domingo, 4 de dezembro de 2016

Breve resumo de Sócrates o Sátiro de Atenas


(P.53) Cap. 02: Sócrates o Sátiro de Atenas.
“Só sei que nada sei”. Sócrates.
(P.55) Sócrates.
Feio, de nariz bulboso e olhos de sapo, Sócrates era famoso por suas esquisitices, caminhava descalço no inverno, tostava sob o sol no verão e desde menino dizia ouvir vozes.
(P.56) Sócrates foi um dos principais divisores de águas na história do pensamento ocidental. Alguns dizem que a revolução iniciada por ele mudou o mundo para pior (principalmente pelas teorias políticas de seu discípulo Platão), outros veem nele uma espécie de messias da independência intelectual.
O fato é que Sócrates assim como Tales, Pitágoras, Buda e Jesus mudou a história sem nunca ter escrito uma linha. A maior parte do que conhecemos deles foi relatado por seus discípulos: Platão e Xenofonte.
(P.57) O problema é que cada um “pinta” o retrato de Sócrates de uma forma diferente. Para Xenofonte um sujeito benevolente, inofensivo e tedioso. Para Platão, Sócrates é esquisito e perturbador. E o pior, não sabemos se em suas obras, Sócrates era usado como alegoria para explicar suas próprias ideias filosóficas, ou ele mesmo fez isso.
O fato é que mesmo podendo ser um personagem fictício, ele é muito mais importante que muitos homens de carne e osso.
O Esquisitão.
(P.58) De uma família tradicional grega, Sócrates tinha o status de cidadão. De inicio tentou seguir o ofício do pai artesão, mas logo se afastou do trabalho.
(P.59) Andava desgranhado pela cidade e dizia receber a visita de daemons (entidades que faziam a ligação entre os homens e os deuses – como anjos da guarda) e um dos conselhos foi o de não se meter em política.
(P.60) A personalidade de Sócrates era uma combinação de estranhas manias e virtudes. Mas, talvez sua maior qualidade fosse à modéstia. Num período cheio de personagens megalomaníacos, Sócrates cunhou a frase “só sei que nada sei”.
Até os 40 anos, Sócrates viveu tranquilo com sua ignorância; mas então convenceu-se de que sua missão era provar que todos os seres humanos eram desprovidos de sabedoria. E foi essa cruzada intelectual que acabou levando Sócrates à morte.
A sábia ignorância.
Em uma visita ao templo de Apolo em Delfos, Querofante – um antigo amigo de Sócrates perguntou a sacerdotisa: - “O Apolo, quem no mundo é mais sábio que meu amigo Sócrates?”. Ela respondeu: “ninguém”.
(P.61) Ao ouvir a história Sócrates chegou à conclusão de que a verdadeira sabedoria começa com a consciência de nossa própria ignorância. O primeiro passo no caminho do filósofo é sempre incomodo: consiste em questionar todos os conhecimentos herdados, todas as certezas individuais e coletivas, e recomeçar a busca pela verdade de forma implacável, expondo tudo à lamina de um raciocínio rigoroso.
(P.62) Assim, Sócrates se convence de que sua missão era iluminar a mente dos humanos, mostrando-lhes que eles nada sabiam – pois, só assim poderiam vir a saber alguma coisa. Nasce assim o diálogo socrático.
O vagabundo loquaz.
Na antiguidade o significado da palavra dialética era a “utilização do diálogo como ferramenta filosófica”.
Na dialética de Zenão de Eleia existia uma espécie de discurso imaginário , onde o filósofo antecipa os contra-argumentos de seus adversários para defender sua própria tese.
Na dialética sofista o debate era praticado cara a cara. Os sofistas não estavam interessados em descobrir grandes verdades, seu único objetivo era vencer os debates e influenciar a opinião pública. Já que os sofistas não acreditavam na existência da verdade, apenas pontos de vista.
Já Sócrates acreditava que seria possível chegar à verdade das coisas, desde que se reconhecesse a sua própria ignorância de antemão.
(P.63) O diálogo socrático geralmente começava com ele lançando perguntas aparentemente simples: o que é o amor? A virtude? A educação? Após analisar cada resposta de forma implacável, ia questionando, em tom amigável, cada palavra e cada conceito utilizado por seu interlocutor.
A dialética de Sócrates era implacável e civil. Implacável com todas as certezas herdadas e civil, pois ao se demolir todas as humanas, a humanidade poderia assentar sua sabedoria em bases mais firmes.
(P.67) Os inimigos de Sócrates.
Sócrates dizia que havia herdado a profissão da mãe (parteira), enquanto ela trazia bebês ao mundo, ele era especialista em praticar partos de ideias. Mas em geral os partos são dolorosos, e nem todos regem bem às dores do parto intelectual.
Logo Sócrates conquistou uma multidão de inimigos, ao mostrar a ignorância daqueles responsáveis pela administração pública. Ele incomodava a todos, desde os tolos até os intelectuais – tanto que Aristófanes fez uma peça de teatro desmoralizando-o.
(P.69) Em 399 a.C, os inimigos de Sócrates o levaram a julgamento sob a acusação de negar a existência dos deuses e corromper a juventude da cidade com ideias subversivas. Mas a verdade é que o julgamento de Sócrates ocorreu por motivos políticos.
Sua popularidade entre os jovens, somada ao hábito de expor a estupidez universal sem respeitar fronteiras de facções, transformou-o em alvo de rancores generalizados.

O desfecho desta história é bem conhecido: julgamento e condenação à morte pela ingestão de cicuta. 
