por situações dramáticas. Assim a maior dificuldade após a decisão de regresso é a impossibilidade financeiras para arcar com custas de viagem e readaptação.
Em geral, todos os chilenos imigrantes coincidem que não veem melhorias na economia em curto prazo no exterior. Os indicadores de organismo internacionais preveem ao menos cinco anos de fortes reduções e desemprego. Com base nesse prognóstico, fica definido que não há futuro promissor e que o boom migratório acabou.
Anunciam-se cortes milionários em saúde, educação, junto a leis que pretende acatar as opiniões críticas a estas medidas, que estão acabando com o estado de bem-estas.
Frente a esta complicada situação, para muitas famílias de imigrantes, o retorno se torna inadiável e inevitável. No entanto, contam com nenhuma ajuda real vinda do governo chilena para conseguir se repatriar.
Cabe frisar que a ausência destes milhares de chilenos que vivem no exterior representa uma significante economia de gastos para o Estado, como em benefícios sociais, serviço de saúde, educação, moradia etc. A esta economia de recursos sociais, agregam-se as remessas de dinheiro enviadas pelas famílias de imigrantes, que certamente ajudaram a economia do país crescer.
Atualmente não há políticas para a inserção dos imigrantes retornados ao Chile. No entanto, na Espanha, por exemplo, existe um Plano de Retorno do Ministério do Trabalho e Imigração para todos que se encontram com documentação e antecedentes regularizados. A repatriação atual está ocorrendo por meio de pagamento das passagens áreas àqueles deferidos e, posteriormente, pagam o seguro desemprego em duas partes (40% do valor ainda em solo espanhol e 60% no Chile).
Além disso, existe um crescente intuito de dificultar as leis aos imigrantes no congresso espanhol a fim de incentivá-los a regressar a seus países de origem. Uma dela é o Plano de Retorno Voluntário do Ministério do Trabalho e Imigração. Seu lema é: “Se você está pensando em voltar, você decide o seu futuro”. Para isso, o imigrante deve renunciar a suas licenças de trabalho e residência na Espanha e deve se comprometer a não voltar durante três anos. Outro fator de incentivo, principalmente aos não que não possuem documentos, é a intervenção policial, apontar Victor Sáez, vice-presidente da Associação de Chilenos na Espanha (ACHES), que diz que “as pessoas que não têm documentos estão indo, porque, além de não terem trabalho, se dão conta que há riscos ao permanecer detido”.
É notório que o processo de migratório de retorno se encontra em progresso crescente à medida que a situação financeira dos países desenvolvidos continua em recesso. Neste contexto, indica-se uma provável mudança nos perfis populacionais tanto dos países de origem quanto dos países de destino dos imigrantes retornados, haja vista que, durante os processos migratórios no final do século XX, houve reconfigurações nos setor laboral e étnico devido a grande remessa deslocada.
Dados recolhidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), relatam a estabilização imigratória em vinte e três países associados a ela. Entretanto, como foi apresentando pelo secretário da organização, Ángel Gurria, no Relatório de Perspectiva sobre a Imigração 2012, países como a Espanha, que possui uma taxa atual de desemprego entre os jovens de 38%, ainda convivem com números decrescentes de imigração causada pelo recesso econômico.
Outro caso que preocupa, principalmente ao governo brasileiro, por exemplo, é o bloqueio de vistos a imigrantes já retornados do Japão. Tais imigrantes, na maioria descendentes japoneses, chamados de decasséguis, são auxiliados a voltarem ao Brasil recebendo uma quantia entre US$ 3 mil e US$ 2 mil, porém com a reclusa de não poderem voltar mais ao país asiático, dificultando a reinserção do ex-imigrante assim que as condições econômicas estiverem melhor.
Neste aspecto de fim de crise, há de se considerar a possível estagnação temporária laboral, como afirma o comissário da União Europeia para Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão Social, László Andor. “Não podemos dizer que resolvendo a crise do euro os problemas estarão resolvidos. (...) É preciso intervenção”, destaca Andor, ao indicar que uma das medidas para diminuir o desemprego entre os jovens é o treinamento após a universidade em um programa conjunto em toda União Europeia.
Ao longo deste trabalho, pode-se perceber  a importância de conhecer os perfis migratórios de cada país para analisar o porquê do surgimento dos movimentos de saída e entrada. Também se permitiu visualizar as semelhanças e diferenças entre um e outro, como os países de retorno frequente (para o Brasil, destacam-se os Estados Unidos, e no caso paraguaio e chileno, a Argentina).
Concluiu-se também que um dos motivos para os imigrantes estarem voltando, além da crise econômica mundial, é a existência de uma melhora nas condições de vida no país de origem, demonstrada pela grande inserção do Brasil no cenário mundial como também pelo crescimento econômico e social do Chile e Paraguai. Esse novo panorama latino-americano permite ao retornado maiores possibilidade de trabalho e de readaptação à sociedade.
Solucionaram-se também as razões da necessidade de se migrar a um país diferente que possui maior estruturação política, econômica e desenvolvimento constante, não diferindo-se das dos motivos que acompanharam os antepassados da raça humano, em que o bem estar e a luta pela sobrevivência os movia às terras distintas.
Por fim, pode-se fazer uma projeção da reação da população migratória mundial ao constatar que há a possibilidade de permanecerem em seu país de origem após o regresso, como no caso dos imigrados brasileiros ao Japão, ou voltarem a imigrar, situação dependente do futuro econômico, em que alguns economista projetam a estabilização em um prazo de três anos.

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