domingo, 24 de julho de 2016

Resenha do Livro O Cavaleiro Inexistente de Ítalo Calvino.

A incrível história de um cavaleiro que não existe.
Biografia Ítalo Calvino.
Nasceu em Santiago de Las Vegas, Cuba, e foi para a Itália logo após o nascimento. Participou da resistência ao fascismo durante a guerra e foi membro do Partido Comunista até 1956. Em 1946 instalou-se em Turim, onde se doutorou com uma tese sobre Joseph Conrad. Lançou sua primeira obra, A trilha dos ninhos de aranha, em1947. Considerado um dos maiores escritores europeus do século XX, morreu em 1985.
Resumo da Obra: O Cavaleiro Inexistente.
A história é narrada por irmã Teodora, uma freira da ordem de São Columbano, confinada em um convento e tendo como penitência escrever o presente livro. Ela narra a bizarra história de Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz, armado cavaleiro de Selimpia Citeriore e Fez, um cavaleiro de lustrosa armadura branca que são existe.
Mas como assim ele não existe? Agilulfo é uma espécie de armadura oca, que fala, se movimenta, batalha e interage normalmente. E apesar de não existir é o protagonista do livro. Sendo uma inexistência que existe.
Aguilulfo é um paladino do exército de Carlos Magno (768 – 814) em sua luta para barrar o avanço mouro sobre a Europa. Entre batalhas e expedições, o cavaleiro inexistente, conhece Rambaldo de Rossiglione um jovem que se juntou ao exército na ânsia de vingar a morte de seu pai Gherardo de Rossiglione, morto pelo emir Isoarre, além de conhecer também Gurdulu (este personagem possuía vários nomes) um louco nomeado seu escudeiro por Carlos Magno.
Durante uma grande batalha entre muçulmanos e cristãos, Rambaldo é salvo pela cavaleira Bradamante, apaixonando-se imediatamente.
Durante o jantar da vitória, em meio as discussões entre paladinos sobre suas glórias, surge a questão sobre Sofrônia –filha do rei da Escócia – que teve a virgindade salva por Agilulfo, ato que deu a ele o título de cavaleiro.
Em meios aos cavaleiros estava Torrismundo – filho de Sofrônia – que revelou que sua mãe não era virgem no dia em que Agilulfo a salvou. Segundo ele, seu pai seria toda a ordem dos Cavaleiros do Santo Graal.
Se isso fosse verdade todos os feitos de Agilulfo seriam inválidos, uma vez que ele não poderia ser reconhecido cavaleiro. Assim Agilulfo sai com seu escudeiro Gurdulu em busca de uma virgindade perdida há quinze anos. Torrismundo sai em busca da ordem dos Cavaleiros do Santo Graal. Bradamente, que era apaixonada por Agilulfo, vai em busca de seu amado. E Rambaldo vai atrás de Bradamante.
Agilulfo e seu escudeiro louco vagam por toda à França até que atravessam o canal da Mancha e chegam ao convento na Inglaterra onde estava confinada Sofrônia. Lá descobrem que o mosteiro havia sido saqueado e todas as freiras haviam sido levadas como escravas para o Marrocos.
O cavaleiro branco decide seguir de navio até o Marrocos, mas durante a viagem sua embarcação é afundada por uma baleia. Gurdulu segue para o Marrocos nas costas de uma tartaruga marinha e Agilulfo vai andando até lá pelo fundo do mar. Sua armadura só não enferruja, pois, em sua luta contra o cetáceo, o cavaleiro ficou encoberto por sua gordura.
Gurdulu é resgatado por pescadores na costa marroquina. Agilulfo chega logo depois.
Em meio a conversas com locais, o cavaleiros descobre que Sofrônia havia se tornado a esposa número 365 do sultão, e que ele visitava uma esposa por dia levando sempre uma pérola como presente. Hoje seria a noite de núpcias Sofrônia e até aquele momento os pescadores não haviam encontrado nenhuma pérola. Agilulfo se oferece como presente e é levado até o quarto de Sofrônia (lembrando que todos achavam que era uma armadura vazia).