Referências:
BOTELHO, José Francisco. Uma Breve História da Filosofia: São Paulo. Abril. 2015. P.53-72

sábado, 3 de dezembro de 2016

Fichamento: Freakonomics (completo)

(P.15) Introdução: o lado oculto de tudo.
Os índices de violência no início da década de 90 deram um salto em relação às décadas anteriores. O principal grupo social envolvido era o chamado Superpredador: adolescentes das grandes metrópoles, com uma arma nas mãos e muito ódio no coração.
(P.16) Em um cenário otimista, os criminalistas acreditavam que nos anos seguintes os homicídios cometidos por adolescentes cresceriam 15%. Em um cenário pessimista, seria o apocalipse.
Então, subitamente, as taxas de criminalidade começaram a baixar. A queda foi tão grande que em 2000 o índice nacional de homicídio atingiu o nível mais baixo em 35 anos.
(P.17) Logo especialistas correram para explicar o fenômeno: crescimento econômico, controle da venda de armas, novas estratégias policiais, etc. E em pouco tempo estas explicações tornaram-se senso comum. Só havia um problema: não estavam certas.
O fator que mais contribuiu para essa queda da criminalidade nos anos 90, ocorrera 20 anos antes e tivera como protagonista uma jovem de Dallas chamada Norma McCorvey.
McCorvey, 21 anos, alcoólatra, usuária de drogas e que já havia entregue  dois filhos para a adoção deu início a uma luta pelo direito de abortar. Após grande estardalhaço ela venceu e o aborto foi legalizado em todo país.
(P.18) Mas como isso contribui, uma geração depois, para a maior queda da criminalidade na história contemporânea?
Simplesmente o fato de que os criminosos em potencial não nasceram. Com o acesso fácil ao aborto, famílias desestruturadas e problemáticas não tiveram filhos – e como sabemos crianças criadas nesses ambientes tendem a criminalidade. Quando essas crianças não nascidas atingiram a idade do crime, o índice de criminalidade começou a despencar.
(P.22) O que os autores querem mostrar é que a relação causa-efeito mais plausível, nem sempre é a certa. Ou seja, muitas vezes não é simplesmente porque duas coisas são correlatas e ocorrerem quase ao mesmo tempo que uma é a causa da outra. Ex: “um Czar soube que a região mais atingida por uma determinada doença era a que também possuía mais médicos. Sua solução foi mandar fuzilar os médicos”.
(P.25) O objetivo do livro é abordar assuntos sob uma perspectiva diferente, abandonando o humanismo e o moralismo e aceitando honestamente os dados.
Podemos dizer que o moralismo representa a forma como as pessoas gostariam que o mundo funcionasse, enquanto a economia representa a forma como ele realmente funciona. A economia é, acima de tudo, uma ciência feita para medir. Possuí um conjunto incrivelmente eficiente e flexível de ferramentas capaz de acessar de maneira confiável uma variedade de informações a fim de identificar o efeito de qualquer fator isolado ou mesmo o efeito integral.
As ideias fundamentais do livro são:
1. Os incentivos são a pedra fundamental da vida moderna: devemos buscar entender o que incentiva (motivou) o quê.
2. A sabedoria convencional (senso comum) em geral está equivocada.
3. Causas distantes e sutis podem provocar efeitos drásticos: a relação causa/efeito nem sempre está diante de nossos olhos. Se assemelhando ao efeito borboleta.
(P.15) 4. Os “especialistas” – dos criminologistas aos corretores de imóveis – usam suas informações privilegiadas em benefício próprio.
5. Saber o que medir e como medir faz o mundo parecer muito menos complicado: quando se aprende a examinar os dados de forma correta, é possível explicar enigmas que antes pareciam insolúveis.
Assim, a meta deste livro é explorar o lado oculto de tudo. Apresentando abordagens nunca antes tentadas. Daí surge o Freakonomics (economia excêntrica).
(P.31) Cap 01. O que os professores e os lutadores de sumô têm em comum?
O objetivo do capítulo é explorar o lirismo dos incentivos, bem como seu lado negro – a trapaça.
(P.32) A economia é, em essência, o estudo dos incentivos: como pessoas conseguem o que querem, ou aquilo de que precisam, principalmente quando outras pessoas querem a mesma coisa. Um incentivo funciona como uma alavanca, uma chave: geralmente um objeto pequeno com incrível poder de alterar uma situação.
Desde crianças aprendemos a reagir a incentivos negativos e positivos.
São três tipos de incentivo: econômico, moral e social. E é muito comum que um incentivo inclua os três. Um exemplo é a campanha antitabagista que aumenta os impostos nos cigarros (econômico), restringe o fumo em restaurantes (social) e afirma que a indústria tabagista em algum momento financiou grupos terroristas (moral).
O incentivo deve ser balanceado, pois ao se levar esses incentivos ao extremo surgem os trapaceiros.
(P.36) E quem trapaceia? Ora, praticamente todo mundo, se a oportunidade for propícia. Para cada pessoa inteligente que se dê ao trabalho de bolar um esquema de incentivo, existe um exército de outras tentando fraudá-lo.
(P.37) A trapaça é companheira do homem durante toda a história. Basicamente podemos definir trapaça como uma ato econômico: obter mais gastando menos.
(P.39) Nos EUA começaram a ser aplicados “provões”. As escolas bem colocadas eram felicitadas e as piores colocadas eram ameaçadas até de fechamento. Esse novo sistema criou o incentivo para a trapaça dos professores. E os métodos utilizados foram os mais variados possíveis. E a descoberta da trapaça veio através de algoritmos matemáticos.
