segunda-feira, 28 de maio de 2012

Fichamento: História do Pensamento Econômico de Hunt e Sherman

Tanto no escravismo, quanto no feudalismo ou no capitalismo surgiram “ideologias” (ideias ou crenças) que tendiam a justificar moralmente as relações sociais e econômicas vigentes, para assim legitimar a divisão do trabalho e as diferenças entre as classes no interior de uma sociedade.
Cap.1: A ideologia da Europa pré-capitalista.
(P. 09) Os seres humanos só sobrevivem em grupos, vivendo assim aprenderam a dividir tarefas, utilizar instrumentos de trabalho, etc. Isso propiciou o acumulo de excedentes e possibilitou ao homem um maior controle sobre a natureza....
A divisão do trabalho, que num primeiro momento era funcional, possibilitou, ao menos para uma pequena parte da sociedade, livrar-se do fardo do trabalho cotidiano.
(P. 10) Desse momento em diante, as sociedades começaram a sofrer um processo de diferenciação interna que deu origem às classes sociais. Para sustentar essas sociedades surgiram “ideologias” (ideias ou crenças) que tendiam a justificar moralmente essas relações sociais e econômicas. Legitimando a divisão do trabalho e as diferenças entre as classes no interior de uma sociedade.
Este livro se preocupa em analisar o capitalismo e essas ideologias que tentaram aplacar as suas convulsões internas e manter a coesão social.
Começaremos analisando os sistemas econômicos e as ideologias da Europa pré-capitalista.
(P. 11) A Escravidão em Roma e na Grécia Antiga.
Em Roma e na Grécia cerca de 80% da população era de escravos, que faziam todo tipo de trabalho, desde manual até clerical e burocrático. Que ideologia econômica vigorava nessa época? Foram escritos tratados visando justificar o regime de escravidão. Platão e Aristóteles, afirmavam que a escravidão era um fenômeno “natural”, pois segundo eles, certas pessoas nasciam para ser escravos por serem intrinsecamente inferiores.
A escravidão deu origem à noção de que todo trabalho é indigno. Essa noção desestimulou a atividade inventiva, pois apesar do sistema escravista ter construído obras monumentais, ele era incapaz de realizar trabalhos mais complexos, o que contribuiu para a estagnação da economia romana. E do colapso do império surgiu o feudalismo.
(P. 12) O Feudalismo.
O fim do domínio romano criou bases para a hierarquia feudal, na qual o servo (camponês) recebia proteção e terras do senhor feudal, e em troca jurava lealdade e pagava com trabalho o uso da terra. Em lugar das leis, vigorava o costume do feudo, pois inexistia na Idade Média uma autoridade central forte em condições de impor um sistema de leis.
(P. 13) Apesar de não ter nada em comum com um escravo, o servo estava longe de ser “livre”. O senhor vivia à custa do trabalho dos servos que cultivavam seus campos e pagavam tributos.
(P. 14) Neste período a Igreja Católica foi a maior proprietária de terras, existindo então duas espécies de feudos os seculares e os eclesiásticos. Entretanto, a exploração do servo era a mesma.
Além dos feudos existiam diversas cidades espalhadas pela Europa que se destacavam como importantes centros comerciais manufatureiros controlados pelas guildas, contudo estas se preocupavam mais em salvar suas almas do que obter lucros.
A Ética Paternalista Cristã.
Os senhores feudais (seculares e eclesiásticos) necessitam de uma ideologia que legitimasse o estatus quo feudal. A esta ideologia daremos o nome de ética paternalista cristã.
(P. 15) Ela baseia-se na ideia de que os homens que ocupam posição de poder e detêm a riqueza assemelham-se ao pai, e como tal tinham obrigações paternalistas para com os homens comuns. Do homem comum por sua vez, esperava-se que aceitasse seu lugar na sociedade e se submetesse, de bom grado, à liderança dos ricos e poderosos, de mesma maneira que um filho aceita a autoridade de um pai.
(P. 17) Por isso, a riqueza não era condenada, mas sim a avareza, o egoísmo, enfim, todas as motivações materialistas e individualistas.
