(P.53) Cap. 02: Sócrates o Sátiro de
Atenas.
“Só
sei que nada sei”. Sócrates.
(P.55) Sócrates.
Feio,
de nariz bulboso e olhos de sapo, Sócrates era famoso por suas esquisitices,
caminhava descalço no inverno, tostava sob o sol no verão e desde menino dizia
ouvir vozes.
(P.56) Sócrates foi um
dos principais divisores de águas na história do pensamento ocidental. Alguns
dizem que a revolução iniciada por ele mudou o mundo para pior (principalmente
pelas teorias políticas de seu discípulo Platão), outros veem nele uma espécie
de messias da independência intelectual.
O
fato é que Sócrates assim como Tales, Pitágoras, Buda e Jesus mudou a história
sem nunca ter escrito uma linha. A maior parte do que conhecemos deles foi
relatado por seus discípulos: Platão e Xenofonte.
(P.57) O problema é que cada um “pinta”
o retrato de Sócrates de uma forma diferente. Para Xenofonte um sujeito
benevolente, inofensivo e tedioso. Para Platão, Sócrates é esquisito e
perturbador. E o pior, não sabemos se em suas obras, Sócrates era usado como
alegoria para explicar suas próprias ideias filosóficas, ou ele mesmo fez isso.
O
fato é que mesmo podendo ser um personagem fictício, ele é muito mais
importante que muitos homens de carne e osso.
O Esquisitão.
(P.58) De uma família
tradicional grega, Sócrates tinha o status de cidadão. De inicio tentou seguir
o ofício do pai artesão, mas logo se afastou do trabalho.
(P.59) Andava
desgranhado pela cidade e dizia receber a visita de daemons (entidades que faziam a ligação entre os homens e os deuses
– como anjos da guarda) e um dos conselhos foi o de não se meter em política.
(P.60) A personalidade
de Sócrates era uma combinação de estranhas manias e virtudes. Mas, talvez sua
maior qualidade fosse à modéstia. Num período cheio de personagens megalomaníacos,
Sócrates cunhou a frase “só sei que nada sei”.
Até
os 40 anos, Sócrates viveu tranquilo com sua ignorância; mas então convenceu-se
de que sua missão era provar que todos os seres humanos eram desprovidos de
sabedoria. E foi essa cruzada intelectual que acabou levando Sócrates à morte.
A sábia ignorância.
Em
uma visita ao templo de Apolo em Delfos, Querofante – um antigo amigo de
Sócrates perguntou a sacerdotisa: - “O Apolo, quem no mundo é mais sábio que
meu amigo Sócrates?”. Ela respondeu: “ninguém”.
(P.61) Ao ouvir a
história Sócrates chegou à conclusão de que a verdadeira sabedoria começa com a
consciência de nossa própria ignorância. O primeiro passo no caminho do
filósofo é sempre incomodo: consiste em questionar todos os conhecimentos herdados,
todas as certezas individuais e coletivas, e recomeçar a busca pela verdade de
forma implacável, expondo tudo à lamina de um raciocínio rigoroso.
(P.62) Assim, Sócrates se convence de
que sua missão era iluminar a mente dos humanos, mostrando-lhes que eles nada
sabiam – pois, só assim poderiam vir a saber alguma coisa. Nasce assim o
diálogo socrático.
O vagabundo loquaz.
Na
antiguidade o significado da palavra dialética era a “utilização do diálogo
como ferramenta filosófica”.
Na
dialética de Zenão de Eleia existia uma espécie de discurso imaginário , onde o
filósofo antecipa os contra-argumentos de seus adversários para defender sua
própria tese.
Na
dialética sofista o debate era praticado cara a cara. Os sofistas não estavam
interessados em descobrir grandes verdades, seu único objetivo era vencer os
debates e influenciar a opinião pública. Já que os sofistas não acreditavam na existência
da verdade, apenas pontos de vista.
Já
Sócrates acreditava que seria possível chegar à verdade das coisas, desde que
se reconhecesse a sua própria ignorância de antemão.
(P.63) O diálogo
socrático geralmente começava com ele lançando perguntas aparentemente simples:
o que é o amor? A virtude? A educação? Após analisar cada resposta de forma
implacável, ia questionando, em tom amigável, cada palavra e cada conceito
utilizado por seu interlocutor.
A
dialética de Sócrates era implacável e civil. Implacável com todas as certezas
herdadas e civil, pois ao se demolir todas as humanas, a humanidade poderia
assentar sua sabedoria em bases mais firmes.
(P.67) Os inimigos de Sócrates.
Sócrates
dizia que havia herdado a profissão da mãe (parteira), enquanto ela trazia
bebês ao mundo, ele era especialista em praticar partos de ideias. Mas em geral
os partos são dolorosos, e nem todos regem bem às dores do parto intelectual.
Logo
Sócrates conquistou uma multidão de inimigos, ao mostrar a ignorância daqueles
responsáveis pela administração pública. Ele incomodava a todos, desde os tolos
até os intelectuais – tanto que Aristófanes fez uma peça de teatro desmoralizando-o.
(P.69) Em 399 a.C, os
inimigos de Sócrates o levaram a julgamento sob a acusação de negar a
existência dos deuses e corromper a juventude da cidade com ideias subversivas.
Mas a verdade é que o julgamento de Sócrates ocorreu por motivos políticos.
Sua
popularidade entre os jovens, somada ao hábito de expor a estupidez universal
sem respeitar fronteiras de facções, transformou-o em alvo de rancores
generalizados.
O
desfecho desta história é bem conhecido: julgamento e condenação à morte pela
ingestão de cicuta.
Referências:
BOTELHO, José Francisco. Uma Breve História da Filosofia: São Paulo. Abril. 2015. P.53-72
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