(P.119) Cap. 05: O Outono da Filosofia Antiga.
(P.120) “Mais vale dormir tranquilo sobre um lito de palha do que ficar insone
e atormentado sobre um trono de ouro” Epicuro.
(P.121) Cínico, cético, epicuristas, estoicos.
Estamos
no período helenístico entre a morte de Alexandre e a anexação da península
grega por Roma. O corpo da Grécia estava quebrado e moído, em nada mais
lembrava os áureos tempos, mas a cultura grega se espalhou por boa parte do
mundo. A Grécia havia cativado Roma.
(P.122) Era época de angústia e desilusões
e os filósofos desta época preocuparam-se mais em encontrar paliativos para as
feridas humanas.
O cão.
Diógenes
(400 – 325 a.C) apesar de contemporâneo de Platão e Aristóteles não partilhava
do otimismo destes em relação ao mundo e ao conhecimento.
(P.123) Diógenes afirmava que todas as
convenções humanas são tolices sem sentido e esforçou-se por contrariá-las. Seu
principal passatempo era insultar e contrariar outros filósofos. Por seu
computador recebeu o apelido de o Cão ou Cínico do grego Kynikos (canino).
(P.124) Sus filosofia era simples: o
universo humano é essencialmente mau – o sábio deve, portanto, proclamar sua independência
em relação ao mundo que o cerca. As posses são coisas sem importância. O acaso
decide quem será rico e quem será pobre. O único valor estável da vida humana é
a virtude individual. O cinismo era uma doutrina de autossuficiência: o ser
humano deve contentar-se consigo mesmo e não exigir nada do universo.
O ceticismo clássico.
Pirro
(365-275 a.C) foi um dos filósofos que acompanhou Alexandre em suas conquistas
pelo oriente. Lá conheceu a doutrina dos gimnosofistas (ascetas indianos) que demonstravam
total indiferença pelo mundo.
(P.125) De volta à Grécia, Pirro passou a
defender a ideia de que o universo é, em sua essência, incompreensível, já que
estamos fadados a ignorância, devemos nos resignar à dúvida eterna e assim
extinguir a angustia do conhecimento absoluto.
Esse
era o caminho para a ataraxia (imperturbável tranquilidade do espírito), o
maior bem que o ser humano pode alcançar sobre a Terra. Esta corrente ficou
conhecida como ceticismo, seus maiores expoentes eram Tímon (discípulo de
Pirro) e Sexto Empírico.
De
acordo com o ceticismo clássico, o mundo divide-se entre Realidade e Aparências.
E o ser humano, por limitações naturais, só tem acesso às aparências.
Os fenômenos
– ou seja, as formas como todas as coisas aparecem à percepção humana – são tudo
o que podemos conhecer. Devemos, portanto nos resignar à superfície das coisas –
pois, além delas, nada poder ser verificado nem afirmado com certeza.
Qualquer
afirmação que tente ir além do mundo dos fenômenos é um dogma – ou seja, uma crença
sem evidências. Contudo, os céticos também criticavam a negação absoluta.
A
posição do ceticismo clássico fica clara quando aplicada a uma questão que
continua atual: a existência de Deus. À primeira vista existem duas respostas a
esta inquietação.
Deus Existe – Deus não existe.
(P.126) Para o cético pirrônico ambos os
dogmas são igualmente plausíveis e igualmente inverificáveis.
Para
os céticos o ateísmo é uma afirmação absoluta sobre um tema que vai além das
aparências – logo é tão dogmático quanto a religião. A resposta de um cético
seria: não sei se Deus existe, e as respostas 1 e 2 se equivalem.
O
ceticismo clássico afirma que devemos viver da melhor maneira possível neste
mundo de aparências, aceitando toda superficialidade deste mundo.
(P.127) Contudo, os céticos diferentes dos
cínicos – que desprezavam o mundo – acreditavam na necessidade de entender e
investigar esse mundo de aparências, pois ele nos fornece uma boa quantidade de
material para reflexão; é bem verdade que a investigação cética é, por definição
interminável, pois jamais levará a uma conclusão absoluta.
Epicuristas e estoicos.
A busca
por serenidade também norteou as reflexões de Epicuro (341-270 a.C). Nascido em
Samos, foi morar em Atenas onde comprou uma casa e começou a ensinar filosofia.
Admitia
mulheres, recebia escravos e prostitutas e toda essa liberdade gerou boatos
super bem-sucedidos criados por escolas rivais.
(P.128) Epicuro afirmava que o prazer é a
fonte de todo o bem, mas que a busca pelo prazer excessivo geralmente levava ao
sofrimento. Sua doutrina pregava a autonomia humana e a apreciação máxima das
pequenas alegrias da vida.
Epicuro
era seguidor de Leucipo e Demócrito, filósofos atomistas que acreditavam que
tudo era formado por átomos e que nada existe no cosmos além da matéria. Portanto,
Epicuro era materialista.
Na
teoria epicurista o materialismo era visto como um antídoto contra a angústia
humana. Se a alma se extingue com o corpo, por que deveríamos temer a morte? “A morte não é nada para nó, pois, quando existimos,
não existe a morte, e quando existe a morte não existimos mais”.
(P.129) Apesar de materialista, Epicuro não
rejeitava a existência dos deuses. Contudo, ele acreditava que eles eram seres
materiais, dotados de poderes e virtudes perfeitas que habitavam regiões isoladas
do cosmos. Esses deuses não interferiam em nossas vidas, pois nem saberiam de
nossa existência, sendo assim, venera-los seria tolice.
Na doutrina
epicurista, a busca do prazer deve guiar a conduta humana – mas o mais prazer é
a ausência de sofrimento ou aponia. O
sábio deve renunciar aos prazeres exagerados, que muitas vezes se transformam
em fontes de aflição.
O porre
de hoje é a ressaca de amanhã. O amor se transforma em angustia na falta do
amante – Epicuro receita a amizade.
Além
disso, a busca pelo prazer não deve se transformar em um medo exagerado do sofrimento:
lamentar nosso destino equivale a multiplicá-lo. Há dores que são invitáveis e
o sábio deve aceitá-las
(P.130) Zenão de Cício (324-264 a.C),
chegou a Atenas onde divulgava suas teorias em praça pública. Sua filosofia
ficou conhecida como estoicismo.
Como
Epicuro, os estoicos acreditavam em um universo plenamente corpóreo; o espírito
humano seria tão material quanto os braços e as unhas. Havia, contudo, uma diferença
crucial entre o estoicismo e o epicurismo. (P.131)
O universo de Epicuro pressupõe a existência do acaso: os átomos se movem e
se comportam segundo leis universais, mas de tempos em tempos, ocorre um desvio
imprevisível que segundo o Epicurismo ocorre totalmente ao acaso. Para os
estoicistas o desvio estava previsto nas leis naturais e eram inevitáveis. No universo
estoico não há lugar para a arbitrariedade ou desordem; o corpo cósmico seria
governado por um sopro vital, uma espécie de alma, que a tudo determina e
comanda – a Razão Universal.
Assim
como os pré-socráticos, os estoicos tinham uma versão específica para a
biografia do universo. Para eles a história do cosmos se desenrola em uma série
de ciclos idênticos e sucessivos: o que acontece hoje já aconteceu antes e voltará
a acontecer infinitas vezes no futuro.
No início
de cada ciclo há o fogo (pureza), depois surgem os outros elementos (ar, água,
terra), e por fim animais, árvores e humanos, ao final o fogo consome tudo e o
mundo renasce. Idêntico até os últimos detalhes. Tudo sempre foi do mesmo
jeito. Existe o destino e ele é imutável.
(P.132) O ser humano dotado de virtudes “escolhe”
aceitas o curso da natureza, enquanto o indivíduo irresponsável é arrastado à
força pelos eventos, tentando inutilmente alterá-los.
(P.133) A filosofia grega é surpreendida
quando em 59 d.C um forasteiro chega a Atenas para falar da existência de um
Deus único, este homem era Paulo de Tarso e sua religião seria em breve adorada
por todo império Romano.
BOTELHO, José Francisco. Uma Breve História da Filosofia: São Paulo. Abril. 2015. P.119-134.
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