(P. 18) O Caráter Anticapitalista da Ideologia Feudal.
Os pressupostos filosóficos e religiosos que norteavam a conduta do homem medieval derivam, então, da ética paternalista cristã e as principais contribuições a ela foram dadas por Santo Tomás de Aquino.
(P. 19) Ela, efetivamente foi usada para justificar, como natural e justa as profundas desigualdades.
Uma avaliação do pensamento econômico e social da Idade Média deve ainda levar em conta o desprezo com que as populações encaravam a atividade e o espírito comercial. Os que a praticavam, como mercadores e comerciantes tinham a obrigação moral de vender suas mercadorias pelo chamado preço justo. Ou seja, vende-las por um preço que apenas compensasse o seu esforço, com baixos lucros para impedir a acumulação de riquezas. (P. 20) Além da proibição da usura (empréstimo de dinheiros a juros). Os valores feudais opunham-se radicalmente aos valores prevalecentes no sistema capitalista.
(P. 21) Com o inerente avanço do capitalismo, a ética cristã tornou-se inadequada para o novo sistema. Por isso sofreu profundas  modificações chegando até mesmo a ser rejeitada para dar lugar a valores que legitimariam o nascente sistema capitalista.
(P. 23) Cap. II: A Transição para o Capitalismo e a Elaboração do Pensamento Mercantilista.
Mudanças Tecnológicas.
A substituição do sistema de rodízio de cultura em dois campos pelo sistema de rodízio em três campos foi o avança tecnológico mais importante das Idade Média. Surgiu no século VIII, porém de difundiu no século XI.
(P. 24) Isso resultou num grande aumento da produção agrícola, com um rendimento de mais de 50% numa mesma área. O crescimento da produção possibilitou alimentar mais cavalos e substituir o boi no trabalho agrícola. No século XIII, graças aos cavalos, o transporte ficou mais barato. Esses avanços propiciaram o crescimento populacional e o florescimento, por toda a Europa, de cidades em 1300.
(P. 25) Com isso, contingentes de trabalhadores emigravam para as cidades rompendo seus vínculos com a terra. A manufatura cresceu contribuindo para o comércio de longa distância.
O Desenvolvimento do Comércio de Longa Distância.
Vários historiadores tomam o desenvolvimento do comércio como a principal causa da desintegração da sociedade medieval. Entretanto, convém lembrar que esta não ocorreu por acidente e sim por que as condições de seu desenvolvimento foram criadas pelas transformações econômicas ocorridas na própria Europa. Sendo as modificações agrícolas e industriais as mais importantes para o desenvolvimento do comércio sobretudo de longa distância.
(P. 26) As próprias cruzadas que deram um impulso a expansão comercial foram mais econômicas do que religiosas.
No século XV, os locais onde se reuniam as feiras começaram a se transformar em prósperas cidades comerciais, conseguindo, após intensas lutas, libertarem-se da tutela dos senhores feudais e da Igreja. Começando a empreender diversas operações financeiras antes condenadas pela Igreja.
(P. 27) Na indústria artesanal feudal, o mestre artesão era, ao mesmo tempo, o produtor e o vendedor de sua mercadoria. Nas novas indústrias urbanas, o mais importante era exportar e o produtor então se distanciou do comprador final. Agora, os artesãos vendiam por atacado seus produtos aos mercadores que, por sua vez, transportavam-nos e revendiam-nos a outros mercadores.
O Sistema Manufatureiro Doméstico o Nascimento da Indústria Capitalista.
 A necessidade de ampliar a produção levou os mercadores capitalistas a assumir um maior controle sobre o processo produtivo. Na indústria artesanal, o artesão era o proprietário da oficina, das ferramentas e das matérias-primas, além de vendedor. No século XVI, esse sistema foi substituído pelo sistema manufatureiro doméstico. Inicialmente o mercador-capitalista fornecia ao artesão a matéria-prima e pagava pelo produto acabado. Desse modo o capitalista era o dono do produto, ainda que o trabalho fosse realizado em oficinas independentes.
