"Em Contato, o que está em jogo é mundo tal como conhecemos. Como quem faz uma aposta, Sagan nos convida a uma viagem assustadoramente fascinante pelo buraco negro que é a inteligência humana." |
Escrito por Carl Sagan e Ann Druyan entre 1980 e 1981, publicado em 1985 e adaptado para o cinema em 1997, o livro Contato narra a história de Eleanor (Ellie) Arroway, desde sua infância até a maturidade quando se torna radio astrônoma...
Resumo da obra.
Em sua atividade de radio astrônoma, Ellie se empenha na busca de sinais de vida inteligente em outros planetas, o que é visto por outros astrônomos como um suicídio profissional, pois não existem garantias de êxito nessas buscas. Entretanto, enquanto trabalhava no Novo México, conseguiu captar ondas de rádio vindas de perto da estrela Vega, a mais brilhante da constelação de Lira e que fica a cerca de 26 anos luz da Terra.
Esta mensagem aos poucos é decodificada, revelando o seu conteúdo. Uma espécie de manual de instruções para a construção de uma máquina que até ser construída ninguém tinha idéia do que fazia. Muitos acreditavam que ela destruiria o mundo, ou servisse como uma espécie de cavalo de tróia alienígena, mas a hipótese mais aceita era de que ela seria uma nave espacial, pois continham cinco lugares[1].
Após diversos debates os acentos foram distribuídos entre algumas nações e a máquina posta para funcionar. Seus tripulantes, entre eles Ellie, são transportados para o centro do universo e entram em contato direto com os alienígenas que tomam a forma da pessoa que eles mais amam ou amarram na Terra. Para Ellie o alienígena se apresenta na forma de seu pai, Teodorre Arroway, falecido quando ela tinha nove anos.
Após esta magnífica experiência de cerca de 24 horas, eles regressam a Terra e são surpreendidos pela notícia de que eles ficaram dentro da nave por apenas 20 minutos e que ela, a máquina, não foi a lugar algum. Sem provas de sua viagem interestelar, eles são interrogados e acusados de ter ludibriado todo o planeta somente para manter seu projeto de pesquisa científico. É a partir desse momento que há uma inversão nos papeis e a cética Ellie se vê cercada de uma espécie de experiência espiritual idêntica a religiosa. Ela acredita fielmente ter passado por isso e não consegue provar.
O grande trunfo desta obra é o de não ser uma ficção cientifica “barata”, cheia de homenzinhos verdes desembarcando de um disco voador, ou destruindo o mundo na véspera do dia de independência dos Estados Unidos. Sagan repleto com seu conhecimento cientifico nos dá uma aula de ciências e astronomia, fazenda de sua obra uma ficção sim, mas repleta de sobriedade.
O grande debate do livro ocorre no campo religião versus ciência. E como nosso mundo, tão atrasado em alguns aspectos, reagiria se realmente se descobrisse vida em outros planetas. Essa proposta fica clara através dos dois principais personagens do livro a cientista ateia Ellie e o Padre Palmer Joss, que vivem em constante atrito ideológico.
A obra apresenta a importância política que a religião tem em praticamente todo o mundo. Diversas decisões políticas somente são tomadas após a avaliação dela por religiosos influentes, para desespero de Ellie que vê na religião algo totalmente sem fundamento, inconsistente, sem provas, apenas uma histeria coletiva compartilhada por 95% da população do planeta.
Diversos embates filosóficos sobre a existência ou não de Deus, extremismo religioso e cientifico, se a religião merece todo esse poder, são travados durante o decorrer de todas as mais de quatrocentas páginas do livro.
Ao final do livro, quando Ellie e os outros tripulantes retornam de sua experiência intergaláctica sem nenhuma prova consistente de que realmente foram a algum lugar, o romance da uma reviravolta e a ciência que Ellie tanto acredita, não serve para explicar esse contato com seres de outro planeta. O ceticismo que a ciência tanto usa para analisar a religião e as suas chamadas experiências espirituais não pode ser usada por Ellie para explicar sua viagem rumo a Vega.
Sem as devidas provas, a única coisa que resta a Ellie é a fé de que ela realmente esteve 24 horas em outro planeta, enquanto na terra não se passaram vinte minutos. É a mesma convicção de um religioso, ele acredita fielmente em algo, acredita ser aquilo real e a sua única maneira de explicar é através da fé.
A meu ver, o final do livro sela um acordo de paz entre a ciência e a religião, representado pelos sentimentos de Ellie por Joss[2].
Bibliografia:
SAGAN; Carl: “Contato” São Paulo. Companhia das Letras. 2008. 434 páginas