Parte I: Contexto Histórico e biográfico.
Biografia.
Paulo
Reglus Neves Freire (1921-1997).
Nasceu
em Recife – PE.
Mundialmente
conhecido como educador e filósofo brasileiro.
Integrou
o movimento denominado de “Pedagogia Crítica”.
1943:
Ingressou na faculdade de Direito de Recife. Nunca advogou.
1944:
casou-se com a professora primária Elza Maria Costa de Oliveira, com quem teve
cinco filhos. Elza foi a inspiração de freire na alfabetização de trabalhadores
pobres, principalmente rurais.
Desenvolveu
a ideia de uma alfabetização conscientizadora com a finalidade de possibilitar
a libertação do oprimido.
1959:
defendeu sua tese de doutorado, onde expôs ideias pedagógicas sobre escola
democrática, definida como a que centra o processo de ensino-aprendizagem no
educando e utiliza uma abordagem política no ato de alfabetizar.
1963:
realizou a experiência de alfabetização de adultos na cidade de Angico-RN,
alfabetizando 300 trabalhadores rurais em 45 dias.
Características
da Obra “Pedagogia do Oprimido”.
Paulo
Freire sempre se preocupou com a educação popular. Buscando não apenas ensinar
a ler e escrever, mas formar cidadãos com consciência política. Seus livros deixam
claro seu posicionamento em favor dos oprimidos.
No
livro Pedagogia do Oprimido conheceremos o processo de alfabetização de adultos
criado por ele.
Sua
pedagogia se desenvolve por meio do diálogo e da postura democrática.
Desconstruindo a postura de professor ensina e aluno aprende. Para Freire na
relação professor/aluno ambos se educam.
Neste
livro, Freire ataca a educação tradicional (que ele chama de bancária) vista
como tecnicista e alienante.
Para
Paulo Freire, a alfabetização de adultos deve estar diretamente relacionada ao
cotidiano do trabalhador. Dessa maneira, o trabalhador deveria conhecer sua
realidade, inserir-se nela criticamente e buscar transformá-la. A alfabetização
era antes de tudo, uma alfabetização política.
Contexto
histórico.
Mundial:
·
Crise
de 1929;
·
Segunda
Guerra Mundial e Guerra Fria;
·
Bipolarização
e ideologia mundial;
·
Revolução
Cubana e Chinesa.
Brasil:
·
Estado
Novo;
·
Golpe
Militar – perseguições políticas;
·
Crises
econômicas da década de 1980;
·
Redemocratização.
Parte
II: Justificativa da Pedagogia do Oprimido.
Introdução.
Livro
mais conhecido de Paulo Freire. Propõe uma nova pedagogia centrada no
relacionamento entre professor, aluno e sociedade.
O
livro Pedagogia do Oprimido apresenta o método de alfabetização criado por
Paulo Freire. Os participantes eram camponeses analfabetos que Freire não
denominada como alunos, mas como participantes. Esta é uma pedagogia construída
com eles, a partir da vida deles.
Pedagogia
do oprimido é uma obra universal, pois ultrapassou as fronteiras culturais,
linguísticas e temporais. Contribuiu para o questionamento e a problematização
dos processos educativos em todo o mundo.
As
principais questões levantadas pelo livro são:
·
a
possibilidade de emancipação dos homens;
·
características
da educação libertadora;
·
papel
dialógico;
·
Construção
da personalidade democrática.
Neste
livro o autor faz duras críticas a ordem social geradora e mantenedora da
opressão e a miséria.
A
justificativa da Pedagogia do Oprimido.
O
livro é endereçado aos miseráveis sofredores do mundo e a todos aqueles que
desejam lutar ao lado dos oprimidos do mundo por sua liberdade.
O
livro prega uma mudança radical no modo de pensar e conduzir a educação, na
relação professor/aluno e na vida dos educandos. Para Paulo Freire não cabe
ensinar algo alienado, desconectado da realidade, nem de tratar de conteúdos,
mas de problematizar temas que tenham relação com a vida dos sujeitos, com seus
problemas, angustias e necessidades.
Por ser uma pedagogia do oprimido, ela não
pode ser realizada pelo opressor. É o próprio oprimido que terá que realizar o
grande esforço de sua libertação, percebendo e retirando de si o hospedeiro
(opressor) que lhe oprime e impede de enxergar com clareza a realidade e a
situação de opressão.
É
necessário que o oprimido tome consciência de sua opressão e liberte-se
Contudo,
há no processo de libertação dos oprimidos uma contradição. Muitas vezes no
momento em que tomam consciência de sua própria opressão, os oprimidos desejam
se tornar novos opressores. É neste ponto que há a necessidade de uma educação
libertadora que supere essa contradição e restaure a humanidade. Contudo,
libertar-se a si mesmo e aos outros é tarefa difícil. Ao expulsar o opressor
que reside em nós, devemos preencher o espaço com autonomia e responsabilidade.
Freire
criticava o imobilismo subjetivista que fazia com que o oprimido
esperasse pacientemente sua liberdade, como se ela fosse uma doação e não uma
conquista.
A
situação concreta de opressão e os opressores.
Do
ponto de vista dos opressores, tudo o que retire o seu direito de oprimir
significa opressão a eles. Sentir-se-ão como os novos oprimidos. Para os
opressores, mais importantes do que ser é ter, e eles querem ter
cada vez mais, mesmo que isto custe a miséria de muitos. O dinheiro é a medida
de tudo e o lucro o objetivo maior.
A
situação concreta de opressão e os oprimidos.
O
oprimido é ao mesmo tempo hospedeiro do opressor, replicante de sus discursos e
de suas práticas. É necessário conhecer o oprimido para localizar e arrancar o
opressor que habita nele.
Há
um fatalismo no modo de pensar do oprimido que vê nele mesmo, na natureza, em
sua preguiça, sua incapacidade ou no desejo de Deus os motivos de sua miséria.
Quando na realidade sua miséria é causada por uma ordem econômica injusta que o
oprime.
Para
Freire, é necessário que o oprimido perceba exemplos de vulnerabilidade no
opressor, desconstruindo assim o mito de sua intransponibilidade.
Ninguém
liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão.
Paulo
Freire argumenta sobre a necessidade do constante diálogo crítico com os
oprimidos. O processo de libertação em comunhão se dá pelo fato de que, sozinho
não é possível ao homem alcançar s níveis mais elevados de percepção da
realidade. É no diálogo que os homens aprendem mais.
Parte
III: A concepção bancária da educação.
A
concepção “bancária” da educação como instrumento da opressão: seus
pressupostos, suas críticas.
Educação
bancária.
Conceito
criado por Paulo Freire. Usado para se referir ao processo de educação como ato
de depositar, de transferir, de transmitir calores e
conhecimentos por meio da narração de conteúdos.
Na
educação bancária, há uma separação entre o sujeito que narra e os ouvintes,
onde o educador conduz os educandos à memorização mecânica dos conteúdos
narrados.
Os
conteúdos são desconectados da realidade e da totalidade em que surgem, não
ganham significação e transformam os educandos em receptáculos de conhecimentos
fragmentados, sem espaço para a criatividade e para a transformação.
O
objetivo da educação bancária é adaptar os educandos aos valores do mundo,
garantindo o status quo. Transformando apenas a mentalidade do oprimido
e não a situação que o oprime.
A
educação bancária não favorece a mobilidade social e nem o questionamento. Esse
tipo de educação não leva ao saber, pois, só existe saber na invenção e
reinvenção, na busca inquieta, paciente, permanente que os homens fazem do
mundo, com o mundo e com os outros.
Educação
problematizadora.
Proposta
por Freire em contraposição à concepção bancária.
Longe
da pura e simples transmissão de conhecimento, a educação problematizadora
assume o caráter de problema, desafio, invenção e construção de conhecimento.
Com uma prática que implica na ação e na reflexão dos homens sobre o mundo para
transformá-lo!
Dialogicidade.
