sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O Ensino Religioso nas escolas.

As aulas de Ensino Religioso podem ser fenomenais nas mãos do professor certo, ou uma arma nas mãos de professores ultra religiosos.
Por: William Cirilo Teixeira Rodrigues
Durante minha experiência no magistério, entre uma aula e outra de História, ministrei aos alunos do 9º ano do ensino fundamental as tão polêmicas aulas de Ensino Religioso. Aulas estas que podem ser ferramentas fenomenais nas mãos do professor certo, ou uma arma nas mãos de professores ultra religiosos.
Logo no primeiro dia de aula, deixava bem claro que caminho iriamos percorrer. Minha aula não seria uma catequese, nem escolinha dominical. Eu não escreveria salmos na lousa e muito menos daríamos as mãos para uma oração em nome daqueles alunos que faltaram. Minha aula seria de História das Religiões.
 E por mais incrível que pareça, estas aulas eram de uma produtividade imensa, pois, diferentemente da Revolução Francesa por exemplo, de religião todo aluno conhece um pouco. Os debates eram intrigantes e constantes, as aulas eram marcadas pelas mais diversas contestações por parte dos alunos que carregavam consigo seus dogmas religiosos e suas visões de mundo, eu por minha vez fazia questão de implantar a dúvida sobre as “verdades absolutas” e a compreensão sobre as culturas diferentes.
Minha missão durante estas aulas era a desconstrução de mitos, a destruição do anacronismo e a construção da ideia de que o homem é fruto do tempo e da sociedade em que nasce e cresce.
Uma passagem que não me esqueço foi quando, durante uma aula sobre o hinduísmo, um aluno me contestou sobre o semideus Ganesha. Como era possível que na Índia, eles adorassem e acreditassem em um deus metade homem, metade elefante? E completou: Isso não faz sentido e é errado! Bom, comecei respondendo que se ele tivesse nascido na Índia com certeza ele acreditaria, adoraria e defenderia a real existência de Ganesha e possivelmente se houvesse nascido no interior daquele país jamais iria saber quem foi Jesus. Por fim completei: entidades antropozoomorficas não uma exclusividade das religiões politeístas orientais, você mesmo acredita em um ser sobrenatural metade homem, metade pássaro: os anjos.
Contudo existe um risco real no desenvolvimento e condução desta disciplina, e tem ligação direta com o caráter do professor que a conduz. Quando um professor quer transformar as aulas de ensino religioso em uma extensão evangelizadora de sua própria religião as aulas se tornam inócuas, excludentes e preconceituosas.
Se um professor entra em classe dizendo: não vim aqui para falar desta ou daquela religião, mas sim de deus[1] que é um só. Já sei que uma religião será beneficiada em detrimento das outras. Então, porque não utilizar este espaço para por exemplo, discutir em sala de aula a importância da laicidade no Estado? Por que os ateus não acreditam no sobrenatural? Quais são as religiões minoritárias no Brasil? Etc.
Um professor honesto tratando destes temas da forma correta não ira “desenvangelizar” um aluno, uma vez que a influência do padre, do pastor, do rabino, em conjunto com a família é mais forte do que a influência exercida pelo professor em uma aula por semana. Entretanto, esta única aula servirá para que o aluno contemple o mundo com outros olhos, compreendendo e respeitando as outras culturas e religiões.
Por fim, o Ensino Religioso se bem utilizado evitará a barbárie que é um Estado teocrático, se mal utilizado será um apêndice desta ou daquela religião em sua louca busca por fiéis (poder). Pois, com diz o ditado “fé cega, faca amolada”.




[1] Fiz questão de escrever em com letra minúscula.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Por que o dinheiro da educação não chega aos professores?


