Cap.
17: Vida Social e Política.
(P.341)
Observaremos
agora os diferentes aspectos desse aglomerado heterogêneo de raças que a
colonização reuniu aqui com o único objetivo de realizar uma vasta empresa
comercial.
Três raças díspares, duas
semibárbaras arrebatadas à força e incorporadas através da violência. E como
era de se esperar, estas raças mal se unem, não formam um todo coeso, mas
justapõe-se uns aos outros constituindo uma unidade de grupos incoerentes e que
apenas coexistem.
(P.342)
Existem
dois setores da vida colonial, o que representa o trabalho escravo e o trabalho
livre. O núcleo central é a escravidão, o trabalho livre é secundário, disperso
e incoerente.
A escravidão desempenha duas
funções: a do trabalho e a sexual. Ambas meramente esforços físicos, animais,
sem nenhuma tentativa de elevar o espírito do escravo.
(P.344)
Em
sema, a escravidão e as relações que dela derivam serão o único setor
organizado da sociedade colonial.
No trabalho livre reina a
desorganização, pessoas que vivem à margem do sistema escravista, entregues a
vadiagem a violência e a caboclização.
(P.345) Esta estrutura
social não é coesa e manteve-se graças a inércia de seu povo.
(P.346)
A
uniformidade da língua, do culto e da cultura serviu posteriormente para a
formação do Brasil como nação e lhe proporcionou a unidade nacional já
realizada na geografia e na tradição, mas só foi utilizada posteriormente em
oposição a metrópole, não sendo importante no período colonial.
Toda sociedade, segundo Caio Prado
fundamenta-se em dois instintos primários do homem: o econômico e o sexual.
(P.347)
O
econômico do Brasil é, como já vimos, fundamentado no trabalho forçado, sendo o
homem livre em geral voltado para o ócio, não gostando de trabalhar. O autor
atribui isso ao sangue indígena e a falta de perspectiva de crescimento do
indivíduo na colônia. Em geral o que caracteriza a colônia é a inércia.
Produzia-se o necessário apenas para não se morrer de fome.
(P.350)
Já
o impulso sexual é marcado pelo desregramento. Isso se dá pelo fato do
povoamento da colônia ser majoritariamente masculina. Tudo aqui parece se
constituir para inibir a formação de família em bases sólidas e estáveis. A
Casa Grande figurava aparentemente como um bastião da família patriarcal
tradicional assentada em bases sólidas, contudo o ambiente de escravidão e
submissão das mulheres propiciavam as relações sexuais irregradas e descaradas.
(P.352)
Havia
em toda colônia um ambiente de indisciplina sexual. E fora as classes
superiores, o casamento era algo excepcional. Estrangeiros que vinham ao Brasil
espantavam-se com a libertinagem, a elasticidade dos costumes e o desgarramento
do povo para com a religião.
(P.356)
Sintetizando
o panorama da sociedade colonial: incoerência e instabilidade de povoamento,
pobreza e miséria econômica, dissolução nos costumes, inércia e corrupção dos
dirigentes leigos e eclesiásticos.
A colonização produziu seus frutos
quando reuniu nesse território imenso e quase deserto, em 300 anos de esforço,
uma população catada em três continentes, e com ela formou, bem ou mal, um conjunto
social inconfundível.
(P.360)
Durante
esses 300 anos o sistema colonial cumpriu seu papel de produzir para exportar. Enquanto
a sociedade possuía apenas duas classes (senhores e escravos) tudo a bem, mas
logo surgiu uma nova classe que não era nem escravo e nem senhor. Esta nova classe
cresceu exponencialmente e o sistema escravista começa ai sua longa jornada
rumo ao fim.
(P.362)
O
Brasil nunca foi um empreendimento de nação, mas um projeto do rei, foi o
monarca e sua administração quem organizou a colonização e a exploração das
colônias, assim os lucros não beneficiavam todo o reino, mas apenas o monarca e
sua corte. O Brasil nada mais era que um negócio do rei.
Sendo assim, mesmo com a crise do
Sistema Colonial tornando-se tão aparente, o reino português nada fez para
conte a ruptura que se aproximava. E que incendiou-se com a Independência dos
EUA.
(P.365)
Aos
poucos o sistema colonial, graças as suas contradições, vai entrando em crise. Da
sociedade brotam conflitos que levam a necessidade de um novo sistema para a
substituição do anterior. Entre as contradições podemos destacar: o conflito
entre proprietários de terras e os comerciantes, a luta entre raças e o
preconceito contra a pele escura (uma vez que estes representavam a maioria da
população), a condição do escravo e sua resistência marcada por fugas e
formações de quilombos.
(P.368)
A
estas situações gerais somam-se assuntos mais específico como o fisco, os
processos empregados nos recrutamentos, a mesquinha política econômica da
metrópole, o despotismo dos capitães gerais, etc. Estes parecem ser os reais
fatores da crise, mas em geral serviam apenas de pretexto para atitudes
extremadas e revolucionárias dos colonos.
(P.370)
O
grande acontecimento que marca o fim desse sistema é a chegada da família real
em 1808. Neste fato histórico vemos que as contradições que já eram latentes põem
em xeque toda a estrutura colonial.
(P.371)
Neste
momento confuso e incoerente de nossa história, há a única instituição coerente
que é a maçonaria. Organização de muita influência na história do Brasil. Podemos
dizer que existem dois níveis políticos no Brasil. Um superficial que
observamos e outro subterrâneo onde estes grupos se encontram e decidem o
futuro do país, agindo como uma filial de um grupo de ramificações
internacionais.
(P.372)
Os
principais políticos deste período são maçons e até o próprio imperador é maçom,
ao que tudo indica há um grupo de indivíduos controlando a política brasileira por
detrás dos bastidores.
(P.373)
Este
interesse maçônico na América Latina se dá em um momento de luta contra as
monarquias europeias. Os maçons instalam-se nas colônias para enfraquece a
Coroa portuguesa e espanhola. Mas em geral os maçons brasileiros não agiam como
maçons, mas como brasileiros, vendo nesta seita uma forma de organização.
(P.374)
Além
das organizações secretas há a intromissão dos franceses e ingleses secretamente
no Brasil, cada qual tentando defender seus interesses.
(P.375)
Outro
setor que liga a política brasileira ao movimento internacional é a ideologia
que se adota. Como não conseguimos forjá-la nós mesmos, fomos em buscar no
pensamento francês do século XVIII nossa ideologia.
Fonte: PRADO JÚNIOR,
Caio: Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo. Ed Brasiliense. 7ª
reimpressão, da 23ª edição de 1994. Pág 341-375.
Nenhum comentário:
Postar um comentário