segunda-feira, 26 de abril de 2010

A ERA DO CAPITAL 1848-1875.



Cap. 02: A Grande Expansão.
I.

(P. 54) As transformações e expansões econômicas dos anos que medeiam entre 1848 e o inicio da década de 1870, constituem o assunto principal deste capitulo. Foi o período no qual o mundo tornou-se capitalista e uma minoria significativa de paises “desenvolvidos” transformou-se em economias industriais. Com uma expansão que viria a ser a mais espetacular ocorrida até então, sobretudo por ter sido temporariamente impedida pelos eventos de 1848. As revoluções haviam sido precipitadas pela ultima e talvez maior das crises econômicas do tipo antigo pertencentes a um mundo que dependia da sorte nas colheitas.    (...)

O novo mundo do “ciclo do comércio”, tinha seu próprio padrão de flutuações econômicas e suas próprias dificuldades seculares. O grande salto a frente estava apenas começando. Podemos datar a grande expansão a partir de 1850. O que se seguiu foi tão extraordinário, que não teve precedente. Nunca, por exemplo, as exportações inglesas cresceram tão rapidamente quanto nos primeiros 7 anos da década de 1850.

(P. 55) O que tornou essa expansão tão satisfatória foi a combinação de capital barato e um rápido aumento de preços entre os períodos de 1848 e 1850 e o ano de 1857. Os lucros aparentemente à espera de produtores, comerciantes e investidores apresentavam-se irresistíveis. E os homens de negócios não eram os únicos a lucrar, a taxa de emprego cresceu aos saltos tanto na Europa como no resto do mundo.

(P. 56) O grande aumento no custo dos cereais entre 1853 e 1855 não mais precipitou tumultos. A alta taxa de emprego e a presteza em conceder aumentos salariais temporários onde fosse necessário apagaram o descontentamento popular. Essa expansão proporcionou aos governos sacudidos pela revolução um espaço para respirar e destroçou as esperanças dos revolucionários.

(P. 57) Esse período de calma chegou ao fim com a depressão de 1857. Economicamente falando, tratava-se apenas de uma interrupção da era de ouro do crescimento capitalista, que continuou numa escala ainda maior na década de 1860 e atingiu seu clímax na expansão ocorrida entre 1871 e 1873.

Politicamente, ele transformou a situação, mas logo reanimou-se. Em pouco tempo, todas as velhas questões da política liberal voltaram a ordem do dia. Apesar de interrompida por diversos fatores externos, como a guerra civil americana de 1861 a 1865, a década de 1860 foi, do ponto de vista econômico, relativamente estável. Em resumo, a política ganhou novo ânimo num período de expansão, mas já não era a política d revolução.

II.

(P. 58) Quais eram as razões desse progresso? Por que a expansão econômica foi tão acelerada nesse período? Na primeira metade do século XIX existia o contraste entre o enorme e crescente potencial produtivo da industrialização capitalista e sua incapacidade de quebrar as correntes que a prendiam. Nenhuma industrialização poderia fornecer emprego para a vasta e crescente “população excedente” dos pobres. Por essa razão, as décadas de 1830 e 1840 haviam sido um período de crise.

(P. 59) Os homens de negócios temeram que pudesse vir a estrangular seu sistema industrial. Por duas razões essas esperanças ou medos se revelaram infundados. Em primeiro lugar, a economia industrial, nos seus primórdios descobriu, graças à pressão da busca pelo lucro da acumulação do capital, o que Marx chamou de sua “suprema realização” a estrada de ferro. Em segundo lugar –e parcialmente devido à estrada de ferro, ao vapor, a ao telegrafo “que finalmente representaram os meios de comunicação adequados aos meios de produção” – o espaço geográfico da economia capitalista poderia multiplicar-se na medida em que a intensidade das transações comerciais aumentasse.

O mundo inteiro tornou-se parte dessa economia. Essa criação de um único mundo expandido é talvez a mais importante manifestação do nosso período. Isto era particularmente crucial para o desenvolvimento econômico porque forneceu a base para a gigantesca expansão verificada nas exportações –em mercadorias, capital e homens- que teve um papel tão importante na expansão daquele que era o maior país capitalista, a Inglaterra.

(P. 60) O capitalismo tinha agora o mundo inteiro a seu dispor. Qualquer coisa vendável era negociada, mesmo as que sofriam direta resistência do país comprador, como o ópio da Índia britânica exportado para a china.

Observadores da época apontariam um terceiro fator: As grandes descobertas de ouro na Califórnia, Austrália e outros lugares depois de 1848. Em sete anos a disponibilidade mundial de ouro aumentou entre seis e sete vezes.

(P. 61) Porém três aspectos da nova disponibilidade de ouro praticamente não levantaram controvérsias:

Em primeiro lugar, ajudaram a produzir aquela situação relativamente rara entre cerca de 1810 e fim do século XIX, uma era de aumento de preços ou de inflação moderada, porém flutuante. Basicamente, a maior parte desse século foi deflacionária, em grande parte devido à persistente tendência da tecnologia a baratear produtos manufaturados. Esse período foi basicamente um interlúdio inflacionário num século deflacionário.

Em segundo lugar, a disponibilidade de barras de ouro um grandes quantidades ajudou a estabelecer aquele padrão monetário estável e seguro baseado na libra esterlina.

Em terceiro lugar, os caçadores de ouro abriram eles mesmos novas áreas, sobretudo no Pacífico, para a imensa atividade econômica. Assim fazendo, eles “criaram mercados a partir do nada”.

(P. 62) Certamente os contemporâneos teriam dado ênfase à contribuição de um outro fator: a liberalização da iniciativa privada, o motor que promoveu o progresso da industria. Nunca houve um consenso mais esmagador entre economistas ou políticos e administradores inteligentes no que toca à receita para o crescimento de sua época: o liberalismo econômico.

Essa liquidação legal dos períodos medieval e mercantilistas não se limitou a uma legislação de oficio. As leis contra a usura, letra morta foram abolidas na Inglaterra, Holanda, Bélgica e norte da Alemanha, entre 1854 e 1867.

(P. 63) A tendência mais impressionante era o movimento em direção à total liberdade de comércio, apenas e Inglaterra (depois de 1846) havia abandonado o protecionismo de forma total, mantendo taxas alfandegárias apenas por razões fiscais. Até aquele momento, mesmo as mais audaciosas e seguras economias capitalistas haviam hesitado em confiar plenamente no livre mercado com o qual estavam teoricamente comprometidas, principalmente no que diz respeito à relação entre patrões e empregados.

(P. 64) O que a primeira vista é mais surpreendente, entre 1867 e1875, é que todos os obstáculos legais significativos aos sindicatos trabalhistas e ao direito de greve foram abolidos quase sem causar estardalhaços.

Indiscutivelmente, esse vasto processo de liberalização encorajou a iniciativa privada, assim como a liberalização do comércio ajudou a expansão econômica, mas não devemos esquecer que grande parte da liberalização formal não era realmente necessária.

(P. 65) Não há duvida de que a liberalização trouxe todo tipo de resultados especificamente positivos, a liberalização não resolvia tudo por si mesma. Nenhum lugar liberalizou mais do que a republica de Nova Granada (Colômbia) entre 1848 e 1854, mas quem afirmaria que as grandes esperanças de prosperidade de seus chefes de Estado foram realizadas imediatamente, se é que foram?

Na Europa essas mudanças indicaram uma profunda e grande confiança no liberalismo econômico, que parecia ser justificado por uma geração. A livre iniciativa capitalista florescia tão claramente. Enfim, mesmo a liberdade de contrato para os trabalhadores, incluindo a tolerância de sindicatos, pouco parecia ameaçar os lucros, já que o “exército industrial de reserva” que consistia basicamente em massas camponesas, ex artesãos e outros profissionais que migravam para as cidades e regiões industriais, pareciam manter os salários em um nível satisfatoriamente modesto.

