(P.35) As estatísticas
demográficas da colônia são extremamente escassas. Não havia coleta regular de
dados e elas (quando eram feitas) se faziam para apenas dois fins: um eclesiástico
e outro militar. Ambos sujeitos a falhas e sonegações.
Soma-se isso ao desleixo da
administração pública, tanto civil quanto eclesiástico e militar. Ao que
parece, apenas no século XVIII a metrópole cogitou a organização de um
levantamento estatístico.
(P.36)
Caio
Prado Júnior avalia a população brasileira, ao dobrar do século XVIII, em cerca
de 3 milhões de pessoas, distribuídas irregularmente pela colônia.
Existiam alguns núcleos
densamente povoados, mas separados uns dos outros por largos vácuos de
povoamento ralo. Sendo evidente a semelhança existente entre o povoamento desta
época e do atual (1942), salvo a densidade demográfica.
Quando em 1750 se fez o Tratado
de Madri, fez-se seguindo fronteiras grosseiramente parecidas com as de hoje. O
critério utilizado foi que: cada parte ficaria com quem as possuísse no
momento.
(P.37)
Ou
seja, a linha que envolve o território Brasileiro, saiu do princípio de posse útil,
e permaneceu praticamente a mesma até nossos dias.
Isto já nos mostra, como de fato
a colonização portuguesa ocupará toda está área imensa que constituirá nosso país.
Os fatores que determinaram esta
dispersão do povoamento são múltiplos: o primeiro é a extensão da costa que
coube a Portugal no Tratado de Tordesilhas. O que forçou a colonização simultânea
de vários pontos ao mesmo tempo. E apesar do fracasso das Capitanias, elas
acabaram por garantir a posse portuguesa do longo litoral.
O segundo foi à expansão rumo ao
interior feita pelos bandeirantes que buscavam índios, metais e pedras
preciosas. O bandeirante explorou a terra e repeliu eventuais avanços espanhóis.
Mais tarde ocorreram explorações
das minas descobertas sucessivamente a partir dos últimos anos do século XVII,
o que acabou por levar uma massa humana para o coração do continente, em
especial as regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Na bacia amazônica, há outro
fator fixador de núcleos humanos: as missões jesuíticas católicas
catequizadoras. Sendo a mais atuante a famosa Companhia de Jesus.
O nordeste é ocupado em geral por
vaqueiros e seus rebanhos.
(P.38)
Esta
ocupação portuguesa rumo ao interior do continente, foi possível graças a inércia
dos espanhóis, que se fixaram nos altiplanos andinos, fonte de metais
preciosos, e de lá não saíram. O português pelo contrário, não encontrou logo
de imediato esses elementos e foi praticamente obrigado a se lançar rumo ao
interior.
Prado Júnior ainda destaca que geograficamente
o interior do continente sul americano se abre para o Atlântico e não para o
Pacífico, graças ao relevo dos Andes.
(P.39) No século XVIII
cerca de 60% da população vivia próxima ao litoral. Cerca de 2 milhões de
pessoas. Este desequilíbrio entre o litoral e o interior exprime muito bem o
caráter da colonização: agrícola, dando preferências as zonas férteis e úmidas
próximas ao mar. O povoamento do interior só começa no segundo século, mesmo
assim ainda de forma muito tímida.
Os bandeirantes andaram por toda
a parte, mas como exploradores e não povoadores. A dispersão ocorre de forma
efetiva quando o ouro é encontrado em Minas Gerais (fins do século XVII), Cuiabá
(1719) e Goiás 6 anos depois.
Afluem então para o interior,
levas e levas de povoadores. Estes provenientes diretamente da Europa, também escravos
africanos, mas principalmente colonos que viviam da agricultura no litoral. Esse
êxodo encerra o primeiro ciclo de prosperidade, que até o momento vinha tão
brilhante e promissor.
(P.40)
A
febre do ouro dura pouco. Em alguns casos esse migração se inverte e os homens
se voltam para o litoral e a agricultura, aos poucos, se recupera.
Essa busca pelo ouro ainda não havia
sido suficiente para de fato colonizar o interior do país.
A colonização do litoral, contudo
não era contínua graças a sua própria geografia e condições naturais. As zonas
habitadas eram distantes umas das outras por longos territórios desertos. Nesta
época existiam apenas 3 regiões que reunissem todas as condições necessárias
para um denso povoamento humano: uma área que vai do Rio Grande do Norte a
Maceió, o Recôncavo Baiano e o Rio de Janeiro.
(P.42)
Fora
estes 3 grandes polos demográficos, existiam pela costa uma série de pequenos e
médios povoados, sem grande importância econômica.
No restante do capitulo, o autor
analisa desde o Oiapoque ao Chuí (não é força de expressão, ele realmente desce
por toda a costa brasileira, tendo este dois pontos como referência) mostrando
o porquê destas áreas terem disso tão debilmente povoadas.
Fonte: PRADO JÚNIOR,
Caio: Formação do Brasil Contemporâneo.
São Paulo. Ed Brasiliense. 7ª reimpressão, da 23ª edição de 1994. Pág 35-54.