(P.50) Se você está chocado com a trapaça dos professores, espere saber que elas também acontecem entre os lutadores de sumô.
No Japão, o sumô é mais que o esporte nacional, é um depósito de sentimentos religiosos, militares e históricos. Costuma-se dizer que o sumô não envolve competição, mas sim, a própria honra.
(P.51) É verdade que esporte e trapaça andam de mãos dadas, Isso porque o incentivo é bem claro: vencer ou perder.
Contudo, existe aquele que trapaceia para vencer – e é compreendido pelo público – e aquele que trapaceia para perder – este cai em desgraça eterna.
(P.52) E é exatamente, trapacear para perder que os praticantes de sumô fazem. O esquema de incentivos que governam o sumô é baseado no ranking. Quanto mais próximo ao topo maior as mordomias. O ranking se movimenta levando em consideração os 6 torneios anuais, onde cada um possuí 15 lutas para cada lutador, sendo imprescindível para o lutador a vitória em no  mínimo 8 deles. As diversas academias, apesar de rivais, mantem um estreito contato e para não prejudicar a carreira de um ou outro lutador fazem uma espécie de arranjo, um acordo de vitória e derrota.
(P.55) A melhor máscara do sumô é o seu caráter sagrado. A corrupção acontece, mas sua investigação é vista como um sacrilégio.
(P.63) Como vimos o ser humano trapaceia e muito, sempre que possível. Contudo, existe um numero maior ainda de pessoas que mesmo que fossem invisíveis não o fariam.
(P.73) Cap. 02: Em que a Klu Klu Klan se parece com um grupo de corretores de imóveis.
A KKK[1] foi fundada no Tenessee após o término da Guerra Civil Americana[2] por ex-confederados e possuí um histórico de altos baixos.
Basicamente a KKK pode ser resumida em um entidade secreta com seus próprio códigos, senhas, manuais e hierarquia. Seu objetivo sempre foi o de agregar homens brancos, racistas e preconceituosos para oprimir grupos minoritários como negros (principalmente), sindicalistas, judeus, católicos e comunistas.
O fascínio que a Klan exercia sobre as pessoas vinham de seu teor secreto e misterioso.
(P.69) Após a Segunda Guerra, a Klan ressurgiu com força na cidade de Atlanta, que se tornou a sede deste império invisível. Atlanta era o lar de Stetson Kennedy, homem branco e grande defensor dos direitos civis dos negros. Ele sempre escrevera artios criticando a Klan e mostrando a importância da tolerância, textos esses que em geral não surtiam resultados.
(P.71) Kennedy então aderiu a Klan como espião. Foi aceito na organização e aos poucos foi ocupando postos cada vez mais altos.
(P.75) Uma vez dentro da organização alertou sindicatos sobre ataques e à polícia sobre os participantes, mas nada parecia surtir efeito.
(P.76) Da frustração veio a ideia brilhante. Não seria interessante passar para todas as crianças do país as senhas e os segredos da organização? Que melhor maneira haveria de podar as garras de uma sociedade secreta senão infantilizá-la – e tornar públicas – suas maiores informações?
Kennedy imaginou o canal ideal para sua missão: o programa de rádio Aventuras de Super-Homem, que ia ao ar todas as noites na hora do jantar. Os produtores adoraram a ideia, pois precisavam de novos vilões e Kennedy cedeu todas as informações de que dispunha, inclusive senhas, planos e fofocas da filial da Klan em Atlanta.
(P.77) Os produtores produziram 4 semanas de episódios e passaram a transmiti-lo. Na primeira reunião após a fatídica transmissão do programa o assunto dominou o local e todos sentiam-se ridículos.
Na reunião da semana seguinte, a sela estava praticamente vazia e as novas propostas de adesão haviam sido reduzidas a zero.
(P.78) O efeito foi precisamente o esperado: virar o segredo da Klan contra ela mesma, transformando informações privilegiadas em munição para zombarias. Em lugar de atrair milhões de membros, a Klan perdeu força e começou a afundar. Embora jamais viesse à morrer, ela nunca mais foi a mesma.
A KKK foi um grupo cujo poder – à semelhança dos políticos e dos corretores de imóveis ou da Bolsa – em grande parte resultava da sonegação de informações. Uma vez nas mãos erradas (ou certas) boa parcela desta superioridade vira pó.
(P.79) No final dos anos 90 os preços dos seguros de vida por prazo determinado despencaram drasticamente graças ao surgimento da internet e de um site especializado em comprar o preço desse tipo de seguro. Se antes era necessário ir de seguradora em seguradora comparando os preços, agora bastava um clique.
O site, assim como a delação de Kennedy são atos comparáveis pelo fato da disseminação de informações ser fundamental para a diluição do poder destas instituições.
(P.80) Em todas as transações econômicas, há sempre um que possuí mais e outro menos informações. Em economia isso é chamado de assimetria de informações e em geral caracteriza a relação especialista e cliente.
Contudo, a internet balanceou esta relação, diminuindo o abismo entre especialista e público.
(P.81) Mas a internet, por mais poderosa que seja, não conseguiu acabar de vez com a assimetria das informações. Um exemplo são os escândalos do ano 2000 envolvendo grandes corporações.
(P.82) E esses crimes tem em comum o fato de serem “pecados de informações”. Ou seja, a maioria envolveu um ou mais especialistas para produzir informações falsas ou esconder informações verdadeiras. Em todos os casos os especialistas buscavam manter a assimetria das informações tão assimétricas quanto possível.