O entusiasmo pelo comércio livre internacional é a primeira vista mais surpreendente entre os ingleses, pois significou, em primeiro lugar, que lhes é permitido vender livremente a preço mais baixo em todos os mercados do mundo e em segundo lugar, que assim encorajavam os paises subdesenvolvidos a vender seus próprios produtos –basicamente alimentos e matérias-primas- barato e em grande quantidade, de forma a conseguir as divisas necessárias para comprar manufaturas inglesas.

(P. 66) Mas por que rivais da Inglaterra aceitaram esse arranjo aparentemente desfavorável? Para os paises subdesenvolvidos, que não procuravam competir industrialmente, isto era evidentemente atraente.

A maior parte das economias em vias de industrialização podiam ver nesse período duas vantagens no livre comércio. 1º a expansão geral do comércio mundial, beneficiou a todos, ainda que beneficiasse desproporcionalmente a Inglaterra. 2º qualquer que fosse a futura rivalidade entre as economias capitalistas, nessa etapa de industrialização, a vantagem de poder utilizar o equipamento, as fontes e o know-how da Inglaterra era bastante útil.

III.

(P. 67) A economia capitalista recebeu simultaneamente numerosos estímulos extremamente poderosos. Os meados do séc. XIX foram fundamentalmente a era da fumaça a vapor. A produção de carvão agora chegava a ser medida em dezenas de milhões de toneladas para o mundo. A produção de ferro por volta de 1870, a França, a Alemanha e os EUA produziam cada um entre um e dois milhões de toneladas, enquanto a Inglaterra, permanecia bem na frente com seis milhões, ou seja, cerca de metade da produção mundial.

(P. 68) Esses números indicam algo mais além do fato de que a industrialização estava em progresso. O fato significativo de que o progresso estava agora geograficamente muito mais espalhados, apesar de ser muito desigual.

(P. 69) Em 1850, a Inglaterra ainda possuía bem mais de um terço de toda a força a vapor global, mas já na década de 1870 possuía apenas uma quarta parte ou menos. Em números absolutos, os EUA já estavam um pouco mais na frente por volta de 1850 e deixaram a Inglaterra bem atrás em 1870, mas mesmo assim, a expansão industrial americana, apesar de extraordinária, parecia menos sensacional que a da Alemanha.

A industrialização da Alemanha era um fato histórico de importância maior. Em 1850, a Federação Alemã tinha tantos habitantes quanto à França, mas sua capacidade industrial era incomparavelmente menor. Em 1871, o império alemão unido já era mais populoso que a França e muito mais poderoso economicamente. Os produtos característicos da era vieram a ser o ferro e o carvão, e seu símbolo mais espetacular, a estrada de ferro, que os combinava. Era a idade do ferro.

(P. 70) Porém, mesmo tendo tornado possível a tecnologia revolucionária do futuro, a nova indústria pesada” não era particularmente revolucionária senão em escala. Em termos globais, a Revolução Industrial da década de 1870 ainda era impulsionada pelas inovações técnicas do período de 1760 e 1840. Mesmo assim, as desenvolveram duas formas de indústria baseadas numa tecnologia ainda mais revolucionária: a química e a elétrica.

Com poucas exceções, as principais invenções técnicas da primeira fase industrial não exigiam conhecimento científico muito avançado. A partir da metade do século os coisas se modificaram.

(P. 71) Laboratórios de pesquisa tornou-se parte integrante do desenvolvimento industrial. Na Europa ele permaneceu ligado a universidades ou instituições similares, mas nos EUA o laboratório puramente comercial já havia aparecido no limiar das companhias telegráficas. Uma conseqüência significativa dessa penetração da industria pela ciência era que, dali em diante, o sistema educacional tornara-se crucial para o desenvolvimento da industria. Daquele momento em diante, era quase impossível que um país que faltasse educação avançada viesse a se tornar uma economia moderna.

(P. 72) Novas matérias-primas, frequentemente encontráveis apenas fora da Europa, atingiram a partir daí uma significação que só viria a ser tornar evidente no período subseqüente ao imperialismo.

(P. 73) Desse modo, petróleo já havia atraído a atenção dos engenhosos ianques como combustível conveniente. O crescimento das importações de borracha pela Inglaterra era realmente notável. Em 1876 havia exatamente duzentos telefones trabalhando na Europa e 380 nos EUA, e, na Exposição Internacional de Viena, a operação de uma bomba d’agua movida a eletricidade ainda era uma grande novidade. Podemos observar que a ruptura estava bem próxima: O mundo estava prestes a entrar na era da luz e da energia elétrica, do aço e das ligas de aço, do telefone e do fonógrafo, das turbinas e dos motores de combustão interna. Mas tudo isso ainda não havia acontecido em meados de 1870.

A maior inovação industrial, excetuando-se os campos científicos acima mencionados, foi provavelmente a produção em massa de maquinaria.

(P. 74) A maior parte do avanço na engenharia de produção de massa veio dos Estados Unidos. Tudo isso preocupava os europeus que já percebiam, por volta de 1860, a superioridade tecnológica norte americana na produção em massa.

IV.

(P. 75) Foi em 1860, depois da primeira dessa genuínas quedas mundiais, que os economistas acadêmicos, reconheceram a periodicidade desse “ciclo do comercio”até então considerado apenas por socialistas e outros heterodoxos.

(P. 76) Assim, por mais dramáticas que fossem essas interrupções na expansão, elas eram temporárias. Os historiadores tem duvidado da existência daquilo que vem sendo chamado “A Grande Depressão” de 1873 a 1896, que, evidentemente, não foi tão drástica quanto a de 1929 a 1934, quando a economia capitalista mundial quase parou. No entanto os contemporâneos não tinham duvida de que a grande expansão havia sido seguida de uma grande depressão.

(P. 77) Nessa época, o capitalismo industrial tornou-se uma genuína economia mundial e o globo estava transformado, dali em diante, de uma expressão geográfica em uma constante realidade operacional. A história, doravante, passava a ser história mundial.

Bibliografia:
HOBSBAWM; Eric J: “A ERA DO CAPITAL 1848-1875”. ed. Paz e Terra 5ª edição.


sexta-feira, 23 de abril de 2010

FICHAMENTO: RUDÉ, George: “A MULTIDÃO NA HISTÓRIA”.

Cap. 11: A Revolução Francesa de 1848.

(P.179). Dois fatores fizeram com que as multidões da revolução francesa não fossem idênticas às da de 1789. Um deles foi o início da industria moderna; o outro, a difusão das idéias socialistas, entre a população industrial e trabalhadora.    (...)

Fora dessas industrias, a “revolução” tinha feito pouco progresso sociais. A população de Paris passara a pouco mais de 1 milhão de habitantes, mas ainda era uma cidade de manufaturas, industriais domésticas e de pequenos artesanatos.

(P.181). Havia apenas 5 trabalhadores para cada patrão, e os principais centros da população trabalhadora eram ainda os velhos bairros e mercados de 1789. Eram o banqueiro, o comerciante manufatureiro, o especulador e o dono de terras, e não o industrial, que davam as cartas e formavam a espinha dorsal do que Marx chamou de “a sociedade anônima para a exploração da riqueza nacional da França”.

Embora a transformação social e industrial fosse lenta, as novas idéias nasciam depressa; e a década de 1830 viu um notável desenvolvimento da educação política industrial francesa. O que havia de novo na década de 1830, depois da experiência de julho, era o fato de os trabalhadores estarem começando a se associar em grupos organizados a fim de participar das questões políticas. E tinham objetivos sociais muito mais profundos do que um simples aumento de salários e a existência de empregos, 1830 é considerado como o nascimento do moderno movimento trabalhador.

Ocorreu numa época em que a habitação era miserável, os salários eram baixos, e a depressão predominava, e foi seguido, em Paris, por uma série de motins e insurreições armadas que visavam principalmente o próprio governo.

(P.182). Pela primeira vez, encontramos os mesmos trabalhadores empenhados em sucessivas manifestações políticas. Isto não era visto em revoluções anteriores e constitui um marco na história da ação e das idéias da classe trabalhadora.

Logo depois do segundo levante de Lyon, em abril de 1834, essa fase de motins políticos terminou, mas a fermentação das idéias políticas continuou. No mesmo ano a palavra “socialista” foi usada pela primeira vez por Pierre Leroux, e as idéias de Bebeuf, Blanqui, Barbès, Blanc, Cabet, Proudhon e dos Saint-Simonianos começaram a circular entre os trabalhadores. Seus remédios iam de medidas reformistas até a guerra de classe e insurreição armada: Eles ressaltavam a necessidade de igualdade de distribuição da propriedade publica e da riqueza nacional. Todos eles se dirigiam aos trabalhadores o que era algo novo.

Surgiram assim sociedade secretas e clubes, onde Alexis de Tocqueville discursou em janeiro de 1848, ele advertiu que “ as classes trabalhadoras ...estão formando gradualmente opiniões e idéias destinadas não só a modificar esta ou aquela lei, ministério, e até mesmo forma de governo, como a própria sociedade”.

(P.183). A revolução eclodiu em Paris, 4 semanas depois. O movimento começou com uma campanha, apoiada pela oposição liberal, de organizar banquetes em favor do sufrágio. Quando Guizot proibiu o banquete, os lideres da oposição de afastaram e os jornalistas radicais republicanos de Le National e La Réforme assumiram o movimento e organizando grandes manifestações populares de apoio. A essa altura a Guarda Nacional Burguesa, em vez de dispersas a multidão ficou com os reformadores. O rei demitiu Guizot. Mas as manifestação cresceram em força e tiveram apoio nos bairros populares. No Boulevard des Capucines, vários manifestantes foram mortos e feridos num sangrento choque com os soldados. Isso deu um novo objetivo e direção aos motins: lojas de armas foram saqueadas e, na manhã de 24 de fevereiro, Paris estava em franca revolta.

O rei abdicou e fugiu para a Inglaterra. As multidões invadiram a Câmara dos Deputados e depuseram os antigos fazedores de constituição, receberam e aclamaram um novo governo “provisório” escolhido das listas de nomes apresentados pelos jornalistas liberais e radicais. As multidões, lembrando-se da “traição” de 1830, estavam decididas a colher sua parte da vitória, assim, o governo tinha mais dois nomes: O do líder socialista Louis Blanc e do metalúrgico Albert.

Nos dias seguintes, manifestações de massa apoiadas pelos socialistas e pelos clubes arrancaram do Governo Provisório várias concessões: a promessa do “direito do trabalhador”, oficinas “nacionais” para aos desempregados; 10 horas de trabalho por dia, a abolição da prisão por dívidas, o sufrágio masculino adulto e a proclamação imediata da República.

(P.184). Assim, os assalariados não só tinham, como em 1789 e 1830, ajudado a fazer a revolução mas também, uma vez obtida a vitória inicial, continuaram a deixar sua marca sobre ela.

Em revoluções anteriores, tinham seguido as idéias e lemas de burguesia, mesmo quando ocasionalmente os adaptavam para seu próprio uso. Desta vez, estavam organizados em seus clubes políticos e associações profissionais próprios, marchavam sob bandeiras e lideres próprios e estavam profundamente imbuídos das novas idéias do socialismo.

Mas se em Paris, os assalariados tinham sido capazes de dar nova forma e conteúdo a uma revolução popular, nas províncias, predominavam as velhas formas.

(P.185). A visão dos trabalhadores no Palácio de Luxemburgo, onde Louis Blanc tinha estalado seu “parlamento dos trabalhadores”, começava a alarmar muitos, que embora revolucionários em fevereiro, (agora em junho) partilhavam da preocupação de Tocqueville, de que “a propriedade” poderia ser ameaçada.

Um mês depois, os clubes e a Comissão do Luxemburgo, de Blanc, combinaram uma grande manifestação dos trabalhadores, com o objetivo de adiar as eleições para a nova Assembléia, e pressionar o governo a criar uma “República democrática” baseada na “abolição da exploração do homem pelo homem” e na “organização do trabalho pela associação”. Os membros não socialistas do governo atemorizaram-se e convocaram a Guarda Nacional para uma contramanifestação.

No Hotel de Ville, os delegados da Guarda Nacional é que foram recebidos com honras; a representação dos trabalhadores foi menosprezada e recebida aos gritos de “abaixo os comunistas !”. O rompimento entre o governo e os socialistas era agora completo.

(P.187). As eleições nacionais realizaram-se uma quinzena depois e foram um trunfo para os republicanos moderados que conquistaram mais de 500 lugares, enquanto os socialistas ficaram com menos de 100 membros.

Numa tentativa de restabelecer o equilíbrio, os lideres dos clubes resolveram promover outra “insurreição”. Em 15 de maio, seus seguidores desarmados, apoiados por 14.000 trabalhadores desempregados das oficinas nacionais invadiram a Assembléia para apresentar uma petição em favor da guerra contra a Rússia a em defesa da Polônia. Na confusão que se seguiu, alguns de seus porta-vozes declararam dissolvida a assembléia e leram uma lista de novos membros para o governo provisório, que continha socialistas e líderes dos clubes. Mas logo a Guarda Nacional chegou, foram facilmente dispersados.

A Assembléia e o Conselho Executivo, trataram o incidente como uma tentativa de golpe de Estado. Blanqui, Raspail, Barbès e Albert, e cerca de mais 400 foram presos. A comissão do Luxemburgo, de Blanc, foi fechada. E as oficinas nacionais com seus 115.000 internos, foram dissolvidas.

(P.188). Os mais vigorosos líderes trabalhadores estavam presos, graças a essa falta de liderança política, surgiu um estranho místico de nome Louis Pujol, auto intitulado o “profeta da desgraça” que se tornou porta voz dos trabalhadores.

Em 22 de junho, cerca de 1.500 trabalhadores, mandaram uma delegação de 56 delegados para parlamentar com o governo no palácio de Luxemburgo. Marie recebeu Pujol e 5 outros, tratou-os com pouca cortesia respondendo as ameaças de Pujol com outras ameaças. Naquela mesma noite realizou-se na Bastilha um comício, onde falou Pujol. Enquanto os manifestantes voltavam pelas avenidas, surgiu um grito “às armas!”, e a primeira barricada, feita de ônibus derrubados, colchões e pedras de pavimentação, foi levantada perto da Ponte St. Denis.

A insurreição durou 3 dias e estendeu-se muito além das fileiras dos trabalhadores de oficinas. Os revoltosos não tiveram muita dificuldade para encontrar armas: muitos eram antigos soldados, outros eram Guardas Nacionais. O numero de armas podem ter chegado a 100.000.

A exigência imediata era dupla: Restabelecer as oficinas nacionais e dissolver a Assembléia que as tinha fechado. Quando outros trabalhadores se juntaram aos insurgentes, novos objetivos foram acrescentados.

(P.189). Para enfrentar os rebeldes, o governo podia usar 30.000 soldados regulares, 16.000 gardes móbiles, 2.000 Guardas Republicanos e, teoricamente a Guarda Nacional. Mas só os dos distritos do oeste eram confiáveis. Com o desenrolar das lutas as ferrovias trouxeram vigoroso apoio, na forma de voluntários de todas as partes do país. “Entre eles (escreveu Tocqueville), camponeses, pequenos lojistas, donos de terras e nobres, todos misturados nas mesmas fileiras...Era evidente, partir daquele momento, que terminaríamos vencendo, pois os insurgentes não recebiam reforços, ao paço que nós tínhamos toda a França como reserva”. Muitos socialistas se recusaram a participar, outros só o fizeram depois de iniciada a luta armada. Acima de tudo, na que se relaciona com o resto da França, os trabalhadores parisienses estavam numa posição perigosa e isolada.

No dia 24, as forças da ordem conseguiram varrer os últimos centros de resistência no norte e no sul da cidade, e os rebeldes provocaram indignação ao balearem o general Bréa e o arcebispo de Paris, que tinham ido oferecer mediação.

(P.190). Na manhã do dia 26, uma comissão oferecia a deposição de armas em troca de anistia, Cavaignac, porém, insistiu na rendição incondicional e, pouco depois de reiniciada a batalha, conseguiu impô-la. A insurreição estava terminada.

A contagem de 2.000 mortos e feridos, feita pela policia, é provavelmente uma subestimativa. 15.000 pessoas foram presas, 6.374foram libertadas após interrogatório. Mais de 4.000 foram condenados a prisão em fortalezas ou em degredo para a Argélia. Só os assassinos do general Bréa foram guilhotinados. Os clubes e jornais revolucionários foram fechados. Livres dos socialistas e do medo de novas ações operárias, a Assembléia pode desmantelar o que restava da República “social” e levantar outra que correspondia melhor aos interesses dos vencedores.

Marx e Tocqueville, embora divergindo quanto aos detalhes, concordavam que se tratava de uma luta de classe contra classe, que marcou um ponto culminante na história da França. Segundo Tocqueville, o que a distinguiu dos acontecimentos dos 60 anos anteriores, foi o fato de não visar uma modificação na forma de governo, e sim alteração da ordem da sociedade. Para Marx, foi, precisamente uma luta do Proletariado e da burguesia, onde a revolução significava a “derrubada da sociedade burguesa, ao passo que, antes de fevereiro, significava a derrubada da forma do Estado”. Para os contemporâneos que não conheciam expressões como “guerra de classes”, a revolta de junho foi um protesto armado dos trabalhadores de Paris, se não contra os capitalistas, pelo menos contra os donos de propriedades, ou os ricos.

(P.191). Será esta interpretação aceitável ou precisa ser revista? O conflito não foi, certamente, entre trabalhadores de fábricas e seus empregados. É até mesmo provável que, entre os presos, os pequenos mestres, os donos de lojas e os artesãos independentes fossem mais numerosos do que os assalariados.

Remi Gossez acrescenta que não havia distinções de classe nítidas entre as duas forças em oposição. Por isso, ele conclui que, embora o conflito social fosse bastante autêntico, colocou lado a lado pequenos produtores, inquilinos e sublocatários ( e não apenas assalariados) contra lojistas e comerciantes, e contra donos de terras e principalmente locatários e não contra donos de fábricas, mestres e empregados industriais.

(P.192). Por mais notáveis que sejam certas semelhanças entre as multidões de 1789 e de junho de 1848, as diferenças são igualmente grandes. Em primeiro lugar, na revolução mais antiga, a iniciativa foi tomada, geralmente pelos mestres das oficinas, mais alfabetizados e de melhor formação política. No segundo movimento, o ímpeto inicial veio dos trabalhadores das oficinas nacionais.

Em junho foi apenas uma minoria dos trabalhadores em oficinas que participou: fato devido à decisão do governo de continuar a pagar salários, mesmo depois de iniciada a luta. A espinha dorsal da insurreição vinha de outros grupos. Assim, os trabalhadores de construção representam a maior categoria de presos, e já se notou que cada um dos principais centros de resistência era sustentado por sua associação profissional característica.

(P.193). Marx pode ter olhado demasiado à frente ao escrever como se o proletariado parisiense já estivesse totalmente formado. Mas tinha razão ao ressaltar as novas relações que se desenvolviam entre as classes e seu significado para toda a Europa.

Bibliografia:
RUDÉ, George: “A MULTIDÃO NA HISTÓRIA”.Estudo dos movimentos populares na França e na Inglaterra 1730-1848. ed Campus. Pág 179-194.


ANÁLISE DO LIVRO: A CHINA SACODE O MUNDO. James Kynge

Resumo.
É indiscutível a importância da China no cenário mundial. Seu apetite por matéria-prima, trabalhadores qualificados e energia vão mudar o cenário político-econômico. Seus produtos manufaturados, seus turistas, estudantes, executivos, e principalmente seu dinheiro e a força de investimento já estão transformando o mundo. Tendo vivido muitos anos na Ásia e trabalhado como jornalista na China, James Kynge não conta apenas como e por que este país emergente vai mudar a vida de todos nós. Também aponta as forças e as fraquezas da China e propõe como o mundo, Brasil inclusive, pode lidar com elas.
Boa Leitura.


