quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Resenha sobre o Positivismo de Auguste Comte

 


Discurso sobre o espírito positivo.

Sobre o Autor.

Isidore Auguste Marie François Xavier nasceu em 1798, em Montpellier, na França e morreu em Paris no ano de 1857. Ingressou na Escola Politécnica de Paris aos 16 anos, de onde foi expulso após participar de um protesto estudantil e após um curto período estudando medicina foi trabalhar como secretário de Henri Saint-Simon (expoente do socialismo utópico francês).

Em 1824, Comte rompeu com o antigo mestre publicamente. Ao pesquisar sobre os motivos de tal separação encontramos duas explicações. Stephen Trombley afirma que a principal motivação foi a tentativa de Saint-Simon de publicar, por meio de sua editora, e em seu próprio nome a primeira parte do Curso de Filosofia Positiva. Já Antônio Joaquim Severino defende que o rompimento foi de ordem intelectual/filosófica sobre a maneira de desencadear a reforma política da sociedade. Para Comte a primeira reforma deveria ser a da inteligência e as reformas oriundas da desordem social decorriam de ignorância.

Depressivo, Comte tentou suicídio diversas vezes. E chegou a ser internado em um asilo no ano de 1826. Mesmo assim seguiu publicando suas obras até sua morte, decorrente de câncer, em 1857.

 

Contexto.

Comte viveu em meio a efervescência da Europa do século XIX. As transformações econômicas e políticas oriundas da Revolução Industrial e da Revolução francesa foram, sem dúvidas, os pilares do pensamento do autor.

Em meio ao desenvolvimento econômico inédito consequente do surgimento das novas tecnologias e a instabilidade política de um França balançada por uma sequencia de revoluções, Comte surge como um ferrenho defensor do progresso e da ordem.

 

Positivismo.

O positivismo comtiano é fruto de um entusiasmo em torno da ideia de que o progresso humano e social seria algo ininterrupto e irrefreável. As condições materiais desenvolvidas pela ciência oriunda das Revoluções Industriais seriam capazes de oferecer todas as ferramentas necessárias para a solução de todos os problemas da humanidade. O positivista é antes de tudo um otimista científico.

Para o positivista há a certeza absoluta de que a ciência, por meio da tecnologia e da indústria, será capaz de garantir a toda humanidade o progresso ilimitado, o bem-estar generalizado, a paz duradoura e a solidariedade humana.

O positivista defende a ciência como a única forma possível de conhecimento. Desta forma, Comte rejeita a metafisica e o idealismo de Kant e Hegel, a favor de uma abordagem que excluía qualquer estudo que não fosse diretamente observável, uma vez que a referência do conhecimento deveria ser o fato físico, empírico, positivo.

Na obra Discurso sobre o espírito positivo, Comte caracteriza o Positivismo como uma filosofia compromissada em primeiro lugar com a realidade, mediante pesquisas verificáveis através da experiência. Em segundo lugar pela utilidade, ou seja, o conhecimento deve servir para o progresso humano, abandonando especulações vazias e estéreis da metafísica. Em terceiro lugar, enquanto conhecimento científico, o positivismo defende o compromisso com a verdade e a certeza. Em quarto, o compromisso com o método científico. E por último, compromisso com o aperfeiçoamento científico, que deverá caminha sempre em direção de uma maior expressão da verdade.

 

A Lei dos três estados.

Talvez a mais conhecida das teorias de Auguste Comte, a lei dos três estados toma emprestado o conceito de evolução recém apresentado por Charles Darwin, e o transporta para sua análise social.

Comte apresenta uma ideia evolutiva/histórica do desenvolvimento intelectual do homem. Para ele, a humanidade passou por três estágio de desenvolvimento, sendo o primeiro o estado teológico (do surgimento do homem ao feudalismo), o segundo o estado metafísico (das Reformas Protestantes a Revolução Francesa) e o terceiro o estado positivo (era industrial).

Estado teológico é dividido em três fases:

1.      Fetichismo: mais próximo a infância da humanidade é caracterizado pela adoração de astros, ídolos e objetos, pelo panteísmo e corpos exteriores.

2.      Politeísmo: adoração de diversos seres fictícios e invisíveis. Explicações mitológicas e sobrenaturais. Na Europa caracterizado principalmente pelo mundo greco-romano.

3.      Monoteísmo: topo do pensamento teológico, início da substituição da imaginação pela razão.

O Estado metafísico se assemelha a um período de transição entre o estado teológico e o positivo, misturando pensamento científico com religiosidade. É necessário para a gestação do positivismo.

Por fim, o Estado positivo que tem por máxima a “lei da subordinação constante da imaginação à observação”. Período máximo do desenvolvimento intelectual da humanidade.

Conte assemelhou estes estados ao desenvolvimento humano individual, onde a infância seria o estado teológico, a juventude o metafísico e a maturidade o positivismo.

 

Influência.

Mediante as grandes transformações políticas, sociais e econômicas iniciadas no século XVIII, diversos autores buscaram, a sua maneira, explicar as transformações ocorridas na Europa e no mundo. Adam Smith buscou explicações econômicas, Rousseau explicações político-filosóficas, Adam Ferguson explicações sociais, mas somente Comte foi capaz de elaborar uma teoria filosófica que englobasse tudo isso.

Sua contribuição pavimentou o caminho para a criação da sociologia por Émile Durkheim, uma vez que defendeu uma abordagem que levasse em consideração o método científico para o estudo das sociedades.

 

Ordem e progresso.

Comte via o positivismo como uma forma de combater as incertezas políticas e sociais que rondavam a Europa pós-revolução Francesa e de defender a desenvolvimento científico promovido pela industrialização da Europa.

Desta forma o autor cunhou o seguinte lema “o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”. Onde defendia o altruísmo e a fraternidade humana como elemento inicial da ordem social e do progresso humano.

Esta frase (sem a palavra amor) foi estampada na bandeira nacional brasileira após a Proclamação da república e mostra o tamanho da influência comtiana no pensamento militar brasileiro em fins do século XIX.

 

Religião da humanidade.

Comte rejeitava de tal maneira as explicações sobrenaturais, religiosas e metafísicas dos estados anteriores ao positivismo que procurou instaurar uma religião da humanidade.

Na religião da humanidade não há Deus nem divindades, não há vida após a morte e explicações mitológicas. É uma religião que se propõe a prestar homenagem a grandes homens e mulheres do passado que foram responsáveis pelo desenvolvimento e progresso da humanidade.

A primeira capela foi construída por Comte na França no século XIX e há 3 delas no Brasil.

 

Referências.

A RELIGIÃO DA HUMANIDADE. Disponível em < http://templodahumanidade.org.br/a-religiao-da-humanidade/ > Acesso Jan 2021.

COMTE, Auguste. Discurso sobre o espírito positivo. São Paulo: Folha de S. Paulo. 2021. Coleção os pensadores.

MEIER, Celito. Filosofia: por uma inteligência da complexidade. Vol único: ensino médio. 2ª ed. Belo Horizonte, 2014.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1994 (coleção magistério 2º grau).

THORPE, Christopher. O livro da sociologia. 2ª edição. São Paulo. GloboLivros, 2016.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário