Escrita por Engels em 1876 e Publicada pela primeira vez em 1896 em Neue Zeit. |
Influenciado por Charles Darwin, Engels se aventura no campo do surgimento e desenvolvimento evolucional do ser humano. E claro dando sua contribuição marxista a questão.
Boa Leitura
Fichamento: Sobre
o Papel do Trabalho na Transformação do macaco em homem.
(P.13)
O
trabalho é a fonte de toda a riqueza. A natureza é a encarregada de fornecer os
materiais que o trabalho converte em riqueza. Contudo, o trabalho é mais que
isso, podemos até mesmo dizer que o trabalho criou o próprio homem.
(P.14)
Há
centenas de milhares de anos, vivia em alguma zona tropical uma raça de macacos
antropomorfos extremamente desenvolvidos. Que segundo Darwin eram, cobertos de
pelos, tinham barbas, orelhas pontiagudas, viviam em árvores e formavam manadas.
Supõe-se que,
por seu estilo de vida, aos poucos foram prescindindo das mãos para caminhar e
adotaram uma posição mais ereta. Esse foi o passo decisivo para a transição do
macaco em homem.
(P.15)
As
mãos livres possibilitaram o exercício de funções cada vez mais variadas. As
mãos servem para recolher e sustentar os alimentos, empunhar um pedaço de pau –
com o qual se defendiam de inimigos – ou para bombardear com frutos e pedras.
Por mais que os
primatas de hoje sejam parecidos com nós, é nas mãos que se percebe a distância
entre ele e nós. O número e a disposição dos ossos são os mesmos nos macacos e
nos homens. Mas qualquer homem, por mais selvagem que seja é capaz de realizar
centenas de operações impossíveis para qualquer macaco. Nenhuma mão simiesca
jamais construiu um machado de pedra, por mais que fosse.
(P.16)
Por
isso, as funções, para quais nossos antepassados foram adaptando pouco a pouco
suas mãos foram inicialmente muito simples. Antes da primeira lasca de sílex
ter sido transformada em machado, deve ter transcorrido um período extremamente
longo. Entretanto, já havia sido dado o passo decisivo: a mão era livre e podia
adquirir cada vez mais destreza e habilidade, transmitida por herança e
aumentando de geração em geração.
Vemos, pois, que
a mão não é apenas o órgão do trabalho; é também produto dele. Unicamente pelo
trabalho, pela adaptação a novas funções, pela transmissão hereditária, pela
aplicação das habilidades transmitidas, foi que a mão do homem atingiu esse
grau de perfeição.
Mas a mão faz
parte de um organismo íntegro e sumamente complexo. O que beneficiava a mão
também beneficiava o corpo em dois aspectos.
(P.17)
Primeiramente,
o que Darwin chamou de correlação de crescimento. Segundo essa lei, certas
formas das diferentes partes dos seres orgânicos sempre estão ligadas a
determinadas formas de outras partes, que aparentemente não têm nenhuma relação
com as primeiras. Um exemplo é que todos os animais que possuem glóbulos
vermelhos sem núcleo e cujo occiptal está articulado com a primeira vertebra
por dois côndilos, possuem, sem exceção, glândulas mamárias para alimentar suas
crias. Segundo esta lei, o aperfeiçoamento gradual da mão do homem e a
adaptação concomitante dos pés ao andam em posição ereta exerceram grande
influência sobre outras partes do organismo.
(P.18)
Muito
mais importante é a ação direta – possível de ser demonstrada – exercida pela mão
sobre o resto do organismo. Com o desenvolvimento manual, desenvolveu-se o
trabalho conjunto e a ajuda mutua. Chegando a um ponto em que tiveram a
necessidade de se comunicarem. A necessidade criou o órgão: a laringe.
Inicialmente pouco desenvolvida foi se aperfeiçoando em conjunto com a boca que
aprendia pouco a pouco a pronunciar os sons.
(P.19)
Primeiro
o trabalho e, depois dele e com ele, a palavra articulada, foram os dois
estímulos principais sob cuja influência o cérebro do macaco foi se transformando
gradualmente em cérebro humano.
(P.20)
A
medida em que se desenvolvia o cérebro, desenvolviam-se também os órgãos dos
sentidos. Apurando, a visão, a audição, o tato, o olfato e o paladar.
(P.21)
Foi
necessário que transcorressem centenas de milhares de anos, para que a
sociedade humana surgisse daquela manada de macacos que trepavam em árvores.
Mas por fim, surgiu e o que distingue nossos ancestrais da sociedade humana? O
trabalho. A vida como coletores e nômades estagnou o crescimento da população
simiesca.
(P.22)
A
possível falta de comidas específicas proveniente desta estagnação, motivou a
busca por alimentos diferentes. Abrindo assim um leque na dieta dos nossos
ancestrais. Esta alimentação, cada vez mais variada possibilitou as condições
químicas para a transformação destes em humanos.
Mas tudo isso,
ainda não era trabalho. O trabalho começa com a elaboração de instrumentos de
caça e pesca. Sendo esta caça representativa da passagem de uma dieta herbívora
para uma mista. Que é mais um passo em direção da transformação do macaco em
homem.