(P. 28) Posteriormente, o capitalista passou a ter a propriedade das máquinas, ferramentas e frequentemente das oficinas. Contratava os trabalhadores para acionarem os instrumentos, fornecia-lhes as matérias-primas e apropriava-se dos produtos acabados. Ao invés de vender o produto acabado ao mercador, o trabalhador agora passou a vender somente sua força de trabalho. Surgindo assim, uma força de trabalho total ou parcialmente despojada do capital, que vivia apenas vendendo sua força de trabalho.
O capitalismo tornou-se o sistema dominante, quando, no século XVI, invadiu as demais linhas de produção.
(P. 30) O Declínio do Sistema Senhorial.
 O sistema capitalista tornou-se pleno quando conseguiu invadir o feudo. Isso foi possível graças ao crescimento demográfico das cidades e sua necessidade de alimentos. Os camponeses do feudo começaram a vender o excedente. Com esse dinheiro, passaram a pagar pelo uso da terra e não mais trabalhar na terra do senhor. Alguns camponeses chegaram a condições de pequenos empresários. Este sistema proporcionou aos camponeses um estímulo maior para produzir. Isso transformou, pouco a pouco, os vínculos tradicionais do feudo em relações de mercado e a busca de lucros como princípio organizador da produção.
(P. 31) Esse processo transformou o senhor feudal num simples landlord (proprietário de terras que vivia da renda). Essa transformação não foi inteiramente pacífica, pois ocorreram diversas tentativas de reintroduzir o sistema senhorial.
(P. 32) Fica claro, portanto, que todo sistema econômico gera uma classe com privilégios e quando ocorrem mudanças que coloquem em risco seus privilégios, esta luta sem escrúpulos. Então é compreensível que a nobreza feudal lutou com toda a energia contra o nascente capitalismo.
Outras Forças Participantes da Transição para o Capitalismo.
Os primeiros anos do século XVI servem como um divisor de águas na história europeia. De um lado a velha e decadente ordem feudal e o outro o sistema capitalista emergente.
(P. 33) Os principais fatores foram: o crescimento populacional, o regime de cercamento das propriedades, e o renascimento intelectual. E claro sem esquecer-se do grande fluxo de ouro e prata vindos da América.
(P. 34) O termo capitalismo designa com muita propriedade, este sistema cujos pilares são: a busca de lucros e a acumulação de capital.
Definição de capital: os lucros eram acumulados sob a forma de capital. Capital designa os materiais necessários para a produção e o comércio de mercadorias. As ferramentas, os equipamentos, as instalações da fábrica, as matérias primas e os bens que participam do processo produtivo, como o transporte e o dinheiro são todos capital. A essência do sistema capitalista consiste na existência de uma classe de capitalistas que detém a propriedade do estoque de capital. É a quantidade de capital que facilita a obtenção de lucros. Quando não são retirados do processo produtivo, os lucros convertem-se em estoque suplementar de capital. Essa acumulação gera mais lucros e assim por diante.
Acumulação primitiva de capital: ocorreu no período ora analisado. As quatro principais fontes de acumulação primitiva de capital foram: 1) o rápido crescimento do volume de intercambio e do comércio de mercadorias. 2) o sistema de produção manufatureiro. 3) o regime de cercamento (enclosure) dos campos ingleses. 4) grande inflação dos preços.
(P. 35) Durante os séculos XVI e XVII o sistema manufatureiro difundiu-se em quase todos os ramos industriais e o grau de especialização atingido pelo sistema foi consideravelmente alto. Pouco a pouco, a nova classe capitalista substituiu a nobreza como classe econômica e socialmente dominante. A formação dos Estados Absolutistas assinalou o inicio desta transição. Os novos monarcas buscaram apoio na burguesia para derrotar os senhores feudais e unificar o Estado, centralizando-o.
(P. 36) O termo mercantilismo é empregado para designar esta fase inicial do capitalismo.
Mercantilismo: Paternalismo Feudal nos Primórdios do Capitalismo.