Introdução:
James Kynge conhece como poucos ocidentais, as relações e as contradições do modelo chinês de economia e política. Esteve pela primeira vez na China em 1982 como estudante de graduação, passou grande parte de sua vida como repórter na Ásia. Esse livro relata suas experiências pelo país de Confúcio e tem como objetivo principal demonstrar de qual forma a economia chinesa passou de periférica para uma posição central nos negócios mundiais. Kynge demonstra ser um grande conhecedor da cultura e história chinesa, apesar do autor abordar diversas passagens históricas de várias épocas, ele tem como ponto central o período que vai do início da liberalização econômica de Deng Xiaoping até a entrada da China na OMC e o “Boom” econômico de 1998 a 2005.
Análise da obra:
De forma quase literária e com diversos exemplos vividos pelo próprio James Kynge, ele escreve sobre o impressionante desenvolvimento da economia chinesa. Como todo bom jornalista, faz um grande uso de relatos pessoais e entrevistas para descrever de que modo à China demonstra sua presença no mundo inteiro.
Nesse primeiro capitulo para exemplificar a eficiência do trabalho chinês, Kynge relata sobre como uma fábrica inteira localizada na Alemanha foi desmontada e remontada na China em um prazo impossível para uma empresa ocidental, que nesse momento discutia sobre a jornada de trabalho semanal de 35 horas, enquanto os chineses trabalhavam 14,15,16 horas por dia, 7 dias por semana.
Esse crescimento gigantesco e mal planejado fez a China um consumidor voraz de matérias-primas e para saciar a fome de ferro do “Dragão” a sucata ganhou status de luxo graças ao preço que alcançou em razão da grande demanda chinesa. O primeiro indício do crescimento chinês foi os sumiços das tampas de bueiros dos países vizinhos para saciar sua necessidade por metal.
James Kynge demonstra como a abertura econômica não foi imposta de cima pra baixo por Deng Xiaoping, mas aconteceu graças à desobediência civil de algumas pessoas que sem empregos públicos montavam pequenos negócios e assim prosperavam economicamente.
Kynge compara a Chicago do Século XIX à cidade chinesa de Chongqing, fazendo um pequeno balanço entre as duas cidades, chega à conclusão que o crescimento de Chicago, apesar da importância histórica que teve, nem se compara ao que esta acontecendo na China, onde cidades gigantescas surgem em alguns poucos anos.
O livro mostra-nos que esse crescimento se fez através de inúmeros sacrifícios humanos, os quais são retratados com inúmeros exemplos durante o segundo capitulo.
O maior paradoxo Chinês é sem duvida, sua enorme massa demográfica, tudo sempre envolve milhões de pessoas, qualquer movimento, tragédia, política, sempre tem um grande numero de pessoas envolvidas. Essa grande massa é o trunfo e o inferno chinês, o grande contingente humano, criou o maior exército industrial do mundo, junto com a maior reserva de trabalhadores de todos os tempos, sendo necessário para o Estado chinês a criação de 24 milhões de empregos por ano para suprir a juventude que ano após ano entra no mercado de trabalho.
Diversas grandes empresas chinesas surgiram da indisponibilidade de empregos. Quando não havia vaga para os serviços públicos algumas pessoas eram liberadas a ter em casa uma pequena loja, oficina, quitanda, etc. para poder sustentar-se. Quando estas empresas davam certo cresciam de forma espetacular dentro da própria China. Como não possuíam tecnologia suficiente para crescer além de suas fronteiras, algumas empresas recorriam a pirataria e ao uso da espionagem industrial.
Essas empresas eram estimuladas a produzir cada vez mais, mas o problema era que outras empresas do mesmo ramo também eram. Com isso vinha à superprodução que mantinha os preços incrivelmente baixos, essa competitividade derrubava os valores dos produtos e inundavam o mercado interno de mercadorias. A única saída era a exportação, que chegou abalando o mundo com preços, que embora fossem muito baratos no comércio internacional, eram ainda mais baratos dentro da China. As empresas chinesas se vêm obrigadas a abaixar as taxas de lucro graças à concorrência interna, então para obterem maiores lucros elas são obrigadas a ingressar em diversas áreas da economia, preenchendo diversos nichos econômicos. Muitas empresas chinesas produzam desde água mineral até motores de avião.
James Kynge trata também das migrações de chineses para outras partes do mundo, em especial a Europa. Milhares de chineses vão todos os anos para a Europa em busca de trabalho. Eles chegam e se predispõe para trabalhar em áreas onde os europeus não querem trabalhar. A capacidade do povo chinês para o trabalho é muito apreciada e de grande serventia já que alguns chegam a trabalhar cerca de 20 horas por dia, enquanto se discute em alguns países da união européia a jornada de trabalho semanal de 35 horas.
Essas migrações perigosas e ilegais levam os chineses a ariscar a vida na busca de uma vida melhor. O maior triunfo para um chinês é conseguir juntar dinheiro suficiente para voltar à China e dar uma vida melhor para seus parentes.
O livro mostra bem o uso da mão-de-obra chinesa na produção de produtos de marcas famosas. Apesar de baratearem os custos de produção, os chineses que vivem na Europa ganham razoavelmente como europeus, por esse motivo muitas marcas de grifes famosas transferem suas fabricas para a China, onde após serem produzidas a preços baixíssimos chegam ao destino europeu apenas para ganhar a etiqueta. Diversas empresas de roupas, jóias, etc, já migraram para a china onde o valor de produção é muito mais baixo. Apesar de toda essa ligação com a China, estas empresas sentem-se desconfortáveis ao falar sobre suas relações de negócios com os chineses.
Em outro ponto James Kinge aprofunda esse debate sobre a terceirização da produção, tendo como base a economia americana. Esse movimento de migração das empresas para a China é segundo ele prejudicial para a economia local.
As empresas na ânsia de baratear a produção transferem parte de sua produção para o território chinês, isso prejudica as pequenas empresas locais que eram as antigas fornecedoras de componentes para a montagem do produto final. Isso quando não se transferem integralmente para a China.
Há vários mitos, sobre, em até que ponto a tecnologia chinesa pode se desenvolver. Todas essas histórias tem algo em comum, todas acreditam que a China não ultrapassará o patamar médio tecnológico. Idéia essa que é desconstruída pelo autor, pois, segundo ele, mesmo a China investindo menos no desenvolvimento de novas tecnologias que os EUA, ela está chegando perto graças à absorção de tecnologias estrangeiras que se estalam no país. Se no inicio da abertura econômica chinesa seus produtos eram caracterizados por possuírem pouca ou nenhuma qualidade, em 2005 seus produtos estavam em pé de igualdade tecnológica com países como Japão e E.U.A.
A China se abre economicamente depois de séculos fechada ao comércio exterior, e nesse momento os países que muito ansiavam essa abertura se fecham, pois, não tem condições de competir com essa imensa economia.
Nos E.U.A a terceirização esta no topo das discussões, como já sabemos a transferência da linha de produção para a China barateia o custo final de um produto, se economicamente isso é vantajoso para a empresa e para os setores mais altos dentro desta mesma empresa, essa terceirização é igualmente trágica para as áreas administrativas e braçais que perdem seus empregos para a mão-de-obra estrangeira. Há nos Estados Unidos uma progressiva diminuição do número de pessoas que integram as chamadas classes médias americanas, justamente por esse motivo.
Desse ponto do livro em diante Kynge trata das conseqüências acarretadas por esse espetacular crescimento chinês. O primeiro assunto a ser tratado é de grande relevância e esta no centro das discussões em vários países, que é a degradação do meio-ambiente e a destruição dos recursos naturais.
Os recursos naturais chineses chegaram a um patamar desesperador, sua fome por recursos naturais já vem de longa data, mas agravou-se nos últimos anos. Cada vez mais ela necessita de matérias-primas como madeira, ferro, petróleo, ouro, etc, e para suprir essa demanda à China negocia com outros países muitas vezes de forma ilegal.
Mais a frente o autor debate sobre desvios de caráter como corrupção, estelionato, tentativas de tirar proveito do próximo etc, que acontecem na China por diversos fatores e estão enraizados em quase todas as instituições chinesas. Como no caso do leite que não nutria as crianças, seus fabricantes acreditavam que se as crianças permanecessem desnutridas suas mães seriam obrigadas a comprar mais leite, entretanto esse leite além de não nutrir causava deformidades nas crianças e da garota que teve sua vida literalmente roubada por outra que tinha um pai influente dentro da China.
Kynge analisa também a questão das marcas chinesas no ocidente, muitas pessoas (em especial norte-americanos e europeus) não aceitam as marcas nascidas e produzidas na China por diversos fatores, mas aceitam marcas já conhecidas que fazem parte do cotidiano, mesmo que estas tenham sido totalmente produzidas em território chinês, com mão-de-obra chinesa, com componentes e peças MADE IN CHINA. Isso é um paradoxo que as empresas Chinesas conhecem bem e resolvem de forma bastante simples, comprando a marca. Como ocorreu no caso de Lenovo que comprou a IBM, um símbolo americano.
Os dois últimos capítulos do livro abrem uma abordagem sobre a grande contradição chinesa: como manter uma economia capitalista com a forma política comunista.
Antes de sua entrada na OMC e a abertura para o mercado internacional, suas formas políticas e econômicas diziam respeito somente a própria China, mas agora com essa enorme influência econômica sobre diversos países essa se tornou uma questão global. Segundo Kynge essa forma de governo associada à economia capitalista é injusta para com os outros países.
O que faz com que os EUA e diversos países europeus comecem a utilizarem-se de táticas protecionistas para barrar o avanço de produtos chineses sobre a economia nacional. Sendo isso muito utilizado nos discursos políticos desses países. Entretanto essas idéias muitas vezes fiquem apenas nos discursos, pois, ao que tudo indica o processo de barateamento nos preços de diversos produtos tem relação direta com a China. Fato que vem acontecendo a mais de uma década melhorou materialmente a vida de muitos trabalhadores no mundo inteiro inclusive nesses países que pretendem fazem uso do protecionismo.
Para melhorar as relações internacionais da China, a governo instruiu seu povo a utilizar-se da técnica do Waishi. Técnica que consiste em fazer amizade e agradar o visitante estrangeiro, mas de forma profissional. Esta prática pode ser isolada como no caso do tratamento dado a um turista estrangeiro ou gigantesca como no caso das olimpíadas. Essa tática consiste em criar uma maquiagem dos problemas chineses diante do mundo.
Kynge finaliza o livro analisando em até que ponto o crescimento da China será aceito pelas outras potências. Segundo o autor, o crescimento econômico chinês muitas vezes vai de encontro com o americano, gerando alguns momentos de tensão entre os dois países. Como nos casos dos países nomeados parias (eixo do mal) pelo governo norte americano, que nada mais são do que países que representam algum tipo de entrave político aos Estados Unidos, a China mantém relações com esses parias sem nenhum constrangimento.
Apesar do enorme crescimento da zona de influencia chinesa, do extensivo aumento nos gastos militares, das relações com países considerados problemáticos, das contradições políticas e econômicas e da não muito amistosa relação com EUA e Japão, a China segundo Kynge “esteja casada demais com o mundo, profundamente imiscuída demais em organizações e tratados, e dependente demais dos outros (países) para morder as mãos dos que lhe dão de comer”.

Bibliografia:
KYNGE; James: “A CHINA SACODE O MUNDO”. São Paulo ed. Globo, 2007


RESENHA: VOZES DO MAR. O movimento dos marinheiros e o golpe de 64.



VOZES DO MAR.
Resumo
Flávio Luís Rodrigues em seu livro tenta entender como a historiografia Brasileira trata o movimento que ocorrera nos dia 25, 26 e 27 de março de 1964 onde mais de mil marinheiros se amotinaram no Sindicato dos Metalúrgicos do Estado da Guanabara. Para tal fim, o autor faz um apanhado geral partindo de um contexto internacional, passando pelo nacional desde Getúlio Vargas até João Goulart, para assim entender as influências que incidiram sobre a criação da AMFNB (Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil), sua revolta e extinção. Por fim Flávio Luís chega ao ponto central de seu livro; como a historiografia brasileira, e suas diversas interpretações, tratam desse assunto tão polêmico.
Boa Leitura.

A AMFNB.
Na década de 60 era muito difícil a ascensão de um marinheiro a oficial, pois, os cargos do oficialato eram reservados aqueles que faziam cursos diferentes dos reservados aos marinheiros. Por esse motivo não era raro ver filho de almirante seguir a mesma carreira do pai como se fosse algo hereditário.
A Grande maioria dos marujos tinha origem no norte ou nordeste do país, em sua maior parte camponeses de áreas pobres e com poucos empregos para os jovens. Com pouca ou nenhuma escolaridade os jovens eram atraídos pelas belas propagandas da Marinha. A família desses rapazes muitas vezes não aprovavam essa decisão, graças ao preconceito que existia para com os marinheiros, que eram taxados de cara da zona, cara bagunceiro, valentão, briguento, alcoólatra, etc.
Com o tempo dentro da marinha esses rapazes “caiam na real”, já que a vida dentro dos navios era muito difícil para o marujo de baixa patente. A oposição entre oficiais e marinheiros adquiriu proporções de oposição de classe, uma vez, que os cargos do oficialato estavam reservados aos integrantes das classes mais abastadas.
A Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil foi criada no dia 25 de março de 1962, tendo como primeiro presidente João Barbosa de Almeida. Essa associação surgiu no âmbito de diversas mudanças políticas, sociais que ocorriam no Brasil e no mundo, como o autor faz questão de relatar: A crise dos mísseis, a renúncia de Jânio Quadros e o governo João Goulart com a crise do populismo, etc.
Essa primeira diretoria nunca foi reconhecida legalmente pela marinha, contudo era tolerada pelo fato de sua submissão e boa relação com o almirantado. A presidência de João Barbosa foi marcada por sua política conciliatória e assistencialista. Com o tempo surgiram duas facções dentro da associação, uma de tom mais conservador e outra mais radical que pregava autonomia para com a alta cúpula da marinha.
A segunda diretoria, eleita no ano seguinte, tinha um tom mais radical que a antecessora. Sob a presidência de José Anselmo dos Santos defendia-se a autonomia da instituição, relacionava-se com vários sindicatos e entidades como a UNE, além de ser simpático as reformas de Jango.
De março de 1962 até agosto de 1963 a AMFNB foi tolerada pela marinha, mas a Revolta dos Sargentos de Brasília em setembro daquele ano quando cerca de 600 praças amotinados trocaram tiros com a tropa do exército, levou as forças armadas a temer a crescente politização dos militares de baixa patente, com isso a administração declarou ilegal o estatuto da associação.
O ano de 1964 começou com um conflito declarado entre o ministério da Marinha e a AMFNB, onde integrantes e líderes da associação sofriam todo tipo de pressão e perseguição por parte de seus superiores. A radicalização de ambos, próximo ao aniversário de dois anos da instituição, levou a revolta dos marinheiros.
Durante a festa que, diga-se de passagem, foi proibida pelo alto escalão da marinha, os marinheiros que festejavam dentro do Sindicato dos Metalúrgicos do Estado da Guanabara ficaram sabendo da prisão do 1ª classe Otacílio dos Anjos Santos. Surgindo a proposta de manter vigília até sua liberdade, que mais tarde foi acrescida de mais uma reivindicação: O reconhecimento da Associação dos Marinheiros e fuzileiros Navais do Brasil pela marinha.
Para conter a rebelião foram enviados tropas do exército, que invés de se posicionarem contra o movimento começaram a aderir a ele, entrando desarmados para dentro do sindicato.
No dia 27 de março uma foto estampou a capa do jornal Última Hora onde José Anselmo dos Santos aparece lado a lado com João Candido líder da Revolta da Chibata. Com isso o movimento de 1964 procurava legitimação no de 1910, já que muitas das reivindicações já vinham daquela época como: Casamento, vestir paisana fora do serviço, melhoria do salário etc.
Diante de tal crise o ministro da marinha Sylvio Motta exonerou-se do cargo, o que gerou uma espécie de pequena vitória dos marinheiros. Para substituí-lo foi convidado o Almirante Paulo Mário da Cunha Rodrigues que anistiou todos os rebelados do sindicato dos metalúrgicos. Isso irritou ainda mais os almirantes.
Após a anistia os marinheiros comemoraram em passeata pelas ruas centrais do Rio. Todos esses atos de indisciplina das tropas e tolerância por parte do governo podem ter sido o estopim que os militares, que já conspiravam contra o governo de Goulart, tanto precisavam para justificar sua ação no dia dois de Abril de 1964.
JOSÉ ANSELMO DOS SANTOS:
A figura mais polêmica do movimento modificou toda a forma como a historiografia entendeu o motim dos marinheiros, menos de uma semana antes do golpe militar.
O segundo presidente da AMFN foi eleito com 236 votos, contra 46 de José Fernandes, 8 de Antônio Carlos e 7 nulos. Ou seja, o representante da ala mais radical da associação ganhou com larga margem para seus adversários, o que parecia demonstrar que contava com grande apoio entre os marinheiros.
Estudiosos de esquerda associam a revolta a um plano previamente articulado pela CIA e realizado por José Anselmo, para desestabilizar o governo da Jango.
Toda essa desconfiança parte do que ele se tornara na década de 70, onde aderiu ao sistema de repressão do delegado do DOPS, Sérgio Paranhos Fleury, provocando com suas delações o desaparecimento de mais de 200 militantes de organizações de esquerda.
Com isso, segundo o autor, a historiografia brasileira condenou todo o passado da AMFNB com base no que José Anselmo viria se tornar no futuro. Não há evidências de que Anselmo já era um agente duplo infiltrado na AMFNB. Ele acredita que a adesão do mesmo só ocorreu em 1971, quando ele e Edgard Aquino Duarte foram presos, Anselmo foi solto e Edgard desapareceu.
AS VERSÕES DA HISTORIOGRAFIA:
Segundo o autor Flávio Luis Rodrigues, existem três correntes que pensam esse acontecimento, de formas distintas:
A primeira, em geral veiculada por militares, acredita que aquela revolta foi incitada por interesses comunistas, que vendo a fraqueza do governo diante de tal motim poderiam a qualquer momentos iniciar uma revolução socialista no Brasil. Muitos vinculam o medo de que acontecesse aqui o que ocorreu na Rússia em 1905 com o Encouraçado Potemkim.
A segunda é defendida por historiadores e jornalistas de esquerda e associa a revolta à trajetória pouco exemplar de Anselmo. Essa versão acredita na infiltração da agitadores da CIA ao movimento, para assim criar o estopim do golpe já pré-planejado.
A terceira corrente, ao qual o autor compartilha, trata da revolta de forma cuidadosa, não vinculando a AMFNB à trajetória de Anselmo.
Flávio Luis não nega o fato de que a revolta tenha sim, influenciado a queda de Jango. Mas defende a veracidade do movimento dos marinheiros, onde segundo o autor, como poderiam ter ido a favor do golpe se a maioria absoluta dentro da AMFNB era simpatizante das reformas de base do presidente deposto.
Para o autor o movimento dos marinheiros não foi incitado nem por comunistas, nem pelos agentes da CIA. O intuito dos marujos nunca foi criar justificativas para a derrubada o presidente, na verdade foi um movimento autônomo que lutava por mais direitos e melhores condições de vida dentro da marinha.
Ou seja, os marinheiros se revoltaram contra seus superiores imediatos, talvez seja certo afirmar que a associação foi usada para abalar o governo Jango, mas não por seu segundo presidente e sim pelo oficialato golpista que manobrou para encurralar politicamente a marujada e provocar a reação.

Bibliografia:
RODRIGUES; Flávio Luís: “VOZES DO MAR: O movimento dos marinheiros e o golpe de 64.” São Paulo; Ed. Cortez, 2004.



quinta-feira, 22 de abril de 2010

RESENHA: MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA

Marx e Engels escreveram a "quatro mãos" aquele que viria a se tornar o mais conhecido panfleto político mundial.
Resumo:
O Manifesto do Partido Comunista é conhecido mundialmente, não como a principal obra de Marx e Engels, mas como a mais divulgada e lida. Sendo internacionalmente reconhecido como um dos maiores tratados políticos da história.
O Manifesto faz duras criticas ao modo de produção capitalista e à fora como a sociedade se estruturou através dele. Busca organizar o proletariado como classe social capaz de reverter sua precária situação e descreve os vários tipos de pensamento comunista, assim como os princípios do socialismo científico.
Boa Leitura.

Contexto Histórico:
No ano de 1847  Karl Marx e Friedrich Engels foram encarregados de redigir, a pedido da Liga dos Justos (que depois se chamaria Liga dos Comunistas), uma brochura que deveria servir como cartilha para este grupo, foi assim, que em 24 de fevereiro de 1848 surgiu o que é sem dúvida a propaganda política mais bem sucedida de todos os tempos, O Manifesto do Partido Comunista.  
Um livro de estrutura bastante simples; uma breve introdução, três capítulos e uma rápida conclusão. Agora, comparado com os primeiros escritos de Marx, houve um enorme progresso no impacto causado pela palavra escrita, segundo John Kenneth Galbraith “O que antes era excessivamente prolixo e rebuscado, agora se apresentava de maneira sucinta e emocionante - uma série de marteladas”. Ao que tudo indica o objetivo era alcançar as massas, o que ocorreu de forma certeira, mas não imediata.
Segundo Eric J. Hobsbawm apesar do manifesto logo na primeira edição ter sido editado para inúmeras línguas, inicialmente obteve significativa importância apenas nos pequenos círculos revolucionários alemães, somente obtendo grande relevância entre as massas quando foi republicado em 1870.
O ano de 1848 é um ano explosivo para a Europa, diversos movimentos eclodem por todo o continente é a chamada, “primavera dos povos” que segundo Hobsbawm “foi a primeira revolução potencialmente global(...) a única a afetar tanto partes desenvolvidas quanto as atrasadas do continente. Foi a mais ampla e a menos bem-sucedida(...) no breve período de seis meses de sua explosão, sua derrota universal era seguramente previsível, dezoito meses depois, todos os regimes que derrubara, com exceção de um, foram restaurados”.
George Rudé aponta dois fatores determinantes que fizeram as revoluções de 1848 não se assemelharem a de 1789. O inicio da indústria moderna e a difusão das ideais socialistas entre as massas trabalhadoras. Os pensamentos de Babeuf, Blanqui, Barbès, Blanc, Cabet, Proudhon e Saint-Simon, circulavam entre os trabalhadores. O movimento de 1848 uniu grupos inteiramente díspares.
Nem Marx nem o Manifesto Comunista nesse momento teve muita influência. Quando as revoluções eclodiram na França e alastraram-se para outros países o teor do Manifesto ainda era relativamente desconhecido.
MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA.
Preâmbulo:
Nessa pequena e famosa introdução Karl Marx e Friedrich Engels expõe o modo como, segundo eles, o comunismo é debatido e encarado na Europa nesse fim da primeira metade do século XIX, onde potências e grupos de diversas nacionalidades unem-se para fazer frente a esse espectro.
Essa oposição ferrenha leva os autores a duas conclusões. A primeira é o fato de que essa forte oposição só acontece graças à noção de que o comunismo já se tornou uma realidade de força relevante no mundo. E a segunda é acreditar que graças a essa força é hora dos comunistas se lançarem a luta levando para o mundo suas ideias.
I: Burgueses e Proletários:
Os autores iniciam demonstrando que para eles o desenvolvimento da história se deu através da luta de classe através do tempo. A grande diferença reside no fato de que a sociedade burguesa divide cada vez mais a sociedade em apenas duas classes opostas a burguesia e o proletário.
A classe burguesa nascida dentro dos muros dos burgos da idade média sempre foi uma classe revolucionária. É produto de um longo desenvolvimento político e de revoluções nos modos de produção e de troca.
Quando chegou ao poder desenvolveu-se de uma forma nunca antes vista na história da humanidade. Transformando as sociedades conquistadas a sua imagem e semelhança, acabando com as antigas ilusões dos homens e colocando em seu lugar a busca pelo lucro.
A burguesia desenvolve-se somente através da revolução dos instrumentos de produção, mas para isso é necessário balançar as relações de produção e com isso todas as relações sociais. As antigas sociedades ao contrario, conservavam sem alteração seus antigos modos de produção para evitar maiores abalos. Esse “terremoto” constante da sociedade distingue a época burguesa de suas precedentes.
Para desenvolver-se a burguesia necessita, cada vez, de mais mercados, para isso alastra-se por todo mundo, criando novas necessidades em diversos países que, outrora, eram satisfeitas localmente. A burguesia alastra-se para os quatro cantos da Terra levando seus baratíssimos produtos para todos os lugares, através dos modernos meios de transporte e comunicação, criados por eles mesmos.
A burguesia em seus apenas cem anos de domínio criou mais forças produtivas do que todas as sociedades anteriores juntas. A burguesia surgiu de dentro da sociedade feudal, que tinha em sua estrutura entraves que impossibilitavam o desenvolvimento da produção, por esse motivo caiu frente o desenvolvimento da sociedade burguesa que necessitava de livre concorrência embasada em uma organização social e política própria.
Mas a moderna sociedade desenvolveu-se de tal maneira que para Marx e Engels ela está descontrolada, surgem diversas crises, em especial o novo tipo a crise a de superprodução que só podem ser resolvidas ou pela destruição das forças produtivas ou pela aquisição de novos mercados e exploração mais intensa dos antigos.
Surge dentro desta nova e dinâmica sociedade uma nova classe, a do proletariado, que empunhará as armas contra seus criadores, a burguesia. Esses modernos operários são obrigados a vender-se diariamente como se fossem mercadorias.
Com o uso das maquinas o trabalho se torna mais entediante e fácil para o operário que se torna apenas mais uma peça dentro da máquina, e mais lucrativo e rápido para o burguês que paga menos quanto mais fácil é o trabalho desempenhado pelo operário.
O proletário agora é amontoado nas fábricas de forma militar, deixa-se de lado o artesão com sua oficina em casa e surge o trabalhador que ingressa nas fileiras da indústria para garantir sua subsistência e de sua família. E após trabalhar e receber em dinheiro o proletário é logo cercado pelos outros membros da burguesia como o agiota, o comerciante, o locador, etc..
Para os autores a luta do proletário contra a burguesia inicia-se assim que ele nasce, mas a princípio acontece em diversas fases: no começo por operários isolados, depois de uma mesma fábrica, depois de um mesmo ramo, de uma mesma localidade contra o burguês local. Apesar disso nesse momento eles se unem de forma desorganizada, o que pode levar a burguesia a se aproveitar desse fato usando-os para fins próprios, nessa fase os proletários lutam contra os inimigos da burguesia, sendo qualquer vitória alcançada nesse momento uma vitória burguesa.
Mas com a organização cada vez maior do proletário, eles se unem para fazer reivindicações, começa-se a formar uniões contra os burgueses e os choques tornam-se cada vez mais iminentes, às vezes acorrem alguns triunfos, mas o verdadeiro êxito é a união cada vez maior do proletariado, que com o tempo organiza-se em classe, em partido político. Nesse momento uma ínfima parte da burguesia passa para o lado do proletariado por saber que a vitória é iminente.
A classe dos proletários é a única, de todas as outras que combatem a burguesia, verdadeiramente revolucionária. Diferentemente das outras classes que no passado alcançaram o poder, o proletário não pode apoderar-se das forças produtivas sem acabar com os modos de apropriação, ele deve destruir todas as garantias da propriedade privada.
Esse movimento da maioria deve derrubar violentamente a burguesia, primeiramente de seu próprio país, depois do mundo. Pois, esta claro que a burguesia é incapaz de continuar a ser a classe dominante, uma vez que não assegura a subsistência da classe que a alimenta produzindo, segundo Marx e Engels seus próprios coveiros.
II: Proletários e Comunistas:
Nesse capítulo os autores mostram quais são as relações entre os proletários e os comunistas. Para isso entram em atrito com os outros partidos operários da época, apresentando-se como o único partido que realmente pode levara constituição do proletário em classe, derrubar a supremacia burguesa e conquistar o poder político através do proletariado. Isso porque o comunismo não é imposto a massa, mas emana das necessidades da massa.
O comunismo resume-se como a abolição da propriedade privada. Não de todos os tipos de propriedade, mas da propriedade á moda burguesa que é utilizada para a exploração do trabalho assalariado. A atual forma de propriedade cria capital e trabalho dois termos opostos.
Marx e Engels acreditam que com a abolição da propriedade privada e sua apropriação pelo proletariado, levaria a sociedade a um outro patamar de desenvolvimento socioeconômico. Para sustentar esse argumento de expropriação, eles mostram como esta propriedade, que tantos defendem como justa, esta centralizada nas mãos de poucos e nunca, dentro dessa sociedade burguesa, abrangerá a grande maioria da sociedade.
Os dois autores tentam convencer de que o fim da sociedade burguesa não representa o fim da sociedade, para isso tratam de assuntos como salário, propriedade, cultura, família, educação, mulheres, nação e todos os possíveis argumentos burgueses contra esse tipo de revolução. Mas deixam bem claro de que em todo momento em que a burguesia se refere à sociedade como um todo, esta se referindo unicamente a ela mesma, e o proletário não deve deixar-se levar por esses apelos egoístas.
Além de mostrarem como o comunismo diferente das formas antecessoras de organização da sociedade, será a ruptura mais radical em relação à propriedade e as chamadas verdades eternas (religião, moral, filosofia, política e o direito).
A primeira fase da revolução proletária constitui-se na transformação do proletário em classe, onde após conquistar o poder deve por em prática dez medidas que visam arrancar o capital das mãos da burguesia e transformar todo o modo de produção. Esse período é determinado socialismo.
Através do tempo, quando desaparecerem os antagonismos entre as classes e a produção estiver distribuída igualitariamente entre os trabalhadores, o Estado não será mais necessário, neste momento o mundo chegará ao comunismo, sociedade caracterizada pelo livre desenvolvimento humano.
III: Literatura Socialista e Comunista:
1. O socialismo Reacionário.
a) O socialismo Feudal.
Esse tipo de socialismo é descrito por Marx e Engels como os últimos lamentos de uma já decadente aristocracia feudal, que unida o socialismo cristão, excitam as massas unicamente para a derrubada da burguesia e restauração do antigo regime. Mas esquecem que a volta de seu regime não é mais viável dentro desta nova sociedade burguesa.
b) O socialismo pequeno-burguês.
Os pequenos burgueses e os pequenos camponeses, apesar de serem os precursores da moderna burguesia, foram, assim como os aristocratas, arruinados por essa ascensão vertiginosa da burguesia.
O socialismo pequeno-burguês soa como lamento, analisando, criticando e expondo todas as contradições dessa nova sociedade, mas não implantar uma nova no lugar e sim para restabelecer a antiga, com seus antigos meios de produção, relações de propriedade, etc.
c) O socialismo alemão ou o “verdadeiro” socialismo.
Os burgueses alemães introduziram dentro de seu país a literatura socialista e comunista francesa, que dentro da realidade da alemã perdeu todo seu caráter prático, uma vez que a burguesia estava apenas iniciando seu combate contra a aristocracia.
Dessa importação de idéias estrangeiras, sem uma modelagem a realidade local, deu-se o nome de verdadeiro socialismo. Onde não se buscava não o interesse do proletário, mas do ser humano em sua totalidade.
E dentro do contexto das lutas entre a burguesia alemã e a monarquia absoluta, o verdadeiro socialismo se apresentou fazendo contraponto ao liberalismo. Sendo usado imediatamente como arma dos governos absolutos alemães contra a burguesia. Esse tipo de socialismo se torna reacionário, pois, tenta segurar o desenvolvimento da moderna burguesia e assim o surgimento do proletário revolucionário.
Esse socialismo serve apenas aos interesses da pequena-burguesia.
2.O socialismo conservador ou burguês.
Constitui-se como uma forma da burguesia minimizar seus males sociais e assim conquistar sua consolidação. Por meio de programas sociais querem que a sociedade continue tal como é, mas sem os perigos resultantes das lutas de classe. Mostram ao proletariado que ele tem muito a ganhar com essa sociedade garantindo a ele diversas conquistas materiais. Mas Marx e Engels deixam bem claro “os burgueses são burgueses - no interesse da classe operária”.
3.O socialismo e o comunismo crítico-utópicos.
Os fundadores dessas teorias compreendiam muito bem os antagonismos de classe que surgia com a ascensão da burguesia, mas não podiam ainda perceber no proletariado nenhum destino histórico. Eles elaboram algumas iniciativas toscas buscando o igualitarismo em toda sociedade de forma pacifica e harmoniosa.
Entretanto, são muito importantes como o primeiro passo dado em direção a consciência de classe e a transformação da sociedade. Os fundadores deste sistema são revolucionários em muitos termos, mas em outros reacionários pois tentavam apenas minimizar os antagonismos entre as classes.
IV: A Posição dos Comunistas Perante os Vários Partidos de Oposição:
Neste momento os autores apontam onde, nesse período, os comunistas europeus estão melhor representados e quais suas atitudes atuais em relação ao desenvolvimento da consciência nas classes, para assim assegurar que no momento exato eles estejam preparados para a revolução.
Os comunistas apóiam todo e qualquer movimento revolucionário no mundo que lute contra a ordem pré-estabelecida e lutem contra a propriedade privada.
E por fim faz um chamado aos proletários para que estes se unam ao movimento comunista rumo a uma nova organização da sociedade.
Proletários da todos os países, uni-vos!

Bibliografia:
GALBRAITH; John Kenneth : “A ERA DA INCERTEZA” . Ed. Pioneira, São Paulo-SP, 1982.
RUDÉ, George: “A MULTIDÃO NA HISTÓRIA”.Estudo dos movimentos populares na França e na Inglaterra 1730-1848. ed Campus. Pág 179-194.
HOBSBAWM; Eric J: “A ERA DO CAPITAL 1848-1875”. ed. Paz e Terra 5ª edição
MARX; Karl & ENGELS; Frieddrich: “MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA”. 10ª ed. rev. São Paulo ed. Global 2006.