(P.23)
Dieta
carnívora ofereceu ao organismo ingredientes mais essenciais ao seu
metabolismo. Abreviando o processo de digestão.
Quanto mais o
homem se afastava do reino vegetal, mais se elevava sobre os animais. A
combinação, carne e vegetais contribuiu poderosamente para dar força física e
independência ao homem em formação.
Mas, onde mais
se manifestou a influência da carne no organismo, foi no cérebro. A quantidade
cada vez maior de nutrientes possibilitou o crescimento – geração após geração
– deste órgão tão importante.
O consumo da
carne levou a dois novos avanços decisivos: o uso do fogo e a domesticação dos
animais.
(P.24)
O
primeiro reduziu ainda mais o processo de digestão, o segundo multiplicou a
reserva de carne. A domesticação dos animais ainda proporcionou, com o leite,
ovos e seus derivados uma nova gama de alimentos.
O homem, que
havia aprendido a comer tudo o que era comestível, que aprendeu a viver em
qualquer clima. Estendeu-se por toda a superfície habitável da terra, sendo o
único animal capaz de fazê-lo por iniciativa própria. E a passagem do calor,
para zonas mais frias criou novas exigências, ao obrigar o homem a procurar
abrigo e a cobrir seu corpo. Surgindo, assim novas esferas de trabalho e novas
atividades que afastaram ainda mais os homens dos animais.
(P.25)
Graças
às funções manuais, a linguagem e o cérebro. Os homens foram aprendendo a
executar operações cada vez mais complexas e a se propor a alcançar objetivos
cada vez mais elevados. O trabalho se aperfeiçoava e se diversificava de
geração a geração. À caça e a pesca vieram se juntar a agricultura e mais tarde
a tecelagem, a metalurgia, a olaria e a navegação. Ao lado do comércio e dos
ofícios apareceram, finalmente, as artes e as ciências; das tribos saíram às
nações e os Estados. Apareceram o direito e a política e, com eles, o reflexo
fantástico das coisas no cérebro do homem: a religião.
Frente a todas
essas criações, o trabalho manual ficou relegado a segundo plano. Mesmo na
família primitiva a cabeça que planejava o trabalho já era capaz de obrigar
mãos alheias a realizar o trabalho projetado por ela.
(P.26)
Os
animais influenciam o ambiente, mas de forma involuntária e acidental. Já o
homem o faz de maneira intencional e planejada, cujo fim é alcançar objetivos
planejados de antemão.
(P.27)
A
possibilidade de realizar atos conscientes e premeditados desenvolveu-se nos
animais em correspondência com o desenvolvimento do sistema nervoso e adquire
já nos mamíferos um nível bastante elevado: Mas nem um ato planificado de
nenhum animal pôde imprimir na natureza o selo de sua vontade. Só o homem pôde
fazê-lo.
(P.28)
Resumindo:
só o que podem fazer os animais é utilizar a natureza e modifica-la pelo mero
fato de sua presença nela. O homem, ao contrário, modifica a natureza e a
obriga a servir-lhe, domina-a. E ai está, em última análise, a diferença
essencial entre o homem e os demais animais, diferença que, mais uma vez,
resulta no trabalho.
(P.29)
Contudo,
não devemos nos entusiasmar frente a nossas vitórias sobre a natureza. Uma vez
que as consequências são devastadoras. Uma vez atacada, a natureza devolve a
devastação ao homem.
(P.30)
Com efeito, aprendemos cada vez mais sobre as leis da natureza e as
consequências de nossa intromissão no curso natural de seu desenvolvimento. Hoje
(1876) graças aos grandes avanços tecnológicos e científicos, conhecemos melhor
a natureza e conseguimos prever as consequências de nossos atos e a reação da
natureza.
Mas, se foram
necessários milhares de anos para que o homem aprendesse a prever as remotas consequências
naturais no sentido da produção, muito mais lhe custou aprende a calcular as
remotas consequências sociais desses mesmos atos.
(P.31)
Os
homens que nos séculos XVII e XVIII haviam trabalhado para criar a máquina a
vapor não suspeitavam de que estavam criando um instrumento que, mais que
nenhum outro, subverteu as condições sociais em todo o mundo e que sobretudo na
Europa concentrou a riqueza nas mãos de uma minoria. Incitando a luta de
classes entre burgueses e proletários que só pode terminar com a liquidação da
burguesia e a abolição do antagonismo de classes.
(P.32)
Todos
os modos de produção existentes até hoje só procuravam o efeito útil do
trabalho em sua forma mais direta e imediata. Não faziam o menor caso das consequências
posteriores.
Todos os modos
de produção que vieram após a propriedade comunal conduziram à divisão da
população em classes. Os interesses das classes dominantes converteram-se no
elemento propulsor da produção
Fonte:
ANTUNES, Ricardo (org.) A Dialética do Trabalho. São Paulo: Expressão Popular, 2004. 200 páginas.
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