As aulas de Ensino Religioso podem ser fenomenais nas mãos do professor certo, ou uma arma nas mãos de professores ultra religiosos. |
Por: William Cirilo Teixeira Rodrigues
Durante minha
experiência no magistério, entre uma aula e outra de História, ministrei aos
alunos do 9º ano do ensino fundamental as tão polêmicas aulas de Ensino
Religioso. Aulas estas que podem ser ferramentas fenomenais nas mãos do professor certo, ou
uma arma nas mãos de professores ultra religiosos.
Logo no primeiro
dia de aula, deixava bem claro que caminho iriamos percorrer. Minha aula não
seria uma catequese, nem escolinha dominical. Eu não escreveria salmos na lousa
e muito menos daríamos as mãos para uma oração em nome daqueles alunos que
faltaram. Minha aula seria de História das Religiões.
E por mais incrível que pareça, estas aulas
eram de uma produtividade imensa, pois, diferentemente da Revolução Francesa
por exemplo, de religião todo aluno conhece um pouco. Os debates eram
intrigantes e constantes, as aulas eram marcadas pelas mais diversas
contestações por parte dos alunos que carregavam consigo seus dogmas religiosos
e suas visões de mundo, eu por minha vez fazia questão de implantar a dúvida sobre
as “verdades absolutas” e a compreensão sobre as culturas diferentes.
Minha missão
durante estas aulas era a desconstrução de mitos, a destruição do anacronismo e
a construção da ideia de que o homem é fruto do tempo e da sociedade em que
nasce e cresce.
Uma passagem que
não me esqueço foi quando, durante uma aula sobre o hinduísmo, um aluno me
contestou sobre o semideus Ganesha. Como era possível que na Índia, eles
adorassem e acreditassem em um deus metade homem, metade elefante? E completou:
Isso não faz sentido e é errado! Bom, comecei respondendo que se ele tivesse
nascido na Índia com certeza ele acreditaria, adoraria e defenderia a real
existência de Ganesha e possivelmente se houvesse nascido no interior daquele
país jamais iria saber quem foi Jesus. Por fim completei: entidades
antropozoomorficas não uma exclusividade das religiões politeístas orientais,
você mesmo acredita em um ser sobrenatural metade homem, metade pássaro: os
anjos.
Contudo existe
um risco real no desenvolvimento e condução desta disciplina, e tem ligação
direta com o caráter do professor que a conduz. Quando um professor quer
transformar as aulas de ensino religioso em uma extensão evangelizadora de sua
própria religião as aulas se tornam inócuas, excludentes e preconceituosas.
Se um professor
entra em classe dizendo: não vim aqui para falar desta ou daquela religião, mas
sim de deus[1]
que é um só. Já sei que uma religião será beneficiada em detrimento das outras.
Então, porque não utilizar este espaço para por exemplo, discutir em sala de
aula a importância da laicidade no Estado? Por que os ateus não acreditam no
sobrenatural? Quais são as religiões minoritárias no Brasil? Etc.
Um professor
honesto tratando destes temas da forma correta não ira “desenvangelizar” um
aluno, uma vez que a influência do padre, do pastor, do rabino, em conjunto com
a família é mais forte do que a influência exercida pelo professor em uma aula
por semana. Entretanto, esta única aula servirá para que o aluno contemple o
mundo com outros olhos, compreendendo e respeitando as outras culturas e
religiões.
Por fim, o Ensino
Religioso se bem utilizado evitará a barbárie que é um Estado teocrático, se
mal utilizado será um apêndice desta ou daquela religião em sua louca busca por
fiéis (poder). Pois, com diz o ditado “fé cega, faca amolada”.
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