EDUCAR
x CUIDAR
Autor:
Ferreira K.P.
Segundo ARANHA (1996),
a história da Educação Infantil foi caracterizada pelo assistencialismo, aonde
as crianças iam à escola para serem cuidadas e disciplinadas por adultos. Com o
passar dos tempos aconteceram algumas mudanças na concepção destas escolas, ora
a preocupação era de educar, ora de cuidar. Este binômio sempre esteve presente
nesta história, como pontos antagônicos.
Atualmente,
ultrapassando esta visão, pressupõe-se que educar e cuidar são pontos complementares,
quando se fala em Educação de crianças em qualquer nível. Embora a ação de cuidar e a ação de educar
sejam processos interligados, pois uma completa a outra, se faz necessário a
distinção de ambos, para termos uma compreensão coerente em suas semelhanças e
diferenças.
O educar é proporcionar
à criança a oportunidades de desenvolver suas capacidades e habilidades. O
Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil nos diz que:
Educar significa,
portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens
orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento
das capacidades infantis de relação interpessoal e de ser e estar com os outros
em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas
crianças aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural (1998
p.24).
Educar significa
proporcionar à criança momentos, espaços e valores de diversas formas e
natureza, através da disciplina, da brincadeira e da troca de opiniões e sentimentos.
Oferecer à criança um ambiente acolhedor, onde ela possa ter liberdade de
expressão, sendo vista como um sujeito possuidora de seus direitos. Oportunizar
a esse ser o despertar de suas potencialidades e capacidades, proporcionando
uma aprendizagem significativa, interagindo através de comportamento social
correto, organizado e baseado na construção do diálogo e na disciplina de seus
atos.
Cabe ao educador
oportunizar um ambiente estimulador associado à realidade do aluno, para que a
ação educativa diária seja um constante desafio estimulador. É o educar para a
vida e para o exercício da cidadania. Cuidar significa auxiliar a criança em
seus primeiros passos. O cuidar não é restrito ao aspecto biológico do corpo,
mas é associado também à dimensão afetiva, pois a criança precisa de segurança,
apoio, incentivo e envolvimento do professor. É relevante considerar as
necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem
nos fornecer dados significativos sobre a qualidade do que estão recebendo.
Cabe ao educador estabelecer um vínculo com quem é cuidado, auxiliando a
criança a identificar suas necessidades e priorizá-las, assim como atendê-las
de forma eficaz.
Uma vez que a Educação
das crianças deve ser estruturada com base paralelamente ao educar e o ensinar,
é de suma importância a formação consciente do professor, como agente
transformador do futuro dessas crianças. E não podemos esquecer que a educação
trás consigo a disciplina, seja na escola, na família e na sociedade. Faz parte
do ser humano ser passivo de modificações em seus comportamentos que elaboram
as bases e o desenvolvimento da educação, com organização e respeito. O
educador que trabalha com as crianças em idade de freqüentar as séries finais
da Educação Infantil, deve estar disposto a ir além do que lhe cabe por dever a
cada dia, pois a tarefa desempenhada neste processo diário de educação exige um
entregar-se maior e mais constante.
Desta forma o trabalho
do educador deve estar centrado na organização do tempo, na escolha correta dos
conteúdos e na disciplina rotineira do ambiente escolar, como hábitos de
comportamentos saudáveis gerando um convívio harmonioso e, consequentemente,
criador de atitudes sérias e produtivas.
Conforme o Referencial
Curricular Nacional para Educação Infantil (1998), compreender, conhecer e
reconhecer o jeito particular das crianças serem e estarem no mundo é o grande
desafio da educação infantil e de seus profissionais. Debates apontam às
necessidades das instituições de Educação Infantil, de incorporem
gradativamente as funções de educar e cuidar, oferecendo às crianças as
condições para a aprendizagem que ocorre nas brincadeiras, e também naquelas
advindas de situações pedagógicas intencionais, planejadas e aplicadas na
escola.
Somente a formação
consciente, por parte desse educador irá possibilitar o entendimento de que, o
ato de educar e o ato de ensinar são pólos de formação inseparáveis, que quando
forem conduzidos simultaneamente, irão proporcionar às crianças a capacidade de
desenvolver sua infância, sem deixar de aprender as atitudes e as tarefas que
suas aptidões têm condições de desenvolver.
Cabe a nós, profissionais da Educação
Infantil, equilibrar estes dois processos complementares e indissociáveis:
educar e cuidar. Sabemos que as crianças, por serem pequenas, necessitam de
cuidados primários: alimentação, higiene, segurança, etc. Por outro lado, não
podemos esquecer que a criança vive um momento fecundo, em que a interação com
as pessoas e as coisas do mundo vão levando-a a atribuir significados àquilo
que a cerca, e ela passa a participar de experiências culturais próprias de seu
grupo social, o que chamamos de educação. É neste sentido que devemos entender
a criança como cidadã dos direitos, um agente ativo e membro da construção de
culturas, ou seja, uma criança a ser ouvida e não apenas aquele ser que escuta,
pois ela é alguém que pensa junto sem deixar que os outros pensarem por ela.
O profissional que
trabalha com esta criança precisa ter claro, qual o conceito que ele possui
sobre a infância, pois este determina a sua prática pedagógica. Ele não deve ser o substituto da mãe, nem
apenas o professor, mas deve criar situações desafiadoras, investigando a
cultura infantil, para que, junto à criança promova novas aprendizagens, tanto
para ele, como para ela. Desta forma, estamos falando de um profissional
pesquisador, que reflete sobre a sua prática e questiona suas concepções a todo
instante. Nesta proposta, educar e cuidar, não são pólos opostos, mas
complementares. E assim o educador estará transmitindo exemplos de disciplina,
organização e competência aos seus alunos que estão se preparando para maiores
desafios.
Portanto, o cuidar e o
educar são indissolúveis e devem ser trabalhados juntos, sem esquecer-se de
buscar o equilíbrio entre ambos, pois ao mesmo tempo em que sabemos que as
crianças precisam de cuidados especiais, devemos também reconhecê-las, como
agentes ativos da sociedade onde vivemos e que construiremos.
Para Piaget (1964), é
necessário conhecer os níveis de desenvolvimento da criança, para deste modo,
saber o que serão ou não capazes de fazer, e assim adaptar os processos de
aprendizagem a esses níveis de desenvolvimento.
Outra noção importante
é a noção de período sensível e refere-se à existência de momentos
particularmente propícios para a aquisição de determinadas aprendizagens. Os
jogos, as oportunidades de interação com seus colegas de mesma idade, também
são meios de favorecer momentos críticos de aprendizagem, neste caso, no campo
das relações interpessoais.
O trabalho dos
professores de Educação Infantil deve andar a luz das pesquisas da Psicologia e
da Pedagogia, e é fundamental que os profissionais que atuam nesta área da
educação, estejam dispostos a programar suas atividades com uma orientação
flexível, que lhes permita adaptar-se às necessidades que cada criança
manifesta, quando lhes são dadas estas oportunidades.
O estabelecimento de
auto-conceito positivo e a certeza de que, mediante sua atividade e seus
processos cognitivos, poderão fazer frente às exigências da vida e da escola
são aquisições fundamentais da criança nesta etapa inicial de sua educação
institucionalizada. Ambas passam, entre outras, pela: Experiência de sentir-se
valiosa, oportunidade de descobrir; possibilidade de equivocar-se e de
retificar (corrigir), sem que o erro seja carregado de valor negativo (ARRIBAS
2004 p.45).
Para atuar nesta
proposta pedagógica, os professores devem programar as formas de trabalho, organizando
as suas ações, partindo do ato de propor aos alunos os valores da confiança, do
respeito e da disciplina, e promover uma participação organizada, pois devem
considerar como uma maneira fundamental estes fatos, porque a criança está no
mundo desenvolvendo múltiplas linguagens, tal com: corporal, plástica, musical,
oral, escrita, faz-de-conta, virtual, etc.
Compreendendo que a
criança é um ser pleno de potencialidades, cabe ao educador que atua nesta
faixa etária da Educação Infantil, estimular suas potencialidades, pois cada
criança terá uma maneira própria de compreender e uma maneira específica de
pensar.
Este período é um
período crítico, como já falamos anteriormente, porque a criança troca de série
escolar, partindo para a 5ª série e encontrando novas situações vividas com
novos professores, e não mais com um professor somente, ao qual ela passou já
há algum tempo. E isso é uma novidade para ela, podendo gerar conflitos e
atitudes de rejeição à escola, aparecendo atos de indisciplina.
Daí os atos de
indisciplina ser maiores e mais notórios neste período de transição da 4ª série
para as cinco séries.
Acredita-se que uma proposta
pedagógica para a educação nesta fase escolar, deve levar em conta, o
desenvolvimento, os interesses e a realidade a qual a criança está inserida.
Portanto, construir uma
proposta pedagógica implica a opção por uma organização curricular que seja um
elemento mediador fundamental da relação entre a realidade cotidiana da
criança, as concepções, os valores e os desejos, as necessidades e os conflitos
vividos em seu meio próximo, a realidade, social mais ampla, com outros
conceitos, valores e visões de mundo. (OLIVEIRA, 2002, p. 169).
Sabe-se que o currículo
não deve ser pré-determinado e nem rígido, por isso acreditamos que o mesmo
deva ser modificado de acordo com as necessidades dos alunos e seus interesses,
mediante as observações do professor. Pois é um projeto coletivo, uma obra
aberta, criativa e apropriada para o “aqui e agora” de cada situação educativa.
Acredita-se que o
educador deva organizar seu planejamento de acordo com um currículo que
priorize e valorize o espaço e o tempo disponível dentro da sua realidade
pedagógica e atenda as necessidades da turma.
Fonte:
http://ferreirakp.blogspot.com.br/2011/04/educar-x-cuidar-ferreira-kp.html
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