A primeira fase do mercantilismo (bulionismo), refere-se ao período de escassez de ouro e prata em lingotes na Europa. Sua política se baseava em atrair um fluxo constante de ouro e prata para estes países, ao mesmo tempo que preservava o estoque destes materiais mediante a proibição de sua exportação. Entretanto, as necessidades do comércio eram tão prementes que os metais preciosos acumulados por espanhóis e portugueses logo espalharam-se por toda a Europa, levando a um longo período de inflação.
Superada a fase bulionista, a politica mercantilista passou a privilegiar a manutenção de uma balança comercial favorável com finalidade de maximizar as reservas de ouro e prata.
(P. 37) Outra politica importante foi a criação dos monopólios comerciais Colônia Metrópole.
(P. 38) Além de disciplinar o comércio exterior o Estado procurou intervir na esfera da produção doméstica.
(P. 39) Entretanto, a classe média capitalista emergente, muitas vezes encontrou nessa teia intrincada, um obstáculo ao desenvolvimento de suas atividades e a obtenção de lucros. Isso explica por que os capitalistas levantaram argumentos, ao longo desse período em favor de liberalização dos controles impostos pelo Estado.
Efetivamente, a característica mais marcante do período mercantilista foi o conflito que se estabeleceu entre uma ideologia econômica ultrapassada e uma nova ordem econômica e social com a qual essa ideologia tornou-se incompatível.
(P. 41) Cap. III: O Conflito Latente no Pensamento Mercantilista.
A ética paternalista cristã, cada vez mais, divergia com os interesses dos comerciantes. O mercantilismo inglês permaneceu fiel a dois princípios: o primeiro, bíblico, referia-se a promoção do bem-estar geral das criaturas de Deus. O segundo, definia toda a sociedade civil como um patrimônio de Deus.
Nesse período, o Estado começou a tomar o lugar da Igreja assumindo a função de interpretar e de zelar pelo cumprimento da ética paternalista cristã.
(P. 42) As Origens Medievais das Políticas Mercantilistas.
Os primeiros indícios de uma politica econômica do tipo mercantilista remontam ao reinado de Eduardo I (1272-1307). Esse monarca decretou a expulsão de várias empresas estrangeiras da Inglaterra, estabeleceu o comércio inglês de lã na Antuérpia e, por diversos meios, tentou regulamentar o comércio que se realizava no interior do país.
(P. 43) A Secularização das Funções da Igreja.
Durante o reinado de Henrique VIII, a Inglaterra rompeu com o catolicismo romano. O estado convertido em monarquia divina assumiu o papel e as funções da antiga Igreja Universal. Seu reinado, assim como o de seus sucessores, foi marcado por intenso descontentamento social motivado pelo desemprego e pelas condições de vida da população. O regime de cercamento dos campos foi um dos responsáveis pela onda de desemprego.
(P. 44) A população já não podia contar com o auxílio social da Igreja, ficando então, a cargo do Estado esta responsabilidade. Os líderes da Inglaterra desenvolveram um amplo e organizado programa, com a finalidade de desenvolver a indústria nacional e assim desenvolver o comércio e diminuir o desemprego.
Os mercantilistas davam maior importância ao comércio exterior, do que o interno, pois acreditavam que era mais significativo para a riqueza de uma nação.
(P. 45) Em 1563 surgiu o Estatuto dos Artífices que estabelecia normas para as condições de trabalho, tempo de duração do aprendizado e o teto máximo dos salários dos operários, assim como os reajustes. O estatuto ilustra como a ética paternalista cristã inspirava os atos da Coroa inglesa. Pois, apesar de sentir-se obrigada a proteger a classe trabalhadora, a Coroa julgava que está deveria ser mantida em seu devido lugar.
(P. 46) Concluiu-se então que o mercantilismo inglês, a luz da ética paternalista cristã, elevou à condição de que o Estado tinha a obrigação de servir a sociedade, assumindo a responsabilidade de zelar pelo bem-estar geral da população. As diversas leis promulgadas nesse período “fundamentavam-se na noção de que a pobreza, ao invés de ser encarada como um pecado pessoal, constituía uma função do sistema econômico”. Admitindo-se assim que as vítimas das deficiências do sistema deveriam ser socorridas pelos beneficiários do sistema.
O Surgimento do Individualismo.
Após a guerra civil (1648-1660) e a Revolução Gloriosa (1688), o governo da Inglaterra foi submetido ao controle da pequena nobreza e da classe média capitalista. Nos cem anos subsequentes ocorreram mudanças fundamentais nas formas e na filosofia de atuação do Estado na sociedade.
Em 1776, com a publicação da Riqueza das Nações, uma nova filosofia individualista –o liberalismo Clássico- conquistou definitivamente a ascendência na Inglaterra. O liberalismo sairá vitorioso da batalha contra a ética paternalista cristã, pois, ele refletia a necessidades da nova ordem capitalista.
No final do século XVIII, quase todas as fases de produção haviam sido incorporadas à esfera da economia capitalista de mercado que, para funcionar com êxito, dependia do desejo de acumular riqueza em proveito próprio. (P. 47) Começaram então a surgir diversas teorias sobre o comportamento humano, segundo as quais as motivações egoístas e interesseiras constituíam a razão de ser das ações realizadas pelos homens. Os capitalistas abraçaram entusiasticamente as novas doutrinas individualistas, estas que lançaram as bases do liberalismo clássico.
(P. 48) O Protestantismo e a Ética Individualista.
Uma das manifestações mais importantes da filosofia individualista foi a teologia protestante, fruto da Reforma Protestante. A nova classe média capitalista desejava libertar-se não apenas das restrições econômicas, como também do opróbrio moral que a Igreja Católica lançara sobre as suas motivações e atividades. O protestantismo além de libertá-los da condenação religiosa, converteu em virtudes, as motivações interesseiras e egoístas, estigmatizadas pela Igreja Católica.
(P. 49) O principio básico do protestantismo era a doutrina de que os homens se justificam não mais pelas obras (Igreja Católica) e sim pela fé. Ou seja, as motivações eram mais importantes que quaisquer atos ou rituais.
(P. 50) As Políticas Econômicas de Caráter Individualista.
Ao longo do período mercantilista, as concepções individualistas inspiraram protestos contra a subordinação das questões econômicas às decisões do Estado.
(P. 51) Sir Dudley North (1641-1691) foi o primeiro a discutir a ética individualista. Segundo ele, os homens eram motivados pelos interesses próprios e julgava indispensável para a maximização do bem público deixar os homens entregues a si mesmos, competindo num mercado livre (base do pensamento liberal). Em 1714, Bernard Mandeville publicou “A Fábula das Abelhas” onde inverteu o velho código moral cristão.
Durante todo o período mercantilista, os capitalistas lutaram contra as restrições que dificultavam a obtenção de lucros. Essas restrições impostas por leis paternalistas eram os vestígios da versão medieval.
(P. 53) Cap.IV: O Liberalismo Clássico e o Triunfo do Capitalismo Industrial.
A diferença entre mercantilistas e o liberais clássicos é que os mercantilistas defendiam a limitação das regulamentações internas, mas eram favoráveis a uma política governamental que buscasse ampliar a participação nos marcados internacionais. Já os liberais clássicos defendiam a liberdade comercial tanto interna como externa.
A Revolução Industrial.
Entre 1700 e 1770, os mercados estrangeiros para os produtos fabricados na Inglaterra cresceram muito mais que os mercados domésticos. Sendo o rápido crescimento das exportações a principal causa da Revolução Industrial.
(P. 54) No século XVIII, a Inglaterra já dispunha de um mercado bem desenvolvido. Os preconceitos, atitudes e ideologias tradicionais, hostis ao capitalismo, haviam sido em grande parte superados. Os interesses em ampliar a margem de lucros combinado com o crescimento da exportação de produtos manufaturados provocou uma verdadeira explosão de inovações tecnológicas no final do século XVIII e início do XIX, inovações que transformaram radicalmente a Inglaterra e o mundo.
A indústria têxtil foi o setor mais dinâmico na primeira fase da Revolução Industrial. Abandonou as cabanas dos tecelões e converteu-se em industrial fabril.
(P. 55) Os empresários perceberam que, aumentando a produtividade e reduzindo os custos da produção, era possível ampliar a margem de lucros. Esse período é caracterizado por uma verdadeira explosão de atividades inventivas, sendo sem dúvida a mais importante a máquina a vapor.
(P. 56) Esse rápido crescimento transformou a Inglaterra em potência hegemônica do século XIX.
A Consagração do Liberalismo Clássico.
(P. 57) No decorrer deste processo o individualismo subjacente ao liberalismo clássico tornou-se a ideologia dominante do capitalismo. A ética paternalista passou a ser defendida, agora, por uma minoria.
O Credo Psicológico.
O credo psicológico dos liberais clássicos baseava-se em quatro pressupostos sobre a natureza humana: todo homem é egoísta, frio e calculista, essencialmente inerte e atomista.
Egoísta: tese primeiramente defendida por Hobbes e depois por Jeremy Bentham, sustenta que todas as ações do homem, são motivadas pelo desejo de obter prazer e evitar dor.
Frio e calculista: decidir entre prazer ou dor é algo calculado. (P. 58) Os homens escolhem trabalhar (dor) por que sem o dinheiro decorrente dele a vida seria muito mais dolorosa.
Inerte: o homem é preguiçoso por natureza e precisa de grande recompensa ou pavor (fome) para poder trabalhar.
(P. 59) Atomismo: o grupo (sociedade) é nada mais que a soma dos indivíduos que o compõem. Sem nenhum vínculo.
(P. 60) O Credo Econômico.
O pensamento liberal clássico apoiava-se em duas suposições conflitantes: o homem é egoísta e sem mecanismos coercivos ele viveria se degladiando. E o liberalismo para dar vazão aos impulsos egoístas.
(P. 61) Esta contradição foi resolvida por Adam Smith: “todo individuo esforça-se continuamente para obter vantagem, a concorrência entre homens egoístas, cada qual agindo em seu próprio interesse, criaria ações benéficas”. Ou seja, o mercado agiria como uma “mão invisível”, canalizando as motivações egoístas e interesseiras dos homens para atividades mutuamente complementares que promoveriam de forma harmoniosa o bem-estar de toda a sociedade.
(P. 62) A filosofia de Adam Smith era a antítese da ética paternalista cristã.
(P. 63) A Teoria da População.
A teoria populacional de Thomas R. Malthus ocupa um lugar importante entre as doutrinas econômicas e sociais do liberalismo clássico. Segundo Malthus, os homens são movidos por um insaciável desejo sexual e por isso tendem a crescer em proporção geométrica (1,2,4,8,16...). (P. 64) Em compensação a produção de alimentos cresce aritmeticamente (1,2,3,4,5...). Sendo indispensável o controle populacional.
 Para isso ele propõem o controle preventivo (reduzir taxa de natalidade) e os positivos (incrementar a taxa de mortalidade).
(P. 65) A taxa de mortalidade era basicamente deixar que as pessoas morressem de doenças para que outras não morressem de fome. Ainda hoje muitos defendem as ideias de Malthus, insistindo que a pobreza é culpa dos pobres que têm filhos em excesso.
O Credo Político.
O liberalismo clássico rejeitava o Estado ou o governo considerando-o um mal tolerável.
(P. 66) Que funções deveriam exercer os governos, segundo a concepção do liberalismo clássico? Adam Smith numera 3: proteger o pais contra invasores estrangeiros, proteger os cidadãos contra injustiças de outros cidadãos e manter instituições vantajosas para a sociedade, porém pouco lucrativas.
(P. 67) A concepção de proteger país foi estendida para ampliação dos mercados externos por meio militar. A de proteger os cidadãos, para proteger a propriedade privada. (P. 68) E a de manter as instituições foi interpretada como garantir uma moeda nacional, padronizar pesos e medidas e a criação de estradas, canais, portos, correios, etc.
Concluiu-se que a filosofia liberal clássico condenava a interferência governamental nos assuntos econômicos somente quando este prejudicava seus interesses. Por outro lado, acolhiam as interferências quando estas ampliassem sua possibilidade de lucro.