No quarto de sua procurada, o cavaleiro se revela e após intensos combates, resgata a princesa das mãos do sultão.
A princesa, Agilulfo e seu escudeiro louco chegam de navio (que outra vez naufraga) à costa da Bretanha. Sofrônia é escondida em uma caverna e o cavaleiro branco parte rumo ao acampamento de Carlos Magno.
Eis que, por coincidência, Torrismundo passa pela caverna e vê sua mãe – a qual ele não reconhece de pronto.
Torrismundo foi parar nesta praia após ter se encontrado com os cavaleiros do Santo Graal e não ter sido reconhecido como filho da ordem. Tentou, então, juntar-se ao grupo, mas percebeu a violência deles ao invadirem uma pobre aldeia que não conseguiu fornecer-lhes alimentos. Em meio ao massacre, Torrismundo, se rebelou e organizou os camponeses em sua resistência, espantando os cavaleiros da ordem. Após isso, saiu sem rumo até se encontrar com sua mãe em uma praia. Desejando-a sexualmente.
Aguilulfo leva Carlos Magno até a caverna e lá encontram Sofrônia e Torrismundo em pleno ato sexual. Qual não é o choque quando lhes é revelado que são, na verdade, mãe e filho.
Torrismundo, inconsolado, foge para a direita e Agilulfo, tendo fracassado em seu intento, para a esquerda.
Contudo, Agilulfo volta logo em seguida, pois havia acabado de tirar a virgindade de tal mulher (que contava no ato com 37 anos). Após uma conversa, descobre-se que não eram mãe e filho, mas irmã e irmão que não possuíam o mesmo sangue, pois um era filho bastardo por parte de pai e o outro por mãe.
Rambaldo, que estava junto com Carlos Magno, vai atrás de Agilulfo encontrando apenas a armadura desmontada e um bilhete deixando-lhe a mesma. Rambaldo então usa a armadura para poder deitar-se com Bradamante e esta, após o ato sexual, se revolta ao ver a verdadeira identidade do cavaleiro com quem havia acabado de se deitar.
Torrismundo, agora casado com Sofrônia e tendo Gurdulu como escudeiro volta à Curvaldia (aldeia que ele havia defendido anteriormente) como conde nomeado por Carlos Magno, para administrar a cidade.
O povo diz que, graças ao ato de Torrismundo, aprendeu a se defender e que a cidade havia prosperado muito, eles haviam aprendido a existir e não precisavam mais de superiores. Se Torrismundo quisesse ficar seria como um igual. Ele decide ficar.
Ao fim, irmã Teodora fala sobre sua penitência, que é a redação desta história. Então, ela escuta a frente do convento a conversa entre a guardiã do convento e Rambaldo que estava a procura de Bradamante. A irmã Teodora grita da janela e se revela, ela era na verdade Bradamante e havia se enclausurado no convento após a desilusão amorosa com Agilulfo. Ela então sobe no cavalo de Rambaldo e vão juntos embora.
Análise da Obra.
Com claras referências a Dom Quixote, Ítalo Calvino brinca com os romances de cavalaria, mas de uma maneira diferente da feita por Miguel de Cervantes. Enquanto Dom Quixote de La Mancha era um louco bonachão moldado pela leitura em demasia dos romances de cavalaria, Aguilulfo é exatamente aquilo que se espera de um cavaleiro medieval deste tipo de romance. De caráter inabalável, voz metálica, incorruptível, devoto, nobre, fiel, imbuído de honra, coragem, retidão e que por isso mesmo não existe.
Do cavaleiro medieval sobrou apenas uma armadura relutante, pois dentro dela há apenas o vazio e a solidão que representam o definhamento de uma visão épica de mundo.
Curiosidades.
O presente livro fecha a trilogia “Nossos Antepassados” de Ítalo Calvino.
Referências.
CALVINO, Ítalo. O Cavaleiro Inexistente. 1ª ed. São Paulo. Companhia das Letras. 2005

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