(P.97) Cap. 04: Ille Philosophus.
Aristóteles.
(P.98) “Foi
por conta do espanto e do assombro que os homens começaram a filosofar – e,
pelo mesmo motivo, filosofam até hoje” Aristóteles.
(P.99) Aristóteles.
Nascido
em 384 a.C. na cidade de Estagira, em uma família tradicional – e mitológica –
de médicos.
Enquanto
Pitágoras e Platão tinham uma tendência ao misticismo, Aristóteles utilizava-se
de uma espécie de pensamento científico.
(P.100) Chegou em Atenas com 17 anos e
ingressou na academia de Platão, na época com 70 anos. A relação amistosa entre
professor e aluno com o tempo deteriorou-se por diversos motivos, entre eles o
fato de que Platão reverenciava seu mestre, Sócrates, enquanto Aristóteles nem
tanto. Lembrando que os dois tinha 50 anos de diferença.
(P.101) Pouco antes da morte de Platão,
Aristóteles saiu de Atenas (347 a.C.), e em 343 a.C. recebeu o convite de
Filipe II – rei da Macedônia – para educar seu filho Alexandre. Egito que
desempenhou com grande destreza até o assassinato de Filipe II e a ascensão de
Alexandre.
(P.102) Em 334 a.C, Aristóteles voltou a
Atenas – que agora era parte do Império Macedônico. Os orgulhosos atenienses
não aceitavam isso de bom grado e o rancor contra Alexandre respingava contra
Aristóteles. Mesmo assim ele criou a escola de ciência e filosofia que ficou
conhecida como Liceu.
(P.103) Enquanto a academia platônica
dedicava-se principalmente a matemática, a escola de Aristóteles – também chamada
de escola peripatética – inclinava-se a biologia e as ciência naturais.
Enquanto
Platão negava esse mundo, Aristóteles tinha fascínio por tudo o que existisse:
nada era tão insignificante que não merecesse sua curiosidade.
Platão
desprezava a observação, por vir dos sentidos. Aristóteles procura integrar a
percepção do mundo sensível ao conhecimento filosófico.
(P.104) Aristóteles buscou abraçar o maior
conhecimento possível sobre tudo e apesar de cometer erros crassos – lembrando que
os únicos instrumentos que possuía era a régua e o compasso – suas obras são
uma das maravilhas do intelecto humano.
(P.106) Com a morte prematura de Alexandre,
antigos rancores caíram sobre Aristóteles que teve que se exilar e morreu meses
depois, por suicídio de cicuta.
O nascimento da lógica.
(P.107) São inúmeras as contribuições de
Aristóteles para a filosofia e a cultura ocidental. Uma delas foi a elaboração
do pensamento lógico. Lógica é a
técnica, arte ou método do pensamento correto.
O
estudo da lógica é árduo, mas compensador: com a prática ela se torna uma
segunda natureza da mente e nos ajuda a ver a diferença entre aquilo que sabemos
e aquilo que pensamos saber.
(P.108) Os seis tratados de lógica aristotélica,
ficaram conhecidos como Organon. Que
ao ser traduzido do grego para o latim tornou-se a base da filosofia medieval.
Vimos
que Platão desprezava os sentidos. Aristóteles pelo contrário acreditava que o
conhecimento só pode começar pelos sentidos; não porque eles sejam totalmente
confiáveis, mas porque não dispomos de outro ponto de partida.
De
tanta observarmos o mundo conseguimos usar a imaginação que gera o que
Aristóteles chamou de indução sobre as coisas. Ex: de tanto observamos árvores,
sabemos que todas as árvores têm raízes. Podemos concluir de forma indutiva.
(P.109) Naturalmente, em todo o processo
indutivo suspendemos por um momento a descrença – há uma aceitação ao senso
comum. Pois, para termos certeza absoluta de que “todas as árvores têm raízes” teríamos
que observar cada árvore do mundo.
O
que a indução produz não são verdades finais, mas verdades provisórias
(axiomas) que podem ser revistas caso surja um elemento novo. A partir dos
axiomas, seguimos o caminho inverso, se na indução buscamos a generalização,
agora vamos em busca de fatos específicos (dedução).
Com
base nisso Aristóteles elabora o silogismo
que é o conjunto de três afirmações: duas premissas e uma conclusão. Gerando a consequência
lógica entre as premissas e sua conclusão.
Premissa
I
|
Todos
os seres humanos são mortais.
|
Premissa
II
|
Sócrates
é um ser humano
|
Conclusão
|
Logo,
Sócrates é mortal
|
(P.110) O silogismo é uma forma de
coerência interna que por si só não é garantia de verdade.
O terceiro
passo do silogismo depende dos dois primeiros; se uma das premissas for falsa,
o mecanismo produzirá uma falsidade com aspecto de razão.
A metafísica.
Em
grego significa “depois da física”. Metafísica é muito difícil de ser definida,
de forma básica é a reflexão sobre a natureza fundamental da realidade. A
ciência faz isso, mas o conhecimento científico busca verdades concretas, já a
metafísica é mais abstrata.
(P.111) Não posso colocar o Ser e a
Existência sob a lâmina de um microscópio. Não posso fazer a autópsia no
conceito de passado, nem medir a temperatura do futuro, etc. Enquanto a ciência
é empírica a metafísica faz experimentos mentais.
Ela
parte de perguntas muito simples: o que é um círculo? O que é um número?
Chegando a hipóteses altamente complexas.
A
metafísica desafia a superfície familiar das coisas. Quando somos crianças estranhamos
tudo, depois perdemos este estranhamento. A metafísica resgata a estranheza.