O problema deste tipo de crime é que, em geral, eles não deixam rastros. E só vem a público quando ocorre algo catastrófico. No mais é possível que se passe anos a fio.
(P.83) Você acertou se concluiu que muitos especialistas usam contra você essas informações que detêm. Eles dependem do fato de que você não as possuí. Ou que fica de tal forma confuso diante da complexidade de operá-las que acaba não sabendo o que fazer com elas. Ou ainda que, impressionado com a competência que demonstram, não ouse desafiá-los.
Munidos de informações, os especialistas podem exercer uma pressão gigantesca, embora não verbalizada: a do medo. O Medo criado pelos especialistas não rivaliza com o medo gerado pela KKK, mas o princípio é o mesmo.
(P.101) Cap. 03: Por que os traficantes continuam morando com as mães.
Os dois capítulos anteriores respondem a perguntas esdrúxulas. No entanto se fizermos perguntas suficientes, por mais estranha que pareça no momento, acabamos por aprender algo que valha a pena. Uma boa pergunta é aquela que consegue virar do avesso a sabedoria convencional.
“Sabedoria convencional” foi uma expressão cunhada por John Kenneth Galbraith e significa “associarmos a verdade à conveniência”, em outras palavras “aquilo que mais intimamente combina com o interesse e o bem-estar pessoal ou que mais intensamente prometa evitar grandes incômodos ou uma indesejável reviravolta. Também consideramos altamente aceitável aquilo que mais contribua para aumentar a autoestima”. O comportamento econômico e social, acrescentou Galbraith, “é complexo, sendo mentalmente cansativo entender sua natureza. Por isso, nos agarramos, como se fosse a um bote às ideias que representam o nosso ponto de vista”.
(P.102) Assim, sob o ponto de vista de Galbraith, a sabedoria convencional deve ser simples, conveniente, cômoda e confortadora – embora não necessariamente verdadeira.
(P.103) Trabalhando em conjunto jornalistas e especialistas interesseiros são os arquitetos da sabedoria convencional. A propaganda também é uma ótima ferramenta. E uma vez firmada a sabedoria convencional é difícil de ser derrubada. E a ideia de que o tráfico de drogas lucra bilhões e que qualquer traficantezinho de esquina é milionário é uma sabedoria convencional construída pela mídia.
(P.114) Com base em um livro caixa de uma gangue de Chicago durante o boom do crack no EUA, chegou-se à conclusão que fora os figurões, os soldados do tráfico ganham menos que um salário mínimo e por isso moram com as mães.
(P.115) Em outras palavras, uma gangue de crack funciona de forma bem parecida ao modelo empresarial capitalista. Pois, é preciso estar próximo ao topo para ganhar um bom salário. Um soldado de gangue tem muito em comum com um empregado do McDonald’s, ou um estoquista do Wall-Mart. Na verdade, a maioria dos soldados possuía um emprego lícito para complementar a renda.
(P.116) Segundo levantamentos, ser soldado do tráfico é um trabalho extremamente árduo, perigoso e mal remunerado. Então, por que alguém escolheria esse emprego?
Ora, para um garoto criado num conjunto habitacional da zona pobre de Chicago, traficar crack é uma profissão glamorosa, Chegar à chefe de quadrilha (patrão) é o máximo que eles almejam.
(P.117) O problema do tráfico de crack é o mesmo que afeta todas as outras profissões glamorosas (estrelas de futebol, aspirantes a atriz de Hollywood, etc): um monte de gente competindo por um pequeno punhado de prêmios.
(P.118) As regras do jogo são claras. É preciso começar de baixo para ter chance de chegar ao topo. Para avançar é preciso estar disposto a trabalhar duro, ganhando pouco, demonstrar que se é espetacular, destacando-se.
(P.129) Cap. 04: Onde foram parar todos os criminosos?
Voltando ao início do livro, sobre a onda de violência que dominou os EUA e sua queda repentina o autor se pergunta: onde foram para todos os criminosos?
Os jornalistas e especialistas apresentaram uma chuva de explicações e o autor seleciona as que fazem sentido e as que não fazem.
Crescimento econômico: o crescimento econômico da década de 90 é muito usado para explicar a queda na criminalidade. Contudo, a diminuição do desemprego, só diminui os crimes contra o patrimônio. Homicídios e estupros não são afetados pela boa fase econômica.
Penas mais duras: para o autor esse é um fato que explica a queda da violência em 1/3. Penas mais duras intimidam os criminosos em potencial e inibem a atuação de criminosos presos.
(P.136) Aumento da aplicação da pena capital: as execuções quadruplicaram nas décadas de 80 e 90, mas ela não explica a diminuição da criminalidade. Pois, as execuções são tão raras que ninguém desistiria de cometer um crime em função da ameaça de execução. Nos anos 90 foram executados 478 criminosos. Sando o corredor da morte um lugar mais seguro que as ruas de Chicago.
(P.137) Contratação de mais policiais: segundo os dados dos autores isso contribuiu com uma queda de 10% da criminalidade dos anos 90.
(P.139) Estratégias policiais inovadoras: exemplo de NY e sua teoria da Janela Quebrada[3]. Segundo o autor a contratação de mais policiais teve mais impacto que as estratégias inovadoras.
(P.142) Leis mais duras em relação as armas: para o autor tanto o controle, quanto a venda indiscriminada de armas não surtem efeito nenhum na criminalidade.
(P.146) Mudança no mercado de crack e outras drogas: a grande concorrência fez os lucros do crack despencarem. Muitos perceberam que vender crack e correr perigo de vida não compensava como antes. Contudo, isso representa apenas uma diminuição de apenas 15% da criminalidade.
(P.148) Envelhecimento da população: não serve como explicação, pois ninguém passa de jovem assassino a velho pacato em meia dúzia de anos.
(P.150) O grande responsável por essa queda, não apareceu em nenhuma explicação de jornal. A legalização do aborto.
(P.152) O aborto legalizado resultou num numero menor de filhos indesejados, filhos indesejados levam a altos índices de criminalidade. A legalização do aborto levou a menos crimes.
(P.161) Cap. 05: O que faz um pai perfeito?
Ao longo dos anos surgiu um imenso rebanho de especialistas sobre a arte da parentalidade. Cada um querendo transformar seus conselhos em sabedorias convencionais.
(P.162) O típico especialista desta e de tantas outras áreas tende a passar uma excessiva autoconfiança. Um especialista não fica pesando todos os lados de uma questão: finca logo a bandeira num deles. Isso acontece, por que um especialista tem que ser direto se o que pretende é transformar sua teoria de algibeira em sabedoria convencional. O melhor meio para consegui-lo é falar à emoção da plateia, pois a emoção é a inimiga da argumentação racional. Em termos de emoções, uma delas – o medo – é mais forte que as demais.
(P.195) Cap. 06: Pais perfeitos, parte II; ou uma Roshanda seria tão doce se tivesse outro nome?
Obsessivos ou não os pais querem crer que fazem uma enorme diferença na vida de seu filho. O primeiro ato oficial dos pais – dar nome aos bebês – evidencia tal crença. Muitos pais parecem acreditar que uma criança não terá sucesso a menos que receba o nome certo, seja ele estético ou profético.
(P.197) Mas afinal, o nome que damos aos filhos afeta ou não suas vidas? Ou será a nossa vida que se reflete nos nomes deles? Seja como for, que tipo de sinal o nome de uma criança manda para o mundo? E o mais importante: isso faz alguma diferença?
O autor dá inicio a uma pesquisa sobre os nomes de crianças analisando o banco de dados da Califórnia. Aqui ele percebe que existem nomes preferidos por negros e nomes preferidos por brancos, nomes de ricos e nomes de pobres, nomes de pessoas instruídas e nomes de pessoas com pouca instrução. Assim o autor chega a conclusão de que:
1.      Nos EUA existem nomes de negros e de brancos.
2.      Em dois currículos idênticos o que possui nome considerado de negros possui menos chance de resposta.
3.      A escolha dos nomes varia de acordo com as classe sociais.
4.      Pessoas ricas abandonam nomes que se popularizam.
Enfim, o resultado deste capítulo é que os nomes não influenciam o que a pessoa será. Contudo, crianças que nascem e são batizadas com nomes ridículos, em geral nascem em famílias desestabilizadas. Um pai que não liga para o nome, não liga para a criança. Então o nome é efeito e não causa.

Referência:
DUBNER, Stephen J. Freakonomics : o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta : as revelações de um economista original e politicamente incorreto / Stephen Dubner, Steven Levitt ; tradução Regina Lyra. – Rio de Janeiro : lsevier, 2005 – 7 Reimpressão.

[1] KKK: Klu Klux Klan
[2] Guerra da Secessão
[3] Lugares mais degradados e pequenos delitos transformam-se em grandes problemas.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Fichamento: Freakonomics - Introdução.


(P.15) Introdução: o lado oculto de tudo.
Os índices de violência no início da década de 90 deram um salto em relação às décadas anteriores. O principal grupo social envolvido era o chamado Superpredador: adolescentes das grandes metrópoles, com uma arma nas mãos e muito ódio no coração.
(P.16) Em um cenário otimista, os criminalistas acreditavam que nos anos seguintes os homicídios cometidos por adolescentes cresceriam 15%. Em um cenário pessimista, seria o apocalipse.
Então, subitamente, as taxas de criminalidade começaram a baixar. A queda foi tão grande que em 2000 o índice nacional de homicídio atingiu o nível mais baixo em 35 anos.
(P.17) Logo especialistas correram para explicar o fenômeno: crescimento econômico, controle da venda de armas, novas estratégias policiais, etc. E em pouco tempo estas explicações tornaram-se senso comum. Só havia um problema: não estavam certas.
O fator que mais contribuiu para essa queda da criminalidade nos anos 90, ocorrera 20 anos antes e tivera como protagonista uma jovem de Dallas chamada Norma McCorvey.
McCorvey, 21 anos, alcoólatra, usuária de drogas e que já havia entregue  dois filhos para a adoção deu início a uma luta pelo direito de abortar. Após grande estardalhaço ela venceu e o aborto foi legalizado em todo país.
(P.18) Mas como isso contribui, uma geração depois, para a maior queda da criminalidade na história contemporânea?
Simplesmente o fato de que os criminosos em potencial não nasceram. Com o acesso fácil ao aborto, famílias desestruturadas e problemáticas não tiveram filhos – e como sabemos crianças criadas nesses ambientes tendem a criminalidade. Quando essas crianças não nascidas atingiram a idade do crime, o índice de criminalidade começou a despencar.
(P.22) O que os autores querem mostrar é que a relação causa-efeito mais plausível, nem sempre é a certa. Ou seja, muitas vezes não é simplesmente porque duas coisas são correlatas e ocorrerem quase ao mesmo tempo que uma é a causa da outra. Ex: “um Czar soube que a região mais atingida por uma determinada doença era a que também possuía mais médicos. Sua solução foi mandar fuzilar os médicos”.
(P.25) O objetivo do livro é abordar assuntos sob uma perspectiva diferente, abandonando o humanismo e o moralismo e aceitando honestamente os dados.
Podemos dizer que o moralismo representa a forma como as pessoas gostariam que o mundo funcionasse, enquanto a economia representa a forma como ele realmente funciona. A economia é, acima de tudo, uma ciência feita para medir. Possuí um conjunto incrivelmente eficiente e flexível de ferramentas capaz de acessar de maneira confiável uma variedade de informações a fim de identificar o efeito de qualquer fator isolado ou mesmo o efeito integral.
As ideias fundamentais do livro são:
1. Os incentivos são a pedra fundamental da vida moderna: devemos buscar entender o que incentiva (motivou) o quê.
2. A sabedoria convencional (senso comum) em geral está equivocada.
3. Causas distantes e sutis podem provocar efeitos drásticos: a relação causa/efeito nem sempre está diante de nossos olhos. Se assemelhando ao efeito borboleta.
(P.15) 4. Os “especialistas” – dos criminologistas aos corretores de imóveis – usam suas informações privilegiadas em benefício próprio.
5. Saber o que medir e como medir faz o mundo parecer muito menos complicado: quando se aprende a examinar os dados de forma correta, é possível explicar enigmas que antes pareciam insolúveis.
Assim, a meta deste livro é explorar o lado oculto de tudo. Apresentando abordagens nunca antes tentadas. Daí surge o Freakonomics (economia excêntrica).

Referências.
DUBNER, Stephen J. Freakonomics : o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta : as revelações de um economista original e politicamente incorreto / Stephen Dubner, Steven Levitt ; tradução Regina Lyra. – Rio de Janeiro : lsevier, 2005 – 7 Reimpressão

domingo, 13 de novembro de 2016

Mito, Pré-Socráticos e Sofistas: o surgimento da filosofia.

(P.23) Cap. 01: A Aurora da Filosofia Ocidental.
“Tudo flui”. Heráclito.
(P.25) Os Pré-Socráticos.
Quando a espécie humana desenvolveu um intelecto superior e começou a processar o mundo ao seu redor foi tomada por um espanto diante desse universo regulado e inexplicável. Desse espanto surgiu a filosofia.
Mas antes veio o mito que respondia as perguntas existenciais dos seres humanos com grandiosos relatos cósmicos. As forças obscuras da natureza eram personificadas em deuses. Assim, os enigmas do mundo ganhavam sentido por meio da imaginação.
(P.26) Em determinado momento a explicação mitológica deixou de satisfazer as mentes mais inquisitivas e uma sucessão de pensadores buscou suas próprias respostas baseando-se em duas ferramentas: a observação do mundo e o pensamento racional.
Esta transição ocorreu entre os séculos VII e V a.C, e os pensadores desta época são considerados os fundadores do pensamento ocidental e conhecidos como pré-socráticos.
Pré-socráticos.
Suas reflexões podem ser vistas como uma negação das explicações mitologicas.
O caldeirão grego.
A história da filosofia grega não começa no que hoje chamamos Grécia, mas do outro lado do mar Egeu, na atual Turquia (antes conhecida como Ásia menor).
(P.27) Até 1200 a.C florescia na Grécia continental e nos arquipélagos do mar Egeu a civilização micênica ou aqueana. Quando foi invadida pelos dórios, estes fugiram para a Ásia Menor e lá fundaram uma série de colônias entre elas Éfeso e Mileto. Esta civilização ficou conhecida como Jônia.
A Jônia ficava a meio caminho entre à Grécia e o Oriente médio o que propiciou o intercâmbio cultural.
Por volta do Século X a.C os gregos adaptaram o sistema de escrita dos fenícios baseados no sistema alfabético de fonemas. (P.29) Com o novo sistema de escrita surgem obras como a Odisseia e a Ilíada e pela primeira vez o conhecimento acumulado poderia ser transmitido de uma geração à outra. Gradualmente a filosofia foi se separando da poesia e do mito.
A Escola de Mileto: século 7 a 6 a.C.
Tudo indica que Tales de Mileto foi um próspero empreendedor Jônio, que embora de origem nobre, enriquecera com a ciência (que nessa época se misturava com a filosofia).
(P.30) Segundo Aristóteles em seu livro A Política, Tales havia enriquecido mediante uma jogada astronômica prevendo colheitas.
Tales foi o primeiro pensador a examinar a questão da physis, que segundo o dicionário pode ser descrito como “fonte original” ou “matéria-prima” do que uma coisa é feita.
(P.31) Ex: em uma árvore a physis é a seiva e a madeira, numa montanha são as rochas, a terra e os minérios, no corpo humano carne e sangue. Então Tales se pergunta: qual a physis do universo? Do que ele é feito?
Assim é possível considerar todas as coisas como uma realidade única, que se manifesta em diferentes formas. E buscando essa physis, Tales chega a conclusão de que o princípio de todas as coisas era a água, pois, água é uma espécie de plasma que circula entre os três estados da matéria e assume as mais diferentes formas.
(P.32) Seu discípulo, Anaximando dizia ser a água apenas um dos elementos que formam o mundo e, portanto não poderia ser o princípio originário das coisas. Para ele a physis do universo era um elemento invisível, que os nossos sentidos não poderiam compreender. Essa misteriosa matéria-prima recebeu o nome de ápeiron.
O indefinido ápeiron seria a unidade original de todas as coisas. E a matéria surge de um processo de equilíbrio e desequilíbrio entre forças opostas. O quente e o frio, o seco e o molhado, o líquido e o sólido – tudo existiria dentro do ápeiron, em iguais medidas, mas cada força ou elemento tentaria constantemente dominar os outros. Quando um se sobressai surge o elemento vencedor. Ex: úmido + frio=surge a água. Quente + Seco = fogo. E assim por diante.
Esse jogo seria equilibrado por uma espécie de lei impessoal que regula todo o universo. (P.33) E quando o desequilíbrio dentro da ápeiron volta a equilibrar-se com o tempo: assim as coisas surgem e desaparecem.
Como o ápeiron é infinito, esse processo de “injustiça” (desequilíbrio) e “reparação”, dá origem ao surgimento de mundos igualmente infinitos: e o nosso seria apenas um deles.
(P.34) Anaxímenes defendia que o princípio de todas as coisas era o ar. Os diferentes seres surgem ou desaparecem segundo um eterno processo de condensação e rarefação.
(P.35) Pitagóricos e pitagóricas.
Após a destruição de Mileto pelos persas, floresceram na Itália diversas colônias gregas, era a chamada Magna Grécia. Os filósofos daqui tinham um acento místico mais bem pronunciado que seus colegas da Ásia Menor.
(P.36) O principal expoente da filosofia sul-italiana foi Pitágoras que ali chegou fugindo das perseguições políticas. Em Crotona, ele fundou uma espécie de confraria místico-filosófica e dedicou muito tempo sobre questões místicas e divinas. (P.37) Criando uma espécie de seita que se difundiu por quase toda Grécia.
(P.38) Apesar de toda essa dedicação ao sobrenatural, não devemos deixar isso ofuscar seu lado filosófico. Pitágoras era um místico, mas seu misticismo tinha um temperamento intelectual.
Para Pitágoras a physis, o princípio de todas as coisas eram os números. Para ele, os números não eram meros símbolos, exprimindo o valor das grandezas; eram entidades reais, cuja combinação formava a alma das coisas. Todas as criaturas existentes seriam imitações (mímesis) das estruturas numéricas alicerçam a realidade.
Como Anaximandro, Pitágoras acreditava que o universo fosse um ápeiron ilimitado; mas eram os números que criavam formas a partir dessa massa sem fronteiras. A matemática impunha delimitações ao ilimitado, assim como a harmonia das notas extraí música da confusão de sons. Da unidade primitiva, indiferenciada, surgia a pluralidade, num ciclo interminável.
(P.39) Outra contribuição de Pitágoras é a definição de ideal contemplativo. Para ele o universo humano era como as olimpíadas: havia três tipos de pessoas, os comerciantes, os atletas e os espectadores. Para ele a terceira categoria era superior as outras duas : pois, a mais admirável ocupação humana é contemplar o mundo de forma ao mesmo tempo passional e desinteressada, sem tentar vencer uma competição ou adquirir ganhos materiais. Ou seja, o estágio superior do ser humano é o conhecimento pelo conhecimento, a beleza pela beleza, a arte pela arte. Somente assim a alma pode perceber a harmonia subjacente às coisas e integrar-se a ela.
O ideal contemplativo foi muito criticado a partir do século XIX pelos pensadores utilitaristas e instrumentalistas (segundo eles, toda reflexão humana deve buscar ter um impacto na sociedade). No fim das contas o argumento pitagórico é mais convincente, pois não temos de antemão como saber quais conhecimentos serão uteis no futuro: o inventor da primeira ferramenta talvez estivesse apenas lascando pedras num final de tarde, contemplativo, quando fez sua descoberta.
Muitas vezes na história, o sujeito contemplativo foi mais útil à espécie do que seu colega pragmático.
(P.40) Outro lado de Pitágoras foi a participação feminina em sua vida. Dizem que sua mestre foi uma sacerdotisa de Delfos. “Mais vale um cavalo louco em disparada do que uma mulher que não reflete”, dizia Pitágoras.
Heráclito (539-475 a.C)
(P.41) A brutal devastação de Mileto não decretou o fim da filosofia jônica. Enquanto Pitágoras pregava no sul da Itália, outros filósofos levantavam as questões milesianas na cidade Éfeso – cidade grega da Ásia menor que foi poupada pelos persas por não participar da Rebelião Jônia de 499 a.C.
Foi em Éfeso que surgiu o mais famoso filósofo pré-socrático: Heráclito, cujas ideias são ao mesmo tempo uma mistura e uma refutação dos filósofos anteriores.
Podemos dizer que Heráclito foi o primeiro grande misantropo[1] da filosofia. Ele era um grande rabugento. Tanto foi, que ao final de vida, para evitar o contato humano, foi viver sozinho nas montanhas.
(P.42) Dizia-se autodidata e não poupava críticas à ninguém.
Tales, Anaximandro e Anaxímenes tentaram definir a substância original de todas as coisas. Pitágoras afirmou que tudo o que existia era baseado em estruturas numéricas. Para Heráclito o que realmente importava não era a substância do universo, mas o processo pelo qual as coisas existem e se transformam.
Ao invés de decifrar qual elemento presidia a physis, ele buscou entender que o princípio intelectual que regia o mundo – princípio que ele chamou de logos, razão universal que comanda a existência. E para ele, essa razão é a mudança. A eterna mudança.
