(P.63) Cap. II: O método de interpretação
dos sonhos: análise de um sonho modelo.
O
título da obra já deixa claro o objetivo primordial de Freud ao escrever esse
livro: demonstrar que, diferentes do que acreditavam seus contemporâneos, os
sonhos são possíveis de serem interpretados.
Acreditar
na possibilidade de interpretação dos sonhos coloca Freud em oposição às
teorias científicas de sua época. O autor assume, então, a posição dos leigos
que sempre acreditaram que todo sonho tem um significado oculto. O mundo leigo
sempre se preocupou em interpretar os sonhos e o fez de duas maneiras
diferentes.
(P.64) O primeiro desses
métodos considera o conteúdo dos sonhos como um todo, e procura substitui-lo
por outro conteúdo que seja inteligível e, em certos aspectos, análogo ao
original. Essa é a interpretação “simbólica” dos sonhos. Um exemplo é o sonho
do faraó, proposta por José na Bíblia. Sete vacas gordas devoradas por sete
vacas magras. Que foi simbolicamente entendida como sete anos de fome que
consumiriam tudo o que fosse produzido em sete anos de abundância.
O
segundo funciona por meio de “decifrações” que trata os sonhos como uma
criptografia em que cada signo pode ser traduzido por outro signo de
significado conhecido, de acordo com o código fixo. É o método utilizado pelos
livros dos sonhos.
Não
se pode imaginar nem por um momento que qualquer dos dois métodos populares de
interpretação dos sonhos possa ser empregado numa abordagem científica do
assunto.
(P.65) Por isso Freud
elabora seu próprio método de interpretação dos sonhos, afirmando que os sonhos
têm um sentido e que é possível um método científico para interpretá-los.
Foi
no decorrer de seus estudos de psicanálise, que Freud, se deparou com a
interpretação dos sonhos. Seus pacientes assumiam o compromisso de comunicar
todas as ideias ou pensamentos que lhe ocorressem em relação a um assunto, e
assim percebeu que o sonho pode ser inserido numa cadeia psíquica a ser retrospectivamente
rastreada na memória a partir de uma ideia patológica.
(P.67) O primeiro passo
é não interpretar o sonho como um todo, mas como partes separadas,
fracionando-o, para que o paciente relate as associações que faz com cada
fragmento do sonho. Neste ponto o método de Freud assemelha-se ao método leigo
da “decifração”.
Mas
ao contrário do método popular que decifra qualquer parte isolada do conteúdo
do sonho por meio de um código fixo, Freud acredita que o mesmo fragmento de um
conteúdo pode ocultar um sentido diferente para cada pessoa em cada contexto.
No método de Freud não existe um “livro dos sonhos”, a interpretação do ato de
sonhar, por exemplo, com uma cobra é diferente de acordo com as memórias e as
vivências de cada pessoa.
(P.68) Não podendo
utilizar como exemplo os sonhos de seus pacientes, Freud decide usar seu método
de interpretação dos sonhos em si mesmo. Autoanalisando um sonho seu.
Assim
o autor divide esta experiência em três partes: 1) preambulo, onde relata o
contexto em vigília que o sonho foi produzido, e que por certo teve influência
no sonho. 2) o sonho propriamente dito, onde relata em pormenores o sonho que
teve na noite de 23 para 24 de junho de 1985. 3) análise, onde fragmenta cada
aspecto de seu sonho e tenta buscar um motivo em suas lembranças para ter
sonhado com isso.
(P.77) Ao fim diz: se
adotarmos o método de interpretação dos sonhos verificaremos que os sonhos têm
um sentido. Quando o trabalho de interpretação se conclui, percebemos que o sonho
é a realização de um desejo.
Referências:
FREUD, Sigmund. Interpretação dos Sonhos. 1. Ed. São Paulo. Folha de S. Paulo, 2010. P.63-77.
Nenhum comentário:
Postar um comentário