Por: William Cirilo Teixeira Rodrigues
Após as séries de manifestações que ocorreram pelo Brasil pedindo mais investimentos públicos em saúde e educação, o governo federal aprovou a utilização dos royalties do petróleo nas duas áreas. 75% para a Educação e 25% para a Saúde.
Acredita-se que os royalties injetarão na educação brasileira um montante de R$ 368 bilhões em 30 anos. Onde um repasse de cerca de R$ 770 milhões será realizado ainda esse ano. Isso segundo anúncio feito pelo Ministro da Educação Aloizio Mercadante no dia 11 de setembro deste ano.
Hoje o governo federal investe em educação cerca de 6,1% do PIB e existem projetos tramitando no Congresso Nacional que preveem um investimento mínimo de 10% do PIB na área até 2020.
Contudo, apesar do investimento em educação no país ter crescido 149% entre 2005 e 2009, o Brasil ainda está entre os cinco países que menos investem por aluno no mundo, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Bom, estatísticas e números a parte, o que acontece com a educação brasileira (em especial a paulista que é a que mais conheço), é uma farra disfarçada de benfeitorias.
Qualquer professor de qualquer escola pública nota que a secretaria de educação tem dinheiro para tudo, tablets, assinaturas de revistas, viagens, cursinhos, etc, menos para aumentar o salário dos professores.
Enquanto cerca de 3 mil professores desistem da profissão todo os meses, fugindo do salário medíocre de 9 reais por aula, das más condições de trabalho e dos alunos mal-educados, o governo do nosso querido estado gasta com coisas mais “palpáveis” aos olhos dos pais eleitores.
Todo o dinheiro que deveria ir para a escola, seus funcionários e professores, acaba indo para o bolso de alguns empresários dos mais diversos ramos. Já investimos pouco (comparado a outros países), e o pouco que temos investimos mal.
Exemplos deste ato não faltam: distribuição de tablets para os professores, fornecimento de material escolar para os alunos, livros didáticos aos milhões, assinaturas de revistas e jornais, etc. Coisas que em um primeiro momento se apresentam como boas iniciativas, mostram sua face mais sombria após uma rápida análise.
Os tablets (mais de 900 mil da marca positivo) são de má qualidade e em pouco tempo estarão obsoletos. Os materiais e os livros didáticos distribuídos iludem os pais que acreditam que apenas isso basta para uma melhor educação. Renova-se – sem licitação – as assinaturas da Veja, do Estadão e da F. de São Paulo que custará aos cofres públicos paulistas nada menos que 4 milhões de reais.
Bom deixe-me entender, a educação têm dinheiro para comprar 900 mil tablets de segunda mão, para financiar a chuva de papel picado no fim do ano nas escolas e para a assinatura de jornais e revistas de parcialidade duvidosa, mas não têm dinheiro para pagar professores e funcionários decentemente, para construir laboratórios nas escolas e para a instalação de ares-condicionados nas salas? Gostaria de entender em que ponto o supérfluo tornou-se prioritário e vice-versa.
O que há de comum nestes três exemplos? Simples, o enriquecimento de empresários a custa da péssima educação. Por esse motivo sou cauteloso em relação aos futuros investimentos dos Royalties do petróleo na educação, e me pergunto, será mesmo que esse dinheiro vai para reformas e a modernização das nossas escolas sucateadas, ou encherá o bolso deste ou daquele empresários?
Se eu pudesse apostar, apostaria na segunda opção.
Por fim, entende-se que o investimento per capita em educação é pouco, mas na mão de uma só pessoa é uma fortuna. Por isso temos empresários ganhando milhões graças ao sucateamento do ensino brasileiro. E caso os royalties do pré-sal realmente despejem essa quantia sobre nossa educação devemos tomar cuidado, e fiscalizar se esse dinheiro vai realmente para os salários dos professores, para a estrutura das escolas, para uma merenda escolar de qualidade ou se vai para financiar festas e confraternizações de empresários e políticos espertos, acobertados por jornalistas inescrupulosos.

Fonte da charge Do macedo

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Sobre o Papel do Trabalho na Transformação do macaco em homem de Friedrich Engels.

Escrita por Engels em 1876 e Publicada pela primeira vez em 1896 em Neue Zeit.

Influenciado por Charles Darwin, Engels se aventura no campo do surgimento e desenvolvimento evolucional do ser humano. E claro dando sua contribuição marxista a questão.
Boa Leitura
Fichamento: Sobre o Papel do Trabalho na Transformação do macaco em homem.
(P.13) O trabalho é a fonte de toda a riqueza. A natureza é a encarregada de fornecer os materiais que o trabalho converte em riqueza. Contudo, o trabalho é mais que isso, podemos até mesmo dizer que o trabalho criou o próprio homem.
(P.14) Há centenas de milhares de anos, vivia em alguma zona tropical uma raça de macacos antropomorfos extremamente desenvolvidos. Que segundo Darwin eram, cobertos de pelos, tinham barbas, orelhas pontiagudas, viviam em árvores e formavam manadas.
Supõe-se que, por seu estilo de vida, aos poucos foram prescindindo das mãos para caminhar e adotaram uma posição mais ereta. Esse foi o passo decisivo para a transição do macaco em homem.
(P.15) As mãos livres possibilitaram o exercício de funções cada vez mais variadas. As mãos servem para recolher e sustentar os alimentos, empunhar um pedaço de pau – com o qual se defendiam de inimigos – ou para bombardear com frutos e pedras.
Por mais que os primatas de hoje sejam parecidos com nós, é nas mãos que se percebe a distância entre ele e nós. O número e a disposição dos ossos são os mesmos nos macacos e nos homens. Mas qualquer homem, por mais selvagem que seja é capaz de realizar centenas de operações impossíveis para qualquer macaco. Nenhuma mão simiesca jamais construiu um machado de pedra, por mais que fosse.
(P.16) Por isso, as funções, para quais nossos antepassados foram adaptando pouco a pouco suas mãos foram inicialmente muito simples. Antes da primeira lasca de sílex ter sido transformada em machado, deve ter transcorrido um período extremamente longo. Entretanto, já havia sido dado o passo decisivo: a mão era livre e podia adquirir cada vez mais destreza e habilidade, transmitida por herança e aumentando de geração em geração.
Vemos, pois, que a mão não é apenas o órgão do trabalho; é também produto dele. Unicamente pelo trabalho, pela adaptação a novas funções, pela transmissão hereditária, pela aplicação das habilidades transmitidas, foi que a mão do homem atingiu esse grau de perfeição.
Mas a mão faz parte de um organismo íntegro e sumamente complexo. O que beneficiava a mão também beneficiava o corpo em dois aspectos.
(P.17) Primeiramente, o que Darwin chamou de correlação de crescimento. Segundo essa lei, certas formas das diferentes partes dos seres orgânicos sempre estão ligadas a determinadas formas de outras partes, que aparentemente não têm nenhuma relação com as primeiras. Um exemplo é que todos os animais que possuem glóbulos vermelhos sem núcleo e cujo occiptal está articulado com a primeira vertebra por dois côndilos, possuem, sem exceção, glândulas mamárias para alimentar suas crias. Segundo esta lei, o aperfeiçoamento gradual da mão do homem e a adaptação concomitante dos pés ao andam em posição ereta exerceram grande influência sobre outras partes do organismo.
(P.18) Muito mais importante é a ação direta – possível de ser demonstrada – exercida pela mão sobre o resto do organismo. Com o desenvolvimento manual, desenvolveu-se o trabalho conjunto e a ajuda mutua. Chegando a um ponto em que tiveram a necessidade de se comunicarem. A necessidade criou o órgão: a laringe. Inicialmente pouco desenvolvida foi se aperfeiçoando em conjunto com a boca que aprendia pouco a pouco a pronunciar os sons.
(P.19) Primeiro o trabalho e, depois dele e com ele, a palavra articulada, foram os dois estímulos principais sob cuja influência o cérebro do macaco foi se transformando gradualmente em cérebro humano.
(P.20) A medida em que se desenvolvia o cérebro, desenvolviam-se também os órgãos dos sentidos. Apurando, a visão, a audição, o tato, o olfato e o paladar.
(P.21) Foi necessário que transcorressem centenas de milhares de anos, para que a sociedade humana surgisse daquela manada de macacos que trepavam em árvores. Mas por fim, surgiu e o que distingue nossos ancestrais da sociedade humana? O trabalho. A vida como coletores e nômades estagnou o crescimento da população simiesca.
(P.22) A possível falta de comidas específicas proveniente desta estagnação, motivou a busca por alimentos diferentes. Abrindo assim um leque na dieta dos nossos ancestrais. Esta alimentação, cada vez mais variada possibilitou as condições químicas para a transformação destes em humanos.
Mas tudo isso, ainda não era trabalho. O trabalho começa com a elaboração de instrumentos de caça e pesca. Sendo esta caça representativa da passagem de uma dieta herbívora para uma mista. Que é mais um passo em direção da transformação do macaco em homem.
(P.23) Dieta carnívora ofereceu ao organismo ingredientes mais essenciais ao seu metabolismo. Abreviando o processo de digestão.
Quanto mais o homem se afastava do reino vegetal, mais se elevava sobre os animais. A combinação, carne e vegetais contribuiu poderosamente para dar força física e independência ao homem em formação.
Mas, onde mais se manifestou a influência da carne no organismo, foi no cérebro. A quantidade cada vez maior de nutrientes possibilitou o crescimento – geração após geração – deste órgão tão importante.
O consumo da carne levou a dois novos avanços decisivos: o uso do fogo e a domesticação dos animais.
(P.24) O primeiro reduziu ainda mais o processo de digestão, o segundo multiplicou a reserva de carne. A domesticação dos animais ainda proporcionou, com o leite, ovos e seus derivados uma nova gama de alimentos.
O homem, que havia aprendido a comer tudo o que era comestível, que aprendeu a viver em qualquer clima. Estendeu-se por toda a superfície habitável da terra, sendo o único animal capaz de fazê-lo por iniciativa própria. E a passagem do calor, para zonas mais frias criou novas exigências, ao obrigar o homem a procurar abrigo e a cobrir seu corpo. Surgindo, assim novas esferas de trabalho e novas atividades que afastaram ainda mais os homens dos animais.
(P.25) Graças às funções manuais, a linguagem e o cérebro. Os homens foram aprendendo a executar operações cada vez mais complexas e a se propor a alcançar objetivos cada vez mais elevados. O trabalho se aperfeiçoava e se diversificava de geração a geração. À caça e a pesca vieram se juntar a agricultura e mais tarde a tecelagem, a metalurgia, a olaria e a navegação. Ao lado do comércio e dos ofícios apareceram, finalmente, as artes e as ciências; das tribos saíram às nações e os Estados. Apareceram o direito e a política e, com eles, o reflexo fantástico das coisas no cérebro do homem: a religião.
Frente a todas essas criações, o trabalho manual ficou relegado a segundo plano. Mesmo na família primitiva a cabeça que planejava o trabalho já era capaz de obrigar mãos alheias a realizar o trabalho projetado por ela.
(P.26) Os animais influenciam o ambiente, mas de forma involuntária e acidental. Já o homem o faz de maneira intencional e planejada, cujo fim é alcançar objetivos planejados de antemão.
(P.27) A possibilidade de realizar atos conscientes e premeditados desenvolveu-se nos animais em correspondência com o desenvolvimento do sistema nervoso e adquire já nos mamíferos um nível bastante elevado: Mas nem um ato planificado de nenhum animal pôde imprimir na natureza o selo de sua vontade. Só o homem pôde fazê-lo.
(P.28) Resumindo: só o que podem fazer os animais é utilizar a natureza e modifica-la pelo mero fato de sua presença nela. O homem, ao contrário, modifica a natureza e a obriga a servir-lhe, domina-a. E ai está, em última análise, a diferença essencial entre o homem e os demais animais, diferença que, mais uma vez, resulta no trabalho.
(P.29) Contudo, não devemos nos entusiasmar frente a nossas vitórias sobre a natureza. Uma vez que as consequências são devastadoras. Uma vez atacada, a natureza devolve a devastação ao homem.
(P.30) Com efeito, aprendemos cada vez mais sobre as leis da natureza e as consequências de nossa intromissão no curso natural de seu desenvolvimento. Hoje (1876) graças aos grandes avanços tecnológicos e científicos, conhecemos melhor a natureza e conseguimos prever as consequências de nossos atos e a reação da natureza.
Mas, se foram necessários milhares de anos para que o homem aprendesse a prever as remotas consequências naturais no sentido da produção, muito mais lhe custou aprende a calcular as remotas consequências sociais desses mesmos atos.
(P.31) Os homens que nos séculos XVII e XVIII haviam trabalhado para criar a máquina a vapor não suspeitavam de que estavam criando um instrumento que, mais que nenhum outro, subverteu as condições sociais em todo o mundo e que sobretudo na Europa concentrou a riqueza nas mãos de uma minoria. Incitando a luta de classes entre burgueses e proletários que só pode terminar com a liquidação da burguesia e a abolição do antagonismo de classes.
(P.32) Todos os modos de produção existentes até hoje só procuravam o efeito útil do trabalho em sua forma mais direta e imediata. Não faziam o menor caso das consequências posteriores.

Todos os modos de produção que vieram após a propriedade comunal conduziram à divisão da população em classes. Os interesses das classes dominantes converteram-se no elemento propulsor da produção

Fonte: 
ANTUNES, Ricardo (org.) A Dialética do Trabalho. São Paulo: Expressão Popular, 2004. 200 páginas.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A Desobediência Civil de Henry David Thoreau.

Desobediência civil é uma forma de protesto a um poder político de governo  (seja o Estado ou não), geralmente visto como opressor pelos desobedientes
Resenha por: William C. T. Rodrigues
Nascido em Concord, Massachusetts, no dia 12 de julho de 1817, Henry David Thoreau foi um poeta, ativista anti-impostos, crítico da filosofia desenvolvimentista, pesquisador, historiador, filosofo e transcendentalista[1] norte-americano.
Henry David Thoreau 
(1817-1862)
Formou-se em literatura clássica e línguas em 1837 pela Universidade de Harvard. Local onde conheceu o poeta e escritor Ralph Waldo Emerson, com quem nutriu grande amizade, e por quem foi extremamente influenciado pela ideia de que “só em contato intimo com a natureza, distante das forças corruptoras da civilização, o sonho da liberdade norte-americano se realizaria”. Nota-se que ambos foram diretamente influenciados pelo pensamento de Rousseau.
Entre as obras de Thoreau destacam-se Walden (1854), que é a descrição de sua experiência de dois anos em meio à natureza, onde viveu na mais completa solidão em um barraco construído por ele, e de como sobreviveu apenas com seu trabalho manual.
E A Desobediência Civil (1849), que escreveu após ser preso por se negar a pagar impostos, sob a justificativa de que o dinheiro seria empregado pelo governo americano na guerra contra o México. Seu livro é uma espécie de manual de anarquismo individualista pacífico. Uma defesa da desobediência civil como forma de oposição legítima frente a um Estado injusto. Esta obra exerceu forte influência sobre o conceito de resistência pacífica, desenvolvida posteriormente por Mahatma Gandhi, e foi um dos principais estandartes do movimento hippie, mais de um século depois de escrito. Será esta justamente a obra aqui analisada.
Thoreau morreu em 6 de maio de 1862, em sua cidade natal.
A Desobediência Civil.
A Influência de Thoreau ultrapassou séculos...
Thoreau inicia seu texto com o seguinte lema “o melhor governo é o que menos governa, ou melhor, o melhor governo é o que não governa absolutamente nada”. E que apesar de hoje (1849), a existência de um governo seja algo conveniente para todos, uma hora ou outra ele acabará por se tornar inconveniente. Segundo o autor, incontáveis foram às vezes em que o governo dos EUA foi um obstáculo ao livre desenvolvimento do povo norte-americano.
Contudo como cidadão, Thoreau não se reconhece como um antigovernista. O que ele realmente deseja é um governo melhor e não o fim do governo. Para ele, quando cada homem expressar o tipo de governo capaz de conquistar o seu respeito, estaremos mais próximos de conseguir constituir este tão sonhado governo melhor.
Pois, o único motivo pelo qual se admite um governo da maioria e sua continuidade é o fato de que a maioria é fisicamente mais forte. Entretanto, um governo baseado no interesse da maioria não é necessariamente um governo mais justo.
