Por: William Cirilo
Teixeira Rodrigues
Introdução.
(P.14)
Boris Fausto rejeitou duas tendências opostas na historiografia brasileira. De
um lado, aquela que vê a História do Brasil como uma evolução, caracterizada pelo progresso permanente. De
outro lado, aquela que acentua na História do Brasil os traços do imobilismo, como por exemplo, o clientelismo, a
corrupção, a imposição do Estado sobre a sociedade, tanto na colônia como nos
dias de hoje. Esta última tendência está geralmente associada ao pensamento
conservador. Onde o Brasil será sempre o mesmo, independente do que se faça.
(P.15)
O
autor têm uma posição oposta a esse tipo de pensamento. A cada passo, na
passagem do Brasil Colônia para o Brasil independente, na passagem da Monarquia
para a República etc, ele procurou mostrar, que em meio a continuidade e acomodação,
o país muda, seja no plano socioeconômico, político ou em ambos.
Este livro dá uma atenção maior ao período que vai
de fins do século XIX aos dias de hoje. Não porque este período seja mais
importante, mas pelo fato de estar mais presente na memória das pessoas.
(P.17)
Cap. 1: As Causas da Expansão Marítima e a Chegada dos Portugueses ao Brasil.
(P.19)
Desde
cedo aprendemos que o Brasil foi descoberto em 1500 por Pedro Alvares Cabral.
Esse fato constitui somente um dos episódios da expansão marítima portuguesa
iniciada no século XV. Para entendê-la devemos começar com as transformações
ocorridas na Europa Ocidental a partir do ano de 1150. Quando a Europa, nascida
das ruínas de Roma e da presença dos bárbaros, começou pouco a pouco a se modificar,
pela expansão da agricultura e do comércio.
Esta Europa era uma região extremamente rural, onde
as cidades haviam regredido muito. O poder político estava fragmentado e
descentralizado, apesar do mito do Império Romano ainda proporcionar certa
coerência cultural e legal.
A expansão Agrícola ocorreu graças à abertura de
novas regiões cultivadas, derrubada de florestas, drenagem de pântanos e o
incentivo da expansão comercial. Que
resultou de vários fatores, entre eles o surgimento de um excedente que possibilitava
a troca.
(P.20)
Aos poucos as cidades começaram a crescer e se transformar em ilhas de relativa
liberdade, reunindo artesãos, comerciantes e antigos servos.
A partir do século XIII, foram-se definindo por uma
série de batalhas algumas fronteiras de Europa. Dentro destas fronteiras foi
nascendo o Estado com sua organização política centralizada, cuja figura do
príncipe e a burocracia em que se apoiava, tomaram contornos próprios. Esse
processo alcançou seu ponto decisivo entre 1450 e 1550.
Também ocorreu uma expansão geográfica da Europa
cristã, pelas reconquistas de territórios ou pela ocupação de novos espaços.
Isso ocorreu em toda Europa e seus entornos.
(P.21)
Mas
porque Portugal iniciou pioneiramente a expansão, no começo do século XV, quase
cem anos antes que Colombo, enviado pelos espanhóis, chegasse às terras da
América?
A reposta não é simples e possui diversos fatores
influenciadores.
Por exemplo, sem ignorar o papel do infante Dom
Henrique (1394-1460) e de sua lendária
Escola de Sagres no incentivo à expansão marítima, hoje não se acredita que
esse fatos tenham sido tão relevantes quanto se pensava há alguns anos atrás.
Para começar, Portugal se afirmava como um país
autônomo com tendências a voltar-se para fora. Os portugueses já tinham
experiência acumulada ao longo dos séculos XIII e XIV, no comércio de longa
distância, impulsionados por venezianos e genoveses que haviam transformado
Lisboa em um centro mercantil sob sua hegemonia.
(P.22)
A
utilização da moeda como meio de troca, influenciada pelos islâmicos do
Mediterrâneo.
Além de sua posição geográfica que contava com
correntes marítimas favoráveis.
Na política, Portugal foi durante todo o século XV
um reino unificado sem convulsões e disputas dinásticas como a França, a
Inglaterra, a Itália e a Espanha.
A monarquie portuguesa consolidou-se através da
Revolução de 1383-1385. A partir de uma disputa em torno da sucessão ao trono
português, onde a burguesia comercial de Lisboa se revoltou. Esta Revolução foi
como muitas outras que abalaram a Europa, mas com um desfecho diferente. O
problema da sucessão confundiu-se com uma guerra de independência, quando o rei
de Castela, apoiado pela grande nobreza lusa, entrou em Portugal para assumir a
regência do trono.
No confronto, conseguiu-se ao mesmo tempo a independência
e a ascensão ao poder de Dom João, conhecido como Mestre de Avis, filho
bastardo do rei Pedro I. Onde em torno dele foram de reagrupando os vários
setores sociais da sociedade portuguesa: a nobreza, os comerciantes e a
burguesia nascente.
E esse é o ponto fundamental na discussão sobre as
razões da expansão portuguesa.
(P.23)
Isso
porque, nas condições da época, era o Estado (coroa), quem podia se transformar em um grande empreendedor.
Devemos nos lembrar que no início do século XV a
expansão correspondia aos interesses de diversas classes: os comerciantes viam
um bom negócio, o rei via novas fontes de receitas, para os nobres a igreja
servia a Deus a ao rei na cristianização de povos bárbaros era uma forma de
conseguir status, para o povo significava buscar uma vida melhor. Os únicos
prejudicados foram os agricultores que viram o preço da mão-de-obra subir. Foi
por isso que a expansão portuguesa se tornou um projeto nacional.
1.1.O
gosto pela aventura.
Esse gosto pela aventura deve ser compreendido em
seu sentido da época. Há cinco séculos, estávamos muito distantes de um mundo
conhecido por fotos e satélites. Havia continentes desconhecidos, oceanos
inexplorados. As regiões ignotas concentravam
a imaginação do povo europeu. Com seus reinos fantásticos, habitantes monstruosos
e seus paraísos terrestres.
Até mesmo Colombo acreditava que encontraria homens
de um olho só, e homens com focinho de cachorro.
(P.24)
Em
1487, quando deixaram Portugal em busca do caminha terrestre para as Índias,
Afonso de Paiva e Pero da Covilhã levaram instruções de Dom João II para
localizar o Reino de Prestes João,
descendente dos reis magos e inimigo dos muçulmanos. Lenda do século XII que
surgiu graças a existência real de uma população da Etiópia que segue o
cristianismo.
(P.25)
1.2. O Desenvolvimento das Técnicas de Navegação. A Nova Mentalidade.
Dois últimos pontos devem ser notados quando falamos
de expansão marítima portuguesa. De um lado, ela representou uma importante
renovação das “técnicas de marear”. O aperfeiçoamento de instrumentos como o
quadrante e o astrolábio representou uma importante inovação. Os portugueses
ainda desenvolveram uma arquitetura naval mais apropriada com a caravela,
utilizada a partir de 1441 e “menina dos olhos” dos portugueses.
(P.26)
O
outro ponto importante da expansão portuguesa diz respeito a uma gradual
mudança de mentalidade nos humanistas portugueses como Duarte Pacheco, Diogo
Gomes e Dom João de Castro. No plano coletivo, as mentalidades não mudam rapidamente,
e o imaginário fantástico continuou a existir, mas a expansão marítima foi
mostrando que antigas concepções eram equivocadas, como por exemplo a descrição
geográfica de Ptolomeu[1].
Com isso o critério de autoridade, ou seja, a aceitação de uma afirmativa como
verdadeira só por ter sido feita por alguém que se supõe especialista, começou
a ser posta em dúvida.
1.3.
A Atração pelo Ouro e Pelas Especiarias.
Os bens mais buscados pelos portugueses eram o ouro
e as especiarias. É fácil entender o porque o porque da busca pelo ouro, mas
porque as especiarias?
Especiarias se refere a condimentos, temperos, remédios
e perfumes. Pode ser associada também a ideia de produto raro, utilizado em
pequenas quantidades. O açúcar já foi uma especiaria mas, com sua produção e
consumo em larga escala deixou de ser. São condimentos, a noz-moscada, o gengibre,
a canela, o cravo e sobretudo a pimenta[2]!
(P.27)
A
Europa da Idade Média foi uma “civilização carnívora”. Grandes quantidades de
gado eram abatidos no verão e armazenados precariamente com sal, defumação ou
pelo sol. Esses processos deixavam a carne intragável e a pimenta servia para
disfarçar o sabor de carne podre.
(P.28)
1.4. A Ocupação da Costa Africana e as Feitorias.
Costuma-se considerar a conquista da cidade de Ceuta
em 1415, como o ponto de partida da expansão marítima portuguesa. Onde a partir
dai, desenvolveu-se uma expansão metódica ao longo da costa ocidental africana
que levou cerca de 53 anos, da ultrapassagem do cabo Bojador por Gil Eanes
(1434) até a temida passagem pelo cabo da Boa Esperança por Bartolomeu Dias
(1487), abrindo caminho para Vasco da Gama chegar à Índia e posteriormente os
portugueses chegarem a China e ao Japão.
(P.29)
Sem penetrar profundamente no território africano, os portugueses foram
construindo postos fortificados de comércio. O que indica que as trocas
comerciais eram precárias, exigindo garantia das armas. O feitor fazia as
trocas e as estocava até que os navios viessem recolher. A opção pela feitoria
tornou desnecessária a colonização da África pelos portugueses.
1.5.
A Colonização das Ilhas do Atlântico.
Aqui foi bem diferente do que ocorreu na África. Nas
ilhas, os portugueses realizaram experiências significativas de plantio em
grande escala, empregando trabalho escravo. Após perderem as Ilhas Canárias
para os espanhóis, os portugueses se instalaram em Madeira (1420), nos Açores
(1471), Cabo Verde (1460) e em São Tomé (1471).
(P.30)
1.6 A Chegada ao Brasil.
Não Sabemos se o nascimento do Brasil se deu por acaso, mas foi cercado de muita
pompa. Quando Vasco da Gama voltou da Índia em junho de 1499, produziu grande entusiasmo.
Meses depois, em 9 de março de 1500 partiu de Lisboa uma frota de 13 navios com destino as Índias comandada pelo fidalgo
Pedro Alvares Cabral. A frota, após passar pelas Ilhas de Cabo Verde, tomou o
rumo oeste avistando a costa brasileira em 21 de abril de 1500. Em Porto Seguro
na Bahia.
Desde o século XIX discute-se se a chegada dos
portugueses ao Brasil foi obra do acaso, ou se já havia conhecimento de uma espécie
de missão secreta. Tudo indica que Cabral se destinava efetivamente as Índias.
De qualquer forma isso pouco importa hoje em dia,
pertencendo mais aos campo das curiosidades históricas do que a compreensão dos
processos históricos.
(P.33)
No
começo do livro falamos em nascimento e descobrimento do Brasil. Chegou a hora
de dizer que essas expressões se prestam a engano pois dão a impressão de que não
havia presença humana no Novo Mundo. E haviam, os indígenas.