Discurso sobre o espírito positivo.
Sobre o Autor.
Isidore
Auguste Marie François Xavier nasceu em 1798, em Montpellier, na França e
morreu em Paris no ano de 1857. Ingressou na Escola Politécnica de Paris aos 16
anos, de onde foi expulso após participar de um protesto estudantil e após um
curto período estudando medicina foi trabalhar como secretário de Henri Saint-Simon
(expoente do socialismo utópico francês).
Em
1824, Comte rompeu com o antigo mestre publicamente. Ao pesquisar sobre os
motivos de tal separação encontramos duas explicações. Stephen Trombley afirma
que a principal motivação foi a tentativa de Saint-Simon de publicar, por meio
de sua editora, e em seu próprio nome a primeira parte do Curso de Filosofia
Positiva. Já Antônio Joaquim Severino defende que o rompimento foi de ordem
intelectual/filosófica sobre a maneira de desencadear a reforma política da
sociedade. Para Comte a primeira reforma deveria ser a da inteligência e as
reformas oriundas da desordem social decorriam de ignorância.
Depressivo,
Comte tentou suicídio diversas vezes. E chegou a ser internado em um asilo no
ano de 1826. Mesmo assim seguiu publicando suas obras até sua morte, decorrente
de câncer, em 1857.
Contexto.
Comte
viveu em meio a efervescência da Europa do século XIX. As transformações econômicas
e políticas oriundas da Revolução Industrial e da Revolução francesa foram, sem
dúvidas, os pilares do pensamento do autor.
Em
meio ao desenvolvimento econômico inédito consequente do surgimento das novas
tecnologias e a instabilidade política de um França balançada por uma sequencia
de revoluções, Comte surge como um ferrenho defensor do progresso e da ordem.
Positivismo.
O
positivismo comtiano é fruto de um entusiasmo em torno da ideia de que o progresso
humano e social seria algo ininterrupto e irrefreável. As condições materiais desenvolvidas
pela ciência oriunda das Revoluções Industriais seriam capazes de oferecer
todas as ferramentas necessárias para a solução de todos os problemas da
humanidade. O positivista é antes de tudo um otimista científico.
Para
o positivista há a certeza absoluta de que a ciência, por meio da tecnologia e
da indústria, será capaz de garantir a toda humanidade o progresso ilimitado, o
bem-estar generalizado, a paz duradoura e a solidariedade humana.
O
positivista defende a ciência como a única forma possível de conhecimento.
Desta forma, Comte rejeita a metafisica e o idealismo de Kant e Hegel, a favor
de uma abordagem que excluía qualquer estudo que não fosse diretamente
observável, uma vez que a referência do conhecimento deveria ser o fato físico,
empírico, positivo.
Na
obra Discurso sobre o espírito positivo, Comte caracteriza o Positivismo como
uma filosofia compromissada em primeiro lugar com a realidade, mediante
pesquisas verificáveis através da experiência. Em segundo lugar pela utilidade,
ou seja, o conhecimento deve servir para o progresso humano, abandonando
especulações vazias e estéreis da metafísica. Em terceiro lugar, enquanto
conhecimento científico, o positivismo defende o compromisso com a verdade e a
certeza. Em quarto, o compromisso com o método científico. E por último,
compromisso com o aperfeiçoamento científico, que deverá caminha sempre em
direção de uma maior expressão da verdade.
A
Lei dos três estados.
Talvez
a mais conhecida das teorias de Auguste Comte, a lei dos três estados toma
emprestado o conceito de evolução recém apresentado por Charles Darwin, e o
transporta para sua análise social.
Comte
apresenta uma ideia evolutiva/histórica do desenvolvimento intelectual do homem.
Para ele, a humanidade passou por três estágio de desenvolvimento, sendo o
primeiro o estado teológico (do surgimento do homem ao feudalismo), o segundo o
estado metafísico (das Reformas Protestantes a Revolução Francesa) e o terceiro
o estado positivo (era industrial).
Estado
teológico é dividido em três fases:
1. Fetichismo:
mais próximo a infância da humanidade é caracterizado pela adoração de astros, ídolos
e objetos, pelo panteísmo e corpos exteriores.
2. Politeísmo:
adoração de diversos seres fictícios e invisíveis. Explicações mitológicas e
sobrenaturais. Na Europa caracterizado principalmente pelo mundo greco-romano.
3. Monoteísmo:
topo do pensamento teológico, início da substituição da imaginação pela razão.
O
Estado metafísico se assemelha a um período de transição entre o estado teológico
e o positivo, misturando pensamento científico com religiosidade. É necessário
para a gestação do positivismo.
Por
fim, o Estado positivo que tem por máxima a “lei da subordinação constante da
imaginação à observação”. Período máximo do desenvolvimento intelectual da
humanidade.
Conte
assemelhou estes estados ao desenvolvimento humano individual, onde a infância seria
o estado teológico, a juventude o metafísico e a maturidade o positivismo.
Influência.
Mediante
as grandes transformações políticas, sociais e econômicas iniciadas no século
XVIII, diversos autores buscaram, a sua maneira, explicar as transformações
ocorridas na Europa e no mundo. Adam Smith buscou explicações econômicas, Rousseau
explicações político-filosóficas, Adam Ferguson explicações sociais, mas
somente Comte foi capaz de elaborar uma teoria filosófica que englobasse tudo
isso.
Sua
contribuição pavimentou o caminho para a criação da sociologia por Émile
Durkheim, uma vez que defendeu uma abordagem que levasse em consideração o método
científico para o estudo das sociedades.
Ordem e progresso.
Comte
via o positivismo como uma forma de combater as incertezas políticas e sociais
que rondavam a Europa pós-revolução Francesa e de defender a desenvolvimento científico
promovido pela industrialização da Europa.
Desta
forma o autor cunhou o seguinte lema “o amor por princípio, a ordem por base e
o progresso por fim”. Onde defendia o altruísmo e a fraternidade humana como
elemento inicial da ordem social e do progresso humano.
Esta
frase (sem a palavra amor) foi estampada na bandeira nacional brasileira após a
Proclamação da república e mostra o tamanho da influência comtiana no
pensamento militar brasileiro em fins do século XIX.
Religião
da humanidade.
Comte
rejeitava de tal maneira as explicações sobrenaturais, religiosas e metafísicas
dos estados anteriores ao positivismo que procurou instaurar uma religião da
humanidade.
Na
religião da humanidade não há Deus nem divindades, não há vida após a morte e
explicações mitológicas. É uma religião que se propõe a prestar homenagem a
grandes homens e mulheres do passado que foram responsáveis pelo
desenvolvimento e progresso da humanidade.
A
primeira capela foi construída por Comte na França no século XIX e há 3 delas
no Brasil.
Referências.
A
RELIGIÃO DA HUMANIDADE. Disponível em < http://templodahumanidade.org.br/a-religiao-da-humanidade/
> Acesso Jan 2021.
COMTE,
Auguste. Discurso sobre o espírito positivo. São Paulo: Folha de S. Paulo.
2021. Coleção os pensadores.
MEIER,
Celito. Filosofia: por uma inteligência da complexidade. Vol único: ensino
médio. 2ª ed. Belo Horizonte, 2014.
SEVERINO,
Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1994 (coleção magistério 2º grau).
THORPE,
Christopher. O livro da sociologia. 2ª edição. São Paulo. GloboLivros, 2016.
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