quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Entre Anjos e Lobos.



Por que nosso país figura como um dos mais violentos do mundo? Somos nós brasileiros fadados ao banho de sangue diário por sermos maus por natureza? Ou serão fatores externos os responsáveis pelos altos índices de homicídios?

Por: William C. T. Rodrigues

Dois grandes filósofos iluministas da corrente contratualista, Jean-Jacques Rousseau e Thomas Hobbes, discordavam quanto à natureza do ser humano. O primeiro acreditava ser o homem bom por natureza, sendo a sociedade a responsável por sua desvirtuação. Isso fica evidente em sua máxima de que “o homem nasce bom, e é a sociedade que o corrompe”. Já o segundo acreditava ser o homem capaz de tudo para sua sobrevivência, sendo a maldade para com seu semelhante um reflexo natural disto. Pensamento que também fica evidente em sua máxima de que “o homem é o lobo do homem”. Por este motivo Hobbes propunha a criação de um Estado forte e repressor – o Leviatã – para por limites e cabresto neste homem lobo.

Na década de 1990 ganhou força, principalmente nos Estados Unidos, trabalhos acadêmicos que ligavam a violência a fatores genéticos. Sendo desta época o surgimento da teoria do Gene Guerreiro ou Gene da Violência. Esta teoria propõe que quanto menor a produção de uma enzima chamada MAOA, maior a probabilidade de uma pessoa desenvolver atitudes antissociais e violentas. Isso pode explicar, em parte, porquê algumas pessoas que nunca sofreram abusos na infância ou passaram dificuldades econômicas “saem dos trilho” e enveredam para o mundo do crime e da violência. Sendo assim, Hobbes estava certo e o Estado deve ser forte e punitivo, ou como gosta de dizer a direita brasileira deveria ter “leis mais rígidas e eficazes”. A punição seria a alma do negócio.

Segundo o antropólogo francês Edgar Morin somos todos homo sapiens sapiens contudo é preciso acrescentar um demens (demência), ficando: Homo sapiens sapiens demens, o que mostra o quanto somos descomedidos, loucos. Todo homem é duplo: ao mesmo tempo em que é racional apresenta certa carga de demência.

Contudo, para o espanto de todos, o mesmo gene foi encontrado em monges budistas. Isto deixa evidente duas coisas, primeiro: apesar de sua efetiva atuação sobre o comportamento humano, o gene não é tão poderoso e determinante na formação da personalidade, ou seja, não é pelo fato de possuí-lo que eu cometerei crimes e vice-versa. Segundo: se a pessoa é criada em uma sociedade que prima pela não-violência, com certeza o comportamental irá se sobrepor sobre o genético. Esta tese portanto pode explicar o psicopata, mas não a violência como um todo.

Com base nessas informações surge a pergunta. O que faz o nosso país ser um dos mais violentos do mundo?

Segundo tabela publicada por Julio Jacobo Waiselfisz em seu Mapa da violência 2013, o Brasil é o 7º país mais violento per capita do mundo e o 1º em números absolutos, com cerca de 50 mil mortes ao ano, ou seja, 10% de todos os assassinatos no planeta ocorrem no Brasil. Sem dúvida são números alarmantes.

E o interessante é que não estamos sozinhos. Engana-se quem acredita ser a África e o Oriente médio as regiões mais violentas da Terra. O território que concentra os maiores números de homicídios do planeta é o nosso querido continente americano. Dezoito, dos vinte países mais violentos estão na América!

Mas o que há de errado com nós e com nossos hermanos? Seremos todos nós portadores deste gene guerreiro e estamos fadados a transformar o local onde moramos em uma zona de guerra não declarada?

Bernardo Sorj e Danilo Martucelli em seu livro O Desafio Latino-Americano: Coesão Social e Democracia, dão uma boa explicação para a violência. Na visão deles o país mais violento não é necessariamente o mais pobre e sim o mais desigual. E adivinhem qual a região mais desigual do planeta? Exato, a América, em especial a latina.

A concentração muito próxima entre muito ricos e muito pobres cria tensões extremas que acabam por descambar em violência. Eles citam o intelectual Briceño León que diz:

“Essa violência não é necessariamente fruto dos migrantes que deixaram o campo para se instalar na cidade, para ele, são os jovens da segunda ou da terceira geração que nasceram na cidade e que vivem agudos processos de frustração. Essa violência criminal é fruto de um choque entre o crescimento das expectativas e as insuficientes vias de realização formais. Esse fenômeno expressa também um processo de homogeneização de expectativas e da comunhão em um imaginário comum. Além de que, segundo o autor, antes essas expectativas eram canalizadas para a política e hoje são canalizadas para aspirações individuais”.

Ou seja, os crimes que descambam em morte são praticados por jovens excluídos do mundo do consumo, que veem na violência, por exemplo, a única forma de satisfazer esse desejo de compra e ostentação. Quantas histórias você já não ouviu sobre pessoas que mataram por um par de tênis da moda?

Outro exemplo sobre como a desigualdade social é determinante para o grande numero de homicídios são os Estados Unidos. Mesmo com punições duras como a pena de morte e a perpétua, mesmo com crianças sendo julgadas como adultos e ainda possuindo a maior população carcerária do planeta (2,3 milhões de pessoas), os EUA é o país mais violento entre os países desenvolvidos, ficando em vigésimo primeiro no mapa da violência 2013. Em outras palavras, ele é o país desenvolvido mais violento e o mais desigual.

Fica evidente, portanto, que a desigualdade é fator determinante para a violência de um país. Um país desigual é um país violento, não há lei dura o suficiente para barrar o surgimento de novos marginais. Se algo é lucrativo, com certeza surgirão pessoas que defenderão esse lucro a qualquer custo. É a ganancia que move a violência.

Um exemplo é a cargo de agente penitenciário, nenhuma criança em idade escolar sonha em ser agente quando crescer. Mas na fase adulta a necessidade e o alto salário atraem muitas pessoas para esta profissão de alto risco. O mesmo ocorre com o crime, em um dado momento o dinheiro e o lucro falam mais altos e os riscos desta “atividade” ficam em segundo plano. “O importante é ter e possuir, nem que seja necessário morrer por isso”.

Enquanto houver desigualdade, enquanto o jovem não ver no trabalho um caminho seguro para a satisfação de seus desejos materiais e enquanto se pensar que ter é melhor que ser, nossas cidades serão máquinas eficientes no processo de transformar crianças e adolescentes em lobos.


Assim entendo  que o ser humano, apesar de sua “demência” e da existência deste gene da violência, não nasce mal – você consegue enxergar a maldade nos olhos de um bebê? – mas se transforma gradualmente em lobo, e uma vez transformado em lobo sua “domesticação” beira o impossível. Ou como toda mãe sempre diz: é melhor prevenir do que remediar. A prevenção é dura (educação, conscientização, propósitos de vida), mas o remédio é muito mais amargo e cheira a sangue ou sarna.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O sal e sua virtudes*.


O sal começou a ser explorado e utilizado para consumo humano há cerca de 10 mil anos, com o início da agricultura, da pecuária e a formação das primeiras comunidades rurais. Logo o ser humano percebeu que ele servia para conservar e realçar o sabor dos alimentos e que podia ser usado para curar feridas. Os romanos o associavam à deusa da saúde, Salva, em cuja homenagem lhe deram o nome de sal.

Sob o Império, os soldados romanos recebiam parte de seu pagamento em sal – daí a palavra salário. Uma das estradas mais movimentadas era a Via Salária, rota por onde circulavam carros cheios dos preciosos cristais. Na África, onde hoje é a Mauritânia, mercadores trocavam sal por ouro – um peso pelo outro.

Atualmente, graças a métodos físicos e químicos, o sal passou a segundo plano como conservante de alimentos. Mas até o final do século XIX era o único agente que preservava certas comidas.

*Reprodução Integral

Fonte: TOMAZI, Nelson D. Sociologia para o ensino médio. Ed Saraiva. 2010

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A Guerra pop*.

Mais de seis décadas após o seu término, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) permanece no imaginário como um momento crucial da história.
Em abril de 2010, a produtora alemã Constantin Films pediu ao site You Tube que tirasse do ar as paródias de seu filme A Queda, por considerar que seus direitos autorais estavam sendo violados. O filme narra os últimos dias de Adolf Hitler, em 1945, com base nos relatos de Traudl Junge, ex-secretária do líder nazista, e nas investigações do jornalista alemão Jpachim Fest. A cena das paródias, invariavelmente mostrava Hiltler tendo um ataque de fúria ao ser informado de que o Exército Vermelho estava às portas de Berlim. A brincadeira constitui em colocar legendas engraçadas para “traduzir” o alemão, fazendo o ditador surtar com assunto qualquer, como por causa de uma banda musical ruim ou um professor chato. A piada foi repetida em diversas línguas, inclusive em português. Os vídeos foram removidos, mas outros acabaram sendo postados depois no You Tube.
A Liga Antidifamação, ONG norte-americana dedicada a combater o antissemitismo, queixou-se de que esse tipo de vídeo contribui para a banalização da figura de Hitler, tornando-a cômica e inofensiva. Mas brincadeira como essa não é fácil de controlar. Afinal, a Segunda Guerra Mundial é pop e continua rendendo boas histórias e discussões. Existe até mesmo a “Lei de Godwin”, formulada pelo advogado norte-americano Michael Godwin em 1990. Segundo Ele, se uma discussão se prolonga por muito tempo, a probabilidade de surgir alguma comparação com os nazistas ou com Hitler se aproxima de 100%.
Filmes sobre a Segunda Guerra já foram mais comuns nos anos 50 e 60, mas continuam a ser produzidos em bom número. Além da A Queda (2004), tivemos nos últimos anos O Pianista (2002), Cartas de Iwo Jima (2006) e Bastardos Inglórios (2009), para citar alguns campeões de bilheteria. Mesmo filmes que exploram temas sem relação com a Segunda Guerra podem se inspirar neles de algum modo, como os uniformes “nazistas” dos oficiais do Império na série de filmes Guerra nas Estrela.
A música também costuma inspirar-se na Segunda Guerra. Em 1973, o poema Rosa de Hiroshima de Vinicius de Moraes, foi musicado pela banda Secos e Molhados, de Ney Matogrosso. Lá fora, a guerra foi abordada por grupos como Rolling Stones (Sympathy for the devil), Iron Maiden (Ace High) e Pink Floyd (the wall). Mas o movimento punk a tornou um tema constante. Em 1977, os Sex Pistols lançaram Belsen Was Gas, polêmica canção sobre o campo de concentração na Alemanha onde morreu Anne Frank, garota alemã de origem judaica. A banda inglesa Joy Divison (1977-1980) tirou seu nome de uma “divisão” de prostitutas que atendia a soldados nazistas.

Na área de videogames, todos os anos são lançados novos títulos sobre o tema. Em 2009, por exemplo, vieram Wolfenstein, Company of Heroes – Teles of Valor e Battlefield 1943. Na internet, uma pesquisa rápida no Google em 2011 revela 62 milhões de ocorrências para “Worl War II”, contra 14 milhões para “Vietnam War” e 12 milhões para “Iraq War”. Como se vê, 66 anos depois de seu fim, a Segunda Guerra está longe de sair do imaginário popular.

*Reprodução integral.
Fonte: Curso preparatório enem 2011 História II. ed abril. pág 47.