(P.43) O universo se transforma a todo o momento, de forma incessante e nossos sentimentos, por serem limitados, percebem apenas as coisas como fixas em si mesmas, mas na verdade tudo está em constante mutação. Assim se explicam os dois aforismos mais célebres de Heráclito. “Tudo fluí” – Panta Rhei[2] – e “Ninguém pode se banhar duas vezes em um mesmo rio” – porque as águas correm incessantemente, o rio que nos banhamos pela manhã não é o mesmo em que mergulhamos à noite. E nós também não somos os mesmo, pois nos transformamos a todo momento.
Para Heráclito, a verdade não está no Ser, mas no Devir. O Ser na filosofia grega, era tudo o que há de imutável nas coisas que existem; já o Devir é o impermanente, o que não é estável. Para ele essa ausência de estabilidade era a essência do cosmos.
Para Heráclito, o caminho da sabedoria era compreender e aceitar o Devir. O logos, além de ser o princípio universal, também se manifesta em nossa mente: é a razão humana, que, corretamente utilizada, pode capturar o eterno fluxo da mudança. E nisso está a imortalidade da alma: ao perceber-se como parte de um processo infinito, o sábio compreende que sua morte é tão ilusória quanto sua existência.
Heráclito concorda com Anaximandro em um ponto: para ele tudo o que existe é gerado pelo conflito entre forças opostas. Mas Anaximandro chama esse conflito de injustiça e desequilíbrio; já Heráclito acreditava que equilíbrio e conflito eram a mesma coisa. A existência é como uma chama, o conjunto de todas as coisas só existem enquanto se transformam constantemente.
(P.44) A Escola de Eleia.
Heráclito contrariou todos os seus antecessores, mas o seu contraponto foi seu contemporâneo Parmênides (530-460 a.C.). Nascido em Eleia, sul da Itália, como Pitágoras divulgou na Magna Grécia a filosofia jônica, seguindo à risca a ideia inaugurada por Tales de que toda a realidade é regida por um princípio fundamental e único (monismo).
(P.45) Parmênides foi aluno de Amínias (discípulo de Pitágoras) e Xenófanes, mas superou seus mestres levando o pensamento monista ao extremo.
Heráclito dizia que toda estabilidade é ilusão, Parmênides afirmava o contrário: ilusão é a mudança.
Nossos sentidos são imperfeitos, vemos mudança e temos a impressão de que o universo é um fluxo incessante de fenômenos. Mas isso é apenas ilusão (aparência), criada por nossas próprias limitações. Se pudéssemos enxergar, ouvir e sentir o universo inteiro de forma imediata e instantânea, perceberíamos que o Devir é uma miragem, pois por trás do véu das mudanças, existe o Ser, que é o único imutável e indivisível.
Parmênides também critica a divisão pitagórica entre corpo e alma: ambos seriam uma coisa só.
Refutou ainda a ideia de que o Universo seria regido por um conflito entre forças opostas: para ele nada se opõe a coisa alguma, pois tudo existe em um equilíbrio perfeito, que não pode ser perturbado.
Ele negava até mesmo o movimento. As coisas apenas parecem mover-se ao nosso redor, porque as observamos em momentos sucessivos: se considerarmos o presente absoluto como única realidade, chegaremos à conclusão de que uma coisa só pode estar em um determinado lugar, em um determinado instante.
O universo não foi criado e não será destruído: sempre existiu, idêntico a si mesmo. Para explicar essa ideia ele argumenta que o que existe – Ser – e o que não existe – o Não Ser. Uma coisa não pode ter saído da outra; o Nada não pode ter gerado tudo, logo o que existe sempre existiu.
(P.48) O Homem é a medida de todas as coisas.
No início do século V a.C, a Escola de Eleia levou ao extremo a busca por uma unidade oculta atrás das aparências do mundo (monista).
Empedocles, Anaxágoras e Demócrito negavam a existência de uma realidade única e descreveram o universo como um baile de partículas infinitas e em eterno movimento (atomistas).
Já os filósofos sofistas foram ainda mais longe e mudaram o próprio foco da filosofia: em vez de explicar o cosmos captando a physis, preocuparam-se exclusivamente com as realidades práticas humanas.
Os sofistas surgiram em Atenas em meio ao esplendor da democracia. A primeira democracia era restritiva e direta, ou seja nem todos participavam mas quem tinha direito à exercia de forma direta. Todos os considerados cidadãos poderiam ir à Ágora votar e defender um ponto de vista. Neste contexto possuir uma boa oratória era fundamental.
(P.49) É ai que surgem os sofistas. Eles surgem no século V a.C e não são exatamente uma escola filosófica, mas uma profissão. Eles vagavam pela Grécia ensinando a arte de raciocinar com clareza e falar de forma convincente, mesmo que com argumentos nem sempre honestos. O fundamental era convencer através do debate. Agiam, mais ou menos como os advogados de hoje.
(P.50) A busca pela unidade cósmica foi colocada de lado, a democracia grega estava mais interessante no mundo dos seres humanos e na melhor forma de viver, influenciá-los ou governá-los. Esta tendência ao antropocentrismo está expressa na mais famosa frase de Protágoras “O homem é a medida de todas as coisas”.
(P.51) Os sofistas eram duramente criticados por desprezarem a contemplação, trabalhar por dinheiro e não estarem interessados na verdade, mas no convencimento. Contudo, são eles que abrem o caminho para a era de ouro da filosofia grega.
Referência:
BOTELHO, José Francisco. Uma Breve História da Filosofia: São Paulo. Abril. 2015. P.23-52

[1] Misantropia é a aversão e repulsa aos seres humanos ou à humanidade.
[2] Tudo fluí em grego.