quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Minha Legenda no Estadão


  Essa é uma ideia muito legal do Jornal O Estado de São Paulo. O jornal solta uma imagem do dia  no facebook e seus seguidores tem a "missão" de escrever uma legenda que ilustre a foto. Não há nenhuma recompensa, mas o mais importante aqui é a interatividade mídia/povo.
 O único defeito, acredito, seja o fato das imagens muitas vezes virem sem seu contexto, o que abre brecha para falsas interpretações.

 Para ver minha legenda clique AQUI.  

domingo, 20 de novembro de 2011

Análise do Livro O Anticristo de Friedrich Nietzsche


A Ideia central de Nietzsche ao escrever O Anticristo, é a transmutação dos valores. Trocar os valores cristãos platônicos que negam a vida e o ato de viver, prometendo recompensas pós-mortem e inserir novos valores que valorizem a vida e a tornem plena.
Introdução por Mauro Araújo Souza.
Apesar de suas inúmeras interpretações, o objetivo central de Nietzsche ao escrever O Anticristo era a crítica aos valores estabelecidos em dois mil anos de cristianismo e propor a inversão e criação de novos valores...
O título desta obra, tão polêmico, se deve ao fato de Nietzsche combater o idealismo metafísico platônico que transformou este mundo em algo inferior e ilusório em nome da “verdade” de um mundo ideal. Platão era adepto a teoria de que tudo o que existe aqui no mundo real, em nosso mundo, não passa de uma projeção materializada do mundo das ideias que está bem além da nossa percepção sensitiva. Nietzsche chamava o cristianismo de um platonismo para o povo e isto por si explica o título.
Sua obra luta contra a metafísica, contra o dualismo proporcionado entre corpo e alma, terra e céu e assim por diante. É necessário se esclarecer que há uma grande diferença para o filosofo entre Cristo e o cristianismo. Seu livro se posiciona contra o cristianismo e suas interpretações da vida de Cristo, que para ela não passou de um romântico que pretendia mudar o mundo com seu bom coração.
Para Nietzsche não existe o fato, para ele o que existem são interpretações forjadas pelas forças expressas em vontade de potência [1]. Por isso ele proclama que o cristianismo não é a única interpretação do mundo, há outras. Para se entender alguma coisa há necessidade de não se fechar em apenas uma perspectiva, como a cristã, que vem dominando o Ocidente por milênios.
O filósofo propõe o surgimento de um novo tipo humano, o “além-homem”, capaz e conviver com suas limitações e superações. E Nietzsche vem indicar esses valores novos através do Anticristo, diante de um mundo sem necessidade de Deus para criá-lo, guiá-lo ou destruí-lo.
O que o autor mais nega no cristianismo é o seu favorecimento da vida além-túmulo, em detrimento desta própria. Nietzsche prega que a vida deve ser entendida a partir da própria vida, sem o sentimento de culpa da moral cristã. O pecado não existe e se não há pecado não existe a necessidade de salvação. O ser humano sentiu a necessidade da criação de um Deus para preencher o seu próprio vazio existencial e o criou negando sua própria vida terrena.
Auguste Comte que com seu positivismo criticou a religião e todo o atraso da humanidade decorrente desta, acabou por transformar sua visão cientificista em uma outra religião, o “ratiocentrismo” (a razão como centro). Nietzsche não opta nem pela metafísica-religiosa nem pela ciência como religião. Nem fé, nem razão: sem dualismos. Tudo é apenas um fluxo de forças e a razão é apenas um acaso, como acaso são todas as outras coisas.
Isso soa como absurdo para os cristãos, para eles o mundo não é somente esse absurdo monstro de forças que nos leva ao acaso. Precisa haver um Deus, há de ter um Bem, um julgamento e uma vida eterna sem sofrimentos. Para Nietzsche não há nem céu nem inferno, há somente a existência.
O Anticristo prega que, já é hora de a vida na Terra ser valorizada. Já que as matrizes socráticas e as fundamentações platônicas tornaram o mundo concreto um fardo muito pesado. O mundo foi substituído por uma fábula e a vida tornou-se algo que cansa os homens.
