Centenário da Independência*
O mundo virou pelo avesso com a
Primeira Guerra Mundial – 1914-1918. O tempo de otimismo e expansão da belle
époque foi substituído pela dura realidade da guerra que varreu a Europa.
Com os ânimos exaltados, o governo e a imprensa dos países envolvidos no
conflito procuraram estimular suas tropas insuflando-lhes um sentimento
nacional. É claro que esse clima afetou o Brasil. As elites brasileiras ficaram
preocupadas com o despreparo militar do país. A imprensa discutia a necessidade
de se modernizar o Exército brasileiro, enquanto a Liga de Defesa Nacional
defendia o serviço militar obrigatório.
A virada da década de 1910 para a de
1920 foi também uma época em que se aguçou a questão social no Brasil.
Eclodiram grandes greves nas principais cidades do país. O movimento operário
ganhava força e reivindicava melhores condições de vida e de trabalho. Este era
outro tema que mobilizava e opunha diferentes setores da imprensa e da
intelectualidade. Uma prova de como as posições divergiam em termos de
propostas para a sociedade é que no mesmo ano de 1922 foram fundados o Partido
Comunista do Brasil – PCB – e o Centro Dom Vital, de orientação católica.
Em meio a tudo isso, aproximava-se o
Centenário da Independência. Que país era esse que comemorava cem anos de
soberania? Vivíamos sob a chamada Primeira República – 1889-1930 –, regida pela
Constituição de 1891. Nossa política externa nos havia levado a participar da
Primeira Guerra Mundial e nos garantira um assento na Conferência de Paz de
Paris, assim como na Liga das Nações. Mas estávamos nós à altura do mundo
civilizado? Iniciou-se, então, uma verdadeira campanha, por parte de vários
jornais cariocas, com o objetivo de vigiar e pressionar o governo no sentido de
adotar medidas concretas para a realização de uma grande comemoração do
Centenário. Estaria a capital federal pronta para sediar a primeira das
exposições universais do pós-guerra?
A economia do país não ia muito bem
naquele início da década de 1920. Isso, no entanto, não impediu o governo
federal de iniciar os preparativos para o grande evento. O Rio de Janeiro,
palco do espetáculo, deveria ser saneado e embelezado. Epitácio Pessoa nomeou
então um técnico de renome para a prefeitura do Distrito Federal: o engenheiro
Carlos Sampaio.
Em pouco tempo, o novo prefeito
tratou de executar um amplo programa de obras que previa, entre outras coisas,
o desmonte do morro do Castelo. O projeto de demolição do morro promoveu um
amplo debate na imprensa carioca. Para alguns jornais e revistas a medida era
mais que necessária. O morro era considerado uma excrescência que deveria ser
retirada do centro da cidade. Em seu lugar seriam construídos os pavilhões para
a Exposição. Para outros, porém, o desmonte do morro representava um
desrespeito à memória carioca, pois ali se localizavam antigas igrejas e jaziam
os despojos de Estácio de Sá, o fundador da cidade.
A polêmica na imprensa sobre a
Exposição e o morro do Castelo – que acabou afinal sendo parcialmente demolido
– fazia parte, na verdade, de uma discussão que envolvia os destinos da
República brasileira: o que conservar, o que transformar? Este seria o grande
tema da arte e cultura da década de 1920. Mas não eram só polêmicas que o
governo tinha de enfrentar. Em meio aos preparativos para a Exposição, o clima
esquentou nos quartéis e agravou-se a crise política. Algumas importantes
lideranças militares não reconheceram a derrota do candidato oposicionista Nilo
Peçanha nas eleições presidenciais de março de 1922. Alegavam fraude e não queriam
aceitar que o candidato eleito Artur Bernardes tomasse posse em novembro. Era o
início do movimento tenentista.
No começo de julho, a situação
tornou-se crítica, com a prisão do presidente do Clube Militar, marechal Hermes
da Fonseca. No dia 5, eclodiu um levante militar no Rio de Janeiro. A revolta
foi logo debelada, mas um grupo de jovens oficiais do Exército resolveu
enfrentar, em plena praia de Copacabana, as forças legais. Foram fuzilados.
Sobreviveram apenas dois: Eduardo Gomes e Siqueira Campos. O episódio ganhou as
páginas dos jornais e tornou-se conhecido como os 18 do Forte. O governo
reagiu, decretando o estado de sítio, que seria mantido até o final do ano de
1922. Os militares envolvidos na revolta foram presos e processados.
Foi, portanto, em estado de alerta
que, no mês de setembro, Epitácio Pessoa começou a receber os visitantes
estrangeiros para a Exposição Universal do Rio de Janeiro.
*Reprodução Integral.
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Fonte
CENTENÁRIO da Independência. In:
NAVEGANDO na história: Era Vargas: anos 20 a 1945 [on-line]. Rio de Janeiro:
CPDOC, 2004. Disponível em:
.
Acesso em: 25 nov. 2004.
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