O ANTICRISTO.
(P. 37) PRÓLOGO.
Nietzsche inicia sua obra queixando-se de ser
incompreendido entre seus contemporâneos e espera que seja compreendido no
futuro.
(P. 38) I. Para Nietzsche o homem moderno é um ser fraco,
domesticado, que tudo compreende e a tudo perdoa. A formula da felicidade desse
homem é um sim, um não, uma linha reta, uma meta.
(P. 39) II. O que é bom? -o poder. O que é mau? -a fraqueza. O que é a felicidade?
-Mais poder e com esse poder vencer. O contentamento vem da guerra e não da paz
e quanto aos fracos deixe que pereçam essa é a verdadeira caridade. O vício
mais nocivo é a compaixão cristã, pois ela protege os fracos.
III. O tipo de homem mais valioso já existiu muitas
vezes, mas como exceção e não como regra. (P. 40) E o medo deste tipo de homem
criou o pior tipo: O domesticado, do rebanho, a besta humana, ou seja, o
cristão.
IV. A humanidade não caminha para algo melhor, mais
forte, mais elevado. O progresso é uma idéia falsa. Mas há varias culturas no
mundo que apresentam homens do tipo
superior.
V. O cristianismo travou uma guerra contra o homem
superior, transformando-o em algo mau e tomou partido de tudo o que é fraco transformando-o
em um ideal.
(P.41) VI. Todos os valores nos quais a humanidade deposita seus mais elevados
anseios são valores de decadência. Todo ser que despreza seus instintos é um
ser corrupto e degenerado.
VII. O cristianismo é a religião da piedade e a piedade
longe de ser uma virtude é um defeito, pois se perde a vitalidade, a vontade de
viver. (P. 42) A piedade é o oposto da seleção natural. Nada mais
doentio do que a piedade cristã.
VIII. A humildade, a castidade, a pobreza já causou mais
prejuízo ao mundo do que o horror de qualquer vício.
(P. 43) IX.É contra o instinto teológico que
Nietzsche move guerra. E por toda a parte se encontra vestígios dele.
Tudo o que um teólogo considerar como verdadeiro é
falso: é quase um critério de verdade. Pois, verdadeiro para um teólogo é tudo
aquilo prejudicial para a vida e falso tudo o que eleva, realça, justifica,
conduz ao triunfo...
(P. 44) X. Entre os alemães é fácil compreender Nietzsche quando este diz que a
filosofia esta corrompida pelo sangue teológico. A filosofia alemã não passa de
uma teologia fraudulenta, que teve como maior símbolo a filosofia de Kant.
(P. 45) XI. Kant pregava o dever impessoal e há algo mais destrutivo do que
trabalhar, pensar, sentir, sem uma necessidade interior, sem uma escolha
pessoal, sem prazer? Essa é a receita da decadência, da imbecilidade...Kant
tornou-se imbecil.
(P. 46) XII. Já no final dos seus dias Kant tentou transformar essa corrupção em
ciência chamando-a de “razão prática”.
Quando alguém tem deveres sagrados, quando traz a
divindade no peito se coloca acima de qualquer avaliação intelectual. Que
interessa a ciência a um padre? Ele se situa muito acima dela-até agora o padre
tem reinado.
XIII. Agora nós, os espíritos livres somos uma transmutação dos valores, declarando
guerra a todas as velhas concepções do verdadeiro e do falso. (P.
47) Durante séculos os métodos científicos foram alvos de críticas,
tratado como os renegados da ciência, os inimigos de Deus.
XIV.Os homens não são descendentes de divindades, mas um
animal. É o animal mais forte por ser o mais hábil. Nietzsche repudia toda a
vaidade que considera o homem como um desígnio divino da evolução natural,
sendo que todos os animais estão no mesmo grau de perfeição cada um a seu modo.
O ser humano é considerado o mais imperfeito por negar os seus instintos, mas é
o mais interessante.
(P. 48)
O homem entendia o “livre-arbítrio” como um dote de um mundo superior: Hoje ela
não é mais entendida como um atributo.
(P. 49) XV. No cristianismo, nem a moral, nem a religião estão em contato com a
realidade. Existem somente: causas imaginarias(Deus, alma, espírito, livre
arbítrio), efeitos imaginários (pecado, salvação, graça, castigo), um comércio
entre seres imaginários (Deus, espíritos, alma), uma ciência natural imaginária
(antropocentrismo), uma psicologia imaginária (arrependimento, remorso,
tentação do demônio, presença de Deus), uma teologia imaginária (o reino de
Deus, o juízo final, a vida eterna).
Este universo de ficções puras, falseia, despreza e
nega a realidade. Mas quem teria razões para fugir da realidade através da
mentira? Só aqueles a quem a realidade faz sofrer.
XVI.Um povo forte que tem um Deus próprio forte o venera
pelas virtudes e vitórias do próprio povo. Projeta a sensação de prazer interno
em um ser a quem se pode agradecer. Isso nada mais é do que um agradecimento a
si mesmo. Um povo forte precisa de um Deus bom e mau ao mesmo tempo.
(P. 50)
Agora quando se castra um Deus para que ele seja só bom é porque o povo que o
adora é fraco e covarde.
XVII. Em todo lugar onde há um declínio de poder o Deus
deste local entra em retrocesso e se transforma no Deus dos fracos. Mas estes
não se consideram fracos e sim os bons. Os povos vencidos que transformaram seu
Deus em bom também demonizaram o Deus dos vencedores.
(P. 51)
A evolução pela qual passou o “Deus de Israel” até chegar ao “Deus Cristão”,
não pode ser considerado um progresso. Tudo o que é forte, valoroso, dominante,
orgulhoso é eliminado do conceito de Deus, transformando-o no Deus dos
miseráveis, dos doentes, etc. Não é mais o Deus divino, mas o salvador, o
redentor, etc.
Deus deixou de ser o senhor de um povo eleito e
transformou-se no Deus de metade do planeta, mas continuou judeu. Continuou com
antes, um reino do gueto, de submundo, de esquina, de hospital...
(P. 52) XVIII. A concepção cristã de Deus (como Deus dos doentes) é uma das mais
corruptas concepções de Deus que há no mundo, pois ela nega o direito de viver
plenamente.
XIX. Nietzsche se pergunta como os vigorosos povos
nórdicos aderiram ao cristianismo? Porque não repeliram essa religião de
fracos?
(P. 53) XX. Nietzsche não quer prejudicar outra religião, que segundo ele é muito
superior ao cristianismo: o budismo. Que é cem vezes mais realista que o
cristianismo. O budismo é a única religião positiva, pois não diz: Luta contra
o pecado, mas sim lute contra o sofrimento.
(P. 54) XXI. O budismo necessita de um clima agradável para se desenvolver e tem
com foco principal as classes mais altas e mais cultas. Busca a serenidade, o
silêncio e a ausência de desejos. O budismo não aspira somente à perfeição, a
perfeição é um caso normal.
(P. 55)
No cristianismo, os instintos dos servos e dos oprimidos colocam-se em primeiro
lugar. Os cristãos desprezam o corpo e até a higiene é rejeitada como sendo
sensualidade. Ser cristão é ter ódio contra os sentimentos, contra a alegria,
contra tudo em geral.
XXII. O cristianismo assim que se lançou sobre os povos
bárbaros encontrou um homem vigoroso, mas atrofiado. Para conquistar os
bárbaros o cristianismo adotou conceitos e valores bárbaros, torturando-os
corporal e espiritualmente. O budismo é uma religião para homens evoluídos e o
cristianismo é uma religião que pretende dominar homens ferozes e o meio que
ela utiliza é tornando-los doentes. O enfraquecimento é a receita para a
domesticação.
(P. 56) XXIII. O budismo é sincero e diz: eu sofro. O cristianismo
não é. E nada tem de digno para um bárbaro sofrer e ele precisa de uma
explicação para o fato de sofrer. Neste caso, a palavra Diabo foi uma benção,
pois se enfrente um inimigo poderoso e terrível e não há nada de vergonhoso em
sofrer nas mãos deste inimigo.
O cristianismo sabe que é indiferente se uma coisa é
verdadeira, mas da maior importância que ela seja considerada verdadeira, mesmo
não sendo. A verdade e a crença em que algo seja verdadeiro são antagônicos. Se
a crença é mais importante que a verdade, é dever da crença lançar descrédito
sobre a verdade. Para aqueles que sofrem é necessária uma esperança que a
realidade não possa contradizer.
(P. 57) XXIV. O cristianismo só pode ser compreendido a partir do
terreno em que se desenvolveu. O cristianismo é a própria conseqüência do
instinto judaico, além de um avanço na sua lógica do redentor de que a salvação
vem pelos judeus, E após transformar e acrescentar características estrangeiras
este redentor se transformou no salvador da humanidade. (P. 58) A igreja cristã
não passa de uma cópia do pensamento judeu.
(P. 60) XXV. Os hebreus, afrontando toda
realidade histórica transcreveram o seu passado nacional dando-lhe um sentido
religioso, fazendo de sua história um estúpido mecanismo de salvação.
E os filósofos apoiaram a mentira da “ordem moral universal”
que diz existir uma vontade de Deus que decide tudo o que um homem deve ou não
fazer e que o valor de um povo se mede por sua obediência.
Com isso o sacerdote usa do nome de Deus e chama de
reino de Deus uma sociedade onde ele, o sacerdote, fixa valores. Mas para que o
sacerdote tenha legitimidade ele precisa de uma revelação, ou seja, das
sagradas estruturas. A desobediência ao sacerdote, chama-se agora pecado e os
meios para se libertar do pecado só o próprio sacerdote pode dar.
(P. 62) XXVII. O pequeno movimento insurrecional, batizado com o
nome de Jesus de Nazaré é uma repetição do instinto judaico. O cristianismo
nega a igreja.
Nietzsche não sabe contra quem foi dirigida a rebelião
de Jesus, se não foi contra a igreja judaica, foi contra os santos de Israel,
contra a hierarquia da sociedade, contra o privilégio e a hierarquia dos
sacerdotes. Ou seja, um não contra todos os sacerdotes e a teologia que eram a
base que sustentava o povo judaico. Esse santo anarquista tornou-se um
criminoso político (se isso for possível) e por isso foi levado a cruz, por seus
pecados e não pelos pecados do mundo.
(P. 63) XXVIII. Outra questão é saber se Jesus tinha consciência de
suas contradições ou essa foi a única contradição de que tomou conhecimento.
XXIX. O que interessa a Nietzsche é o tipo psicológico do
Salvador. Este poderia estar contido nos Evangelhos, ainda que mutilado e sobrecarregado
de traços estranhos. Não se trata de saber o que ele fez, mas sim entender se
ele foi conservado pela tradição.
Renan explicou a psicologia de Jesus da forma mais
indevida possível: a de gênio e de herói. Muito pelo contrário ele apresentou
uma incapacidade de resistência, não odiou seus inimigos, todos são filhos de
Deus, etc... (P. 64) Equívoco maior ainda é dizer que Jesus foi gênio. O que
realmente se apresenta nos evangelhos é um ódio, uma repugnância a realidade, a
tudo o que é sólido.
(P. 65) XXX.O ódio instintivo contra a
realidade e a exclusão de toda a aversão, de toda a inimizade, de todas as
fronteiras e de todas as distâncias no sentimento são as duas realidades
fisiológicas sobre as quais e pelas quais se desenvolveu a doutrina de
redenção. O medo da dor só pode se desenvolver em uma religião do amor.
XXXI. O tipo de salvador foi conservado com grande
desfiguração. Sendo enriquecido por motivos de propaganda. Como em todas as
grandes venerações os traços particulares são apagados.
(P. 66)
Quando a primeira comunidade cristã teve necessidade de um teólogo justiceiro,
aguerrido, maliciosamente sutil e colérico para enfrentar outros teólogos,
criou o seu Deus, conforme as suas necessidades e encheu a boca dele de idéias
como a “volta de Cristo”, “o juízo final” e toda a espécie de esperanças e
promessas temporais.
(P. 67) XXXII. Nenhuma palavra do evangelho
pode ser levada ao pé-da-letra, isso para este antirrealista é a condição
prévia de todo discurso.
(P. 68) XXXIII. Não é a fé que distingue o cristão e sim seu modo de agir.
O cristão não oferece resistência aquele que se mostra contrário a ele, não se
aborrece com ninguém, nem despreza ninguém, etc. (P. 69) Não tinha mais
necessidades de ritos para se relacionar com Deus, pois sabe se sentir divino.
Só a prática evangélica conduz a Deus.
(P. 70) XXXIV. No evangelho falta toda a idéia de morte natural, a
morte não é uma ponte nem uma passagem. A hora da morte não é uma idéia cristã
e o reino de Deus é uma experiência do coração.
XXXV. Este gozoso mensageiro (Jesus) morreu, não para
salvar os homens, mas para demonstrar como se deve viver. O que ele legou à
humanidade foi a prática. Não se defender, não se encolerizar, não se queixar,
não resistir ao mal, mas amá-lo.
(P. 71) XXXVI. A humanidade ajoelha-se perante uma igreja que é ao
contrário de sua origem, de uma igreja oposta aos ensinamentos do evangelho.
Essa é uma grande ironia histórica.
XXXVII. A história do cristianismo é a história da
incompreensão, cada vez mais grosseira, do simbolismo original. Quanto mais o
cristianismo se espalha, mais ele se torna inculto, vulgariza-se e
barbariza-se. O destino do cristianismo encontrou-se na necessidade de se
tornar, enfermo, baixo e vulgar.
(P. 72) XXXVIII. Nietzsche sente um grande desprezo pelo homem
contemporâneo. Nos dias de hoje é indecoroso ser cristão. Todos sabem que os
sacerdotes não falam a verdade e que eles mentem não por ignorância ou
inocência. Todos os sacerdotes sabem que não existe Deus, nem pecado, nem
salvador, que o livre arbítrio e a ordem moral universal são mentiras.
(P. 73) As
noções de alma, além juízo final e imortalidade da alma são instrumentos de
tortura que os sacerdotes usam para dominar e manter seu poder, todos sabem
isto e apesar disso, nada mudou. Todos os atos do homem moderno são
anticristãos e mesmo assim ele não tem o menor pudor de se declarar cristão.
XXXIX. A própria palavra “cristianismo” é um equivoco, pois
no fundo só existiu um cristão, e esse morreu na cruz. O “o evangelho” morreu
na cruz. O que se chama de evangelho é o contrário do que cristo viveu. (P.
74) Ser cristão nada mais é do que uma ilusão psicológica.
(P. 75) XL. Assim que Jesus morreu os discípulos se perguntaram:
“Quem foi que o matou?”. “Quem era seu inimigo natural?”. E a resposta foi
simples: “Os judeus e a sua classe dirigente”. Então deram a Jesus esse traço
guerreiro e negativista que faltava a ele.
Com sua morte Jesus deu um exemplo de superioridade
sobre toda a idéia de ressentimento e isso prova que seus discípulos não o
compreendiam e queriam vingança.
(P. 76) XLI. Surgiu assim um problema: “Como podia Deus tolerar tal fato?”. E a
resposta de seus discípulos foi: Deus deu o seu filho em sacrifício para a
remissão dos pecados. Ah! Como terminou tão facilmente o evangelho. Jesus que
viveu em unidade entre Deus e o homem foi pouco a pouco transformado e toda a
idéia de salvação simples em algo que só se consolidada depois da morte. (P.
77) Paulo foi o responsável por isso, converteu o evangelho em uma
promessa irrealizável de imortalidade pessoal.
XLI. O cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada e o
principal culpado foi Paulo que encarnou o tipo oposto ao do alegre mensageiro.
(P.
78) Paulo queria o poder e inventou o juízo final e a fé na
imortalidade para arrebanhar os fieis.
XLIII. Quando se coloca o centro de gravidade da vida não
na vida, mas no além (no nada) tira-se da vida o seu centro de gravidade. A
grande mentira da imortalidade destrói toda a razão e todos os instintos. (P.
79) O cristianismo deve a sua vitória a bajulação pessoal, pois a fé na
salvação da alma leva a crer que o mundo gravita em volta do fiel. Basicamente,
o cristianismo é uma insurreição de tudo o que rasteja contra tudo o que é
elevado.
XLIV. Os evangelhos são um testemunho da enorme corrupção
que já acontecia no interior das primeiras comunidades cristãs. (P.
81) O cristão não passa de um judeu de confissão mais liberal.
XLV. Neste capitulo Nietzsche apresenta alguns trechos da
Bíblia e mostra exemplos de manipulação. Autor ainda faz pequenos comentários a
cada versículo analisado. (P. 83) Fica claro que Paulo era o
apóstolo da vingança.
XLVI. Que se deduz de tudo isto? Que para ler o novo
testamento é conveniente calçar luvas diante de tanta sujeira. (P. 84)
No novo testamente, tudo é covardia, olhos fechados, engano voluntário.
(P. 85) XLVII. O Deus, tal como Paulo criou, é a negação de Deus.
Uma religião como o cristianismo, que não toca a realidade em ponto algum é um
inimigo mortal da sabedoria do mundo (ciência). A fé é um veto contra a
ciência. Paulo compreendeu que a mentira (fé) era necessária. E a igreja mais
tarde compreendeu Paulo.
(P. 86) XLVIII. Para a Bíblia e para Deus existe apenas um grande
perigo: A mulher fez o homem comer o fruto da árvore da ciência e que sucedeu? O
Deus do Antigo Testamento entrou em pânico. O homem tornou-se seu rival, com a
ciência o homem se torna igual a Deus. Moral: a ciência é proibida, a ciência é
pecado. “Tu não conhecerás nada”.
(P. 87) XLIX. O inicio da Bíblia contém toda a psicologia do sacerdote:
a ciência é um perigo. E como a ciência apenas se desenvolve em boas condições,
os sacerdotes tornaram o homem infeliz criando o pecado. (P. 88) O sacerdote reina
pela invenção do pecado.
L. Existe entre os cristãos um critério de verdade
chamado “prova de força”. “A fé salva” logo é verdadeira. Sendo que esta
salvação não é demonstrada, mas apenas prometida. Dizem a fé salva logo é
verdadeira, para Nietzsche a fé salva logo ela mente!
(P. 89) LI. O sacerdote nega seus instintos, ele nega que a doença (cristianismo)
seja uma doença, que a casa de doidos seja casa de doidos. O cristianismo tem
necessidade da doença como o grego tinha necessidade de saúde.
O cristianismo quer transformar o mundo em uma casa de
doidos. Os valores mais exaltados pela igreja, são os valores epiléticos. O
catolicismo canonizou apenas desequilibrados e facínoras. (P. 90) O cristianismo
dirigiu o rancor dos doentes contra os saudáveis, contra a saúde. Tudo o que é
bem formado, orgulhoso, soberbo, belo incomodava os olhos e ouvidos. (P.
91) Segundo Paulo o cristianismo foi uma vitória. Para Nietzsche foi a
maior desgraça a cair sobre a humanidade.
LII. O cristianismo também é contra toda a boa
constituição intelectual, pois ela apenas admite idiotas. A dúvida já é um
pecado. A fé é querer ignorar aquilo que é verdadeiro.
(P. 92) LIII. A morte de mártires foi uma grande desgraça na história, pois ela
seduziu. (P.93) Os espíritos
fracos deduziram que se uma causa é tão nobre que pode levar ao martírio ela
tem valor. Os mártires prejudicaram a verdade. O sangue não é argumento, o
sangue é sedução.
LIV. Os grandes espíritos são céticos. Zaratustra é um
cético. (P. 94) A convicção é uma prisão. O homem de convicção tem a
sua espinha dorsal na fé. Não ver certas coisas, não ser independente, sempre
ter um partido a defender. O crente não possui a liberdade de ter uma
consciência para a questão do verdadeiro e do falso.
(P. 95) LV. As convicções são as inimigas mais perigosas da verdade que as
mentiras. Toda a convicção tem a sua história, a sua forma primitiva. Uma
mentira de muito tempo tornasse uma convicção. Mentira é o ato de negar a ver
as coisas com são. A mentira mais comum é a que cada um diz a si mesmo. Mas não
querer ver o que se vê, não querer ver como se vê, é a condição primordial de
quem toma partido e o homem de partido é um homem mentiroso.
(P. 96) Os
sacerdotes são muito astutos na arte de mentir e para isso introduziram a idéia
de Deus. Deus esta acima da compreensão humana e não pode ser contestado.
(P. 97) LVII. Quando se compara os fins cristãos com os fins da lei
de Manu fica claro a irreligiosidade do cristianismo. O código de Manu é
elaborado com todos os bons códigos: embasados com experiências do próprio povo
e serve como um guia de leis. Opondo-se ao sistema cristão que de um lado tem a
revelação que afirma que essas leis não são de origem humana, que tem origem
divina sendo um presente, um milagre.
(P. 98)
Do outro lado, a tradição, isto é, a afirmação de que a lei existiu desde
tempos imemoriais e que a pôr em dúvida seria uma falta de respeito.
O código de Manu concede a um povo o direito de ser
mestre de sí mesmo. (P. 99) Esse código separa os homens em castas, o que segundo
Nietzsche é bom e apenas obedece a natureza. Os homens deveriam ser divididos
em três castas: Os de preponderância intelectual, os de preponderância muscular
e os que não se distinguem por preponderância alguma. Os terceiros são maioria,
os primeiros elites e devem ser tratados com tal.
Os intelectuais imperam graças as suas habilidades administrativas.
Os segundos são os guardiões de direito, os administradores da ordem e da
segurança, o elemento executivo dos intelectuais.
(P. 100) A
organização da sociedade é baseada em castas, pois, a natureza atua assim. A
desigualdade dos direitos é a primeira condição para a existência dos direitos.
Um direito é um privilégio.
E os medianos devem se ocupar com as atividades
cotidianas como o comércio, o trabalho, a agricultura, etc. Para o medíocre, a
mediocridade é uma felicidade. Nietzsche termina o capitulo criticando os
socialistas e os anarquistas, pois, estes ensinam aos medianos (operários) a
inveja e a vingança. A injustiça não se encontra nunca nos direitos desiguais;
encontram-se na pretensão aos direitos iguais.
LVIII. É necessário saber porque se mente, pois é muito
diferente, se se mente para conservar ou para destruir. (P. 101) Os anarquistas
e os cristãos são destruidores. Ambos têm por instinto o ódio contra tudo o que
é grande, tudo o que promete futuro.
(P. 102)
O cristianismo foi o vampiro do Império Romano. A organização era bastante
forte para suportar maus imperadores, mas não foi capaz de suportar o cristão.
Todo o império era baseado no pensamento de Epicuro até que apareceu Paulo.
Paulo o ódio contra o mundo feito de carne, Paulo o judeu errante que conseguiu
atear um incêndio universal com um pequeno grupo cristão.
(P. 103) LIX. As civilizações Gregas e Romana tão avançadas, tão evoluídas foram
destruídas, não por um cataclisma da natureza, não pelos germanos, mas sim
pelos vampiros astutos. Essas civilizações não foram vencidas, mas esgotadas.
Se o islamismo despreza o cristianismo, tem mil razões para isso; o islamismo
tem homens por condições primárias.
LX. O cristianismo fez-nos perder a herança da cultura
antiga, fez-nos perder mais tarde a herança da cultura do islamismo na
península Ibérica.
(P. 105) LXI. Os alemães impediram na Europa a última grande colheita de cultura que
é possível alcançar: a da renascença. A tentativa de transmutação dos valores
cristãos. Mas o que aconteceu? Um frade alemão, Lutero chegou a Roma este
desgraçado se rebelou contra a renascença. Graças a Lutero surgiu a forma mais
suja de cristianismo...o protestantismo.
(P. 107) LXII. O cristianismo é a maior corrupção que já surgiu. Para Nietzsche o
cristianismo é a imortal desonra da humanidade. E por isso Nietzsche finaliza:
Transmutação de todos os valores!
Referências:
NIETZSCHE; Friedrich: “O
Anticristo”. São Paulo - SP, ed Martin Claret, 2006