Cap
4: Corrente de Povoamento.
(P.71) A população no
Brasil do Século XVIII não é estacionária: ocupavam territórios novos até então
desertos, e abandonavam territórios já devastados. O povoamento estava longe da
estabilização, sendo as ocupações e povoamentos quadros provisórios de um povo
em movimento.
A evolução do nosso povoamento
pode-se sintetizar em três grandes fases, cada qual com seu ponto de partida e
seu impulso inicial em circunstancias históricas precisas e bem definidas.
A primeira se inaugura com a
colonização e vai até fins do século XVII. Representa o período de ocupação
inicial, os primeiros passos do estabelecimento português no território de sua
colônia.
Territorialmente compreende o
extenso litoral, desde o Amazonas até o Rio da Prata. No interior temos a
penetração da agropecuária no sertão nordestino e o ligeiro avanço sobre o rio
Amazonas.
(P.72)
A
segunda , será causada pelo furor da descoberta do ouro no centro do continente
no século XVIII. Como foi dito anteriormente, formaram-se abruptamente diversos
núcleos de origem mineradora no interior da colônia.
E por fim, a terceira fase que, segundo
o autor, se fará de forma mais lenta e paulatina, sem arrancos ou confusões, de
forma às vezes quase imperceptível. Ela ocorrerá na segunda metade do século
XVIII.
Saint-Hilaire, viajando pelo
Brasil, notou a extrema mobilidade do povo brasileiro. Imigravam a todo momento
e algumas vezes por nada, apenas na esperança de encontrar um lugar melhor.
(P.73)
Segundo
Caio Prado Jr. estes deslocamentos constantes em busca de um melhor sistema de
vida, influenciou de alguma maneira o caráter da colonização e do colonizado,
que cultivava cana, café e algodão como extraia o ouro: como uma simples
oportunidade de momento.
Ou seja, a colonização não se
orienta no sentido de construir uma base econômica sólida, de exploração
racional e coerente dos recursos do território para satisfazer as necessidades
locais. Daí a sua instabilidade e a extrema mobilidade de seu povo.
Apesar desta mobilidade ser
permanente e confusa, Caio Prado consegue destacar algumas linhas diretrizes
gerais. Sendo uma das mais importantes correntes migratórias a que se verifica do
interior para o litoral, efeito do já comentado, refluxo para a agricultura (após
a decadência da mineração).
(P.74)
Apesar
do aumento da população no litoral desta época ser causado, em grande parte,
pelo fluxo imigratório do exterior, uma boa proporção veio de correntes imigratórias
do interior.
Além desta corrente migratória,
ocorreram várias outras em todo o país.
Como no caso do avanço rumo ao
interior das fazendas de gado do nordeste, ou o refluxo populacional do Ceará
causado pela grande seca de 1791-3. Temos ainda o despovoamento progressivo do
Mato Grosso e de Goiás após o fim do ciclo do ouro.
(P.75)
O
autor ainda analisa o caso mineiro, que segundo ele, foi menos traumático que o
caso Goiano. Para o autor a decadência do ouro em Minas, só não foi mais dura
graças ao surgimento de uma incipiente agricultura e pecuária na região.
(P.77)
Em
fins do século XVIII a mineração quase havia se extinguido em Minas Gerais, mas
a agricultura (sobretudo do algodão) veio suprir este vácuo. Possibilitando
ainda uma expansão mineira, que o autor denomina de centrífuga, rumo às bordas da
capitania, avançando sobre outras províncias e criando diversos litígios entre
elas.
(P.81)
Caio
Prado Júnior ainda analisa o caso paulista, que apesar da decadência do século
XVIII, conseguiu se levantar em bases mais sólidas, graças ao cultivo de cana-de-açúcar
nas terras roxas do interior (campinas), das fazendas de gado no sul e o café
do Vale do Paraíba.
(P.84)
Em
suma, o que Caio Prado que nos trazer neste capitulo dos movimentos demográficos
no centro-sul da colônia é a sua extrema complexidade. As correntes migratórias
se cruzam e se entrecruzam. Novos territórios são ocupados e o café começa seu
grandioso trajeto que transformará o país no correr do século em curso.
Tudo isso, são sinais do
deslocamento do eixo econômico do Brasil, do nordeste para as capitanias de São
Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Disso saíra um novo equilíbrio político que
será o do império, sobretudo na sua segunda parte.
Fonte: PRADO JÚNIOR,
Caio: Formação do Brasil Contemporâneo.
São Paulo. Ed Brasiliense. 7ª reimpressão, da 23ª edição de 1994. Pág 71-84.
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