Maria Herminia Tavares de Almeida e Luiz Weis.
A classe média brasileira tinha muito a perder aderindo a qualquer movimento revolucionário durante o golpe militar, ela poderia escolher entre desfrutar do crescimento econômicodo país no momento ou...
lutar contra a ditadura e acabar no pau-de-arara.
O texto tem como objetivo tratar apenas de
um segmento da sociedade que participou da resistência ao regime no período de
1964 a 1984, o da chamada Classe Média Intelectualizada que era formada por
estudantes, professores universitários, profissionais liberais, artistas,
jornalistas, publicitário etc. (...)
Deixando de fora os setores mais
combativos da sociedade, que conduziram o país de volta a democracia: como o
Movimento Democrático Brasileiro (MDB), a igreja e as oposições sindicais e
populares.
Este capitulo tem como objetivo descrever
o que constituía ser oposição para essa classe, a experiência cotidiana durante
esses vinte anos.
A classe média foi abalada com a vitória
do golpe, uma vez que veio destituir a débil, mas primeira experiência de
implantar uma verdadeira democracia no Brasil.
A sua resistência baseava se no mal-estar
provocado pela falta de direitos e liberdades individuais. E sua participação
na maioria das vezes era feita de forma indireta. Os graus de participação e o
grau de envolvimento na atividade de resistência variava desde ações
espontâneas de solidariedade até o engajamento nas forças armadas
revolucionárias.
A história da oposição no Brasil pode ser
dividida em três fases: do AI ao AI-5 (1964-1968), do AI-5 ao início da
abertura (1969-1974) e a longa transição rumo ao governo civil (1975-1984).
Na primeira fase a uma certa liberdade de
movimento as oposições, a classe média acredita que o golpe foi um retrocesso
político, mas transitório condenado ao fracasso em pouco tempo. Nesse período
os nacionalistas e os comunistas (aqui representado pelo PCB) são amplamente criticados
por sua imobilidade frente o golpe e seu abandono as metas revolucionárias. A
classe média nesse período testa os limites da censura militar, até que ponto
eles podem ir sem serem perseguidos.
Faz parte do cotidiano participar dos
debates dentro da esquerda que se divide forma extrema em diversos grupos
armados ao longo da ditadura. A conspiração era uma das chaves para a derrota
da ditadura, através de alguma vanguarda ou levante de massas para se instaurar
de vez o socialismo no Brasil.
A Revolução Cubana sem dúvida de grande
inspiração para os movimentos brasileiros. O foquismo dominou de vez a ideia de
uma revolução no Brasil. O aquecimento do clima político na América Latina e no
mundo leva a crença de que o combate armado no Brasil tem futuro.
Do AI-5 ao início da abertura (1969-1974),
esse período é de grande contraste para a classe média brasileira, é o período
de maior repressão do regime militar e o tempo de melhora de vida para essa
classe. O autoritarismo foi amparado pelo surto de expansão econômica. Essa
combinação deixou a classe média desnorteada. Entre o chicote e o afago.
A longa transição rumo ao governo civil
(1975-1984), esse período final representa o fim ordenado da ditadura,
assemelhando-se muito no quesito repressão ao primeiro período. Mas de toda
forma o medo e a opressão permaneceram praticamente o mesmo até o fim em 84.
O que muda nesse período são as
perspectivas de duração da ditadura, já se acredita que o autoritarismo não
possa ser derrotado em curto prazo nem através das armas e muito menos pela
pressão das vanguardas. Na classe média muda-se a idéia da revolução e busca-se
como fim a democracia. Inicia-se a participação no jogo político mesmo sob
limitações.
O movimento pela anistia é o marco da
volta da atividade política ao domínio público, o desgaste do governo
Figueiredo, o restabelecimento das eleições diretas para governador e por fim o
movimento pelas Diretas Já marcam o fim de um ciclo que termina de forma
ordeira e sem grandes turbulências.
NO TRABALHO, OS RISCOS DO OFICIO.
A classe média fez oposição ao
autoritarismo de múltiplas formas, que variavam de intensidade e diversos graus
de envolvimento político.
Apenas uma minoria da classe média
intelectualizada fez resistência ao regime em tempo integral. Para a maioria
fazer resistência era ato que deveria acontecer em conjunto com a vida
cotidiana. Trabalhar de dia e militar como fosse possível à noite por exemplo.
O que era um equilíbrio extremamente frágil. Onde muitas vezes a vida
profissional levava a fazer reverencia ao regime. Ou em muitos casos
transformava a oposição ao regime em cotidiano do trabalho, como é o caso de
advogados especializados em defender perseguidos políticos.
Mas o que acontecia geralmente a essa
classe média, é o fato de quando a repressão batia a sua porta eles paravam com
esse tipo de militância.
Outra atividade onde houve uma grande
repressão foi à produção artística. A censura introduziu uma grande incerteza
no cotidiano de quem fazia teatro, cinema, música e literatura pela simples
razão de ser arbitrária e imprevisível. Em caso de dúvida o censor preferia
errar por excesso, do que por falta.
A censura e ao boicote, que afetavam o
ganha pão somavam-se outras formas de pressão, mais pessoal, como a intimidação
por exemplo.
A mídia apesar de ser muitas vezes alvo da
censura, tinha muito mais do que interesses econômicos em jogo. Dentro do
contexto da guerra fria e revolução cubana as mídias com medo do alastramento
das ideias vermelhas no Brasil. O único jornal de oposição do regime foi o
Correio da manhã que sufocado economicamente pelo regime deixou de circular em
1974.
Quando se tentava fazer um jornalismo
engajado existia o perigo como ocorreu no caso Vladimir Herzog.
CONCLUSÃO:
Não se pode generalizar, mas notasse que a
classe média muitas vezes participava de forma contida do movimento de
resistência ao golpe.
Essa classe podia escolher entre se aliar
ao regime e desfrutar do grande desenvolvimento econômico que o país estava
passando no momento ou se engajar de forma atuante na luta contra a ditadura
arriscando muitas vezes a própria vida.
Podia-se escolher entre comprar um
carro-zero ou entrar no pau-de-arara.
NOVAIS; Fernando. SCHWARZ; Lilian: “A
história da vida privada no Brasil” São Paulo, Companhia das Letras, 1998 Vol.4
*O capitulo não está na integra, somente
apresento sua primeira parte.
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