Entretanto, a crítica maior do livro não é feita a Sócrates, Platão ou Santo Agostinho que cristianizou o segundo, mas ao apóstolo Paulo que já trazia ideias platônicas em sua formulação do cristianismo.
O cristianismo ordenou, direta ou indiretamente, todas as mentes no Ocidente, então somente um anticristo para descristianizar o mesmo Ocidente. É assim que Nietzsche se vê. Ele não se contenta somente com a inversão dos valores, ele parte também para a criação de novos valores.
O que é o cristianismo? É uma religião que nega o ato de viver, corrompe os instintos humanos, impede a felicidade. E o papel do anticristo é denunciar essa corrosão da alma como contrária a natureza. O que é Deus para Nietzsche? É a própria contradição da vida, negando-a.
Toda a tensão do autor é voltada contra a Igreja cristã e não contra Jesus Cristo. Cristo, como já foi dito antes, foi um romântico que para Nietzsche foi o único cristão que já existiu, todo o resto depois dele é montagem. Tanto que o filósofo cita “o evangelho morreu na cruz”.
Quem o filosofo combate e denomina como fundador da Igreja Cristã é Paulo, o apóstolo. Foi ele quem unindo a tradição judaica com a helênica, transformou o cristianismo no “platonismo para o povo”. Cristo não tinha a intenção de criar uma igreja institucional, tanto que morreu por isso, mas Paulo tinha e a institucionalizou. Paulo também foi o responsável por criar essa visão de Deus que conhecemos, que é totalmente diferente da pregada por Jesus. Paulo, para Nietzsche foi o manipulador da herança de Cristo
Paulo também foi o inventor do além no cristianismo, antes o Reino de Deus era considerado um estado de espírito, agora passara a ser algo pós-morte, outra realidade. Paulo usava da lógica dos Fariseus, que era tudo o que Cristo combatia e por isso foi crucificado. O sacerdote tornou-se tirânico, tendo ao mesmo tempo o poder de um rabino e de um soldado romano. Enfim, o cristianismo se institucionalizou, com dogmas e uma casta sacerdotal.
Como golpe de misericórdia, Paulo criou o juízo final implantando o medo à vida terrena. O dualismo platônico estava efetivado. Transformou Jesus no Salvador da humanidade e culpou a vida odiando-a. Todo cristão tornou-se um ressentido, auto classificados como “os eleitos”, os “justos”, etc.
Nietzsche entende o cristianismo como uma automutilação e somente alguém muito carente de amor poderia ter criado um Deus de puro amor.
Por um período, Nietzsche chegou a imaginar que o cristianismo estaria perto de uma derrota: durante o Renascimento e a Reforma religiosa, mas decepcionou-se a ver que Lutero somente fortaleceu o cristianismo.
Nietzsche é contra todas as formas e cristianismo, seja ela católica ou protestante, por isso sua obra é tão atual. Pois a moral do ressentimento e da culpa estão presentes no mundo cristão. E são muitos que seguem como “rebanhos” a seu pastor, a seu sacerdote, que falam em nome de Cristo, que Nietzsche lembra, levou com sigo o verdadeiro Evangelho.
Toda luta do autor é contra a metafísica platônica e sua popularização através do cristianismo. Nessa luta sua única arma é seu projeto de uma transvalorização dos valores.
Sites:
http://forum.consciencia.org/index.php?topic=520.0     acesso realizado em 19/11/2011
Bibliografia:
NIETZSCHE; Friedrich: “O Anticristo”. São Paulo-SP, ed Martin Claret, 2006
[1]A vontade de potência, é a vontade de expandir-se, tornar-se mais, crescer, desenvolver-se, ser mais: “a própria vida é vontade de potência. 

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Resenha descritiva completa da Obra A Utopia de Thomas More

           
Obra máxima de Thomas More, A Utopia conta como é a vida na república perfeita.
O autor.
Thomas Morus é a forma latinizada de se referir ao nome do escritor inglês Thomas More. Nascido em Londres entre os anos 1477 e 1478 (não há data precisa) de pais também londrinos pertencentes à nova classe urbana em ascensão. Recebeu boa educação e formou-se em direito. Casou-se com Jane Colt e teve quatro filhos, após o falecimento desta Morus casou-se novamente, desta vez com Alice Middleton...
Participou de várias missões diplomáticas e comerciais e em 1518 durante sua primeira estada em Flandres escreveu sua mais célebre obra, A Utopia. Ironicamente More a escreveu em Latim, pois alegava que isso limitaria o número de leitores àqueles que pudessem efetivamente compreender a complexidade de suas ideias.
Em 1521 foi feito cavaleiro. Em 1532 começou a cair em desgraça; opondo-se não ao rei Henrique VIII, mas ao seu rompimento com o papa. More recusou-se a assistir à coroação de Ana Bolena e a assinar a Lei de Sucessão. Acusado de traição, foi preso e decapitado em 6 de julho de 1535. Antes de morrer, mostrou-se extremamente religioso e fiel aos dogmas da Igreja. Tanto que foi canonizado como santo da Igreja Católica em 9 de maio de 1935. Sendo o dia 22 de julho o dia de São Thomas More, patrono dos políticos e dos governantes.
A Obra.
Essa é uma obra de Ficção, dividida em duas partes, sendo a segunda dividida em oito capítulos. Na primeira parte More faz uma devastadora crítica à situação política e social da Inglaterra. Na segunda ele nos transporta para a Utopia, onde reina uma sociedade ideal, que aboliu o dinheiro e abomina a Guerra.
Em A Utopia, More utiliza-se de fatos reais e os mistura com a fantasia com tanta maestria que para o leitor é difícil separar onde começa uma e termina a outra.
Simbolicamente, a ilha de Utopia é a antítese da ilha da Inglaterra. Trata-se de uma fábula na qual estão inseridos os princípios da sociedade humana, perfeita. Sociedade fundamentalmente racional que se autorregula contra os males a as injustiças. Muitos pensadores, cada qual a sua maneira, já se debruçaram e analisaram essa obra-prima mundial entre eles Hegel e Marx.
O inegável é que essa obra atravessou o tempo e graças a este livro, a palavra Utopia entrou em nosso dicionário. Ganhamos assim um dispositivo crítico, o chamado pensamento utópico que consiste em sempre submeter as sociedades concretas ao julgamento promovido por nossos ideais de felicidade.
A Utopia.
Livro Primeiro: Da comunicação de Rafael Hitlodeu. (pág. 09-36)
More é um dos personagens do livro e inicia explicando a todos que estava em Flandres, acompanhado por Cuthbert Tunstall, a mando do rei Henrique VIII, para resolver divergências entre ele e o príncipe Carlos de Castela. Como as negociações não andavam e os representantes da Espanha foram a Bruxelas, Morus resolveu ir para a Antuérpia e lá conheceu Pedro Gil um antuerpiense de grandes qualidades.
Um dia após sair da missa, More encontrou-se com Pedro Gil que prontamente lhe apresentou um amigo chamado Rafael Hitlodeu. Muito animado Pedro Gil disse a More que este conhecia diversos povos e países diferentes.
More se surpreende pelo fato de existirem sociedades organizadas fora da Europa e Rafael continua afirmando que existem instituições tão ruins quanto às europeias, mas existem instituições e leis tão boas que podem ajudar a regenerar as nações do velho continente.
Após Hitlodeu dizer que nunca trabalharia junto a rei nenhum a conversa partiu para a questão das penas aplicadas aos ladrões da Inglaterra. Todas que eram pegos furtando ou roubando eram condenados a forca, entretanto essa pena é bastante cruel para punir e bastante fraca para impedir que o roubo aconteça, pois mesmo com tão dura pena, a Inglaterra continuava cheia de bandidos. Ao invés de simplesmente matar os que roubam, não seria melhor garantir a subsistência de todos a fim de que ninguém seja obrigado a roubar para se alimentar. A culpa é da nobreza que cria uma enorme massa de vassalos ociosos esperando usá-los em uma guerra.
O outro motivo para o grande número de ladrões na Inglaterra são os inumeráveis rebanhos de carneiros. A disputa pelas terras entre pequenos camponeses e grandes criadores leva sempre a derrota do primeiro. Os camponeses que trabalham na agricultura e tem imensas famílias (para se tratar da lavoura é necessária muita mão-de-obra) perdem as suas terras que são transformadas em pastagens. As pastagens não absorvem toda essa mão-de-obra, e eles então são obrigados e se mudar para a cidade, onde para não morrer de fome roubam e são enforcados. Sendo injusto matar um homem por ter tirado o dinheiro de outrem, pois a sociedade não é organizada de forma a garantir a cada um uma igual porção de bens. A execução é ainda mais temerosa para a sociedade, pois o bandido percebe que não há menos a temer furtando do que assassinado e aterrorizado com a expectativa da forca torna-se um assassino.
O melhor sistema penitenciário é o dos polileritas [1], nação dependente da Pérsia. Não possuem nem exército nem nobreza, vivem na paz e na abundância. Quando alguém é apanhado furtando é obrigado primeiramente a restituir o furto ao prejudicado e depois a trabalhos públicos. Quando necessário aplicam-se castigos físicos aos preguiçosos. Os que cumprem bem o seu dever não sofrem qualquer meu trato e ao fim do dia são conduzidos a cadeia onde passam a noite. Há lugares onde os condenados são alugados e recebem salário.
Os condenados vestem a mesma roupa e tem metade da orelha decepada para o reconhecimento. Não poderem receber dinheiro, se reunir e muito menos tocar em armas, sendo estes crimes punidos com a morte. A fuga torna-se impraticável e a única maneira de um dia se recobrar a liberdade é pelo bom comportamento.
Ainda resistindo à ideia de trabalhar junto a algum rei, Hitlodeu expõem seus motivos. Segundo ele, mesmo que trabalhasse em algum reino jamais seria ouvido, pois a ganância real e a paixão pela guerra é algo gigantesco e para ilustrar essa ideia ele usa o exemplo dos acorianos [2] nação vizinha a Utopia.
O rei dos acorianos fez guerra a um reino vizinho que logo foi subjugado, mas o rei então percebeu que a conservação seria mais onerosa e difícil do que a própria conquista. Revoltas de todos os tipos eram reprimidas pelo exército que deveria estar sempre em prontidão. As diversas desordens ocorreram porque o príncipe era obrigado a dividir suas atenções entre dois reinos, não conseguindo administrar bem nem um nem outro. O povo de seu reino revoltou-se e o obrigou a escolher. Este por sua vez continuou em seu reino e cedeu o conquistado a um amigo que foi expulso rapidamente.
E Hitlodeu continua sua análise de como um bom governante deve ser. Um bom rei deve honrar seu povo e pensar mais na felicidade deles do que em sua própria. Os homens criaram os chefes para que pudessem viver comodamente ao abrigo da violência e é dever de um príncipe zelar por seu povo. A riqueza do povo não compromete o poder real, pelo contrário é preferível reinar sobre um povo rico a um povo pobre, pois os últimos não têm nada a perder. Sendo a quantia guardada nos cofres públicos suficientes somente para os momentos de crise e não para o desfruto do rei. E finaliza observando que nenhum rei da Europa jamais o ouviria, pois, a filosofia não tem acesso na corte dos príncipes.
Onde a propriedade é privada e as coisas são medidas pelo dinheiro não há organização nem justiça. Em Utopia há poucas leis porque toda a riqueza nacional é igualmente repartida. Na Europa existem centenas de leis e mesmo assim não bastam para que um indivíduo posso adquirir, defender e distinguir sua propriedade da do vizinho. Sendo que, a única forma viável de trazer felicidade e igualdade ao homem é abolindo a propriedade. Todas as outras formas são paliativas.
Utopia é uma civilização muito antiga, tem aproximadamente 1.200 anos e nunca havia entrado em contato com o Velho Mundo, a não ser quando um navio que transportava egípcios e romanos afundou em sua costa e seus sobreviventes lhes ensinaram tudo o que conheciam sobre as ciências e as artes.
Nesse ponto Rafael Hitlodeu decide fazer um relato minucioso de toda a ilha de Utopia.
Livro Segundo: Da comunicação de Rafael Hitlodeu. (pág. 37-103)
A ilha tem um formato de semicírculo de quinhentas milhas de arco, apresentando forma crescente, formando duas penínsulas afastadas por onze mil passos. Essa barreira quebra a força dos ventos transformando o mar em uma espécie de lagoa tranquila, ótimo para a utilização do único porto da ilha. A entrada do golfo é perigosa por seus muitos bancos de areias e rochedos, sendo praticamente intransponível por navios inimigos, para sua transposição é necessário a utilização de um guia utopiano e dos faróis costeiros.
Utopus foi primeiro a se apoderar desse território, que ganhou seu nome. A ilha antes era ligada ao continente e ele então decidiu separá-la, cortando-a com a ajuda dos índios e de seu exército.
A ilha tem 54 cidades. Todos os anos três velhos sábios são escolhidos deputados em cada cidade e vão à capital Amaurota, a fim de tratar dos negócios do país.
Há um mínimo de terra estipulado para a agricultura. E seus habitantes se olham como rendeiros e não como proprietários do solo. A família agrícola é formada por quarenta pessoas, sendo dois escravos. Trinta famílias são dirigidas por um Filarca. E todos os anos vinte cultivadores de cada família regressam à cidade depois de cumprir seus dois anos de serviço agrícola, sendo substituídos por outros vinte.
Os utopianos criam diversos animais de trabalho e de abate, transformam cereais em pão e frutas em bebida e o excedente é comercializado com os países vizinhos. Quando falta algum utensílio é só pedir para algum magistrado na cidade que este é entregue de graça e sem nenhum atraso. Em época de colheita os moradores da cidade ajudam e esta é feita em apenas um dia.
Das cidades da Utopia e Particularmente de Amaurota.
Todas as cidades são praticamente iguais, então aqui será descrita somente a capital. Amaurota fica às margens do rio Anidra e de outro pequeno rio que abastece a cidade através de uma rede de canos de barro e cisternas. A cidade é cercada por muralha e fossos. As ruas e praças são largas e espaçosas, as casas são de posse comum e seus habitantes se mudam a cada dez anos.
Dos Magistrados.
Trinta famílias elegem todo ano um filarca. Dez filarcas obedecem a um protofilarca. Mil e duzentos filarcas escolhem um príncipe entre os quatro propostos pelo povo. O principado é vitalício, mas o príncipe pode ser deposto a qualquer momento que se suspeite de tirania.
 A cada três dias os protofilarcas se reúnem com o príncipe para deliberar sobre negócios do país. Assistido de perto por dois filarcas, trocados a cada sessão. Reunir-se fora das assembleias é crime punido com a morte, isto se faz com o intuito de impedir a conspiração.
Quando uma proposta é feita é proibida sua discussão no mesmo dia, transferindo-a para a sessão seguinte. Isso evita decisões precipitadas.
Das artes e dos Ofícios.
Todos os Utopianos aprender a arte da Agricultura desde crianças na escola. E também aprendem um oficio [3] especial. As roupas têm forma única e são confeccionadas pelas próprias famílias. Em geral um filho aprende a profissão do pai, mas caso tenha aptidão por outra pode aprendê-la, sendo permitido, também, a alguém que já possua uma profissão aprender outra.
filarca é encarregado de não permitir que ninguém se entregue ao ócio. E a jornada de trabalho diária dos utopianos é de apenas seis horas, três antes e três depois do almoço. Todas as manhãs os cursos públicos são abertos e somente os destinados as letras são obrigados a fazê-lo, mas todos têm o direito de assisti-lo. À noite antes de dormir os utopianos se divertem com música, conversa ou jogos de raciocínio.
Às seis horas de trabalham são extremamente suficientes para as necessidades do consumo público e ainda supera em muito o exigido, produzindo um excedente. Isso acontece porque em Utopia todos trabalham, diferente da Europa. Além de que em Utopia tudo o que se produz segue a ideia da utilidade. Em toda Utopia existem apenas um número ínfimo de pessoas, com boas condições físicas, que não trabalham: os filarcas e os estudantes. É entre esses estudantes (letrados) que se escolhem os embaixadores, os padres o príncipe, etc.
Outro fato que explica como pouco trabalho rende tanto é a conservação. Casas, roupas, tecidos, etc. duram muito tempo e não é raro a produção ser suspensa por alguns dias para se evitar trabalho inútil.
Das relações Mútuas entre os cidadãos.
A cidade se compõe por famílias. A uma moça em idade apropriada é-lhe um marido e ambos vão morar com a família do homem. A família é comandada pelo mais velho. Cada cidade é formada por seis mil famílias, quando uma família cresce demais, o excedente é realocado em outra família. Quando uma cidade tem muita gente, deslocasse para as menos povoadas. Se a ilha se tornasse superpopulosa decretar-se-ia a imigração geral. Incorporando ou expulsando os povos que ali viviam. E caso alguma peste diminuísse a população de Utopia, os colonos voltariam a terra mãe.
A autoridade familiar é exercida baseada no sexo e na idade. A cidade é dividida em quatro quarteirões iguais e no centro de cada quarteirão existe um mercado com o necessário. O pai de família vai até o mercado e retira tudo o que precisa sem pagar um centavo. Em Utopia não existe a ganância e ninguém pega mais do que o necessário.
Em cada rua estão dispostos enormes palácios onde moram os filarcas. Suas trinta famílias são vizinhas e é no palácio que fazem as refeições.
Em torno da cidade existem quatro hospitais com ótimo atendimento, isolamento e estoque de remédios.
Os escravos são encarregados dos trabalhos mais penosos, como o abate de animais, e o trabalho sujo da cozinha. As refeições nos palácios dos filarcas são fartas e cheias de regras morais, sociais e de respeito.
Das viagens dos Utopianos.
Quando um cidadão deseja viajar por qualquer motivo, ele deve informar as autoridades e caso não haja nenhum impedimento tudo lhe é provisionado. Muitos dispensam as provisões e andam sem nada, pois onde estiverem poderão se alimentar e dormir com segurança. Se o viajante passar mais que um dia em uma localidade terá que trabalhar em seu ofício. Aquele que sem autorização deixar sua cidade será tratado como criminoso.
Em Utopia não existem tabernas, prostituição, seitas secretas, mendigos e miséria.
Os deputados reunidos em Amaurota, levantam as estatísticas econômicas da ilha, procurando regiões em dificuldade. Localizadas, há uma regulação estabelecendo o equilíbrio econômico entre as cidades.
Toda a produção é guardada de forma a abastecer dois anos. Para o caso de más colheitas. O restante é exportado a baixos preços, possibilitando a ilha ter dinheiro para comprar produtos que não existam nela, como o ferro, o ouro e a prata. Acumulam esses metais para o caso de uma eventual guerra, pagando mercenários para morrer no lugar dos utopianos.
Como não existe dinheiro em Utopia os utopianos acham o ouro e a prata um metal de pouca serventia. Eles sabem o valor que esses metais têm para outros povos, por isso não o descartam, mas fazem com ele vasos, cadeias e correntes para os escravos.
Nas ciências e na filosofia estão no mesmo patamar dos Europeus. Tendo como fio condutor de sua filosofia a busca pela felicidade. A filosofia e a religião dos utopianos pregam a felicidade boa e honesta acima de tudo. Viver como manda a natureza e está prega que se leve uma vida honesta e agradável.
Os utopianos odeiam maníacos por nobreza, pessoas que se acham melhores que as outras por possuírem mais bens. Eles são classificados junto aos amadores de pedrarias e os avarentos como maníacos. Os utopianos não praticam nem a caça nem os jogos de azar eles preferem os prazeres verdadeiros do corpo e da alma: os prazeres da alma estão no desenvolvimento da inteligência e na contemplação da verdade, os prazeres do corpo se dividem em dois, a busca pela satisfação das necessidades corporais e a busca pela saúde.
Acredita-se que os utopianos são gregos de origem, apesar de seu idioma se aproximar do persa, sua escrita tem traços da língua grega. Rafael Hitlodeu ficou espantado com o interesse dos letrados utopianos pela filosofia grega e levou-lhes inúmeras obras de filosofia, poesia, história, dicionários, medicina etc. Hitlodeu ensinou-lhes a fabricar e imprimir papel e hoje, apesar de só possuírem os livros deixados por ele, já os multiplicaram aos milhares.
 Os estrangeiros são bem recebidos em Utopia graças à curiosidade dos utopianos sobre o exterior. O comércio para a ilha é atrai pouca gente porque a única coisa que falta é ferro. Já a exportação é feita pelos próprios habitantes da ilha.
Dos escravos.
Somente se tornar escravos prisioneiros de guerra capturados com armas na mão, criminosos e condenados à morte no estrangeiro. Seus filhos nascem livres e os escravos estrangeiros tornam-se livre em Utopia. Todos os escravos são submetidos a trabalhos contínuos, sendo os indígenas submetidos aos piores trabalhos e tratados com maior rigor.
Existem ainda os escravos voluntários. Trabalhadores pobres das regiões vizinhas que se oferecem voluntariamente para o trabalho. São homens livres e podem ir embora quando quiserem.
Todos os homens têm assistência médica garantida, entretanto, quando a cura é impossível os padres lhe dão a benção e o enfermo decide se comete suicídio ou não. O homem que se mata sem motivo é julgado indigno de uma sepultura sendo então atirado no pântano.
As mulheres só podem se casar depois dos 18 anos e os homens depois dos 22. O sexo antes do casamento é censurado e caso isto aconteça à família fica desonrada. Os utopianos não se casam completamente às cegas. Um pretendente se apresenta ao outro completamente nu, para que ambos se analisem, buscando ver alguma deformidade física.
O casamento em Utopia quase nunca é desfeito, a não ser pela morte de um dos conjugues. Em caso de adultério, o traído tem direito a se casar novamente e o adultero pena o resto da vida na infâmia, na escravidão e no celibato. Quando há uma incompatibilidade muito grande de gênios entre o casal, estes vão ao senado pedir o divórcio e este por sua vez decide se autoriza ou não. A reincidência do adultério é punida com a morte.
A escravidão é a pena ordinária para a maioria dos crimes, pois se acredita que esta seja melhor que a execução. Quando os condenados escravos se revoltam são rapidamente sacrificados. Os escravos de bom comportamento podem a qualquer momento receber a liberdade.
Os utopianos, como já foi dito, vivem em família e os magistrados não são nem orgulhosos nem terríveis, até mesmo o próprio príncipe se distingue da massa apenas por um feixe de trigo que traz à mão.
As leis são em muito pequeno número e bastam para as instituições. Consideram como injustiça suprema enlear os homens com uma infinidade de leis. Não existem advogados em Utopia, os utopianos expõem suas diferenças diretamente ao juiz que usa do bom senso e da boa-fé para dar a sentença. Como as leis são poucas todos as conhecem e elas funcionam somente para advertir sobre seus direitos e deveres.
Os povos vizinhos, atraídos pela sabedoria das instituições de Utopia, pedem magistrados para passarem cinco anos em seu país a fim de lhes servirem de consultor.
Os utopianos não assinam nenhum tratado, pois acreditam que o homem está unido ao homem de uma maneira mais intima e mais forte pelo coração e pela caridade do que pelas palavras e protocolos.
Da guerra.
Os utopianos abominam a guerra, mas estão prontamente preparados para ela. Todos os cidadãos se exercitam à espera do momento de combater. Utopia só entra em guerra por motivos muito graves como proteger suas fronteiras, a de seus aliados e para libertar um povo de seu tirano.
Após todas as negociações falharem e a guerra é declarada, utopianos secretamente pregam cartazes no país inimigo oferecendo gorda recompensa a quem matar o príncipe inimigo e seus ministros. Induzindo muitas vezes a traição gerando um sentimento de insegurança dentro da corte. Isso garante que uma guerra acabe sem mesmo ter começado.
Se isto não funcionar os utopianos semeiam a discórdia prometendo a algum poderoso do país inimigo todo o reino. Isto faz as facções internas entrarem em conflito.
Mas caso a guerra seja realmente necessária, a república de Utopia alicia mercenários entre os zapoletas, povo vizinho nascido para a guerra. Além destes, os utopianos utilizam-se dos exércitos dos Estados que defendem e só em último caso utilizam seu próprio exército. Nenhum cidadão é obrigado a se alistar, só em caso de extrema necessidade como em uma invasão em solo utopiano. Neste momento famílias inteiras, homens e mulheres vão para as frentes de batalha. Isto estimula a luta e a proteção mutua. Uma vez vitoriosos, os utopianos transformam os vencidos em escravos.
Os utopianos respeitam muito as tréguas com o inimigo mesmo que este os provoque. Não destroem as plantações dos inimigos, não matam homens desarmados, nem pilham suas cidades, apenas prendem o líder e o condena a escravidão. Só em medida extrema fazem guerra em sua ilha e não há necessidade no mundo que force os utopianos a deixar entrar na ilha socorro de tropas estrangeiras.
Das religiões da Utopia.
Existem várias religiões em Utopia, algumas idolatram o sol, outros a lua, um antepassado, mas a maior parte dos habitantes acredita em um Deus único a quem o chamam de pai. Apesar de suas diferenças todos os utopianos concordam que existe um ser supremo, criador de tudo e de todos. Estas superstições tendem, dia a dia, a desaparecer e a se converter em uma única religião.
Quando Hitlodeu lhes ensinou sobre Cristo e seus apóstolos os utopianos ficaram muito curiosos e admirados. Alguns prontamente se converteram ao cristianismo, mas com a falta de um padre não puderam ser batizados. Há uma grande tolerância religiosa na ilha, uma das leis mais antigas proíbe prejudicar alguém por sua religião. Sendo severamente penalizado apenas o ateu que pensa que a alma morre com o corpo e o mundo marcha ao léu.
Em oposição ao materialismo ateu, existe um sistema inteiramente diferente e como não é perigoso pode ser professado livremente. Eles acreditam que todos os seres vivos têm alma e elas são imortais como a do homem.
A maioria dos utopianos acredita na vida após a morte. E por isso não temem morrer e chora-se pelos doentes e nunca pelos mortos. Venerando e louvando aquele que sabe morrer com dignidade.
Acreditam em milagres e na proteção e vigilância dos antepassados. Creem alguns no poder da oração e outros nas boas ações. São divididos em duas classes uns se abstém de todos os prazeres da carne esperando a vida após a morte, outros se apegam a todos os prazeres em vida, os utopianos consideram os últimos mais sábios e os primeiros mais santos.
Esses religiosos são designados pelo nome de butrescos, e existem em pequeno número. Os padres, assim como os magistrados são eleitos pelo povo da cidade. São os vigilantes da ordem e dos bons costumes. A excomunhão é o maior suplicio de todos e caso o excomungado não se arrependa pode ser preso e penalizado.
A educação inicial das crianças está nas mãos dos religiosos que ensinam a moral e a virtude. Os padres são extremamente venerados, respeitados e protegidos, seu pequeno número se explica pelo fato de ser mais fácil protegê-los, além da dificuldade de se achar jovens de tão completa perfeição.
Os padres de Utopia são respeitados até mesmo em outros países devido a sua santidade e não é raro que em momentos de dificuldades eles sejam mais eficazes do que o exército.
Apesar das diferentes crenças, todas são praticadas no mesmo templo. Sempre buscando a harmonia entre todas as religiões. Nesse momento Hitlodeu expõe como ocorre um desses cultos.
Para finalizar Hitlodeu afirma que está é a única verdadeira república do mundo, onde os interesses coletivos estão à frente dos interesses pessoais. Em Utopia tudo pertence a todos e não falta nada a ninguém, a fortuna do Estado é dividida igualmente entre todos e os inválidos de hoje que trabalharam ontem tem todos os seus direitos assegurados pelo Estado.
Não existem repúblicas como Utopia, as de hoje são apenas uma conspiração de ricos que buscam gerir melhor seus negócios sob o título de república. Os ricos diminuem cada dia alguma coisa no salário dos pobres, não só por meio de manobras fraudulentas, mas ainda decretando leis para tal fim. Como isso ocorre se o objetivo principal de república é a de apoiar os mais necessitados.
Hitlodeu deseja do fundo de seu coração que outros países venham a criam uma república como a da Utopia e alegrasse pelo fato de pelo menos ela existir.
Rafael Hitlodeu termina então, exausto, sua longa narrativa, More se põe a pensar e apesar de não concordar com muitas coisas em Utopia, admira como uma civilização se desenvolveu nestas bases e aspira ver muitas coisas estabelecidas nas cidades da Europa, ele mais aspira do que espera.
 Sites:
Bibliografia:
MORE; Thomas: “A Utopia”. 1º ed. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010 coleção livros que mudaram o mundo. Vol. 07. pág. 07-103.  

[1] Acredito que seja um povo ficcional.
[2] Acredito que seja um povo ficcional.
[3] Profissão: Oleiros, pedreiros, sapateiros, etc.