E caso este governo da maioria não seja justo, Thoreau apoia o direito a desobediência civil, pois, primeiramente é necessário ser homem e só posteriormente ser súdito. O respeito aos direitos deve vir antes do respeito as leis. Sendo a única obrigação dos homem, fazerem aquilo que acreditam ser correto. As leis jamais tornaram os homens sequer um pouco mais justos. O respeito as leis tem levado até mesmo os bem-intencionados a agir cotidianamente como mensageiros da injustiça.
Um exemplo citado por Thoreau é o exército. Segundo o autor, esta massa de homens serve ao governo não na sua qualidade de homens, mas sim como máquinas, entregando seus corpos. Na maioria das vezes não há qualquer livre exercício de escolha ou avaliação moral. Não merecem mais respeito do que espantalhos e valem o mesmo que cães ou cavalos. Entretanto, é comum velos sendo apreciados como bons cidadãos.
Há outros, que servem ao Estado com a cabeça: legisladores, políticos, advogados, funcionário públicos, etc. No entanto, é provável que também sirvam ao diabo.
Existem ainda os que servem o Estado com sua consciência: são os heróis, patriotas, mártires, reformadores e homens que acabam por isso mais resistindo do que servindo. Geralmente o Estado os trata como inimigos.
Pois aqueles que se dedicam por completo a seus semelhantes são por eles considerados inúteis e egoístas. Todavia aqueles que se dedicam em parte são considerados benfeitores e filantropos.
Em certa altura do texto, o autor trata das injustiças cometidas pelos EUA, como a guerra contra o México e a escravidão. Criticando a imobilidade dos homens, que no máximo assinam petições ou depositam votos em urnas para não se comprometerem diretamente. Não sabendo que seus impostos pagos continuam a financiar tais barbáries, mesmo que eles sejam contra.
...e fronteiras!
Leis injustas existem. Devemos submeter-nos a elas e cumpri-las, devemos tentar emenda-las e obedecer a elas até sua reforma, ou devemos transgredi-las de imediato? Em nossa sociedade, os homens tendem a esperar até que a maioria se convença em alterar as leis. Pois, acredita-se que a resistência pode ser pior que o mal a ser combatido. E de fato isso acontece e por culpa do governo.
O único tipo de transgressão tolerado pelo governo é a sua prática deliberante de autoridade. Um cidadão que deve ao Estado pode ser preso indefinidamente, já alguém que rouba de dentro do Estado raramente é preso.
Caso a injustiça seja uma peça dotada de uma mola exclusiva, ai então talvez o remédio não seja pior que o mal. Ainda mais se ela for de uma natureza que exija que você seja o agente de uma injustiça para outras pessoas, direi então, que a lei deve ser transgredida. Transforme sua vida num contra-atrito que pare as maquinas. È necessário cuidar para que não participemos das misérias que condenamos.
Por fim Thoreau afirma que “diante um governo que prende qualquer homem injustamente, o único lugar digno para um homem justo é a prisão”.
Concluindo. A desobediência civil pacífica e constante é necessária e vital para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa. A democracia não é o último passo rumo a um governo melhor, mas sim o reconhecimento dos direitos intrínsecos do homem. E perceber que o poder do Estado emana do povo e não o contrário.


Fonte: THOREAU; Henry David. A Desobediência Civil e Outros Escritos. ed Martin Claret, 2002, São Paulo.



[1] Apesar de fazer parte do grupo de Emerson, os "transcendentalistas", Thoreau se esquivava de algumas ideias e divagações místicas típicas do grupo. Ao contrário dos colegas, ele mantinha o foco na vida e no presente. Quando debatia-se o recorrente tema de vida após a morte, Thoreau replicava: "Uma vida de cada vez".