Atenção:
Inicialmente
gostaria de dizer que Comunidades Imaginadas foi um grande desafio e que com
certeza figura entre os mais difíceis fichamentos que já fiz. Não por
sua linguagem, abordagem teórica ou tema, mas por ter que praticamente mutilar esta grande obra de 280 páginas em apenas 20. Peço desculpa, por alguns
deslizes e juro que tentei de todas as formas, fazer este fichamento o mais fiel
possível ao livro. Contudo, peço que primeiro leiam o livro e que só
posteriormente utilizem este fichamento como uma forma de apoio didático.
Boa Leitura!
Benedict
Anderson.
Filhos de pais
britânicos, Benedict O’Gorman Anderson nasceu em Kunming na China, em 1936, e
cresceu na Califórnia. Estudou em Cambridge e Cornel, onde passou a lecionar;
atualmente é professor emérito do Centro de Estudos Internacionais dessa
universidade. Além de ser irmão do historiador marxista Perry Anderson. Autor
de monografias sobre o Sudeste Asiático, Anderson reuniu alguns de seus ensaios
sobre política e cultura em The Spectre
of Comparisons (1998) e publicou um estudo de três figuras centrais da
independência filipina sob o título de Under
Three Flags: Anarchism and the Anti-Colonial Imagination.
Comunidades
Imaginadas foi originalmente publicado em 1983, fazendo rapidamente grande
sucesso mundial. No Brasil, o livro aparece pela primeira vez em 1989, mas com
uma tiragem limitada. Até esta nova versão da Companhia Das Letras, estudantes
e pesquisadores brasileiros tinham dificuldades em achar o velho título.
Comunidades
Imaginadas.
Introdução.
(P.26)
Benedict
Anderson inicia sua obra buscando compreender o por que das Guerras entre
Vietnã, Camboja e China entre1978 e 1979. A primeira guerra convencional em
grande escala entre países socialistas e inegavelmente revolucionários, que em
tese compartilhavam da mesma ideologia.
(P.27)
É
interessante notar que desde a Segunda Guerra Mundial todas as revoluções
vitoriosas se definiram em termos nacionais – Republica Popular da China,
República Socialista do Vietnã, etc – e, com isso se afirmaram solidamente em
um espaço territorial e social herdado do passado pré-revolucionário.
(P.28)
Hobsbawm
afirma que os estados marxistas estão se tornando, nacionais e nacionalistas. E
essa tendência não se restringe apenas ao mundo socialista. Todos os anos a ONU
admite membros novos. E muitas “nações
antigas” consolidadas, veem-se desafiadas por “sub-nacionalismos” em seu
próprio território, que sonham em se tornarem nações.
(P.29)
Este
livro pretende oferecer, a título de ensaio, algumas ideias para uma
interpretação da anomalia do
nacionalismo.
(P.30)
O
ponto de partida de Anderson é que tanto a nacionalidade (ou condição nacional),
quanto o nacionalismo são produtos culturais
específicos.
(P.31)
Conceitos e Definições
(P.32)
Ele
considera dentro de um espírito antropológico a seguinte definição de nação:
uma comunidade política imaginada –
e imaginada como sendo intrinsecamente limitada
e ao mesmo tempo soberana.
Ela é imaginada
por que mesmo os membros das mais minúsculas das nações jamais conhecerão,
encontraram ou nem sequer ouvirão falar de todos os seus companheiros (compatriotas)
embora todos tenham em mente a imagem viva da comunhão entre eles. A única
coisa que pode dizer que uma nação existe é quando muitas pessoas se consideram
uma nação.
(P.33)
Na
verdade, qualquer comunidade maior que uma aldeia primordial do contato face a
face é imaginada. Até mesmo ela.
Imagina-se a
nação como limitada por que até
mesmo a maior delas que agregue um bilhão de habitantes, possui fronteiras
finitas ainda que elásticas. Nenhuma delas imagina ter a mesma extensão da
humanidade. Nem os nacionalistas mais messiânicos sonham com o dia em que todos
os membros da espécie humana se unirão à sua nação.
(P.34)
Imagina-se
a nação soberana por que o conceito
nasceu na época em que o Iluminismo e a Revolução estavam destruindo a
legitimidade do reino dinástico hierárquico da ordem divina. Amadurecendo em
uma época em que mesmo os adeptos mais fervorosos de qualquer religião se
depararam com o pluralismo de religiões no mundo. Notando então que a única
maneira de serem livres é serem soberanas sobre um pedaço determinado de terra.
E por último ela
é imaginada como uma comunidade por
que independente da desigualdade e da exploração que possam existir dentro
dela, a nação sempre é concebida como uma profunda camaradagem horizontal. No
fundo foi essa fraternidade que tornou possível, nestes últimos dois séculos,
que tantos milhões de pessoas matassem e morressem por essas criações
imaginárias e limitadas.
Essas mortes nos
levam a pensar no problema central posto pelo nacionalismo: o que faz com que
parcas criações imaginativas de pouco mais de dois séculos gerem sacrifícios
tão descomunais? A resposta está nas raízes culturais do nacionalismo.
(P.35)
Cap. 1: Raízes Culturais.
Não existem
símbolos mais impressionantes da cultura moderna do nacionalismo do que os
cenotáfios e o túmulo do soldado desconhecido. Contudo, estes túmulos vazios
estão carregados de imagens nacionais espectrais.
(P.36)
Se
o nacionalismo se importa tanto com a morte e a imortalidade, isso sugere sua
grande afinidade com os imaginários religiosos. Com isso vale a pena começar a
avaliar as raízes do nacionalismo pela morte, o último elemento de uma série de
fatalidades. A morte, assim como a herança genética pessoal, nosso sexo, a
época em que viemos, nossas capacidades físicas, língua-materna, etc são
fatores contingentes e inelutáveis.
(P.37)
O
grande mérito das religiões (fora seu papel na legitimação do sistema de
dominação e exploração) é a sua preocupação com o homem no universo. Ela tenta
explicar o por que. A religião se interessa pelos vínculos entre os mortos e os
ainda não nascidos.
(P.38)
O
século XVIII na Europa marca o amanhecer do nacionalismo e o anoitecer do
pensamento religioso. A religião declinou, mas o sofrimento que ela ajudava a
apaziguar não desapareceu.
Admite-se que os
estados nacionais são “novos” e “históricos”, ao passo que as nações ao qual
elas dão expressão política sempre assomam de um passado imemorável, seguindo a
um futuro ilimitado. É a magia do nacionalismo que transforma o acaso em
destino.
(P.39)
Anderson
não está sugerindo que o nacionalismo tenha substituído a religião. O que ele
está fazendo é alinhando o nacionalismo não a ideologias políticas
conscientemente adotadas, mas a sistemas culturais. Religião e nacionalismo
foram estruturados de forma a serem incontestáveis.
(P.40)
A Comunidade Religiosa.
Todas as
comunidades clássicas se consideravam cosmicamente centrais, através de uma
língua sagrada ligada a uma ordem supra-terrena de poder. Essas comunidades
clássicas ligadas por línguas sagradas tinham o caráter diferente das
comunidades imaginadas das nações modernas: a confiança no sacramento único de
usas línguas e daí a aceitação de novos membros.
O árabe para os
muçulmanos, o latim para os cristãos e o mandarim para os budistas. Apesar
destas serem línguas mortas para a maioria de seus seguidores, elas funcionavam
como símbolos para todos. Unindo fiéis de regiões diferentes sob os signos do
árabe, do mandarim e do latim. Uma vez aprendido os símbolos, independente da
região e da língua nativa, a pessoa era aceita naquela religião.
(P.47)
O Reino Dinástico.
(P.48)
Hoje
em dia, talvez seja difícil sentir empatia com um mundo onde o reino dinástico
apareça como único sistema “político” viável. Pois a monarquia contraria todas
as concepções modernas da vida política. A realeza opera tudo de um centro
elevado, tem sua legitimidade por via divina e não da população, que é composta
por súditos e não por cidadãos.
Hoje o Estado
opera sobre cada centímetro quadrado de um território legalmente demarcado. Mas
antigamente os Estados eram definidos por centros, com fronteiras porosas e
indistintas. Daí o paradoxo da facilidade com que esses reinos pré-modernos
conseguiram manter seu domínio sobre populações heterogêneas por longo tempo.
Deve-se lembrar
que esses antigos Estados se expandiam não só pela guerra como também por uma
política sexual de casamentos entre dinastias.
(P.51)
Percepções Temporais.
Contudo, é um
erro pensar que comunidades imaginadas das nações teriam simplesmente surgido a
partir das comunidades religiosas e dos reinos dinásticos substituindo-as.
(P.52)
Por
sob o declínio das comunidades, línguas e linhagens sagradas estava ocorrendo
uma transformação nos modos de compreender o mundo, que possibilitou “pensar a
nação”.
(P.56)
A
ideia de um organismo sociológico atravessando cronologicamente um tempo vazio
e homogêneo é a analogia de nação, que também é concebida como uma comunidade
sólida percorrendo constantemente a história, seja em sentido ascendente ou
descendente.
(P.57)
Um americano nunca vai conhecer, e nem sequer saber o nome dos 240 milhões de
compatriotas. Ele não têm ideia do que estão fazendo a cada momento. Mas tem
plena confiança na atividade constante, anônima e simultânea deles.
(P.69)
Recapitulando,
Anderson sustenta que a própria possibilidade de imaginar a nação só surgiu
historicamente quando, e onde, três concepções culturais fundamentais perderam
o domínio sobre a mentalidade do homem.
A primeira é a
ideia de que uma determinada língua escrita oferece acesso privilegiado à
verdade ontológica.
A segunda é a
crença de que a sociedade se organiza naturalmente em torno e abaixo de centros
elevados (monarcas que governavam por graça divina).
O terceiro é uma
concepção da temporalidade em que a cosmologia
e a história se confundem, e as
origens do mundo dos homens são essencialmente as mesmas.
O declínio lento
e irregular dessas convicções mutualmente entrelaçadas, primeiro na Europa
Ocidental e depois em outros lugares, sob o impacto da transformação econômica,
das descobertas sociais e científicas e do desenvolvimento de meios de
comunicação cada vez mais velozes, levou a uma brusca clivagem entre cosmologia
e história.
(P.70)
Desse
modo, não admira que se iniciasse a busca de uma nova maneira de unir
significativamente a fraternidade, o poder e o tempo. O elemento que mais
catalisou e fez frutificar essa busca foi o capitalismo editorial, que permitiu
que as pessoas, em números sempre muito maiores, viessem a pensar sobre si
mesmas e a se relacionar com as demais de maneiras radicalmente novas.
(P.71)
Cap.2: As Origens da Consciência Nacional.
A imprensa foi
determinante para a criação de ideias inteiramente novas sobre a
simultaneidade. E a nação se tornou tão popular dentro deste tipo de comunidade
principalmente graças ao capitalismo.
(P.73)
Pois,
sendo a gráfica uma empresa capitalista ela buscava cada vez mais mercado e
imprimia mais e mais livros.
(P.75)
Três
foram os fatores vernaculizantes[1] do
capitalismo: Primeiro, a mudança do próprio latim. Segundo, o impacto da
Reforma e dos atos de Martinho Lutero. A aliança entre o protestantismo e o
capitalismo editorial, explorando edições populares baratas, logo criou novos e
vastos públicos leitores, entre eles comerciantes e mulheres que sabiam pouco
ou quase nada de latim. E o terceiro, foi a difusão lenta, geograficamente
irregular de determinados vernáculos como instrumento de centralização
administrativa. (P.76) A
fragmentação da Europa pós fim do Império Romano significava que nenhum
soberano poderia monopolizar o latim (como os imperadores chineses faziam com o
mandarim) e converte-lo em sua língua oficial, já que o latim não era
centralizado.
(P.82)
Podemos
resumir que a convergência do capitalismo e da tecnologia da imprensa sobre a
fatal diversidade da linguagem humana criou a possibilidade de uma nova forma
de comunidade imaginada, a qual, em sua morfologia básica, montou o cenário
para a nação moderna.
(P.84)
Cap. 3: Pioneiros Crioulos[2].
Em primeiro
lugar, quer se pense no Brasil, nos EUA ou nos países hispânicos, a língua não
era um elemento que os diferenciasse das respectivas metrópoles imperiais.
Todos inclusive os EUA, eram estados crioulos, formados e liderados por gente
que tinha a mesma língua e a mesma ascendência do adversário a ser combatido. (P.85) Na verdade, cabe dizer que a
língua nunca se colocou como questão nesses primeiras lutas de libertação
nacional.
Em segundo
lugar, boa parte do hemisfério ocidental não segue a tese de Nairn de que o
“nacionalismo moderno esteve ligado ao batismo político das classes inferiores
pela classe média descontente que tentava canalizar as energias populares em
favor de novos estados”. Pelo menos na América Central e do Sul, a “classe
média” ao estilo europeu era insignificante no século XVIII.
(P.86)
Longe
de tentar conduzir as “classes inferiores à vida política” a elite tinha medo
dela. Ainda era fresca a lembrança das revoltas de Tupac Amarú no Perú e de
Toussaint L’Ouverture no Haiti.
(P.87)
O
movimento Latino-Americano pela independência eram de “pouca espessura social”
e no entanto eram movimentos de independência social.
(P.88)
Eis
que surge o enigma: por que foram precisamente as comunidades crioulas que
desenvolveram concepções tão precoces sobre sua condição nacional, bem antes
que a maior parte da Europa? Por que essas colônias, geralmente com grandes
populações oprimidas e que não falavam o espanhol, geraram crioulos que
redefiniram conscientemente essas populações como integrantes de uma mesma
nacionalidade e a Espanha como inimigo estrangeiro? Por que o império
Hispano-americano que havia existido serenamente por quase três séculos se
fragmentou em dezoito Estados diferentes?
Os dois fatores
geralmente apresentados são, o aumento do controle madrilenho e a difusão das
ideias do iluminismo.
(P.89)
A
vitória das 13 colônias (1770) e o inicio da Revolução Francesa (1789) também
exerceram vigorosa influência.
(P.90)
Essas explicações, apesar de importantes, não explicam por que Chile, Venezuela
e México se mostraram emocionalmente plausíveis e politicamente viáveis, e nem
por que San Martín disse que certos aborígenes deviam ser identificados como
“peruanos”. Também não explica os sacrifícios feitos, pois muitas pessoas perderam
propriedades e até mesmo a vida nessa empreitada.
(P.91)
A
moldagem inicial das unidades administrativas americanas foi, em certa medida
arbitrária e fortuita. E a falta de comunicação entre elas possibilitou a
fragmentação.
Além disso, a
política comercial de Madri fez com que as unidades administrativas se
transformassem em zonas econômicas distintas. Sendo ainda o comércio entre elas
proibido.
(P.92)
Para
entender como as unidades administrativas puderam, ao longo do tempo, serem
vistas como terras pátrias, não só nas américas, mas também em outras partes do
mundo, é preciso observar de que modo as organizações administrativas criam
significado.
(P.93)
Durante
o período das religiões, a amplitude geográfica de uma religião era determinada
pela peregrinação que estes fiéis faziam para Roma, Meca ou Benares. Em Meca
encontravam-se pessoas das mais distantes regiões da África, Ásia e Europa o
que dava a ideia do alcance do islamismo e a sua amplitude geográfica.
(P.94)
Com
a ascensão das monarquias absolutistas e a tentativa deste reis de unificar o
reino que era fragmentado pela nobreza feudal, outro tipo de viagem surgiu para
demarcar o território. O mensageiro real, como funcionário publico que viajava
todo o território demarcando-o conforme o alcance de suas viagens.
(P.95)
A
intercambialidade dos documentos, que reforçava a intercambialidade dos homens,
foi alimentada pelo desenvolvimento de uma língua oficial padronizada. Qualquer
língua escrita em princípio, serviria para essa função, como mostra a pomposa
sucessão, entre os séculos XI e XIV, do anglo-saxão, latim, normando e
médio-inglês em Londres. Com a vernaculatização da língua houve um aumento da
centralização, impedindo que funcionários de Madri intercambiassem com os de
Paris por exemplo. Sendo a expansão ultramarina europeia uma extensão
fracassada deste modelo.
A tendência
absolutista de promover os funcionário mais pelo mérito do que pelo berço não
foi efetiva nas colônias. Dos 170 vice-reis somente 4 eram crioulos.
(P.97)
Além
de barrarem suas peregrinações. Se um funcionário espanhol podia andar todo o
continente americano, o funcionário crioulo ficava restrito ao seu território.
Seu movimentos laterais eram restritos, assim como sua ascensão vertical.
(P.100)
Indiretamente, o Iluminismo também ajudou a cristalizar uma distinção
irreversível entre metropolitanos e crioulos. Os textos de Rousseau e Herder de
que o clima e a ecologia tinham um impacto decisivo sobre a formação da cultura
e do caráter, afastou ainda mais metropolitanos e crioulos que eram tidos como
selvagens e inadequados para cargos mais elevados.
(P.101)
Até
aqui, dedicamos nossa atenção aos mundos dos funcionários da América, que
apesar de importantes eram em dimensões muito reduzidas.
A peregrinação
dos vice-reis não teria nenhuma consequência enquanto a extensão territorial
não pudesse ser imaginado como nação e isso só se deu com o surgimento do capitalismo tipográfico.
(P.102)
A
imprensa chegou cedo a Nova Espanha, mas durante dois séculos ficou sobre
rígido controle da Coroa e da Igreja. Na América do Norte a imprensa nem
existia, mas no século XVIII houve uma revolução tipográfica nos EUA.
Benjamim
Franklin está intimamente ligado ao nacionalismo crioulo na América do Norte.
Contudo, deve-se entender que a imprensa só se desenvolveu nos EUA quando os
tipógrafos descobriram uma nova forma de renda – o jornal! Na América Espanhola
ocorreram processos semelhantes, contudo de modo mais lento.
(P.103)
No
início estes jornais eram meramente informativos (datas de chegada e partida de
navios, preços vigentes, casamentos, decretos, etc). Foi só uma questão de
tempo até aparecerem elementos políticos.
(P.104)
Um
traço marcante desses jornais era o seu caráter local. E não existia a ideia de
simultaneidade entre as diversas regiões do império espanhol. Um mexicano
poderia receber informações sobre os fatos ocorridos em Buenos Aires, e estes
fatos lhe parecerem “semelhantes” mas não “partes” integrantes deles.
Nesse sentido, o
“malogro” da experiência hispano-americana e, criar um nacionalismo para toda
região reflete o nível de desenvolvimento capitalista e tecnológico do século
XVIII e o atraso “local” do capitalismo e da tecnologia espanhola na
administração do império.
(P.105)
Os crioulos norte-americanos estavam numa situação mais favorável para
concretizar a ideia de “América”. As 13 colônias eram relativamente pequenas e
seus centros estavam em dinâmica comunicação, além de haver traços bastante
fortes entre seus respectivos habitantes, tanto pela imprensa quanto pelo
comércio. Sem contar que o avanço para o oeste foi feito por pessoas do leste.
(P.106)
Benedict
Anderson quis explicar neste capitulo
que não foi o liberalismo e o iluminismo os criadores da ideia de nação, mas
sim os funcionário-peregrinos e a imprensa.
(P.107)
Cap. 4: Velhas línguas, novos modelos.
O final da era
dos movimentos vitoriosos de libertação nacional nas Américas coincidiu com o
inicio da era do nacionalismo que entre 1820 e 1920, mudaram a face do Velho
Mundo, dois traços notáveis os diferenciam de seus predecessores.
1°
Línguas impressas nacionais: Elas foram de
fundamental importância ideológica e política (enquanto o espanhol e o inglês
nunca foram questões relevantes na América revolucionária).
2°
Todos eles funcionaram a partir de modelos deixados por seus antecessores.
Foi assim que na
Europa a “nação” se tornou objeto de aspiração consciente a ser buscado, e não
uma perspectiva de mundo que ganhou foco aos poucos. Assim veremos que nação
foi uma invenção sem patente copiada e reproduzida várias e várias vezes.
Neste capítulo o
objeto de análise será a língua impressa e sua “cópia” pirata.
(P.108)
A
ideia de língua como propriedade privada de uma nação teve enorme influência na
Europa oitocentista e na teorização do nacionalismo.
(P.109)
Se
durante a Idade Média o homem era incapaz de conceber a distância temporal
entre sua época (que ele acreditava ser o fim das eras, pois o Apocalipse era
algo iminente) e a Idade Antiga do Novo e do Velho Testamento. Neste momento
surgiu a “história comparada” que levou à concepção inédita de “modernidade”
que era contraposta à “antiguidade”.
