sexta-feira, 28 de maio de 2010

Análise do Documentário: Corações e Mentes.



Análise do Documentário: Corações e Mentes.
Corações e Mentes, vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 1974.
Introdução:
Em seu melhor documentário segundo a crítica, Peter Davis mostra o cotidiano da Guerra Do Vietnã (1964 -1975) de uma forma que até então, nunca antes havia sido apresentada nos E.U.A e no mundo. Produzido ainda com a guerra em andamento, o filme mostra o conflito sob ângulos poucos conhecidos na época.
Corações e Mentes aborda a situação da guerra de uma maneira diferente, dos documentários tradicionais. Ele não apresenta um narrador, uma ordem cronológica, um ponto de partida e um ponto de chegada.
Peter Davis recolhe 200 horas filmadas entre os anos de 1972 e 1973 , o material coletado vai desde o conflito em si até festas da burguesia vietnamita passando por depoimentos de ambos os lados e imagens de execuções, finalizando em 112 minutos de filme que são lançados ao espectador para que este reflita sobre vários temas da sociedade americana, enquanto vai montando essa espécie de “quebra cabeça” já que não há apoio de uma ordem cronológica nem de um narrador.
O documentário apresenta duas grandes narrativas: a dos americanos (envolvidos diretamente na guerra ou não) e dos vietnamitas (envolvidos diretamente ou não) que se complementam e se negam a todo momento, mostrando particularidades de ambos os lados.
Depoimentos americanos:
Peter Davis recolheu além de relatos do front, imagens cotidianas da sociedade americana.
Uma cena que chama bastante a atenção é a lavagem cerebral feita na população em geral, mas especialmente nas crianças, como por exemplo, nas visitas do soldado que foi feito refém das forças Vietcongs e retorna como herói nacional, visitando escolas e igrejas pregando ideias de defesa da “liberdade” americana a todo custo, chamando os desertores de antipatrióticos e profetizando que as crianças irão para a guerra.
A alienação é generalizada em grande parte da sociedade americana e pasmem até mesmo nas frentes de combate os soldados não sabem o real motivo da guerra. Muitos apenas repetem clichês como, para salvar o mundo do comunismo, levar democracia ao Vietnã enquanto outros nem mesmo isso, respondem com um breve “não sei”.
A xenofobia e o preconceito estão presentes na maioria dos depoimentos americanos, como se isso desse alguma legitimidade a guerra. O total desconhecimento do povo vietnamita é mostrado várias vezes, como quando uma criança chora perante o tumulo de seu pai por quase cinco minutos (ou seja, em um filme de 112 minutos que teve de ser editado de 200 horas, é muito tempo) e logo em seguida em um depoimento um homem norte americano típico vomita tal frase: “o povo oriental devido a sua filosofia não tem apego a vida, muitos morrem e ninguém liga, eles não são como nós”.
O documentário deixa bem claro como a sociedade americana é uma sociedade voltada para a arte da guerra, seus jogos e esportes, todos tem esse parâmetro de luta, não contestação e sofrimento, seus filmes e programas de TV realçam essa ideia para que ela ganhe legitimidade
Ao final Peter Davis mostra toda a manipulação da memória coletiva através dos desfiles, paradas e festas cívicas anuais que sempre são enquadradas no contexto da época que se está vivendo, para que todo ato ganhe legitimação histórica. O documentário capta bem o que acontece com quem se opõem a essa máquina, pois em meio a uma dessas paradas anuais um grupo de veteranos iniciam um protesto, que tem como palavra de ordem “Veteranos querem emprego não desfiles” esse grupo é hostilizado pela população que assiste ao desfile e logo em seguida são atacados pela polícia local para que cessem o protesto. Com isso fica no ar, que tipo de democracia os Estados Unidos queriam levar ao Vietnã.
Depoimentos Vietnamitas:
Os vietnamitas principalmente a população mais pobre, apoiavam inteiramente a resistência, desde o fabricante de caixões até o camponês todos concordavam que era necessário resistir ao inimigo que invadiu o país. O filme mostrou uma espécie de nacionalismo vietnamita que estava apoiado em Ho Chi Minh, nos vietcongs e no comunismo.
Em uma entrevista, um cidadão declara “os EUA nos empurram para o comunismo, pois quem luta contra eles é comunista, então se lutamos por nossa liberdade contra os EUA nos tornamos comunistas”.
Alguns americanos não entendem como um povo usando chinelos de dedo, e passando fome conseguem resistir ferozmente à invasão. Já um vietnamita explica “enquanto houver arroz nós lutaremos e caso acabe nós plantaremos e continuaremos a lutar”.
Nem toda a população é contra a guerra, a burguesia existente no Vietnã é flagrada no filme em uma festa comendo e bebendo, esbanjando e rindo enquanto há batalhas e mortes a poucos quilômetros dali. Um empresário é entrevistado e diz não ser contra a guerra, pois os Estados Unidos vão trazer o desenvolvimento para o país.
Considerações finais:
Peter Davis Conseguiu nessa autocritica abrir os olhos dos EUA e do mundo para a questão do Vietnã. E com esse emaranhado de depoimentos, imagens e discursos americanos e vietnamitas o diretor consegue fazer um bem-sucedido manifesto anti-guerra, mostrando ao povo americano as consequências de sua política imperialista ao redor do mundo.
Ele registra a guerra sob sua ótica, que é a da negação da necessidade desta guerra. Pois, uma vez que um membro do governo norte americano, simpatizante da guerra, tivesse recebido a missão de registrar o conflito, o faria de forma a exaltar os feitos e façanhas de seus soldados e a necessidade urgente de levar democracia e liberdade para esse país de selvagens. O documentário de Peter Davis serve de luz para entender a uma era imperialista que ainda não acabou.
Obs: Todos os diálogos aqui apresentados, não são fiéis ao filme, pois, como só tive a oportunidade de assisti-lo uma vez não consegui aprofundar-me mais e reproduzi-los fielmente. Baseei-me apenas em anotações e na memória.



2 comentários: