Obra máxima de Thomas
More, A Utopia conta como é a vida na república perfeita.
O autor.
Thomas Morus é a
forma latinizada de se referir ao nome do escritor inglês Thomas More. Nascido
em Londres entre os anos 1477 e 1478 (não há data precisa) de pais também
londrinos pertencentes à nova classe urbana em ascensão. Recebeu boa educação e
formou-se em direito. Casou-se com Jane Colt e teve quatro filhos, após o
falecimento desta Morus casou-se novamente, desta vez com Alice Middleton...
Participou de várias
missões diplomáticas e comerciais e em 1518 durante sua primeira estada em
Flandres escreveu sua mais célebre obra, A Utopia. Ironicamente More a escreveu
em Latim, pois alegava que isso limitaria o número de leitores àqueles que
pudessem efetivamente compreender a complexidade de suas ideias.
Em 1521 foi feito
cavaleiro. Em 1532 começou a cair em desgraça; opondo-se não ao rei Henrique
VIII, mas ao seu rompimento com o papa. More recusou-se a assistir à coroação
de Ana Bolena e a assinar a Lei de Sucessão. Acusado de traição, foi preso e
decapitado em 6 de julho de 1535. Antes de morrer, mostrou-se extremamente
religioso e fiel aos dogmas da Igreja. Tanto que foi canonizado como santo da
Igreja Católica em 9 de maio de 1935. Sendo o dia 22 de julho o dia de São
Thomas More, patrono dos políticos e dos governantes.
A Obra.
Essa é uma obra de
Ficção, dividida em duas partes, sendo a segunda dividida em oito capítulos. Na
primeira parte More faz uma devastadora crítica à situação política e social da
Inglaterra. Na segunda ele nos transporta para a Utopia, onde reina uma
sociedade ideal, que aboliu o dinheiro e abomina a Guerra.
Em A Utopia, More
utiliza-se de fatos reais e os mistura com a fantasia com tanta maestria que
para o leitor é difícil separar onde começa uma e termina a outra.
Simbolicamente, a
ilha de Utopia é a antítese da ilha da Inglaterra. Trata-se de uma fábula na
qual estão inseridos os princípios da sociedade humana, perfeita. Sociedade
fundamentalmente racional que se autorregula contra os males a as injustiças.
Muitos pensadores, cada qual a sua maneira, já se debruçaram e analisaram essa
obra-prima mundial entre eles Hegel e Marx.
O inegável é que essa
obra atravessou o tempo e graças a este livro, a palavra Utopia entrou em nosso
dicionário. Ganhamos assim um dispositivo crítico, o chamado pensamento utópico
que consiste em sempre submeter as sociedades concretas ao julgamento promovido
por nossos ideais de felicidade.
A Utopia.
Livro Primeiro: Da
comunicação de Rafael Hitlodeu. (pág. 09-36)
More é um dos
personagens do livro e inicia explicando a todos que estava em Flandres,
acompanhado por Cuthbert Tunstall, a mando do rei Henrique VIII, para resolver
divergências entre ele e o príncipe Carlos de Castela. Como as negociações não
andavam e os representantes da Espanha foram a Bruxelas, Morus resolveu ir para
a Antuérpia e lá conheceu Pedro Gil um antuerpiense de grandes qualidades.
Um dia após sair da
missa, More encontrou-se com Pedro Gil que prontamente lhe apresentou um amigo
chamado Rafael Hitlodeu. Muito animado Pedro Gil disse a More que este conhecia
diversos povos e países diferentes.
More se surpreende
pelo fato de existirem sociedades organizadas fora da Europa e Rafael continua
afirmando que existem instituições tão ruins quanto às europeias, mas existem
instituições e leis tão boas que podem ajudar a regenerar as nações do velho
continente.
