Análise do Documentário: Corações e Mentes.
Corações e Mentes, vencedor do Oscar de Melhor Documentário em
1974.
Introdução:
Em seu melhor documentário segundo a crítica, Peter Davis mostra o
cotidiano da Guerra Do Vietnã (1964 -1975) de uma forma que até então, nunca
antes havia sido apresentada nos E.U.A e no mundo. Produzido ainda com a guerra
em andamento, o filme mostra o conflito sob ângulos poucos conhecidos na época.
Corações e Mentes aborda a situação da guerra de uma maneira
diferente, dos documentários tradicionais. Ele não apresenta um narrador, uma
ordem cronológica, um ponto de partida e um ponto de chegada.
Peter Davis recolhe 200 horas filmadas entre os anos de 1972 e
1973 , o material coletado vai desde o conflito em si até festas da burguesia
vietnamita passando por depoimentos de ambos os lados e imagens de execuções,
finalizando em 112 minutos de filme que são lançados ao espectador para que
este reflita sobre vários temas da sociedade americana, enquanto vai montando
essa espécie de “quebra cabeça” já que não há apoio de uma ordem cronológica
nem de um narrador.
O documentário apresenta duas grandes narrativas: a dos americanos
(envolvidos diretamente na guerra ou não) e dos vietnamitas (envolvidos
diretamente ou não) que se complementam e se negam a todo momento, mostrando
particularidades de ambos os lados.
Depoimentos americanos:
Peter Davis recolheu além de relatos do front, imagens cotidianas
da sociedade americana.
Uma cena que chama bastante a atenção é a lavagem cerebral feita
na população em geral, mas especialmente nas crianças, como por exemplo, nas
visitas do soldado que foi feito refém das forças Vietcongs e retorna como
herói nacional, visitando escolas e igrejas pregando ideias de defesa da
“liberdade” americana a todo custo, chamando os desertores de antipatrióticos e
profetizando que as crianças irão para a guerra.
A alienação é generalizada em grande parte da sociedade americana
e pasmem até mesmo nas frentes de combate os soldados não sabem o real motivo
da guerra. Muitos apenas repetem clichês como, para salvar o mundo do comunismo,
levar democracia ao Vietnã enquanto outros nem mesmo isso, respondem com um
breve “não sei”.
A xenofobia e o preconceito estão presentes na maioria dos
depoimentos americanos, como se isso desse alguma legitimidade a guerra. O
total desconhecimento do povo vietnamita é mostrado várias vezes, como quando
uma criança chora perante o tumulo de seu pai por quase cinco minutos (ou seja,
em um filme de 112 minutos que teve de ser editado de 200 horas, é muito tempo)
e logo em seguida em um depoimento um homem norte americano típico vomita tal
frase: “o povo oriental devido a sua filosofia não tem apego a vida, muitos
morrem e ninguém liga, eles não são como nós”.
O documentário deixa bem claro como a sociedade americana é uma
sociedade voltada para a arte da guerra, seus jogos e esportes, todos tem esse
parâmetro de luta, não contestação e sofrimento, seus filmes e programas de TV
realçam essa ideia para que ela ganhe legitimidade
Ao final Peter Davis mostra toda a manipulação da memória coletiva
através dos desfiles, paradas e festas cívicas anuais que sempre são
enquadradas no contexto da época que se está vivendo, para que todo ato ganhe
legitimação histórica. O documentário capta bem o que acontece com quem se
opõem a essa máquina, pois em meio a uma dessas paradas anuais um grupo de
veteranos iniciam um protesto, que tem como palavra de ordem “Veteranos querem
emprego não desfiles” esse grupo é hostilizado pela população que assiste ao
desfile e logo em seguida são atacados pela polícia local para que cessem o
protesto. Com isso fica no ar, que tipo de democracia os Estados Unidos queriam
levar ao Vietnã.
Depoimentos Vietnamitas:
Os vietnamitas principalmente a população mais pobre, apoiavam
inteiramente a resistência, desde o fabricante de caixões até o camponês todos
concordavam que era necessário resistir ao inimigo que invadiu o país. O filme
mostrou uma espécie de nacionalismo vietnamita que estava apoiado em Ho Chi
Minh, nos vietcongs e no comunismo.
Em uma entrevista, um cidadão declara “os EUA nos empurram para o
comunismo, pois quem luta contra eles é comunista, então se lutamos por nossa
liberdade contra os EUA nos tornamos comunistas”.
Alguns americanos não entendem como um povo usando chinelos de
dedo, e passando fome conseguem resistir ferozmente à invasão. Já um vietnamita
explica “enquanto houver arroz nós lutaremos e caso acabe nós plantaremos e
continuaremos a lutar”.
Nem toda a população é contra a guerra, a burguesia existente no
Vietnã é flagrada no filme em uma festa comendo e bebendo, esbanjando e rindo
enquanto há batalhas e mortes a poucos quilômetros dali. Um empresário é
entrevistado e diz não ser contra a guerra, pois os Estados Unidos vão trazer o
desenvolvimento para o país.
Considerações finais:
Peter Davis Conseguiu nessa autocritica abrir os olhos dos EUA e
do mundo para a questão do Vietnã. E com esse emaranhado de depoimentos,
imagens e discursos americanos e vietnamitas o diretor consegue fazer um bem-sucedido
manifesto anti-guerra, mostrando ao povo americano as consequências de sua
política imperialista ao redor do mundo.
Ele registra a guerra sob sua ótica, que é a da negação da
necessidade desta guerra. Pois, uma vez que um membro do governo norte
americano, simpatizante da guerra, tivesse recebido a missão de registrar o
conflito, o faria de forma a exaltar os feitos e façanhas de seus soldados e a
necessidade urgente de levar democracia e liberdade para esse país de
selvagens. O documentário de Peter Davis serve de luz para entender a uma era
imperialista que ainda não acabou.
Obs: Todos os diálogos aqui apresentados, não são fiéis ao filme,
pois, como só tive a oportunidade de assisti-lo uma vez não consegui aprofundar-me
mais e reproduzi-los fielmente. Baseei-me apenas em anotações e na memória.
mimimimimimim
ResponderExcluirÓtimo comentário, grande crítica.
Excluir