O Liberalismo Clássico e a Industrialização.
(P. 69) No final do século XVIII e inicio do XIX ocorreram simultaneamente Revolução Industrial e o triunfo do capitalismo clássico. Que juntos inauguraram o capitalismo industrial.
Bibliografia:
HUNT & SHERMAN: “História do Pensamento Econômico”. Ed Vozes. Petrópolis RJ. 2004. Pág 09-69.

sábado, 26 de maio de 2012

Do mito a razão o nascimento da filosofia.


Como se deu a passagem o mito a razão como forma de se entender o mundo? Foi um "milagre grego" ou uma transição apoiada no próprio mito?
(Pag.79) Introdução.
Costuma-se dizer que os primeiros filósofos foram gregos. Isto significa que embora reconheçamos a importância de sábios como Confúcio, Lao Tsé e Zaratustra, essas doutrinas ainda estavam vinculadas à religião...
Neste capítulo veremos o processo pelo qual se dá a passagem da consciência mítica para a consciência filosófica grega.
1.        Homero e Hesíodo.
Os mitos gregos surgem quando ainda não havia escrita e, portanto, eram preservados pela tradição e transmitidos oralmente, sem preocupação com a autoria.
(Pag.80) Homero (séc. IX ou VIII a.C.) foi o autor de Ilíada e Odisseia. Alguns autores acreditam que essas obras foram elaboradas por diversos autores. As ações heroicas relatadas nas epopeias mostram a constante intervenção dos deuses.
No período da civilização micênica, o indivíduo é presa do destino (Moira) que é fixo, imutável, e não pode ser alterado. O herói vive, portanto, na dependência dos deuses e do destino, faltando a ele a noção de vontade pessoal, de liberdade. Mas isso não diminui a virtude do herói que se manifesta em sua coragem.
Hesíodo (VIII-VII a.C) produz uma obra que tende superar a poesia impessoal e coletiva das epopeias. Ele valoriza o trabalho e a justiça, destacando a importância das regras que balizam o comportamento humano. Sua obra Teogonia (teo=Deus, gonia=origem) reflete ainda o interesse pela crença nos mitos.
2.        Uma Nova ordem humana.
No período arcaico (VIII-VI a.C) surgem os primeiros filósofos gregos. Alguns autores chamam de “milagre grego” a passagem repentina da mentalidade mítica para o pensamento crítico filosófico.
Outros estudiosos realçam o fato de que essa passagem resultou de um processo lento, preparado pelo passado mítico. Ou seja, a filosofia grega não é fruto de um “milagre”, mas a culminação de um processo gestado através dos tempos.
(Pag.81) Algumas novidades do período arcaico ajudaram a transformar a visão que o mito oferecia: a escrita, a moeda, o nascimento da pólis e a ei escrita.
A escrita.
A consciência mítica predomina em culturas de tradição oral (mythos significa palavra). A palavra antes da escrita estava ligada a um suporte vivo que a pronunciava. É bem verdade que, de início, a primeira escrita era mágica e reservada aos privilegiados, aos sacerdotes e aos reis. Entretanto, num segundo momento, a escrita assume função diferente, porque se desligou de preocupação esotéricas e religiosas.
Os escritos deixam de ser reservados apenas aos que detêm o poder e passam a ser divulgados em praça pública, sujeitos a discussão e a crítica. Isso não significa que a escrita tenha se tornado acessível a todos (a maioria da população era analfabeta). O que está em destaque aqui é a dessacralização da escrita.
A moeda.
Entre os séculos VIII e VI a.C dá se o desenvolvimento do comércio marítimo, decorrente da expansão do mundo grego. O enriquecimento dos comerciantes provoca a substituição de valores aristocráticos por valores da nova classe em ascensão. Na época da aristocracia rural a economia é pré-monetária. Os objetos usados para a troca vêm carregados de simbologia sagrada. A moeda, inventada na Lídia, aparece na Grécia por volta do século VII a.C, o que facilita os negócios e impulsiona o comércio.
Os produtos que antes se restringiam ao seu valor de uso passam a ter valor de troca, isto é, transformaram-se em mercadorias. Daí a exigência de algo que funcionasse como valor equivalente universal das mercadorias. Muito mais do que um metal precioso que se troca por qualquer mercadoria, a moeda é artificio racional, convenção humana, noção abstrata de valor que estabelece a medida comum entre valores diferentes.
A lei escrita e o cidadão da pólis.
(Pag.82) Para Jean-Pierre Vernant, pensador francês o nascimento da pólis (VIII-VII a.C) marca a verdadeira invenção, por provocar grandes alterações na vida social e nas relações humanas.
A transformação da pólis se deve aos legisladores Dracón, Solón e Clístenes, pois, a justiça, que até então, dependia da interpretação da vontade divina ou da arbitrariedade dos reis passa a ser codificada numa legislação escrita, comum a todos sujeita a discussão e modificação.
Essas modificações expressam o ideal igualitário que prepara a democracia nascente, já que se abole a hierarquia fundada no poder aristocrático das famílias.
A originalidade da cidade grega é a ágora (praça pública), espaço onde se debatem os problemas de interesse comum. Separando-se o domínio público do privado. Sendo elaborado o novo ideal de justiça, pelo qual todo cidadão tem direito de poder. A noção de justiça assume caráter político e não apenas moral, ou seja, não diz respeito apenas ao indivíduo, mas a sua atuação na comunidade.
A pólis se faz pela autonomia da palavra, o saber deixa de ser sagrado e passa a ser objeto de discussão. A expressão da individualidade por meio do debate faz nascer à política, que liberta o indivíduo dos desígnios divinos.
(Pag.83) Por fim, é bom lembrar que quando falamos em democracia grega ou ateniense, devemos ter em mente que a maioria da população se achava excluída do processo político.
3.        Os primeiros filósofos.
Os primeiros filósofos gregos viviam nas colônias gregas da Jônia e da Magna Grécia e recebem o nome de pré-socráticos. Entre os mais importantes estão: Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito, Pitágoras, Xenofanes, Parmênides, Zenão, Leucipo, Demócrito, Anaxágoras e Empédocles. Em geral escreviam em prosa, abandonando a forma poética das epopeias.
Os primeiros centram sua atenção na natureza elaborando diversas concepções de cosmologia, procurando a racionalidade constitutiva do universo. Ao perguntarem como seria possível o cosmo emergir do caos, eles chegaram ao princípio (a arché) de todas as coisas, tentando explicar qual é o elemento constitutivo de todas as coisas. As respostas as essas perguntas são as mais variadas.
4.        Mito e filosofia continuidade e ruptura.
(Pag.84) A diferença básica entre pensamento mítico e a filosofia nascente: os filósofos divergem entre si e a filosofia se distingue da tradição mítica oferecendo uma pluralidade de explicações possíveis. Além disso, a física jônica é a expressão do pensamento racional e abstrato, ao recorrer a argumentos e não a explicações sobrenaturais.
No entanto, para o inglês Cornford, apesar das diferenças, o pensamento filosófico nascente ainda apresenta vinculações com o mito. Examinando os textos filosóficos jônicos, Cornford descobre neles a mesma estrutura de pensamento existente no relato mítico.
Portanto, na passagem do mito à razão, há continuidade no uso de certas estruturas de explicação.  Na concepção de Cornford não existe “uma imaculada concepção da razão”, pois o aparecimento da filosofia é um fato histórico enraizado no passado.
Conclusão.
Embora existam aspectos de continuidade entre mito e filosofia, o pensamento filosófico é algo muito diferente do mito. Enquanto o mito é uma narrativa cujo conteúdo não se questiona, a filosofia problematiza, convida a discussão. No mito a inteligibilidade é dada, na filosofia é procurada. A filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência do divino na explicação dos fenômenos.
Na nova abordagem do real caracterizada pelo pensamento filosófico, podemos ainda notar a vinculação entre filosofia e ciência, que só se separam no séc. XVII.
*Infelizmente esse fichamento foi realizado a partir de uma cópia. O que impossibilitou sua identificação bibliográfica.