terça-feira, 4 de maio de 2010

Carro-zero e pau-de-arara: O cotidiano da oposição de classe média ao regime militar.

Cap 05: Carro-zero e pau-de-arara: O cotidiano da oposição de classe média ao regime militar*.
Maria Herminia Tavares de Almeida e Luiz Weis.
A classe média brasileira tinha muito a perder aderindo a qualquer movimento revolucionário durante o golpe militar, ela poderia escolher entre desfrutar do crescimento econômicodo país no momento ou...
 lutar contra a ditadura e acabar no pau-de-arara.


O texto tem como objetivo tratar apenas de um segmento da sociedade que participou da resistência ao regime no período de 1964 a 1984, o da chamada Classe Média Intelectualizada que era formada por estudantes, professores universitários, profissionais liberais, artistas, jornalistas, publicitário etc.   (...)

Deixando de fora os setores mais combativos da sociedade, que conduziram o país de volta a democracia: como o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), a igreja e as oposições sindicais e populares.

Este capitulo tem como objetivo descrever o que constituía ser oposição para essa classe, a experiência cotidiana durante esses vinte anos.

A classe média foi abalada com a vitória do golpe, uma vez que veio destituir a débil, mas primeira experiência de implantar uma verdadeira democracia no Brasil.

A sua resistência baseava se no mal-estar provocado pela falta de direitos e liberdades individuais. E sua participação na maioria das vezes era feita de forma indireta. Os graus de participação e o grau de envolvimento na atividade de resistência variava desde ações espontâneas de solidariedade até o engajamento nas forças armadas revolucionárias.

A história da oposição no Brasil pode ser dividida em três fases: do AI ao AI-5 (1964-1968), do AI-5 ao início da abertura (1969-1974) e a longa transição rumo ao governo civil (1975-1984).

Na primeira fase a uma certa liberdade de movimento as oposições, a classe média acredita que o golpe foi um retrocesso político, mas transitório condenado ao fracasso em pouco tempo. Nesse período os nacionalistas e os comunistas (aqui representado pelo PCB) são amplamente criticados por sua imobilidade frente o golpe e seu abandono as metas revolucionárias. A classe média nesse período testa os limites da censura militar, até que ponto eles podem ir sem serem perseguidos.

Faz parte do cotidiano participar dos debates dentro da esquerda que se divide forma extrema em diversos grupos armados ao longo da ditadura. A conspiração era uma das chaves para a derrota da ditadura, através de alguma vanguarda ou levante de massas para se instaurar de vez o socialismo no Brasil.

A Revolução Cubana sem dúvida de grande inspiração para os movimentos brasileiros. O foquismo dominou de vez a ideia de uma revolução no Brasil. O aquecimento do clima político na América Latina e no mundo leva a crença de que o combate armado no Brasil tem futuro.

Do AI-5 ao início da abertura (1969-1974), esse período é de grande contraste para a classe média brasileira, é o período de maior repressão do regime militar e o tempo de melhora de vida para essa classe. O autoritarismo foi amparado pelo surto de expansão econômica. Essa combinação deixou a classe média desnorteada. Entre o chicote e o afago.

A longa transição rumo ao governo civil (1975-1984), esse período final representa o fim ordenado da ditadura, assemelhando-se muito no quesito repressão ao primeiro período. Mas de toda forma o medo e a opressão permaneceram praticamente o mesmo até o fim em 84.

O que muda nesse período são as perspectivas de duração da ditadura, já se acredita que o autoritarismo não possa ser derrotado em curto prazo nem através das armas e muito menos pela pressão das vanguardas. Na classe média muda-se a idéia da revolução e busca-se como fim a democracia. Inicia-se a participação no jogo político mesmo sob limitações.

O movimento pela anistia é o marco da volta da atividade política ao domínio público, o desgaste do governo Figueiredo, o restabelecimento das eleições diretas para governador e por fim o movimento pelas Diretas Já marcam o fim de um ciclo que termina de forma ordeira e sem grandes turbulências.

NO TRABALHO, OS RISCOS DO OFICIO.

A classe média fez oposição ao autoritarismo de múltiplas formas, que variavam de intensidade e diversos graus de envolvimento político.

Apenas uma minoria da classe média intelectualizada fez resistência ao regime em tempo integral. Para a maioria fazer resistência era ato que deveria acontecer em conjunto com a vida cotidiana. Trabalhar de dia e militar como fosse possível à noite por exemplo. O que era um equilíbrio extremamente frágil. Onde muitas vezes a vida profissional levava a fazer reverencia ao regime. Ou em muitos casos transformava a oposição ao regime em cotidiano do trabalho, como é o caso de advogados especializados em defender perseguidos políticos.

Mas o que acontecia geralmente a essa classe média, é o fato de quando a repressão batia a sua porta eles paravam com esse tipo de militância.

Outra atividade onde houve uma grande repressão foi à produção artística. A censura introduziu uma grande incerteza no cotidiano de quem fazia teatro, cinema, música e literatura pela simples razão de ser arbitrária e imprevisível. Em caso de dúvida o censor preferia errar por excesso, do que por falta.

A censura e ao boicote, que afetavam o ganha pão somavam-se outras formas de pressão, mais pessoal, como a intimidação por exemplo.

A mídia apesar de ser muitas vezes alvo da censura, tinha muito mais do que interesses econômicos em jogo. Dentro do contexto da guerra fria e revolução cubana as mídias com medo do alastramento das ideias vermelhas no Brasil. O único jornal de oposição do regime foi o Correio da manhã que sufocado economicamente pelo regime deixou de circular em 1974.

Quando se tentava fazer um jornalismo engajado existia o perigo como ocorreu no caso Vladimir Herzog.

CONCLUSÃO:

Não se pode generalizar, mas notasse que a classe média muitas vezes participava de forma contida do movimento de resistência ao golpe.

Essa classe podia escolher entre se aliar ao regime e desfrutar do grande desenvolvimento econômico que o país estava passando no momento ou se engajar de forma atuante na luta contra a ditadura arriscando muitas vezes a própria vida.

Podia-se escolher entre comprar um carro-zero ou entrar no pau-de-arara.

NOVAIS; Fernando. SCHWARZ; Lilian: “A história da vida privada no Brasil” São Paulo, Companhia das Letras, 1998 Vol.4

*O capitulo não está na integra, somente apresento sua primeira parte.




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