Café e indústria*
Com a eclosão da Primeira Guerra
Mundial, em 1914, o fluxo internacional de comércio sofreu uma drástica
desaceleração. Aumentaram as dificuldades para a exportação do café brasileiro,
que foram ainda mais agravadas pela volumosa safra de 1917-18. Paralelamente,
porém, o conflito mundial favoreceu o processo de industrialização do Brasil. A
interrupção da entrada de capitais estrangeiros e a obrigação de honrar os
compromissos da dívida externa minaram os estoques de divisas nacionais. Como
conseqüência, foi necessário controlar as importações, já prejudicadas devido à
guerra, e promover a produção nacional de artigos industrializados. Estima-se
que a produção industrial brasileira cresceu a uma taxa anual de 8,5% durante
os anos de conflito.
Ao mesmo tempo que incentivava, a
guerra criava limites à expansão da nossa indústria, ao impedir a reposição e
manutenção de máquinas e equipamentos. O problema era que o Brasil continuava
carente de uma indústria de base que inclui a produção de aço, ferro e cimento.
Data somente de 1924 o início da produção de aço no país, pela siderúrgica Belgo-Mineira,
enquanto a produção de cimento, pela Companhia de Cimento Portland, só
se iniciou em 1926.
O processo de
industrialização da década de 1920 se dividiu em duas etapas: a primeira até
1924, coincidindo com a terceira valorização do café – 1921-24 –, quando foram
realizados importantes investimentos em maquinaria, que levaram à modernização
da indústria; a segunda, de 1924 até 1929, quando ocorreu um processo de
desaceleração na produção industrial, em virtude da retomada do fluxo de
importações, graças a uma taxa de câmbio que tornava mais barato o produto
estrangeiro.
A despeito da relação simbiótica
entre café e indústria, que se refletia inclusive na união das famílias por
meio de casamentos ou no duplo papel do cafeicultor-industrial, não se pode
negar a existência de disputas entre fazendeiros e industriais, principalmente
quanto à delicada questão da elevação de tarifas. Tanto a burguesia cafeeira
quanto a nascente burguesia industrial queriam proteger seus interesses.
Assim, em 1922 foi criado o Instituto
de Defesa Permanente do Café, órgão destinado a organizar o mercado produtor
nacional. Não tardou muito para que essa função passasse a ser atribuição do
estado de São Paulo, com a criação, em 1924, do Instituto do Café de São Paulo.
Os industriais também se organizaram em diversas associações de classe, em
cidades como São Paulo, Porto Alegre e Juiz de Fora. Mas foi o Centro
Industrial do Brasil – CIB –, sediado no Rio de Janeiro, o que mais se destacou
por procurar articular os interesses empresariais em todo o país. Ao longo das
greves ocorridas entre 1917 e 1920, conseguiu garantir a união do setor
industrial frente à classe operária. O CIB também procurou limitar a
intervenção do Estado na questão social, a fim de evitar um excesso de ônus
para os industriais e o cerceamento de sua liberdade na condução das relações
com o operariado.
A crise política dos anos 20 foi
caracterizada pela rejeição do sistema oligárquico, que era associado ao rei
Café. Seu desfecho foi o fim da hegemonia da burguesia cafeeira na condução
da economia e da política brasileiras. Mas a estreita relação entre café e
indústria fez com que tanto os cafeicultores quanto os industriais fossem
identificados como beneficiários da política do governo. De fato, os
industriais – supostamente representantes dos novos tempos – aliaram-se em sua
maioria aos setores mais conservadores das forças em luta. Ao se inaugurar a
Era Vargas, apesar das dificuldades políticas e econômicas enfrentadas, a
industrialização do país já iniciara um caminho sem retorno.
*Reprodução Integral.
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Fonte
CAFÉ e indústria. In: NAVEGANDO na
história: Era Vargas: anos 20 a 1945 [on-line]. Rio de Janeiro: CPDOC, 2004.
Disponível em:
.
Acesso em: 25 nov. 2004.
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