Simón
Bolívar (1783-1830) e José Martí (1853-1895) são os dois autores mais lembrados
quando se fala em pensamento integracionista latino-americano no século XIX.
Geralmente a Carta a Jamaica do criollo e a Nuestra América do poeta guerreiro são estudadas juntas, entretanto
cada texto foi concebido em contextos históricos distintos e apresentam
realidades, questionamentos e pensamentos a dificuldades diferentes por qual
passava nosso continente.
Carta a Jamaica.
Simón
Bolívar nasceu na região onde hoje fica a Venezuela, filho de aristocratas
muito ricos teve uma boa educação sendo profundamente influenciado pelo
pensamento iluminista. Sua Carta a
Jamais foi escrita em 1815 durante as guerras de independência dos países
hispânicos, guerras estas que ele participou ativamente ganhando o título de
Grande Libertador.
Entre
os diversos libertadores que surgiram nesta época de crise da coroa espanhola
–invasão dos franceses – Bolívar era com certeza o mais visionário. Era
partidário da formação de um grande país que se estenderia por todo o
continente formando uma nação forte, pois acreditava que a fragmentação levaria
consequentemente a uma dependência da Inglaterra ou dos EUA. Em seus planos de
unificação, Bolívar excluía os EUA por serem anglo-saxões, os haitianos por
serem de colonização francesa e o Brasil por serem de colonização portuguesa.
Em
sua carta a Jamaica Bolívar critica durante a incapacidade da metrópole
espanhola em mantém o poder e o controle nas colônias. Além de expor seu
projeto de transformar as colônias espanholas em uma grande e unificada
república, entretanto, como não poderia deixar de ser graças a sua educação na
Europa, Bolívar tem uma visão eurocêntrica de seu continente, comparando-o a
Europa e querendo se utilizar de instituições europeias em continente
americano.
Nuestra América.
José
Martí escreve seu texto Nuestra América
(1891) em um contexto histórico diferente. Neste momento praticamente todas as
antigas colônias ibéricas são países independente e repúblicas. Somente Cuba
seguia sob a tutela espanhola, tutela esta marcada pelo terror e repressão.
José
Martí foi com certeza o mais esclarecido de todos que se entregaram pela
independência cubana. De aspirações democráticas, defendia a justiça social e a
unidade do continente.
Em
seu texto inicialmente ele critica a imobilidade das elites latino-americanas
que possuindo os recursos básicos lutavam para a manutenção do status quo. Criticando também as
disputas internas dentro do continente. Diferente de Bolívar, Martí entende que
se deve construir uma política, um pensamento, uma educação puramente
latino-americana, pois até o momento a importação de políticas prontas da
Europa só prejudicou o continente.
Um
documento torna-se um monumento, quando ele é apropriado pelo Estado como um
legitimador, buscando no passado algo que legitime a forma política
estabelecida no presente. Segundo o grande historiador Marc Bloch um documento
não fala por si mesmo e sim a partir do ponto de vista e das perguntas que um
historiador põe sobre ele (o documento). Ou seja, somos nós que atribuímos
valores a este ou aquele documento em especial. Um exemplo fácil de ser
compreendido é a carta de Pero Vaz de Caminha que ficou durante duzentos anos
ficou perdida na torre do tombo, até que com o advento da independência do
Brasil foi resgatada e hoje é tida como a certidão de nascimento da nação.
O
mesmo podemos dizer sobre estes dois escritos, atribuímos a eles uma extrema
importância – a Carta da Jamaica cotidianamente é exposta em excursões por
museus de todo o continente – como documento máximo de um pensamento
integracionista do século XIX.
A
partir deste importância dada a ela e aos seus escritores, muitos políticos fazem
resgate de suas imagens para se afirmar no presente com base no passado. Não é
uma crítica, pois todos os Estados fazem isso.
Essa
evocação da figura de Bolívar e de Martí por políticos latino-americanos
transformou-os em monumentos, ou seja, agora eles são utilizados pelo Estado
como legitimadores ancestrais do status político atual. Correto estava Karl
Marx quando disse em seu livro 18 Brumário “a história nunca se repete, a não
ser a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.
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