Por: William C. T. Rodrigues
Há alguns dias, o boato – ainda de origem
desconhecida – de que o bolsa família iria acabar, levou cerca de novecentas
mil pessoas as agências da Caixa Econômica Federal, no intuito de sacar o
benefício junto com um suposto bônus de duzentos reais pelo dia das mães.
O medo em perder uma parte importantíssima da renda
familiar, transformou a corrida ao banco em uma verdadeira baderna, com direito
a cobertura massiva por parte de todos os meios de comunicação.
Passado o incidente, iniciou-se uma enxurrada de
críticas ao programa social por parte da mídia e da população “não beneficiada”,
que desde o surgimento do mesmo, acusa o programa de “gerar vagabundos”.
Ataques com frases feitas, como: não dê o peixe
ensine a pescar, bolsa pra vagabundo paga com nosso dinheiro, nós os pagadores
de impostos, quem ganha bolsa família se acomoda, entre outras idiotices são
repetidas desde o início programa, então aqui não há novidade.
Isso é um reflexo da chamada meritocracia. Basicamente,
quem defende essa visão de mundo, acredita que os ricos são ricos graças a seus
méritos e que os pobres são pobres por serem preguiçosos e acomodados. Bom, o
que eu vejo constantemente são ricos (nascidos ricos) passando férias no Havaí
e pobres (nascidos pobres) trabalhando dia após dia para sustentar sua família.
O que acho mais interessante nas críticas feitas ao
bolsa família é o fato de que, estas são justamente feitas por aqueles que mais
se beneficiam, de forma direta e indireta, com este dinheiro injetado mensalmente
na economia nacional: os empresários.
Quem tem poupança neste país? Quem guarda dinheiro
em banco na Suíça? O miserável que depende do bolsa família eu sei que não é.
Este, assim que recebe o benefício corre para o armazém ou supermercado e gasta
todo o benefício o mais rápido possível, gerando milhões de empregos diretos e
indiretos nas mais diversas áreas. Girando a economia e agregando uma classe ao
mercado consumidor, que até aquele momento não tinha condições de consumir.
Mesmo a senhora, que disse em um vídeo na internet
que compraria uma calça de trezentos reais para a filha com o dinheiro do
benefício, ajuda a manter a economia nacional acesa em tempos de crise. Enquanto
o desemprego em todo mundo deu um salto após 2008, o Brasil manteve-se razoavelmente
estável graças à geração de novos nichos de consumo.
O bolsa família custa aos cofres federais cerca de R$
20.5 bilhões e beneficia cerca de 14 milhões de famílias, dinheiro este que com
certeza será injetado de forma imediata na economia. A reforma do estádio do
Maracanã custou, aos mesmos cofres federais, cerca de R$ 1.3 bilhões e
beneficiou, após a sua privatização, apenas a família do já milionário Eike Batista,
e o dinheiro , quem sabe, será congelado em alguma conta em algum paraíso
fiscal para ser usado posteriormente de forma especulativa.
Qual a diferença aqui? A diferença aqui é o pobre.
Tem-se a visão errônea e elitista de que para melhorar a vida do pobre é
necessário facilitar a vida do rico. Me poupe! A mais de 500 anos isto é feito
em nosso país e só gerou coronéis e caudilhos, pois, nota-se que continua a
existir em nosso país um abismo social gigantesco entre ricos e pobres. Somos
um dos países mais desiguais do mundo. A concentração de renda é tão grande que
beira o absurdo. Enquanto poucas famílias concentram grande parte da riqueza nacional,
o restante de nós brasileiros brigamos diariamente por migalhas, e ainda
seguimos a risca a cartilha de criticar os que são mais pobres que nós...
É necessário ter em mente, que todos os programas
sociais e de inclusão que existem, são programas que visão acelerar o processo
de distribuição de renda de geração para geração. Ou seja, o bolsa família, as
cotas raciais, econômicas, o PROUNI, etc atenderão apenas a uma geração de
beneficiários.
Por exemplo, uma família pobre e negra recebe o
bolsa família para manter seu filho na escola, o menino termina os estudos na
educação básica e ingressa na universidade através das cotas e com bolsa do
PROUNI. Pronto! O filho deste garoto, por sua vez, não necessitará de nenhum
destes benefícios uma vez que seu pai já possui uma formação e quem sabe condições
econômicas suficientes para dar uma vida digna a seu descendente.
Por fim, é necessário esclarecer que não sou filiado
a nenhum partido, apenas saio em defesa dos programas sociais do governo, por
já ter sido beneficiário de alguns e por saber como este pouco dinheiro, para
alguns, pode representar a tênue barreira entre a fome e a salvação.