Durante o século
XVI, a “descoberta” europeias de civilizações grandiosas (China, Japão, Índia)
e do México Asteca e do Perú Incaico, mostrou um irremediável pluralismo
humano. De modo geral essas civilizações tinham se desenvolvido autonomamente
da Europa, da cristandade, da Antiguidade e até mesmo do homem: pois suas
genealogias não remetiam ao Éden. Apenas o tempo vazio e homogêneo lhes
ofereceu acomodação.
(P.110)
Com
efeito, os descobrimentos e as conquistas tornou possível pensar a Europa como
apenas uma entre muitas civilizações, além de provocar uma revolução nas ideias
europeias sobre as línguas.
(P.111)
Com
o estudo comparado das línguas, acabou-se com a ideia de que o hebreu era a
única língua antiga ou que possuía origem divina. A partir daí, as antigas
línguas sagradas (latim, grego e hebreu) foram obrigadas a se misturar em pé de
igualdade com a vastidão de línguas plebeias que agora eram rivais no mercado
editorial. Se todas as línguas eram mundanas todas mereciam estudo e admiração.
Mas de quem? Logicamente, de seus novos donos, os falantes e leitores nativos
de cada língua, pois agora nenhuma pertencia a Deus.
(P.112)
Segundo
Seton-Watson o século XIX na Europa, foi o século dos linguistas – de todas as
áreas. Estes intelectuais foram fundamentais para a formação do nacionalismo
europeu com a criação de seus dicionários monolíngues que eram o tesouro de cada
língua. Já os dicionários bilíngues colocavam em pé de igualdade todas as
línguas.
(P.117)
É
claro que todos esses lexicógrafos, filólogos, gramáticos, folcloristas,
jornalistas e compositores não desenvolviam suas atividades revolucionárias no
vazio. (P.118) Afinal produziam para
o mercado editorial e assim para o publico consumidor. Contudo o numero de
letrados naquela época era pequeno.
Na metade do
século XIX, a Europa aumentou seus gastos públicos. Em alguns países em mais de
90%. A expansão burocrática criou mais vagas no Estado e agregou classes
sociais muito variadas. Criando uma grande classe média burocrática em quase
todos os países europeus.
(P.119)
Já
o surgimento de uma burguesia mercantil e industrial foi algo extremamente
irregular.
Benedict
Anderson considera a burguesia como a primeira classe a construir uma
solidariedade a partir de uma base essencialmente imaginada. Diferente da
nobreza que necessitava se casar para estreitar laços com outros nobres, a
burguesia era ligada apenas por acordos. Os burgueses não precisavam se conhecer,
nem casar seus filhos. Mas enxergavam a existência de milhares e milhares e
outros parecidos com eles, através de uma língua impressa, já que uma burguesia
iletrada e quase impossível.
(P.123)
Com
o aumento da alfabetização, por toda parte ficou mais fácil granjear apoio
popular, as massas descobrindo uma nova glória na consagração das línguas que
elas sempre, humildemente haviam falado.
Até certo ponto
a formulação de Nairn é correta: de que a “nova intelectualidade de classe
média do nacionalismo tinha de convidar as massas para a história; e o convite
deveria ser feito numa língua que eles entendessem”.
Mas por que o
convite foi tão atraente e por que alianças tão diferentes puderam enviá-los.
Para responder veremos a questão da “cópia pirata”.
(P.127)
Cap. 5: Imperialismo e Nacionalismo Oficial.
No decorrer do
século XIX, a revolução filológica-lexicográfica e o surgimento de movimentos
nacionalistas na Europa, frutos não só do capitalismo mas da elefantíase dos
estados dinásticos criaram várias dificuldades culturais e políticas para
muitas dinastias dominantes que não tinham nacionalidade.
(P.128)
Na
Europa continental, parentes da mesma família dinásticas governavam estados
diferentes e até rivais. Que nacionalidade poderíamos atribuir aos Bourbon na
França e na Espanha, aos Hohenzollern na Prússia e na Romênia, aos Wittelhach
na Bavária e na Grécia?
Vimos também que
estas dinastias escolheram como línguas vernaculares oficiais as mais
convenientes para elas.
Contudo na
Europa existia a convicção de que as línguas eram propriedades pessoais de
grupos muito específicos e que esses grupos imaginados como comunidades, tinham
o direito de ocupar uma posição autônoma dentro de uma confraria de iguais.
(P.131)
A
chave para situar o “nacionalismo oficial” – fusão deliberada entre a nação e o
império dinástico – é lembrar que ele se desenvolveu depois, e em reação aos
movimentos nacionais populares que proliferavam na Europa desde 1820. Se esses
nacionalismos tinham se modelado pelas histórias americana e francesa, agora se
tornavam modulares. Bastava apenas um certo truque para que o império se
tornasse um travesti nacional atraente.
Anderson analisa
três casos diferentes de “nacionalismo oficial”, o Russo, o Inglês e o Japonês.
(P.160)
Concluindo,
sustentamos que, a partir do século XIX dentro da Europa desenvolveram-se
“nacionalismos oficiais”. Nacionalismos historicamente “impossíveis” antes do
surgimento de nacionalismos linguísticos populares, pois no fundo, foram
reações dos grupos de poder sobretudo dinásticos e aristocráticos – ameaçados
de exclusão ou marginalização nas comunidades imaginadas populares.
(P.161)
Tais
nacionalismos oficiais eram políticas conservadoras, para não dizer
reacionárias, adaptadas do modelo dos nacionalismos populares, em larga medida
espontâneos, que os precederam.
Em nome do
imperialismo, muitos políticas parecidas foram implantadas pelos mesmos tipos
de grupos nos vastos territórios asiáticos e africanos no decorrer do século
XIX.
Por fim, vimos
que refratados em culturas e histórias não europeias, eles foram adotados e
imitados por grupos dirigentes nativos nas poucas áreas (Japão e Sião) que
escaparam da sujeição direta.
(P.163)
Cap. 6: A Última Onda.
A Primeira
Guerra Mundial trouxe ao fim a era das grandes dinastias. Em 1922, os
Habsburgos, os Hobenzollern, os Romanov e os Otomanos tinham acabado. A partir
daí, a nome internacional era o Estado Nacional, de modo que mesmo as potências
imperiais restantes compareciam à Liga das Nações em trajes nacionais e não
mais em uniformes imperiais como nas época do Congresso de Berlim.
Após a II Guerra
a maré de Estados Nacionais atingiu seu auge. E em 1970 até o império português
havia se tornado coisa do passado.
Os novos estados
do segundo pós-guerra têm sua próprias características, que seriam
incompreensíveis a não ser como sucessores dos modelos que abordamos
anteriormente.
(P.164)
Os
novos “nacionalismos coloniais” são semelhantes aos nacionalismos coloniais de
épocas anteriores pelo isomorfismo, entre a extensão territorial de cada
nacionalismo e a extensão territorial da unidade administrativa imperial
anterior.
A semelhança não
é mera coincidência pois, está relacionada com a geografia das peregrinações
nacionais anteriores.
(P.165)
Lembremos
que no século XVII, a unidade administrativa imperial adquiriu um significado
nacional em parte por que ela circunscrevia a ascensão dos funcionário
públicos. O mesmo vale para o século XX.
Contudo, em fins
do século XIX e sobretudo no XX, essas viagens já não eram feitas apenas por
alguns viajantes, e sim por enormes multidões graças a três fatores:
(P.166)
1°:
Desenvolvimento e aprimoramento dos transportes. 2°: A “russificação” imperial
tinha o seu lado prático, além do lado ideológico. O enorme tamanho dos
impérios europeus impossibilitava a contratação de funcionários públicos apenas
oriundos da metrópole. Sendo necessário contratar entre os colonos. 3°: Houve
uma difusão do ensino moderno, não só do Estado Colonial, mas também
particulares, religiosos e leigos. Essa expansão se deu para completar os
cargos públicos coloniais e pelo entendimento do colono de que o conhecimento é
importante.
(P.167)
De
modo geral, concorda-se que as camadas intelectuais foram fundamentais para o
surgimento do nacionalismo nos territórios coloniais. Uma vez que era impedido
aos nativos desempenha funções realmente rentáveis.
(P.170)
Um
traço interessante desta intelectualidade nacionalista da colônia era sua
juventude. Os intelectuais era compostos, sobretudo, da primeira geração
numericamente significativa a receber educação europeia.
(P.197)
Revisando:
a última onda do nacionalismo ocorreu em sua maioria nos territórios
colonizados da África e da Ásia e foi uma reação ao novo tipo de imperialismo
mundial, possibilitado pelas realizações do capitalismo industrial.
O nacionalismo
oficial (solda entre o novo princípio nacional e o velho principio dinástico)
levou a russificação nas colônias extra-européias. Os impérios se tornaram
muito extensos para serem governados por nacionais então criaram escolas para
educar os nativos e formar quadros de subordinados especializados para o Estado
e para as empresas. Esses sistemas educacionais criaram novos tipos de
peregrinação (a estudantil) e o entrosamento entre os estudantes peregrinos
criou a base territorial para o surgimento de novas comunidades imaginadas,
onde os nativos puderam se imaginar como nacionais.
(P.199)
Cap. 7: Patriotismo e Racismo.
Nos capitalismos
anteriores Benedict Anderson tentou delinear os processos pelos quais a nação
veio a ser imaginada, modelada, adaptada e transformada. Agora é a hora de
explicar porquê das pessoas se disporem a morrer por tais invenções.
Numa época em
que é tão comum que intelectuais cosmopolitas e progressistas insistam no
caráter quase patológico do nacionalismo, nas suas raízes encravadas no medo e
no ódio do outro e nas afinidades com o racismo, cabe lembrar que as nações
inspiram amor, e em um amor de profundo autosacrifícios.
(P.200)
Os
frutos culturais do nacionalismo (poesia, monumentos, musicas) mostram esse
amor com clareza. Sendo muito difícil encontrar elementos de ódio e de
desprezo.
(P.202)
A
ideia de sacrifício supremo vem apenas como uma ideia de pureza, através da
fatalidade. Morrer pela pátria, assume uma grandeza moral que não se pode
comparar por morrer pelo Partido Trabalhista, ou pela Associação Médica
Americana, pois estão são entidades nas quais pode-se ingressar e sair a
vontade. A grandeza de morrer pela Revolução também deriva do grau de
sentimento de que ela é algo fundamentalmente puro.
(P.203)
Aqui
voltamos à língua.
1° Nota-se o
caráter primordial da língua, mesmo as sabidamente modernas. Ninguém é capaz de
dizer a data em que nasce uma língua. Todas se avultam imperceptivelmente de um
passado sem horizonte. Assim, as línguas se mostram mais enraizadas do que
praticamente qualquer outra coisa e é ao mesmo tempo, o que nos liga afetivamente
ao mortos.
2° Existe um
tipo específico de comunidade contemporânea que apenas a língua é capaz de
sugerir. Tomemos o exemplo dos hinos nacionais. Por mais banal que seja a letra
e medíocre a melodia, há nesse canto uma experiência de simultaneidade.
Precisamente neste momento, pessoas totalmente desconhecidas entre si
pronunciam os mesmo versos seguindo a mesma música.
(P.208)
Nairn
se enganou ao dizer que o racismo e o antissemitismo derivam do nacionalismo.
O fato é que o
nacionalismo pensa em termos de destinos históricos, ao passo que o racismo
sonha com contaminação eternas, transmitidas desde as origens dos tempos por
uma sequencia interminável de cópulas abomináveis: fora da história. Os negros
devido à nodoa invisível do sangue, serão sempre negros; os judeus devidos ao
sêmen de Abraão, serão sempre judeus.
(P.209)
Os
sonhos do racismo têm, na verdade, a sua origem nas ideologias de classe, e não
nas de nação: sobretudo nas pretensões de divindade entre os dirigentes e nas
pretensões de “linhagem” e de “sangue azul” ou “branco” entre os aristocratas.
(P.210)
Onde
o racismo se desenvolveu fora da Europa no século XIX, sempre esteve associado
com a dominação europeia por duas razões. 1° Por causa do nacionalismo oficial
e do processo de russificação colonial. 2° O império colonial, com seu aparato
burocrático e suas políticas “russificantes” permitiu a muitos burgueses se
fazerem aristocratas fora da corte central.
(P.216)
Cap. 8: O Anjo da História.
Começaremos este
breve capitulo com as guerras entre as republicas socialistas do Vietnã,
Camboja e China.
(P.222)
Como
foi dito anteriormente e se encaixa perfeitamente neste caso os revolucionários
vietnamitas, cambojanos e chineses, assim que conquistam o Estado, fazem uso de
todas a estrutura já existente em seu favor assim como o nacionalismo que já
existia. A guerra entre eles foi uma guerra de chancelaria.
(P.226)
Cap. 9: Censo, Mapa e Museu.
Na edição
original deste livro, Anderson escreveu que “nas políticas de construção da
nação dos novos Estados vemos um grande entusiasmo nacionalista popular através
dos meios de comunicação, da educação, da administração, e assim por diante”.
O que o autor
supunha em sua visão limitada daquela época era que o nacionalismo oficial dos
mundos colonizados da África e da Ásia vinham diretamente modelados sobre o
nacionalismo oficial dos estados dinásticos europeus do século XIX.
Contudo, ele
percebeu que a genealogia próxima deveria ser buscada na criação da imagem do
Estado Colonial.
(P.227)
Por
isso, para entender melhor iremos estudas 3 instituições de poder: o censo, o
mapa e o museu. Que Anderson ressalta o fato de como elas moldaram a forma como
as potências coloniais viam e tentavam manter o controle sobre suas colônias.
(P.222)
O Censo.
A ideia fictícia
do censo é que todos estão presentes nele, e que todos ocupam um – e apenas um
– lugar extremamente claro e sem frações. Essa é uma maneira de criar imagens,
adotada pelo Estado colonial tinha origens muito anteriores às do censos dos
anos 1870.
(P.236)
O Mapa.
Aos poucos
localidades como Cairo e Meca deixaram de ser vistas somente como simples
localidades numa geografia muçulmana e passaram a ser pontos em folhas de papel
que incluíam outros pontos como Caracas, Paris e Moscou. A relação plana entre
estes pontos não tinham relação com a importância real destes lugares e sim
determinadas matematicamente.
(P.246)
O Museu.
O museu e a
imaginação museológica são profundamente políticos. Tentando criar uma imagem
gloriosa junto à população do novo Estado.
(P.253)
Assim,
mutuamente interligados, censo, mapa e museu iluminam o estilo do pensamento do
Estado colonial tardio em relação a seus domínios. A “urdidura” desse
pensamento era uma grade classificatória totalizante que podia ser aplicada com
uma flexibilidade ilimitada a qualquer coisa sobre o controle real ou apenas
visual do Estado: povos, regiões, religiões, línguas, objetos produzidos,
monumentos, etc. O efeito dessa grade era sempre poder dizer que tal coisa era
isso e não aquilo, que fazia parte disso e não daquilo. Essa coisa qualquer era
delimitada, determinada e, portanto, enumerável.
(P.256)
Cap. 10: Memória e Esquecimento.
Espaço:
Novo e Velho.
New York, Nueva Leon, Nouvelle Orléans, Nova Lisboa,
Nieuw Amsterdam. Já no século XVI, os europeus tinham
começado a adotar o estranho hábito de denominar lugares remotos, primeiro nas
Américas e na África, depois na Ásia, Austrália e Oceania, como “novas” versões
de “velhos” topônimos em suas terras de origem. Além disso, eles mantiveram a
tradição mesmo em lugares que passaram para outros senhores imperiais, de modo
que Nouvelle Orléans se tornou New Orleans e Nieuw Zeeland para Nem Zeland.
(P.257)
O
que é interessante nos nomes americanos dos séculos XVI a XVIII “novo” e
“velho” eram entendidos sincronicamente, coexistindo dentro do tempo vazio e
homogêneo. Vizcaya ao lado de Nueva Vizcaya, New London ao lado de London: o
que mais indica rivalidade entre irmãos do que uma sucessão hereditária.
Essa inédita
novidade sincrônica só podia surgir historicamente quando houvesse grupos
consideráveis de pessoas em condições de se conceberem vivendo vidas paralelas
às de outros grupos consideráveis de gente. Entre 1500 e 1800, a construção de
navios e os avanços tecnológicos tornou possível a criação destas imagens. Pois
a pessoa poderia morar no planalto peruano, nos pampas argentinos ou na Nova
Inglaterra e mesmo assim sentir-se ligado a certas regiões ou comunidades, a
milhares de quilômetros de distância.
(P.258)
Para
que esse senso de paralelismo ou simultaneidade pudesse surgir e também ter
vastas consequências políticas era necessário que a distância entre os grupos
paralelos fosse grande, e que o mais novo deles tivesse um tamanho considerável
e fosse estabelecido de forma duradoura, além de estar solidamente subordinado
ao mais velho. Essas condições foram encontradas nas Américas, como nunca
ocorrera antes por três motivos.1°, a imensidão do oceano impediram a gradual
absorção dos povos dentro de unidades políticos-culturais mais amplas como a
que submergiu a Escócia dentro do Reino Unido. 2° a migração europeia para a
América foi gigantesca. (P.259) 3° a
metrópole imperial dispunha de formidáveis aparatos burocráticos e ideológicos
que permitiram subjugar os crioulos por vários séculos.
(P.261)
Essas
fatores ajudam a explicar por que o nacionalismo surgiu primeiro no Novo Mundo.
Além de elucidar duas características peculiares das guerras revolucionárias
que assolaram o Novo Mundo entre 1776 e 1825. Pois nenhum revolucionário
Crioulo sonhou em manter o império intacto apenas transferindo a metrópole de
uma sede europeia para uma sede americana. Ou seja, não desejava-se que Nem
London sucedesse Old London, mas sim salvaguardar o paralelismo entre elas.
(P.262)
Além
disso, apesar das guerras serem extremamente sangrentas, os crioulos não
precisavam temer o extermínio físico nem a escravidão, ao contrário do que
ocorreu com tantos outros povos que estavam no caminho do imperialismo europeu.
Afinal, eles eram brancos, cristãos e falavam espanhol ou inglês, além de serem
os intermediários entre as colônias e o império. Eram guerras entre parentes, o
que garantiu que após um certo período de ressentimento, fosse possível reatar
laços culturais, as vezes políticos e econômicos.
Tempo:
Novo e Velho.
Para os crioulos
do Novo Mundo, os estranhos topônimos discutidos acima representam sua
capacidade de se imaginarem como comunidades paralelas e comparáveis às da
Europa; contudo alguns acontecimentos súbitos em fins do século XVIII,
conferiram a essa novidade um significado inteiramente novo.
(P.263)
O
primeiro foi a Declaração de Independência das Treze Colônias em 1776, e a sua
defesa militar republicana. Essa independência e o fato dela ter sido
republicana, foi visto como algo inteiramente inédito. Logo depois, em 1789,
houve a explosão no Velho Mundo com a Revolução Francesa.
Ambas, não
criaram um sentimento de continuidade, mas sim uma sensação de ruptura radical
com o passado. Nada exemplifica melhor isso do que a abolição do calendário
cristão e a adoção do calendário secular.
(P.266)
Na
Europa, os novos nacionalismos começaram a se imaginar “despertando de um
sono”. Imagem totalmente diferente do que ocorreu na América. Pois enquanto os
nacionalistas das Américas olhavam para o futuro, os nacionalistas europeus
buscavam suas glórias no passado. Contudo, com o tempo essa duplicidade
desapareceu e os americanos começaram a buscar sua origem aborígene.
(P.271)
O Fratricídio Tranquilizador.
Enquanto
Michelet, o historiador da Revolução Francesa, buscava resgatar as pessoas que
morreram durante Revolução Francesa do esquecimento, evitando assim o seu
desaparecimento nas correntezas da história, Renan surgiu com a ideia da
necessidade de esquecer certas coisas.
(P.273)
Para
Renan, “já ter esquecido” antigas tragédias é um dever cívico contemporâneo de
primeira importância.
O fratricídio
tranquilizador é a forma do Estado criar uma capa sobre assuntos
desconcertantes para ele. Como massacres, guerras e crimes contra a humanidade.
Contudo, o ato deve ser distante temporalmente dos contemporâneos. Um exemplo é
a Guerra Civil Norte Americana, ensinada hoje nas escolas como uma guerra entre
irmãos, algo que seria representado de maneira diferente caso o país estivesse
dividido ao meio ainda hoje.
(P.278)
A Biografia das Nações.
(P.279)
Assim
como com as pessoas modernas, as nações precisam gerar uma narrativa de
identidade. Entretanto, na história secular de uma pessoa, há um começo e um
fim, já as nações não possuem data de nascimento claramente identificada, e sua
morte (quando acontece) nunca é natural. Como não há um criador original é
praticamente impossível criar uma genealogia de gerações, sendo a única maneira
moldar a biografia das nações os “recuos no tempo” do presente para o passado.
Fonte:
ANDERSON, Benedict: Comunidades Imaginadas. São Paulo. Cia das Letras, 2008.