Formação do Brasil
Contemporâneo de Caio Prado Júnior.
Cap.
10: Pecuária
(P.186) A carne tem um
importante papel na alimentação da colônia. Contudo, não são raros os
desabastecimentos e a escassez do produto dado seu enorme consumo.
(P.187)
Este
comércio e consumo avultados são propulsores de uma das principais atividades
da colônia: a pecuária. Única, fora as destinadas a exportação, que tem alguma
importância.
É a atividade do sertão, longa das
vistas da população litorânea. A agricultura povoou o litoral, a extração
natural o extremo norte, a mineração o centro-sul e a pecuária todo o resto.
A pecuária realizou-se
separadamente da agricultura, privando a segunda do melhor fertilizante: o
esterco. Além disso a agricultura para a exportação tomou as melhores terras e
monopolizou a mão-de-obra.
(P.188)
Como
não poderia deixar de ser, a pecuária realizou-se de maneira rustica e simples,
criando o gado solto em grandes pastagens do interior.
(P.189)
No
início do século XIX existiam três grandes zonas de criação de gado: os sertões
nordestinos, o meridiano mineiro e as planícies do sul. Cada um com características
próprias. Além de zonas pecuárias secundárias de menor importância.
(P.190)
O
nordeste é a zona de criação mais antiga da colônia. O sertão nordestino possuí
uma vegetação de fácil penetração, além de regiões salinas onde o gado se nutre
de sal. A pecuária visava atender a demanda por carne do litoral brasileiro.
Como desvantagem desta região temos a pobreza da pastagem e a falta d’agua.
(P.194)
O
gado vivia solto a maior parte do tempo e o maior trabalho do vaqueiro era
manter o rebanho sob suas vistas.
A produtividade era extremamente
baixa relativamente a imensa área ocupada. A mortandade do gado era alta e a
carne gerada era de bois magros e musculosos (intragável).
(P.196)
A
carne seca tornou-se o principal produto da pecuária nordestina, até a chegada
da charque rio-grandense. Outro produto importante eram os derivados de couro.
A produção de carne em Minas para
os centros mineradores e as sucessivas secas do século XVIII dão um brutal golpe
na pecuária nordestina, da qual ele não se recuperará nunca mais. O Rio Grande
do Sul ocupará o seu lugar.
(P.197)
O
gado mineiro irá fixar-se primeiro no norte (próximo à Bahia) e chega até a fronteira
de São Paulo. As pastagens não são tão ricas, mas há rios abundantes e ciclos
de chuva mais razoáveis. O problema é o relevo mais acidentado desta região do
país. Mas de um modo geral há um conjunto de circunstancias favoráveis a
criação de gado neste ambiente.
(P.198)
A
criação em Minas Gerais será muito mais complexa e bem aparelhada do que a do
nordeste. Um exemplo é que o gado é cercado, há divisórias entre as fazendas o
que reduz a necessidade de vigilância constante sobre o gado, dispensando o
épico trabalho do vaqueiro. As pastagens são divididas em lotes para o descanso
e recuperação da terra e as vacas são separadas dos touros, além de haver o
recolhimento noturno dos animais para os currais.
(P.200) Os laticínios,
desconhecidos no Norte/Nordeste, possuem importância considerável na economia
mineira. Outra diferença é que o trabalho empregado nestas fazendas é o
escravo, enquanto que no nordeste predomina o livre. Mas um diferencial chama a
atenção, o dono da fazenda trabalhava junto com os escravos.
(P.202) Outro produto de
suma importância criado em MG é o porco, que além do alimento fornece a banha,
universal matéria graxa da culinária brasileira. Além de carneiros, com o qual
com a lã se faz a roupa dos escravos.
Por último os campos do sul. Desde o
Paranapanema até os pampas. Ótimas pastagens, clima favorável, incontáveis fontes
de água, geografia, relevo, condições perfeitas para a criação da gado.
(P.204) O sul do Brasil,
em especial o Rio Grande, foi colonizado pelos portugueses tardiamente e só
depois de muita luta contra os espanhóis, jesuítas e índios (1733-1777). A
guerra levou a criação de sesmarias (queira-se ocupar as terras em definitivo),
mas inúmeras tramoias levaram a concentração das terras em poucas mãos.
Contudo, a pecuária se firma com extrema
rapidez nesta região. Inicialmente visando a produção de couro e desprezando a
carne (não havia demanda suficiente no sul), e o gado criado era semibravil
como no nordeste. Aos poucos a carne vai ganhando importância através da charque.
Dando um boom econômico apenas visto na mineração. Pelotas é o centro gravitacional
deste movimento.
(P.206) A pecuária rio-grandense
estava no mesmo nível tecnológico da nordestina, salvo é claro as melhores
condições naturais da região sul.
(P.209) As demais zonas
criatórias do Brasil são de segunda importância.
Fonte: PRADO JÚNIOR,
Caio: Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo. Ed Brasiliense. 7ª
reimpressão, da 23ª edição de 1994. Pág 186-209.
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