O consumo é
estimulado de várias formas. Cinema, moda, propagandas, televisão, etc.
estimulam esse modo de vida
Há alguns dias
assisti ao pequeno documentário intitulado “A História das coisas” (The
Story of Stuff, 2009), que apesar de sua curta duração - 21 minutos –
é de fazer qualquer pessoa repensar o modo como consome e encara o consumismo.
O eixo central do documentário é propor uma mudança nos hábitos de consumo,
usando como fio condutor cada uma das etapas pelas quais passa o produto, desde
matéria-prima até ser descartado tendo utilidade ou não. E apesar de ser um
documentário de cunho ambientalista, preferi nesta análise focar principalmente
a questão do consumo. (...)
Segundo o senso
comum, tudo o que é produzido desloca-se por um sistema linear, chamado economia
de materiais: primeiro extração, depois produção, distribuição, consumo e
por fim o descarte. Apesar de sua aparente organização, este é um sistema em
crise, pois um planeta finito não tem capacidade de gerir um sistema linear de
produção.
Em todo esse
processo, composto de 5 etapas, temos pessoas vivendo e trabalhando, além do
governo e das corporações. Em uma ordem de importância, pode se dizer que as
corporações são maiores que o governo, pois atualmente (2009) entre as 100
maiores economias da Terra, 51 são corporações e as 49 restantes são governos.
Isso quer dizer que 51 empresas são mais ricas do que muitos países do mundo.
À medida que essas
corporações cresceram em tamanho e poder, notou-se que os governos em geral,
passaram a se preocupar mais com o bem-estar das corporações do que da
população.
1º fase: Extração.
Basicamente é a
exploração dos recursos naturais, das matérias-primas. O que acontece, é que
nesse ritmo de exploração e consumo o planeta não consegue se restabelecer. Os
maiores consumidores do planeta são os EUA, sua população corresponde a cerca
de 5% da população mundial, mas eles consomem o equivalente a 30% dos recursos
mundiais. Se o mundo inteiro consumisse como os norte-americanos seria
necessário de 3 a 5 planetas! Os recursos naturais dos EUA são baixos, apenas
4% de suas florestas originais estão preservadas e a única maneira encontrada
para suprir essa necessidade de matérias-primas, foi tomá-las de países
subdesenvolvidos. Explorando, degradando, e expulsando os verdadeiros moradores
do lugar. Que pelo fato de não consumirem são considerados cidadãos de segunda
classe.
2º fase: Produção.
A matéria-prima é
beneficiada, sendo bombardeada por diversos agentes químicos. Essas toxinas se
acumulam gradativamente no organismo, pois não são expelidas pelo corpo humano.
Os que mais sofrem são os trabalhadores, obrigados a terem contato direto com esses
agentes tóxicos, por não terem melhores opções de trabalho.
3º fase:
Distribuição.
Basicamente significa
vender todos os produtos o mais rápido possível. Preços baixos mantêm as
pessoas comprando, essas por sua vez mantêm a economia em movimento. Usa-se
então da tática de exteriorizar os custos, onde o custo real da
produção não se reflete no preço. Imagine a seguinte situação, você compra um
rádio de pilha por apenas R$4,99, mas esse preço, tão barato não reflete os
custos da produção, trabalho e transporte desse rádio até as suas mãos. Esse
preço não paga nem o espaço ocupado pelo rádio na prateleira. O que realmente
acontece é que você não paga o rádio sozinho, as pessoas que trabalharam em sua
produção e distribuição também pagaram por ele. Como? Perdendo um pouco em cada
etapa: os trabalhadores da extração são explorados, os operários das fábricas
fazem longas jornadas de trabalho e muitas redes de lojas não pagam os direitos
trabalhistas de seus funcionários, ou seja, todo mundo pagou o rádio que você
comprou.
4º Fase: Consumo
Esse é o coração do
sistema, o motor da economia, sendo tão importante protegê-lo que se tornou a
prioridade número 1 dos governos e corporações. Um exemplo desse fato vem
também dos EUA, após os atentados de 11 de setembro, o então presidente George
Bush pediu à população que fizesse compras. Como está é uma nação de
consumidores, onde cada pessoa é avaliada conforme o quanto consome é obvio que
a falta de consumo levaria a recessão.
Um dado interessante
é o fato de que nos EUA a proporção de produtos comprados que ainda são usados
6 meses depois é de apenas 1%, ou seja, 99% do que se compra vai para o lixo em
apenas 6 meses. Um americano médio consome 50% a mais do que há 50 anos.
Esse consumo
desenfreado foi planejado após a Segunda Guerra. Governos e corporações
imaginavam um jeito de impulsionar a economia. A solução veio por Victor Lebow:
“A nossa enorme
economia produtiva exige que façamos do consumo nossa forma de vida, que
tornemos a compra e o uso de bens em rituais, que procuremos a nossa satisfação
espiritual, a satisfação do nosso ego, no consumo... Precisamos que as coisas
sejam consumidas, destruídas, substituídas e descartadas a um ritmo cada vez
maior”.
O conselho econômico
do ex-presidente Eisenhower disse que o principal objetivo da economia
americana é produzir bens de consumo, sendo a educação, saúde e transporte
coisas secundárias.
Esse consumo nada tem
a ver com o acaso, ele foi planejado e implantado com o uso de duas
estratégias: a obsolescência planejada e obsolescência
perceptiva.
Obsolescência
Planejada: é algo criado com a intenção de ser descartado em pouco tempo, assim
tornando-se inútil em um curto espaço de tempo somos obrigados e comprar
novamente o mesmo produto. Já reparou como a tecnologia muda tão rapidamente,
de forma, que após poucos meses de uso, um produto já se torna obsoleto.
A obsolescência
planejada surgiu na década de 1950, com a seguinte problemática: como fazer um
objeto avariar rapidamente, sem que o consumidor perca a fé na marca e compre
outro? Entretanto, esses produtos não quebram tão rápido como se gostaria e
para solucionar esse problema existe a obsolescência perceptiva.
Obsolescência
Perceptiva: ela serve para nos fazer jogar fora coisas perfeitamente úteis. Mas,
como fazem isso? Simples, mudam a aparência das coisas. Neste exato momento,
designs trabalham em como deixar os computadores, carros, roupas, geladeiras,
bicicletas com ares mais modernos que os do ano passado. Um exemplo são as
telas dos computadores, que passaram de grandes e brancas para finas e
compactas. Quantos monitores, em perfeito estado de conservação, não foram
descartados apenas para se entrar na moda da tela plana.
Mas porque se
descarta produtos em perfeito estado? A resposta é clara, como as pessoas valem
o que consomem, quem ainda possui produtos, digamos fora de moda, se sente
embaraçado, pois as outras pessoas percebem que você não consumiu. Na moda isso
é muito mais evidente, algum especialista diz o que é tendência e que a roupas
que você comprou o ano passado não podem mais serem usadas.
A publicidade e a
mídia possuem papéis fundamentais nisso. Todos os dias ela nos bombardeia com
propagandas dizendo que somos infelizes, nosso cabelo, nossa pele não é como
deveria, nosso carro é feio e que tudo se resolverá se formos as compras.
5º fase: Descarte.
Nesse ritmo de
produção, consumo e descarte não há deposito que aguente. E só a reciclagem não
é capaz de absorver todo esse lixo produzido, pois para cada saco de lixo
descartado em uma residência outros 70 foram produzidos anteriormente, só para
chegarem as nossas mãos. Assim, mesmo que reciclássemos 100% do lixo doméstico
não acabaríamos com a fonte do problema.