Ao
contrário da educação bancária e sua “transmissão” de conhecimentos, Paulo
Freire propõe na Educação Problematizadora a dialogicidade.
Ao
invés da narrativa (professor) e da escuta (aluno), há um diálogo franco entre
as duas partes.
O
papel do professor (educador problematizador) é proporcionar as condições, para
que durante o diálogo, ocorra a superação do conhecimento no nível do senso
comum do aluno (doxa) pelo verdadeiro conhecimento no nível da reflexão
científica (logos).
Paulo
Freire chama o conhecimento prévio do aluno de percepção ingênua da
realidade. E é ela quem deve ser superada através da dialogicidade e da
educação problematizadora.
Parte
IV. A dialogicidade: essência da educação como prática da liberdade.
A
dialogicidade.
Dialogicidade
> Diálogo > Palavra.
A
palavra para Freire possui duas dimensões extremamente importantes: ação
e reflexão. A perda da interação entre essas duas dimensões leva o
dialogo por diferentes resultados:
·
Sem
ação a palavra se transforma em blá, blá, blá.
·
Sem
reflexão a palavra se transforma em ativismo.
A
Dialogicidade, o diálogo e a palavra (contendo ação e reflexão), pronunciam o
mundo e, ao pronunciá-lo, o problematizam e ao problematizarem, o transformam.
O
diálogo, base desta educação, só acontece quando a palavra é dita com o
outro e mediatizado pelo mundo.
O
diálogo é o ato de criação e de recriação, é um ato de libertação do homem.
Educação
Dialógica e Diálogo.
Uma
educação dialógica, fundada no diálogo ocorre numa relação de humildade e pedagogicamente
horizontal.
O
papel do diálogo começa na busca pelo conteúdo a ser trabalhado. O conteúdo
deve ser buscado a partir do ponto de vista, anseios, dúvidas e esperanças do
aluno. Eles são temas significativos para a problematização.
O
conteúdo não deve ser uma imposição, ou um conjunto de informes a ser
depositado nos educandos.
O
conteúdo para ser libertador deve ser organizado a partir da situação presente
e concreta dos educandos. Refletindo um contexto específico.
O
educador auxilia o indivíduo a problematizar essas questões e a desenvolver um
pensamento crítico sobre elas, propondo uma reflexão sobre sua condição. O
papel do educador é instigar respostas tanto no nível intelectual, quanto no
nível da ação, uma vez que a educação é um ato político.
O
autor adverte que o educador não deve dissertar sobre as questões a serem
trabalhadas. Seu papel não é de falar sobre sua visão de mundo, mas sim
dialogar sobre as visões de mundo do povo.
Os temas
geradores são sempre relativos à época e a sociedade em que se vive. Por
isso são sempre diferentes em cada comunidade. Há contudo, problemas que
atingem todas comunidades oprimidas e a humanidade. Esses temas são legítimos
de serem dialogados, se forem trazidos pelos próprios sujeitos.
É a
partir de temas geradores locais, que podemos partir para temas regionais,
nacionais, continentais e universais.
Para
buscar temas geradores, o educador deve conhecer a realidade do educando, seu
trabalho, lazer, bairro, costumes... Tornando-se uma espécie de investigador de
campo, reunindo a maior quantidade de material possível. O relatório final deve
ser discutido em assembleia com os educandos, um psicólogo e um sociólogo. A
reunião decidirá o que será trabalhado.
Na
educação como prática de liberdade, como problematizadora e dialógica, jamais o
conteúdo será depositado nos indivíduos, pois este se organizará a partir de
sua visão de mundo.
Após
a metodologia dos temas geradores, bem a metodologia da ação sobre os
temas refletidos. É hora de transformar seus supostos determinantes históricos.
Parte
V: Teoria da ação antidialógica.
Ação
antidialógica.
A
teoria antidialógica é oposta a Dialogicidade.
Dialogicidade: o diálogo real
com as massas oprimidas e luta contra o status quo.
Antidialogicidade: o diálogo não
ocorre e a intenção é manter o estado de opressão. Utilizada para mantes os
opressores no poder.
Para
Freire o homem é um ser de práxis (ação e reflexão) incidindo sobre as
estruturas a serem transformadas. Não havendo revolução apenas com verbalismo
ou ativismo, mas com práxis.
As
lideranças dos oprimidos não podem negar a práxis. Eles devem agir em conjunto
com as massas, pois caso contrário isso levaria à manipulação.
O
autor chama de idealista aqueles que pensam que basta uma simples reflexão
sobre a realidade opressora, para que os oprimidos se percebam como sujeitos.
O
autor também deixa claro a diferença entre ativismo e ação revolucionária:
·
Ativismo: uma massa é liderada por um líder.
·
Ação revolucionária: os sujeitos são
responsáveis por sua ação libertadora.
A
liderança revolucionária popular é aquela que através do diálogo e da
comunicação leva as massas ao conhecimento, a ação e a libertação.
Segundo
Freire, os líderes que pensam que a revolução se faz primeiramente chegando ao
poder, para depois educar as massas estão enganados, pois dessa forma, não é
feita uma revolução com as massas, mas uma revolução de um grupo que
supostamente está representando as massas. Isso pode levar a uma estratificação
e uma burocratização, que é quando os líderes veem a revolução apenas como um
meio de dominação, e se tornam, eles mesmos, a própria elite dominante.
Teoria
da ação antidialógica.
Freire
divide a ação antidialógica em quatro tópicos: conquistar, dividir para manter
a opressão, manipulação e invasão cultural.
1.
Conquista.
Primeiro
aspecto antidialógico é a conquista. A elite opressora necessita elementos para
sustentar sua dominação.
O
dominador é antidialógico, mas precisa conquistar o dominado e isso ocorre de
diversas maneiras, as vezes sutis como o paternalismo, e as vezes agressiva
como a dominação.
O
resultado da conquista é um ser/sujeito objeto, alienado que vê o mundo como dado
e ao qual os homens devem se ajustar e não problematizar.
2.
Dividir para manter a opressão.
Dividir
a classe oprimida e mantê-la dividida é condição indispensável à continuidade
do poder da classe opressora. Estes veem na união, organização e luta do oprimido
um perigo a sua hegemonia. A divisão feita pelos opressores, visa enfraquecer
os oprimidos, ilhando-os e criando cisões entre eles.
3.
Manipulação.
Usado
pelas classes opressoras para que as massas se conformem com a opressão.
As
massas mais imaturas politicamente são as mais facilmente manipuladas por meio
de comunicados e promessas enganosas.
4.
Invasão cultural.
É a
penetração cultural da classe dominante sobre o contexto cultural dos
dominados. Impõe-se sua visão de mundo e impede a criatividade e a
originalidade das classes oprimidas.
O
propósito da invasão cultural é a alienação, a dominação cultural, a
desvalorização de padrões de vida da massa, sempre visando moldar novos padrões
e modos de vida nos oprimidos. Uma vez invadido culturalmente, é difícil para o
oprimido ter força para romper com essa aderência.
Revolução
Cultural.
Para
sair dessa situação de invasão cultural, Freire defende uma “Revolução
Cultural”. Feita a partir da ação cultural dialógica, que toma em consideração
a importância da reconstrução da sociedade em sua totalidade, por meio do poder
revolucionário de todos, e não apenas de alguns líderes.
Teoria
da ação dialógica e suas características.
Colaboração.
Os
sujeitos se unem para transformar o mundo em “co-laboração”(trabalhar juntos).
Não há sujeito que domina e objeto dominado, mas sujeitos que em comunhão mudam
o mundo.
O
diálogo é a base da co-laboração, pois o diálogo não maneja e não domestica.
Unir
para a libertação.
Comunhão
entre os oprimidos.
Organização.
Organização
e justaposição de oprimidos para a luta.
Síntese
cultural.
O
que a ação cultural dialógica propõe é a superação das contradições que
dificultam a libertação do homem.
A
síntese cultural pretende a integração dos homens do povo e sua ação no mundo,
e se apresenta como instrumento de superação da cultura alienante.
Fonte:
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 68.ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário