sábado, 22 de abril de 2017

The Survivalist e o Estado de Natureza Hobbesiano.

Imagine viver em um planeta pós-apocalíptico onde a única regra é a sobrevivência do mais forte. Assim se desenrola o enredo do filme inglês The Survivalist (2015), neste drama o protagonista sem nome, vive isolado em uma cabana na floresta cultivando uma pequena horta para sua subsistência. O cotidiano é angustiante e o sobrevivente passa seus dias em alerta, precavendo-se de um possível ataque inimigo contra sua vida ou contra sua propriedade.

Isso é o que o pensador inglês Thomas Hobbes (1588-1679) chama, em seu livro Leviatã, de estado de natureza. Este seria um período anterior a formação do Estado em que as pessoas viveriam em uma espécie de guerra de todos contra todos, onde o limite da ação era a força de cada um. Um período da História da humanidade em que a vida e os bens não eram garantidos por nenhuma instituição superior e que a selvageria e a barbárie reinariam absolutas.

O filme gira em torno do fim de seu isolamento e de seu relacionamento com duas mulheres (mãe -Katharyn- e filha - Milja) que aparecem famintas à porta de sua cabana oferecendo sexo em troca de comida. As coisas ficam ainda mais tensas, pois neste mundo sem lei, ele não pode confiar nelas e vice-versa. Com o desenrolar da trama, o sobrevivente descobre que a real intensão de Kathry era tomar o controle da fazenda, mas uma invasão estrangeira faz com que eles se unam contra o inimigo comum.

A luta pela sobrevivência é constante e a saciedade dos desejos parece sem o combustível que move os homens. É um mundo de guerra de todos contra todos, não havendo um limite moral para os atos de sobrevivência, e isso fica claro quando o Sobrevivente revela à Milja (gravida dele) que durante uma fuga de um grupo de “canibais”, feriu seu próprio irmão, deixando-o para ser devorado e assim conseguir escapar.

Muitas vezes Hobbes tem sido interpretado de maneira errônea, muitos acreditam que ele prega que o homem seja mau por natureza, e não é bem assim. Não é questão de maldade ou bondade inerente à natureza humana, mas sim, de que o ser humano de Hobbes é capaz de fazer o que for necessário para satisfazer seus desejos e proteger sua vida.

Outro ponto interessante do filme é justamente este grupo de canibais. Eles são a personificação da frase “o Homem é o Lobo do Homem”, este grupo realmente assemelha-se a uma matilha, caçando, farejando, cercando e devorando, ao final do filme, o protagonista. Pois, se a única forma de sobreviver ao fim ao mundo é devorando a carne humana, então por que não?

Ao final do filme Milja consegue escapar deste ataque que vitimou o pai de seu filho, e vaga indefesa e sem rumo  pela floresta até chegar à uma espécie de acampamento cercado de grandes muralhas, com pessoas trabalhando em vastas plantações e defendido por dezenas de homens fortemente armados (muito parecido com uma prisão). Então, ela pede abrigo e neste momento há o que Hobbes chama de contrato social, onde ela cede sua liberdade em troca de proteção.


O filme é em sua essência uma obra Hobbesiana. Apresentando os perigos do estado de natureza, a luta de todos contra todos, o uso da força bruta para a satisfação  dos desejos, o homem como lobo do homem e a elaboração de um contrato social baseado em um Estado forte (Leviatã) para a proteção da vida de seus associados. Filme recomendado para todos os cursos de humanas.

domingo, 9 de abril de 2017

Biografia: Caio Julio César - e o Império Romano.


Caio Júlio César (102-44 a.C)
Texto integral.
Com a derrota de Cartago nas Guerras Púnicas (246-44 a.C), Roma passou a dominar o Mediterrâneo, e os líderes romanos começaram a acreditar que Roma tinha um “manifesto divino” para subjugar e comandar o máximo possível do mundo conhecido. Foi por meio de Caio Júlio César que Roma realmente cumpriu tal manifesto, estendendo as fronteiras do Império Romano além de onde chegara qualquer outro governante. Imortalizado em histórias, em versos e no teatro de Shakespeare, ele é tido como a encarnação do Império Romano, embora, durante sua vida, Roma fosse uma República e o cargo de imperador só passasse a existir após sua morte.
César, filho de nobres, ingressou no exército romano e serviu na Ásia com dedicação e bravura, conquistando a Coroa Cívica, a mais valiosa das medalhas. Depois de retornar a Roma, ele entrou para a política, tornou-se tesoureiro de Estado aos 34 anos, pretor principal aos 39 e foi eleito para o Consulado aos 43 anos (o mais alto posto da Roma Antiga.
Para aumentar o poder e a glória de Roma, assim como sua própria fama, César liderou uma expedição militar ao norte. Entre os anos 58 e 55 a.C, ele conquistou a Gália (atual França), e Helvética (Suiça) e a Bélgica. Também invadiu e dominou a maior parte da Bretanha e cruzou o rio Reno para combater germânicos.
César retornou a Roma como herói, mas se achou num conflito político com Pompeu (106-48 a.C), general romano que havia tomado Jerusalém. Pompeu também possuía o posto de Cônsul Principal e César havia pedido o Consulado para si próprio. Mas entregaram o cargo a Pompeu.
Pela lei, não era permitido aos generais trazerem seus exércitos para dentro da cidade de Roma. Pelo contrário, eles deveriam ser mantidos ao norte do Rio Rubicão. Em 49. a.C., porém, César infringiu a lei, atravessou o Rubicão e entrou em Roma para tentar um golpe. Ele depôs Pompeu e eliminou a República, convertendo-se em governante absoluto, como sempre havia sido seu desejo. Depois de consolidar o poder de Roma sobre a Grécia e de liderar uma campanha sobre a Síria e o Egito, ele voltou a Roma em 45 a.C. para ser declarado ditador perpétuo e governar como o maior de todos os conquistadores da História, - maior ainda que Alexandre, o Grande. César governou ditatorialmente por pouco tempo. Em 15 de março de 44 a.C., ele foi assassinado no Senado romano por uma conspiração liderada por seu filho adotivo, Marco Júnio Bruto (85-42 a.C).
Júlio César alterou, e muito, o curso da história romana, - e, aliás, da própria Europa. Em Roma, ele havia desbancado a República e criado o posto de “imperador de fato”, que se tornaria oficial com a ascensão ao poder de seu sobrinho César Augusto, catorze anos após sua morte. Quando César iniciou sua ascensão ao poder, Roma era a maior força política do Mediterrâneo. Na época de sua morte, Roma também havia se tornado a primeira superpotência da Europa – e talvez do mundo.
Referências.
YENE, Bill. 100 Homens que mudaram a história do mundo. Rio de Janeiro: PocketOuro, 2009.

Biografia: Shih Huang Ti - e a unificação da China

Shih Huang Ti (259-210 a.C)
Texto integral.
Foi Shih Huang Ti quem criou e começou a construir a Grande Muralha da China, o maior projeto de engenharia empreendido pela mão do homem até o século XIX. Foi ele também o primeiro líder a unificar totalmente a nação que hoje é a mais populosa do mundo. Na história da China, Shih Huang Ti é conhecido como o primeiro imperador.
Como acontecia com a Europa antes e depois do auge do Império Romano, a China era um conglomerado de estados feudais, politicamente divergentes, comandadas por senhores feudais rivais que viviam em guerra. Esses estados eram unidos somente por uma cultura comum, surgida durante a dinastia Chou, que floresceu no vale do Rio Yang-Tsé a partir de 770 a.C. e exercera uma duradoura influência cultural e política sobre o resto da China.
Os ensinamentos de Confúcio também haviam exercido uma poderosa influencia na cultura chinesa durante este período. Sua filosofia, ainda hoje é seguida como religião por 5,2 milhões de pessoas, salientava a importância de uma ordem harmoniosa tanto em nível nacional como pessoal. Após sua morte, no entanto, a China se desintegrou politicamente (cerca de 403-221 a.C). Isso acabou com o advento da dinastia Chin (221-210 a.C), durante a qual Shih Huang Ti conseguiu unir a China pela primeira vez na história. Ele introduziu um governo centralizado, realizou um recenseamento e padronizou a cunhagem de moedas do país, sua linguagem escrita, suas leis e seus pesos e medidas. Por outro lado, Shih Huang Ti foi também um déspota autoritário que se empenhou ao máximo em eliminar o Confucionismo. Nesse caso, seu sucesso foi apenas parcial. Além disso, ele era intolerante com quem divergisse de suas opiniões ao ponto de colocar fogo em livros que, para ele, não eram essenciais.
Para consolidar seu poder e proteger a China dos mongóis da Ásia Central, Shih ordenou a construção da Grande Muralha da China. Graças a ela, a China pode sobreviver unificada. O muro é maciço, tem cerca de 2.400 quilômetros de extensão e, na época de Shih Huang Ti, era cheio de torres ocupadas permanentemente por guardas.

Shih foi substituído pela dinastia Han, que continuou com sua centralização do governo, mas, aos poucos, trouxe de volta o Confucionismo. A dinastia Han também estabeleceu o sistema social e político mandarim, que sobreviveu mesmo sob a dinastia Ch’ing (Manchu) (1644-1912), quando os comunistas tomaram o poder na China.
Referências:
YENE, Bill. 100 Homens que mudaram a história do mundo. Rio de Janeiro: PocketOuro, 2009.

Biografia: Arquimedes - e alavanca.

Arquimedes (287-212 a.C)
Texto integral.
Provavelmente o maior matemático que viveu antes do Renascimento. Arquimedes nasceu em Siracusa, na Sicília, e estudou ciência com Conon de Samos, na Universidade de Alexandria, época em que a cidade era o centro mundial do conhecimento. Arquimedes descobriu muitos dos teoremas básicos que envolvem a geometria dos círculos, dos cones, dos cilindros, das parábolas, dos planos e das esferas, princípios que constituem os fundamentos básicos da matemática.
Depois de estudar astronomia, Arquimedes construiu um “mapa” esférico e tridimensional dos céus. Ele também fez vários trabalhos pioneiros no campo da física, escrevendo a fundo sobre alguns dispositivos básicos, como alavanca e parafuso. Ele fora tão bem-sucedido em seus estudos sobre a aplicação da alavanca que, certa vez, jactou-se: “Deem-me um ponto de apoio e posso mover a Terra com uma alavanca”.
Uma de suas mais importantes invenções foi o chamado parafuso de Arquimedes. Desenhado como uma bomba rotatória para enviar a água dos córregos para as valas de irrigação, ele era imerso numa fonte de água com uma ligeira inclinação, de forma que a parte inferior de qualquer rosca ficasse mais baixa que a parte superior da rosca subsequente. Quando a haste do parafuso era girada sobre o eixo, de forma que as roscas rodassem na água, esta era elevada na espiral e se descarregava no alto da rosca.
Arquimedes também inventou a hidrostática, como é chamada a ciência que estuda a dinâmica dos fluidos. Certo dia, sentado em sua banheira, ele descobriu o que ficou conhecido como Princípio de Arquimedes: todo corpo mergulhado num fluido (líquido ou gás) sore, por toda parte do fluido, uma força vertical para cima, cuja intensidade é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo.

Quando, em 214 a.C., os romanos atacaram Siracusa, Arquimedes projetou uma série de armas para a defesa da cidade, desde catapultas de longo alcance até espelhos que usavam o Sol para incendiar navio romanos, embora isso pareça muito improvável. Dois anos mais tarde, quando finalmente os romanos conseguiram invadir Siracusa, havia ordens de que Arquimedes fosse poupado. Mas isso, infelizmente, não ocorreu. Ao ser interrompido por um soldado raso romano enquanto fazia alguns cálculos com um graveto no chão, o matemático gritou com o invasor. O soldado não teve dúvida e matou Arquimedes ali mesmo. Ao saber do ocorrido, o general romano Marcelo decidiu erigir uma tumba em sua homenagem.
Referências:
YENE, Bill. 100 Homens que mudaram a história do mundo. Rio de Janeiro: PocketOuro, 2009.