Após Hitlodeu dizer
que nunca trabalharia junto a rei nenhum a conversa partiu para a questão das
penas aplicadas aos ladrões da Inglaterra. Todas que eram pegos furtando ou
roubando eram condenados a forca, entretanto essa pena é bastante cruel para
punir e bastante fraca para impedir que o roubo aconteça, pois mesmo com tão
dura pena, a Inglaterra continuava cheia de bandidos. Ao invés de simplesmente
matar os que roubam, não seria melhor garantir a subsistência de todos a fim de
que ninguém seja obrigado a roubar para se alimentar. A culpa é da nobreza que
cria uma enorme massa de vassalos ociosos esperando usá-los em uma guerra.
O outro motivo para o
grande número de ladrões na Inglaterra são os inumeráveis rebanhos de
carneiros. A disputa pelas terras entre pequenos camponeses e grandes criadores
leva sempre a derrota do primeiro. Os camponeses que trabalham na agricultura e
tem imensas famílias (para se tratar da lavoura é necessária muita mão-de-obra)
perdem as suas terras que são transformadas em pastagens. As pastagens não
absorvem toda essa mão-de-obra, e eles então são obrigados e se mudar para a
cidade, onde para não morrer de fome roubam e são enforcados. Sendo injusto
matar um homem por ter tirado o dinheiro de outrem, pois a sociedade não é
organizada de forma a garantir a cada um uma igual porção de bens. A execução é
ainda mais temerosa para a sociedade, pois o bandido percebe que não há menos a
temer furtando do que assassinado e aterrorizado com a expectativa da forca
torna-se um assassino.
O melhor sistema
penitenciário é o dos polileritas [1], nação
dependente da Pérsia. Não possuem nem exército nem nobreza, vivem na paz e na
abundância. Quando alguém é apanhado furtando é obrigado primeiramente a
restituir o furto ao prejudicado e depois a trabalhos públicos. Quando
necessário aplicam-se castigos físicos aos preguiçosos. Os que cumprem bem o
seu dever não sofrem qualquer meu trato e ao fim do dia são conduzidos a cadeia
onde passam a noite. Há lugares onde os condenados são alugados e recebem
salário.
Os condenados vestem
a mesma roupa e tem metade da orelha decepada para o reconhecimento. Não
poderem receber dinheiro, se reunir e muito menos tocar em armas, sendo estes
crimes punidos com a morte. A fuga torna-se impraticável e a única maneira de
um dia se recobrar a liberdade é pelo bom comportamento.
Ainda resistindo à ideia
de trabalhar junto a algum rei, Hitlodeu expõem seus motivos. Segundo ele,
mesmo que trabalhasse em algum reino jamais seria ouvido, pois a ganância real
e a paixão pela guerra é algo gigantesco e para ilustrar essa ideia ele usa o
exemplo dos acorianos [2] nação
vizinha a Utopia.
O rei dos acorianos
fez guerra a um reino vizinho que logo foi subjugado, mas o rei então percebeu
que a conservação seria mais onerosa e difícil do que a própria conquista.
Revoltas de todos os tipos eram reprimidas pelo exército que deveria estar
sempre em prontidão. As diversas desordens ocorreram porque o príncipe era
obrigado a dividir suas atenções entre dois reinos, não conseguindo administrar
bem nem um nem outro. O povo de seu reino revoltou-se e o obrigou a escolher.
Este por sua vez continuou em seu reino e cedeu o conquistado a um amigo que
foi expulso rapidamente.
E Hitlodeu continua
sua análise de como um bom governante deve ser. Um bom rei deve honrar seu povo
e pensar mais na felicidade deles do que em sua própria. Os homens criaram os
chefes para que pudessem viver comodamente ao abrigo da violência e é dever de
um príncipe zelar por seu povo. A riqueza do povo não compromete o poder real,
pelo contrário é preferível reinar sobre um povo rico a um povo pobre, pois os
últimos não têm nada a perder. Sendo a quantia guardada nos cofres públicos
suficientes somente para os momentos de crise e não para o desfruto do rei. E
finaliza observando que nenhum rei da Europa jamais o ouviria, pois, a
filosofia não tem acesso na corte dos príncipes.
Onde a propriedade é
privada e as coisas são medidas pelo dinheiro não há organização nem justiça.
Em Utopia há poucas leis porque toda a riqueza nacional é igualmente repartida.
Na Europa existem centenas de leis e mesmo assim não bastam para que um indivíduo
posso adquirir, defender e distinguir sua propriedade da do vizinho. Sendo que,
a única forma viável de trazer felicidade e igualdade ao homem é abolindo a
propriedade. Todas as outras formas são paliativas.
Utopia é uma
civilização muito antiga, tem aproximadamente 1.200 anos e nunca havia entrado
em contato com o Velho Mundo, a não ser quando um navio que transportava
egípcios e romanos afundou em sua costa e seus sobreviventes lhes ensinaram
tudo o que conheciam sobre as ciências e as artes.
Nesse ponto Rafael
Hitlodeu decide fazer um relato minucioso de toda a ilha de Utopia.
Livro Segundo: Da
comunicação de Rafael Hitlodeu. (pág. 37-103)
A ilha tem um formato
de semicírculo de quinhentas milhas de arco, apresentando forma crescente,
formando duas penínsulas afastadas por onze mil passos. Essa barreira quebra a
força dos ventos transformando o mar em uma espécie de lagoa tranquila, ótimo
para a utilização do único porto da ilha. A entrada do golfo é perigosa por
seus muitos bancos de areias e rochedos, sendo praticamente intransponível por
navios inimigos, para sua transposição é necessário a utilização de um guia
utopiano e dos faróis costeiros.
Utopus foi primeiro a
se apoderar desse território, que ganhou seu nome. A ilha antes era ligada ao
continente e ele então decidiu separá-la, cortando-a com a ajuda dos índios e
de seu exército.
A ilha tem 54
cidades. Todos os anos três velhos sábios são escolhidos deputados em cada
cidade e vão à capital Amaurota, a fim de tratar dos negócios do país.
Há um mínimo de terra
estipulado para a agricultura. E seus habitantes se olham como rendeiros e não
como proprietários do solo. A família agrícola é formada por quarenta pessoas,
sendo dois escravos. Trinta famílias são dirigidas por um Filarca. E todos os
anos vinte cultivadores de cada família regressam à cidade depois de cumprir
seus dois anos de serviço agrícola, sendo substituídos por outros vinte.
Os utopianos criam
diversos animais de trabalho e de abate, transformam cereais em pão e frutas em
bebida e o excedente é comercializado com os países vizinhos. Quando falta
algum utensílio é só pedir para algum magistrado na cidade que este é entregue
de graça e sem nenhum atraso. Em época de colheita os moradores da cidade
ajudam e esta é feita em apenas um dia.
Das cidades da Utopia
e Particularmente de Amaurota.
Todas as cidades são
praticamente iguais, então aqui será descrita somente a capital. Amaurota fica às
margens do rio Anidra e de outro pequeno rio que abastece a cidade através de
uma rede de canos de barro e cisternas. A cidade é cercada por muralha e
fossos. As ruas e praças são largas e espaçosas, as casas são de posse comum e
seus habitantes se mudam a cada dez anos.
Dos Magistrados.
Trinta famílias
elegem todo ano um filarca. Dez filarcas obedecem a um protofilarca.
Mil e duzentos filarcas escolhem um príncipe entre os quatro
propostos pelo povo. O principado é vitalício, mas o príncipe pode ser deposto
a qualquer momento que se suspeite de tirania.
A cada três
dias os protofilarcas se reúnem com o príncipe para deliberar
sobre negócios do país. Assistido de perto por dois filarcas,
trocados a cada sessão. Reunir-se fora das assembleias é crime punido com a
morte, isto se faz com o intuito de impedir a conspiração.
Quando uma proposta é
feita é proibida sua discussão no mesmo dia, transferindo-a para a sessão
seguinte. Isso evita decisões precipitadas.
Das artes e dos
Ofícios.
Todos os Utopianos
aprender a arte da Agricultura desde crianças na escola. E também aprendem um oficio [3] especial. As roupas têm forma única e são
confeccionadas pelas próprias famílias. Em geral um filho aprende a profissão
do pai, mas caso tenha aptidão por outra pode aprendê-la, sendo permitido,
também, a alguém que já possua uma profissão aprender outra.
O filarca é
encarregado de não permitir que ninguém se entregue ao ócio. E a jornada de
trabalho diária dos utopianos é de apenas seis horas, três antes e três depois
do almoço. Todas as manhãs os cursos públicos são abertos e somente os
destinados as letras são obrigados a fazê-lo, mas todos têm o direito de
assisti-lo. À noite antes de dormir os utopianos se divertem com música,
conversa ou jogos de raciocínio.
Às seis horas de
trabalham são extremamente suficientes para as necessidades do consumo público
e ainda supera em muito o exigido, produzindo um excedente. Isso acontece
porque em Utopia todos trabalham, diferente da Europa. Além de que em Utopia
tudo o que se produz segue a ideia da utilidade. Em toda Utopia existem apenas
um número ínfimo de pessoas, com boas condições físicas, que não trabalham:
os filarcas e os estudantes. É entre esses estudantes
(letrados) que se escolhem os embaixadores, os padres o príncipe, etc.
Outro fato que
explica como pouco trabalho rende tanto é a conservação. Casas, roupas,
tecidos, etc. duram muito tempo e não é raro a produção ser suspensa por alguns
dias para se evitar trabalho inútil.
Das relações Mútuas
entre os cidadãos.
A cidade se compõe
por famílias. A uma moça em idade apropriada é-lhe um marido e ambos vão morar
com a família do homem. A família é comandada pelo mais velho. Cada cidade é
formada por seis mil famílias, quando uma família cresce demais, o excedente é
realocado em outra família. Quando uma cidade tem muita gente, deslocasse para
as menos povoadas. Se a ilha se tornasse superpopulosa decretar-se-ia a
imigração geral. Incorporando ou expulsando os povos que ali viviam. E caso
alguma peste diminuísse a população de Utopia, os colonos voltariam a terra
mãe.
A autoridade familiar
é exercida baseada no sexo e na idade. A cidade é dividida em quatro
quarteirões iguais e no centro de cada quarteirão existe um mercado com o
necessário. O pai de família vai até o mercado e retira tudo o que precisa sem
pagar um centavo. Em Utopia não existe a ganância e ninguém pega mais do que o
necessário.
Em cada rua estão
dispostos enormes palácios onde moram os filarcas. Suas trinta famílias
são vizinhas e é no palácio que fazem as refeições.
Em torno da cidade
existem quatro hospitais com ótimo atendimento, isolamento e estoque de
remédios.
Os escravos são
encarregados dos trabalhos mais penosos, como o abate de animais, e o trabalho
sujo da cozinha. As refeições nos palácios dos filarcas são
fartas e cheias de regras morais, sociais e de respeito.
Das viagens dos
Utopianos.
Quando um cidadão
deseja viajar por qualquer motivo, ele deve informar as autoridades e caso não
haja nenhum impedimento tudo lhe é provisionado. Muitos dispensam as provisões
e andam sem nada, pois onde estiverem poderão se alimentar e dormir com
segurança. Se o viajante passar mais que um dia em uma localidade terá que
trabalhar em seu ofício. Aquele que sem autorização deixar sua cidade será
tratado como criminoso.
Em Utopia não existem
tabernas, prostituição, seitas secretas, mendigos e miséria.
Os deputados reunidos
em Amaurota, levantam as estatísticas econômicas da ilha, procurando regiões em
dificuldade. Localizadas, há uma regulação estabelecendo o equilíbrio econômico
entre as cidades.
Toda a produção é
guardada de forma a abastecer dois anos. Para o caso de más colheitas. O
restante é exportado a baixos preços, possibilitando a ilha ter dinheiro para
comprar produtos que não existam nela, como o ferro, o ouro e a prata. Acumulam
esses metais para o caso de uma eventual guerra, pagando mercenários para
morrer no lugar dos utopianos.
Como não existe
dinheiro em Utopia os utopianos acham o ouro e a prata um metal de pouca
serventia. Eles sabem o valor que esses metais têm para outros povos, por isso
não o descartam, mas fazem com ele vasos, cadeias e correntes para os escravos.
Nas ciências e na
filosofia estão no mesmo patamar dos Europeus. Tendo como fio condutor de sua
filosofia a busca pela felicidade. A filosofia e a religião dos utopianos
pregam a felicidade boa e honesta acima de tudo. Viver como manda a natureza e está
prega que se leve uma vida honesta e agradável.
Os utopianos odeiam
maníacos por nobreza, pessoas que se acham melhores que as outras por possuírem
mais bens. Eles são classificados junto aos amadores de pedrarias e os
avarentos como maníacos. Os utopianos não praticam nem a caça nem os jogos de
azar eles preferem os prazeres verdadeiros do corpo e da alma: os prazeres da
alma estão no desenvolvimento da inteligência e na contemplação da verdade, os
prazeres do corpo se dividem em dois, a busca pela satisfação das necessidades
corporais e a busca pela saúde.
Acredita-se que os
utopianos são gregos de origem, apesar de seu idioma se aproximar do persa, sua
escrita tem traços da língua grega. Rafael Hitlodeu ficou espantado com o
interesse dos letrados utopianos pela filosofia grega e levou-lhes inúmeras
obras de filosofia, poesia, história, dicionários, medicina etc. Hitlodeu
ensinou-lhes a fabricar e imprimir papel e hoje, apesar de só possuírem os
livros deixados por ele, já os multiplicaram aos milhares.
Os estrangeiros
são bem recebidos em Utopia graças à curiosidade dos utopianos sobre o
exterior. O comércio para a ilha é atrai pouca gente porque a única coisa que
falta é ferro. Já a exportação é feita pelos próprios habitantes da ilha.
Dos escravos.
Somente se tornar
escravos prisioneiros de guerra capturados com armas na mão, criminosos e
condenados à morte no estrangeiro. Seus filhos nascem livres e os escravos
estrangeiros tornam-se livre em Utopia. Todos os escravos são submetidos a
trabalhos contínuos, sendo os indígenas submetidos aos piores trabalhos e
tratados com maior rigor.
Existem ainda os
escravos voluntários. Trabalhadores pobres das regiões vizinhas que se oferecem
voluntariamente para o trabalho. São homens livres e podem ir embora quando
quiserem.
Todos os homens têm
assistência médica garantida, entretanto, quando a cura é impossível os padres
lhe dão a benção e o enfermo decide se comete suicídio ou não. O homem que se
mata sem motivo é julgado indigno de uma sepultura sendo então atirado no
pântano.
As mulheres só podem
se casar depois dos 18 anos e os homens depois dos 22. O sexo antes do
casamento é censurado e caso isto aconteça à família fica desonrada. Os
utopianos não se casam completamente às cegas. Um pretendente se apresenta ao
outro completamente nu, para que ambos se analisem, buscando ver alguma
deformidade física.
O casamento em Utopia
quase nunca é desfeito, a não ser pela morte de um dos conjugues. Em caso de
adultério, o traído tem direito a se casar novamente e o adultero pena o resto
da vida na infâmia, na escravidão e no celibato. Quando há uma
incompatibilidade muito grande de gênios entre o casal, estes vão ao senado
pedir o divórcio e este por sua vez decide se autoriza ou não. A reincidência
do adultério é punida com a morte.
A escravidão é a pena
ordinária para a maioria dos crimes, pois se acredita que esta seja melhor que
a execução. Quando os condenados escravos se revoltam são rapidamente
sacrificados. Os escravos de bom comportamento podem a qualquer momento receber
a liberdade.
Os utopianos, como já
foi dito, vivem em família e os magistrados não são nem orgulhosos nem
terríveis, até mesmo o próprio príncipe se distingue da massa apenas por um
feixe de trigo que traz à mão.
As leis são em muito
pequeno número e bastam para as instituições. Consideram como injustiça suprema
enlear os homens com uma infinidade de leis. Não existem advogados em Utopia,
os utopianos expõem suas diferenças diretamente ao juiz que usa do bom senso e
da boa-fé para dar a sentença. Como as leis são poucas todos as conhecem e elas
funcionam somente para advertir sobre seus direitos e deveres.
Os povos vizinhos,
atraídos pela sabedoria das instituições de Utopia, pedem magistrados para
passarem cinco anos em seu país a fim de lhes servirem de consultor.
Os utopianos não
assinam nenhum tratado, pois acreditam que o homem está unido ao homem de uma
maneira mais intima e mais forte pelo coração e pela caridade do que pelas
palavras e protocolos.
Da guerra.
Os utopianos abominam
a guerra, mas estão prontamente preparados para ela. Todos os cidadãos se
exercitam à espera do momento de combater. Utopia só entra em guerra por
motivos muito graves como proteger suas fronteiras, a de seus aliados e para
libertar um povo de seu tirano.
Após todas as
negociações falharem e a guerra é declarada, utopianos secretamente pregam
cartazes no país inimigo oferecendo gorda recompensa a quem matar o príncipe
inimigo e seus ministros. Induzindo muitas vezes a traição gerando um
sentimento de insegurança dentro da corte. Isso garante que uma guerra acabe
sem mesmo ter começado.
Se isto não funcionar
os utopianos semeiam a discórdia prometendo a algum poderoso do país inimigo
todo o reino. Isto faz as facções internas entrarem em conflito.
Mas caso a guerra
seja realmente necessária, a república de Utopia alicia mercenários entre
os zapoletas, povo vizinho nascido para a guerra. Além destes,
os utopianos utilizam-se dos exércitos dos Estados que defendem e só em último
caso utilizam seu próprio exército. Nenhum cidadão é obrigado a se alistar, só
em caso de extrema necessidade como em uma invasão em solo utopiano. Neste
momento famílias inteiras, homens e mulheres vão para as frentes de batalha.
Isto estimula a luta e a proteção mutua. Uma vez vitoriosos, os utopianos
transformam os vencidos em escravos.
Os utopianos
respeitam muito as tréguas com o inimigo mesmo que este os provoque. Não
destroem as plantações dos inimigos, não matam homens desarmados, nem pilham
suas cidades, apenas prendem o líder e o condena a escravidão. Só em medida
extrema fazem guerra em sua ilha e não há necessidade no mundo que force os
utopianos a deixar entrar na ilha socorro de tropas estrangeiras.
Das religiões da
Utopia.
Existem várias
religiões em Utopia, algumas idolatram o sol, outros a lua, um antepassado, mas
a maior parte dos habitantes acredita em um Deus único a quem o chamam de pai.
Apesar de suas diferenças todos os utopianos concordam que existe um ser
supremo, criador de tudo e de todos. Estas superstições tendem, dia a dia, a
desaparecer e a se converter em uma única religião.
Quando Hitlodeu lhes
ensinou sobre Cristo e seus apóstolos os utopianos ficaram muito curiosos e
admirados. Alguns prontamente se converteram ao cristianismo, mas com a falta
de um padre não puderam ser batizados. Há uma grande tolerância religiosa na
ilha, uma das leis mais antigas proíbe prejudicar alguém por sua religião.
Sendo severamente penalizado apenas o ateu que pensa que a alma morre com o
corpo e o mundo marcha ao léu.
Em oposição ao
materialismo ateu, existe um sistema inteiramente diferente e como não é
perigoso pode ser professado livremente. Eles acreditam que todos os seres
vivos têm alma e elas são imortais como a do homem.
A maioria dos
utopianos acredita na vida após a morte. E por isso não temem morrer e chora-se
pelos doentes e nunca pelos mortos. Venerando e louvando aquele que sabe morrer
com dignidade.
Acreditam em milagres
e na proteção e vigilância dos antepassados. Creem alguns no poder da oração e
outros nas boas ações. São divididos em duas classes uns se abstém de todos os
prazeres da carne esperando a vida após a morte, outros se apegam a todos os
prazeres em vida, os utopianos consideram os últimos mais sábios e os primeiros
mais santos.
Esses religiosos são
designados pelo nome de butrescos, e existem em pequeno número. Os
padres, assim como os magistrados são eleitos pelo povo da cidade. São os
vigilantes da ordem e dos bons costumes. A excomunhão é o maior suplicio de
todos e caso o excomungado não se arrependa pode ser preso e penalizado.
A educação inicial
das crianças está nas mãos dos religiosos que ensinam a moral e a virtude. Os
padres são extremamente venerados, respeitados e protegidos, seu pequeno número
se explica pelo fato de ser mais fácil protegê-los, além da dificuldade de se
achar jovens de tão completa perfeição.
Os padres de Utopia
são respeitados até mesmo em outros países devido a sua santidade e não é raro
que em momentos de dificuldades eles sejam mais eficazes do que o exército.
Apesar das diferentes
crenças, todas são praticadas no mesmo templo. Sempre buscando a harmonia entre
todas as religiões. Nesse momento Hitlodeu expõe como ocorre um desses cultos.
Para finalizar
Hitlodeu afirma que está é a única verdadeira república do mundo, onde os
interesses coletivos estão à frente dos interesses pessoais. Em Utopia tudo
pertence a todos e não falta nada a ninguém, a fortuna do Estado é dividida
igualmente entre todos e os inválidos de hoje que trabalharam ontem tem todos
os seus direitos assegurados pelo Estado.
Não existem
repúblicas como Utopia, as de hoje são apenas uma conspiração de ricos que
buscam gerir melhor seus negócios sob o título de república. Os ricos diminuem
cada dia alguma coisa no salário dos pobres, não só por meio de manobras
fraudulentas, mas ainda decretando leis para tal fim. Como isso ocorre se o
objetivo principal de república é a de apoiar os mais necessitados.
Hitlodeu deseja do
fundo de seu coração que outros países venham a criam uma república como a da
Utopia e alegrasse pelo fato de pelo menos ela existir.
Rafael Hitlodeu
termina então, exausto, sua longa narrativa, More se põe a pensar e apesar de
não concordar com muitas coisas em Utopia, admira como uma civilização se
desenvolveu nestas bases e aspira ver muitas coisas estabelecidas nas cidades
da Europa, ele mais aspira do que espera.
Sites:
Bibliografia:
MORE; Thomas: “A
Utopia”. 1º ed. São Paulo: Folha de São Paulo, 2010 coleção livros que
mudaram o mundo. Vol. 07. pág. 07-103.
[1] Acredito que seja um povo ficcional.
[2] Acredito que seja um povo ficcional.
[3] Profissão: Oleiros, pedreiros, sapateiros, etc.
adoro o livro daniela cicarelle
ResponderExcluirRealmente o livro é muito bom
ExcluirSua postagem meu foi de bastante utilidade. Muito elucidativa. Parabéns!
ResponderExcluirMuito obrigado Anderson, eu faço o possível.
ExcluirAté mais.