Aristóteles
considerava a metafísica como a primeira filosofia, a base para pensarmos o
mundo.
Para
Platão, a ideia universal de pedra existe no reino das coisas abstratas,
separadamente das pedras individuais do mundo sensível. Aristóteles dizia que
as universais existem apenas nas coisas, e não de forma independente. Não há
uma pedra universal, mas inúmeros indivíduos por meio dos quais o conceito se
manifesta. Esse é o princípio de instanciação:
toda propriedade existe por meio de suas instancias, ou exemplos.
Muitas
coisas e muitas criaturas podem ser descritas como “vermelhas”; mas a
vermelhidão não existe separadamente delas. No entanto, os conceitos universais
não são apenas criação subjetiva da menta humana: elas correspondem a algo que
está na realidade.
(P.112) Existe uma estrutura universal que
faz com que um pássaro seja um pássaro, e que um lagarto seja um lagarto. Dessa
forma deve haver um princípio universal que abranja todos os animais; e outro
mais abstrato, que envolva todas as criaturas vivas; e por fim um denominador
comum entre pássaros e galáxias, musgo e montanha, homens e poeira das
estrelas. E essa é a reflexão metafísica: o estudo do ser enquanto ser.
Segundo
Aristóteles devemos chegar à estrutura intima de tudo aquilo que existe – só assim
teremos certeza de que nossos conceitos correspondem à realidade e não são
meras convenções.
Para
raciocinar de forma metafísica é preciso investigar o significado exato da
palavra ser. Nós à usamos de várias maneiras.
1.
Sócrates
é um ser humano;
2.
Sócrates
é um filósofo;
3.
Sócrates
é feio.
4.
Sócrates
é grego.
Em
cada frase há um sujeito (Sócrates), e um predicado (algo que é dito sobre o
sujeito). Podemos dizer que um mesmo sujeito é diferente coisas. Logo um ser possuí sentidos diversos.
Quando
dizemos que Sócrates é humano,
estamos nos referindo a algo essencial. As outras afirmações apresentam
propriedades que Sócrates tem, mas não poderia ter. Ele poderia ser feio ou
bonito, filósofo ou marceneiro, grego ou egípcio se não fosse primeiramente
humano?
(P.113) A frase 1 indica a substância de Sócrates (fixa e
inalterável). As outras indicam acidentes.
A
pergunta é: quem domina o ser, a substância ou os acidentes? Sócrates ainda
seria Sócrates se fosse bonito, marceneiro e egípcio?
Aristóteles
ainda tentou resolver o enigma do movimento e da mudança que intrigou os
pré-socráticos. Parmênides defendia que toda mudança é ilusória. Heráclito
defendia que tudo muda.
Aristóteles
defendia os conceitos de ato e potência. Uma coisa nem sempre é o que
parece ser: ela pode conter características ou possibilidades que não se apresentam
no momento, ele chama isso de potência. A criança é potencialmente um adulto,
uma semente é potencialmente uma árvore.
Quando
as possibilidades se transformam em fato real, a potência se converte em ato. E
a passagem do potencial ao atual explica o movimento do universo. As coisas se
transformam até que todas as suas potências se transformem em ato; quando as
possibilidades se esgotam, o movimento cessa e a árvore deixa de existir.
Aristóteles
também trabalha a questão da causalidade. Para as perguntas “o que é tal coisa?”
e “por quê”, existem infinitas respostas possíveis.
·
Ex:
após uma noitada, golpeio um de meus amigos e o derrubo. Ele me pergunta “por
que você me derrubou?”
·
R:
Te derrubei, pois meu braço se deslocou no espaço com uma certa velocidade e
bateu em seu peito.
·
R:
Te derrubei porque estou bêbado.
·
R:
Te derrubei pois, estamos bêbados e você disse algo que me ofendeu.
A
última resposta parece ser a mais completa, mas todas são verdadeiras. Assim
observamos que existem vários tipos de causas para os eventos que observamos e
que toda causa foi causada por uma causa anterior.
Ex:
por que derrubei meu amigo? Porque ele falou besteira. Por que ele falou
besteira? Por que estamos bêbados? Porque fomos ao bar. Por que fomos ao bar
hoje? E assim podemos regressar até o infinito.
Em
Ille Philosophus, Aristóteles apresenta quatro tipos de causas e para explicar
o autor da o exemplo de uma estátua de bronze de uma bela ninfa.
1.
Causa material: o bronze, pois sem
bronze a existência de uma estátua de bronze é inviável.
2.
Causa formal: se o bronze
derretido tivesse sido jogado em uma outra forma, a estátua não seria o que é.
3.
Causa eficiente: sem a existência
do artista a estátua não existiria.
4.
Causa final: finalidade pela
qual uma coisa é feita.
A teoria
das causas se interliga à ideia de ato e potência. Um bloco de mármore é uma
estátua em potencial; a mão do artista atualiza essa potencialidade,
transformando a pedra em uma escultura.
Assim
como o escultor atualiza essa potencialidade, Aristóteles acredita na
existência de um ser imutável, imortal e irracional que organiza e encontra a
potencialidade do universo, ser que ele acredita ser Deus. Deus para ele é o
motor imóvel: que origina todo o movimento do universo, mas que não se move e
nem se transforma, pois é perfeito em si mesmo.
Quando
trata da existência de um ser Supremo, a metafísica dá origem a teologia, que
foi a principal preocupação da Idade Média.
Fonte:
BOTELHO, José Francisco. Uma Breve História da Filosofia: São
Paulo. Abril. 2015. P.97-118.