segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Fichamento Revisado: A Origem das Espécies de Charles Darwin.


Biografia e contexto histórico
O inglês Charles Robert Darwin (1809-1882) é um dos maiores naturalistas de todos os tempos, graças a sua teoria da seleção natural e evolução, exposta inicialmente no grande livro “A Origem das Espécies”. Livro este publicado somente em 1859, após décadas de pesquisas em segredo, pois Darwin, temia o recebimento dessa teoria junto aos acadêmicos e religiosos de sua época.
Segundo Theodosius Dobzhansky, “nada em biologia faz sentido a não ser sob a luz da evolução”. Ilustrando bem o impacto dessa teoria sob os naturalistas e criacionistas de sua época e sua importância sobre as ciências biológicas de hoje.
Sua teoria se baseia na seguinte idéia: Todos os seres vivos descendem de um ancestral comum e as diversas espécies surgiram com a acumulação lenta de caracteres, que sendo benéficos ao individuo dão a ele vantagens na luta pela sobrevivência e reprodução, ou seja, os mais aptos e adaptados ao meio tem maiores chances de deixar descendentes. Seu livro inteiro se baseia na defesa dessa tese.
A obra
A origem das espécies é divida em 15 capítulos, mais uma notícia histórica, introdução, notas e glossário com os principais termos científicos usados por ele.
Darwin inicia seu livro analisando os naturalistas que o antecederam, desde os criacionistas, que acreditavam ser Deus o criador de todos os seres vivos e que estes seriam imutáveis desde a criação até os influenciadores e os influenciados diretos de Darwin.
Na introdução Darwin apresenta sua obra, analisando cada capítulo e sobre o que eles tratam. Aproveitando para dar algumas alfinetadas nos criacionistas dizendo que todo naturalista deve entender que as espécies não foram criadas independentemente uma das outras, mas que derivam de outras espécies.
Cap I: Variações das espécies no estado doméstico.
Em seu primeiro capítulo, Darwin primeiramente chama atenção para o fato de que os animais e plantas domésticos possuem uma variedade muito superior a seus pares selvagens e busca entender as causas desta variabilidade. Um exemplo evidente são as inúmeras raças de cães, em correlação a de lobos selvagens.
Para ele fica evidente de que animais e plantas domésticas possuem ancestralidade primitiva e selvagem, e que estes se modificaram através do tempo em contato com o ser humano.
Darwin analisa principalmente a seleção natural dos animais domésticos praticada pelo ser humano de forma inconsciente desde os seus primórdios. O ser-humano tem papel fundamental na seleção das espécies domésticas. Por exemplo, um animal mais útil a uma tribo é mais preciosamente conservado em época de fome e com isso tem mais chances de deixar descendentes, o mesmo pode acontecer com os vegetais. Muitas vezes essa evolução não é benéfica para o animal ou planta, servindo apenas como um capricho do homem que seleciona apenas pela beleza ou excentricidade.
O homem não tem qualquer controle sobre as variações que surgem, ela apenas seleciona, mantem ou a excluiu, acumulando apenas caracteres benéficos a ele e criando raças para seu proveito. Primeiro a natureza lhe dá a transformação, depois o homem decide se desenvolve ou não.
Cap II: Variação no estado selvagem.
Darwin analisa neste segundo capitulo, principalmente como ocorrem às variações no estado selvagem. Se concentrando na pergunta, uma variedade (Seres de uma espécie que começam a apresentar variações) pode vir a se transformar em uma nova espécie? E responde: talvez sim, talvez não, depende da seleção natural e se essa variação é benéfica ao ser que há possui.
Outra questão trabalhada pelo autor, questão esta de grande relevância para a época, é a de como classificar o que é variedade e o que é espécie?
A primeira coisa que devemos ter em mente é: toda espécie que existe hoje, já foi anteriormente uma variedade. Variedade nada mais é que uma variação dentro de um grupo de indivíduos de uma mesma espécie. Em um dado momento uma variedade teve vantagem com sua variação e acabou por substituir a espécie que lhe deu origem.
Cap III: Luta pela sobrevivência.
A idéia da luta pela sobrevivência é de extrema importância para a tese da seleção natural.
Todas as transformações (variabilidades) apresentadas por todos os seres vivos têm a função de dar ao ser que a possui, vantagens na luta pela sobrevivência. Algumas vezes essas variações são benéficas e tem mais chances de se perpetuar e outras vezes ela é maléfica e o ser que a possuiu é destruído. Existe na natureza uma grande concorrência entre todos os seres vivos.
Ou seja, a seleção natural se baseia na ideia de que, de tempos em tempos um ser de uma determinada espécie sofre mutações genéticas, se está mutação for benéfica este ser ganha vantagem na luta pela sobrevivência. Sobrevivendo por mais tempo, esse ser consegue deixar mais descendentes que herdaram sua mutação genética benéfica. Assim de tempos em tempo, de mutação em mutação, surgem novas espécies.
Neste capitulo Darwin aplica a lei de Malthus a natureza. Existe um grande equilíbrio sobre o número de indivíduos que uma determinada região comporta. Nenhum organismo pode se reproduzir infinitamente, pois caso isso acontecesse a terra seria coberta pela descendência de um só par e não existiria seleção natural.
Existem seres que produzem enormes quantidades de ovos e sementes e outros que produzem muito menos. A única diferença é que os primeiros se reproduzem aos milhares, pois não protegem as suas crias e estas são mais facilmente destruídas sendo necessárias muitas crias para a sobrevivência de poucas e os últimos cuidam das crias e é mais fácil a sua preservação mesmo com reduzido número de descendentes. Mas todos os seres lutam para se multiplicar.
Epidemias, o clima, os predadores e a quantidade de alimento são excelentes meios de controle populacional e de seleção natural. Onde somente os mais aptos conseguem sobreviver a estas condições.
Diferentemente do que muitos pensam, a luta pela sobrevivência é mais encarniçada entre os seres de uma mesma espécie, que ocupam o mesmo lugar, buscam a mesma comida e lutam contra os mesmo inimigos. Uma espécie pode levar outra espécie do mesmo gênero à extinção, pela competição.
Cap IV: A seleção natural ou a perseverança do mais capaz.
Primeiramente devemos nos recordar que nenhum ser vivo da mesma espécie nasce exatamente igual a outro. Em muitos casos podem ser parecidos e suas peculiaridades imperceptíveis aos olhos humanos (como diferenciar dois peixes dourados?). Contudo, estas variações podem trazem ao indivíduo que às possui, vantagens ou desvantagens na luta pela sobrevivência. É nestas diferenças (que podem ser mínimas ou gritantes) que atua a seleção natural.
Todos os seres vivos estão em constante concorrência e cada transformação que dê vantagens a um individuo garantirá a ele maiores chances de deixar descendentes. A natureza seleciona apenas os mais aptos, destruindo os inaptos. Essa seleção deixa a espécie mais forte, pois a natureza escolhe apenas em vantagem do próprio ser.
Existe também a seleção sexual, que ocorre através da disputa entre indivíduos machos de uma mesma espécie, pela posse do sexo oposto. Os machos mais vigorosos têm maiores chances de deixar descendentes.
Inicialmente toda a variação é local, mas brevemente surgiria um pequeno grupo de fácil reprodução e se essa nova variedade conseguisse êxito se espalharia por uma grande região.
Darwin acredita que uma vasta região é mais propícia ao surgimento de modificações do que o isolamento e as alterações do clima, isso graças à acirrada luta pela sobrevivência existente nestas extensas áreas.
A seleção natural acarreta diversas extinções, a luta pela sobrevivência tem como objetivo selecionar os mais fortes e destrói os seres menos adaptados.
Para Darwin as pequenas diferenças se acumulam (se vantajosas) e se acentuam de geração em geração e esses seres podem se habituar a diversos habitat caso tenham um grande numero de modificações. Descendentes modificados de uma espécie podem se propagar e habitar as mais diferentes regiões, mesmo quando habitada por outros seres, extinguindo-os eventualmente.
Darwin finaliza esse capitulo analisando a seguinte questão. Se todos os seres organizados tendem a evoluir, por que ainda existem formas inferiores de vida como os vermes? A resposta é que a seleção natural não leva necessariamente a um desenvolvimento progressivo e sim apodera-se das variações úteis aos indivíduos. E pergunta: Que vantagem teria uma minhoca em adquirir um organismo superior?
Cap V: Leis da variação.
Neste capitulo Darwin se concentra em apresentar as complexas leis da modificação, como os efeitos da mudança das condições, os efeitos da seleção natural sobre o uso ou não-uso das partes, aclimatação dos seres as regiões em que vivem, entre outras.
Lembrando que Darwin queria entender as causas que levavam as variações, uma vez que ainda não existiam estudos sobre a genética neste época.
Darwin apresenta sua ideia de uso e não-uso das partes, fazendo um contraponto à Lamarck. Segundo Darwin o não-uso das partes e o desaparecimento dela (como a cegueira em um animal subterrâneo) não decorre do fato deste animal não usar a visão em um ambiente escuro, mas através da seleção natural.
Darwin também se aprofunda na lei da compensação do crescimento, que segundo ele é a seguinte: “a fim de poder despender de um lado, a natureza é obrigada a economizar de outro”. Que nada mais é, do que o fato da seleção natural reduzir de tal modo as partes de um organismo, que ele acaba por se tornar supérfluo e assim reduzir o consumo de energia desta parte. Lei esta, muito clara entre os animais domésticos e difícil de se encontrar no estado selvagem.
Os caracteres sexuais secundários são basicamente os atrativos que o macho possuiu para conquistar a fêmea (como a crista do galo, a cauda do pavão, etc), e estes como passam pela seleção sexual (escolha da fêmea) são extremamente variáveis.
Cap VI: Dificuldades surgidas contra a hipótese de descendências com modificações.
Aqui o autor se propõe a responder duas questões: Se uma espécie deriva de outras, por que não encontramos inumeráveis formas de transição? Por que a natureza não se acha em estado de confusão? Por que as espécies atuais são tão bem precisas?
Segunda Darwin as formas de transição existiram, mas estão em forma de fósseis, sendo que as novas espécies se formam lentamente sendo extremamente difícil perceber as variações de uma geração para outra, além do fato de as espécies intermediárias terem sido, com certeza, suplantadas pela nova espécie nascente, mais adaptada ao meio.
A segunda questão é: Como é possível a seleção natural criar partes insignificantes como a cauda de uma girafa e órgãos tão importantes quanto um olho? Darwin acredita que órgãos que hoje são considerados insignificantes, na verdade são resquícios de um ancestral remoto para o qual este órgão foi de grande serventia. E órgãos extremante complexos também são fruto da mesma seleção natural, mas diferente do rabo da girafa, que perdeu importância, o olho foi gradativamente se transformando neste órgão tão importante.
Em outras palavras, um órgão tão complexo assim foi formado por uma série de numerosas modificações graduais.
Em determinado momento de seu livro Darwin chama a atenção para seres que possivelmente não possuem ancestrais em comum, mas que acabam por adquirir características semelhantes, como por exemplo, animais muito diferentes, mas que brilham, lampejam, ou mandam descargas elétricas. Dawin acredita que da mesma forma que dois homens descobrem algumas vezes o mesmo invento independentemente um do outro, da mesma forma a seleção natural atuando pelo bem de cada ser e aproveitando todas as variações favoráveis, produz órgãos semelhantes, pelo menos no que se relaciona a função, em seres organizados distintos e sem um antepassado comum.
Cap VII: Contestações diversas feitas à teoria da seleção natural.
Darwin utiliza-se deste capitulo para rebater as diversas críticas recebidas após a primeira publicação deste livro. Mas somente as críticas de relevância para o aperfeiçoamento da obra, excluindo pessoas que não se esforçaram para tentar compreender a seleção natural.
Cap VIII: Instinto.
Aqui o autor trata do instinto ou como ele mesmo chama “poder intelectual dos animais”. Para isso ele responde a uma questão feita no sexto capitulo: Os instintos podem adquirir-se e modificar-se pela seleção natural?
O instinto é de extrema importância para o animal e fica lógico que sob influência das alterações nas condições de vida a seleção natural possa acumular ligeiras transformações no instinto, desde que vantajoso ao animal.
Cap IX: Hibridez.
Este capítulo é dedicado à análise dos seres híbridos (produto da união de duas espécies diferentes) e de sua esterilidade.
Aqui o autor também responde a uma questão no sexto capitulo: Como explicar que o cruzamento entre espécies é estéril e que o cruzamento entre variedades é fértil?
Para Darwin se diferentes espécies não conseguem se reproduzir, significa que as espécies veem de ancestrais diferentes e não são variedades de uma mesma espécie logo, a fêmea não vai conseguir fecundar. Assim, entre essas duas espécies diferentes a probabilidade da fêmea conseguir criar um nova espécie com algumas mudanças é muito pequena
Darwin acredita que a esterilidade dos híbridos ocorre graças a perturbação causada a geração pelo fato de ser composta de duas formas diferentes, sendo que a causa primaria da esterilidade do cruzamento entre espécies reside nas diferenças sexuais.
Já os seres mestiços (produto da união de variedades diferentes) são geralmente fecundos pelo fato de serem apenas variedades de uma mesma espécie. Agora, aqueles que são considerados mestiços tem a probabilidade de fecundar por serem produtos de uma mesma variante (de uma mesma espécie) logo a tendência é conseguir fecundar, isso não dá 100% de certeza, porém segundo Darwin a tendência e conseguirem é maior.
Cap X: Insuficiência dos documentos geológicos.
Como o próprio título do capítulo já diz, Darwin reclama da insuficiência, até o momento, de arquivos geológicos que comprovem a sua tese de evolução progressiva e lenta de todos os seres, por via da descendência e da seleção natural.
Cap. XI: Da sucessão geológica dos seres vivos.
Aqui há o enfrentamento de sua teoria contra as teorias de imutabilidade das espécies, utilizando-se, apesar das dificuldades de se encontrar documentos fósseis em abundância, do conhecimento geológico e da sucessão de suas eras, para analisar a evolução dos seres através desses períodos.
Cap. XII: Distribuição geográfica.
Cap. XIII: Distribuição geográfica (continuação).
O objetivo desses dois capítulos é claro, analisar a distribuição geográfica dos seres vivos pelo planeta. Observando a importância das alterações no clima e de barreiras físicas para o isolamento e o surgimento de novas espécies.
Segundo Darwin todos os principais casos de distribuição geográfica podem ser explicados pelas migrações.
Cap. XIV: Afinidades mútuas dos seres orgânicos; morfologia; embriologia; órgãos rudimentares.
O penúltimo capítulo é dedicado ao estudo das classificações ou afinidades mútuas, tanto no estado de completo desenvolvimento quanto no estado embrionário. Demonstrando como se dá a classificação dos animais em variedades, espécies, gêneros, famílias, ordens e classe. Ficando claro para ele que as “inúmeras espécies, gêneros, famílias que povoam a terra são todas descendentes, cada uma na sua própria classe, de pais comuns, e todas foram modificadas nas gerações sucessivas”.
Cap. XV: Recapitulações e conclusões.

O último capítulo desta grande obra é inteiramente dedicado a analise dela mesma.
Fonte:
DARWIN; Charles: A Origem das espécies São Paulo, Folha de São Paulo, 2010. Coleção: Livros que mudaram o mundo. 368 pág.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Resenha do livro Darwin e a Evolução em 90 minutos de Paul Strathern


Observação importante:
O presente livro de Paul Strathern trabalha como uma espécie de biografia intelectual de Charles Darwin. Mostrando como o meio em que viveu o autor de A Origem das Espécies foi fundamental para o pleno desenvolvimento da teoria da seleção natural, e como esta se desenvolveu e amadureceu ao longo dos anos.
Apesar de crer profundamente na importância de conhecer a vida e os caminhos de Darwin para entender o meio que possibilitou o surgimento de tal teoria, decidi não me ater a essa questão biográfica por dois motivos: primeiro, existem uma infinidade de vídeos no youtube que trabalham com a discutida biografia. Segundo, tentei deixar o texto mais curto e simples possível, atendo-me somente à teoria da evolução das espécies, ajudando aqueles que querem entender esta teoria e que possuem alguma dificuldade.
Boa Leitura.
Introdução.
Darwin foi com certeza um dos poucos pensadores a subverter a noção de como nos vemos e o mundo que nos cerca. Depois de Darwin, o homem deixou, para sempre, de ser uma espécie privilegiada.
No século XVI Copérnico deu inicio a uma revolução, tirando o homem do centro do universo, com a Terra orbitando ao redor do Sol. Darwin aparece no século XIX para completar esta revolução, mostrando como o homem era apenas mais uma espécie no processo evolutivo – já não éramos mais o centro de nada.
Sobrevivência do menos apto.
Nesta parte do livro tem inicio a biografia de Charles Darwin, desde a sua infância, os mimos de suas irmãs mais velhas, seu pai medíocre, seu avô influente (um dos primeiros evolucionistas), suas mal fadadas tentativas de agradar seu pai – primeiro com a medicina depois com a teologia –, sua viagem a bordo do Beagle, sua passagem pela América do sul, sua épica visita às ilhas Galápagos, sua circunavegação do globo, sua volta triunfante à Inglaterra, seu casamento com sua prima, o silencio de vinte anos sobre sua teoria até sua publicação, etc...
Sabemos que Darwin viveu em um período conturbado da história, período marcado pelo surgimento de novas ideias que se contrapunham ferozmente à antiga maneira de pensar do homem europeu.
Muitos pensadores de sua época, influenciados pela Bíblia, acreditavam que as espécies eram imutáveis, e assim o eram desde a Criação – sem que novas espécies surgissem ou desaparecessem.
Outros como o francês Jean Lamarck defendiam que os animais e plantas não eram estáticos, mas que evoluíam. Segundo a teoria de Lamarck, era o meio ambiente e a relação dos animais e plantas com ele que modificavam uma espécie. Por exemplo, a girafa tinha pescoço comprido, porque durante gerações, tentara alcançar as folhas mais altas. Isso levou Lamarck a pensar que “as características adquiridas são herdadas”, ou seja, as habilidades desenvolvidas por uma geração podiam ser transmitidas à próxima.


geologia (ciência emergente da época) acreditava-se que as características geográficas da Terra tinham sido formadas por rupturas súbitas e tumultuosas de grande magnitude. Cadeias de montanhas haviam sido impelidas aos céus de uma só vez em um enorme solavanco e, de tempos em tempos toda superfície da Terra era inundada. Essa corrente era conhecida como catastrofismo, e não contradizia a bíblia.
A bordo do Beagle, Darwin leu “Princípios de Geologia” de Charles Lyell. O autor descordava dessa teoria. Sua suposição era de que as características da Terra haviam sido formadas num processo longo e gradual. As grandes características geográficas não surgiam de uma só vez, mas de maneira lenta e sujeitas a longos processos de erosão e deposição.
A viagem de cinco anos ao redor do mundo, a bordo do Beagle, foram fundamentais para moldar a teoria de Darwin. Suas coletas, observações e leituras haviam transformado um botânico amador em um pensador extraordinário.
Logo Darwin percebeu as discrepâncias entre suas observações e o criacionismo ortodoxo. Da maneira como era descrito no Gênesis, todo ser vivo havia sido criado por Deus e planejado especificamente pelo criador para viver em um determinado ambiente. Ou seja, as criaturas era imutáveis pois foram criadas por Deus, afrontar essa ideia era afrontar a própria divindade.
Aos poucos, estudando mais a fundo suas coletas, suas anotações de viagem e sua própria imaginação, Darwin foi se convencendo que o mundo não era estático e estava em um eterno processo de “devir”.
A guinada em seu pensamento, se deu quando Darwin entrou em contato com a teoria de Thomas Robert Malthus. Segundo ele a população cresceria em progressão geométrica (2,4,8,16...), enquanto os meios de subsistência – principalmente alimentos – cresciam em progressão geométrica (1,2,3,4...). Assim a população cresceria até o limite suportado, quando seria então contida por doenças, fomes, guerras, etc..
Darwin já possuía amplo conhecimento sobre a luta pela sobrevivência nos reinos vegetais e animais, mas as palavras de Malthus cristalizaram o argumento fluido que existia em sua mente. Darwin então chegou a conclusão de que nessas circunstancias, as variações favoráveis seriam preservadas e as desfavoráveis destruídas, o resultado seria o surgimento de novas espécies.
Darwin entendera então um ponto crucial de sua teoria: a noção de luta pela sobrevivência. Já era sabido que as espécies lutavam ferozmente uma contra as outras pela autopreservação. Mas ao ler Malthus, Darwin então compreendeu que a luta pela sobrevivência se dava também no interior de cada espécie. Os indivíduos competiam dentro das espécies e as características dominantes sobreviviam e eram repassadas às gerações posteriores. Era assim que as características benéficas para o indivíduo permaneciam e as enfraquecedoras desapareciam.
A luta dentro de uma espécie acontecia em nível individual. Os indivíduos com características melhor adaptadas às circunstâncias sobreviveriam para transferir essas características. Enquanto isso, características nocivas desapareciam à medida que os indivíduos que as portassem não conseguissem sobreviver para passa-las adiante.
Devemos deixa claro, neste momento, que Darwin não descobriu a evolução, este era o tema do momento, mas descobriu o que ela era e como funcionava. Ele chamou esse processo de seleção natural.
Para finalizar, devemos entender que as ideias de Darwin foram recebidas com enorme furor. Tanto de entusiastas, quanto de divergentes da teoria. Suas ideias não deixavam espaço para a intervenção divina e reduziram o ser humano ao status de um macaco avançado. Segundo o argumento de Darwin os seres humanos não pertenciam a uma espécie permanente e divinamente ordenada, mas eram meramente parte de um processo em desenvolvimento contínuo.

 Fonte:
STRATHERN, Paul. Darwin e a evolução em 90 minutos. Rio de Janeiro. Zahar. 2001