O que foi o populismo, o peronismo e quem foi Eva Perón.
O populismo pode ser caracterizado como um experimento político
essencialmente Latino-Americano. Surgido na década de 1930 como uma resposta
latina a crise do capitalismo e o avanço da ideologia marxista entre as camadas
trabalhadoras, o populismo tem como característica principal a prática de políticas
demagógicas e a manutenção do status quo da elite.
O populismo foi feliz em sua proposta, pois, ao incorporar à sua política
nacional, as mais diversas reivindicações do movimento operário e colocá-los em
prática como um “presente” do Estado Populista, o mesmo conseguiu um enorme
apoio entre as massas, desestabilizando o movimento socialista e garantindo a
manutenção do sistema capitalista.
Mesmo quando os líderes populistas anexavam ao seu discurso termos
de origem socialista, eles faziam apenas no discurso, como manipulação dos
anseios populares. Seus líderes carismáticos direcionavam a população para a
busca do desenvolvimento dos interesses nacionais, erradicando qualquer
possibilidade de instabilidades provocadas por uma eventual luta de classes.
O peronismo foi à versão argentina do populismo. Centrada na
figura de Juan Domingo Perón (1985-1974), realizou diversas transformações em
toda a política argentina. Suas principais reformas foram as trabalhistas, que
garantiram à manutenção de direitos mínimos a classe operária incipiente.
Entretanto, o peronismo não tinha como único sustentáculo a figura
de Juan Perón. Sua mulher Maria Eva Duarte Perón (1919-1952), foi fundamental
na construção da imagem, quase sacra, que atingiu o peronismo. Evita, como era
carinhosamente chamada pelos descamisados – população pobre, base da manutenção
das políticas peronistas – ganhou status de santa graças a suas diversas ações
filantrópicas.
Ficha técnica do filme Evita.
Musical da Broadway adaptado ao cinema em 1996 pelas mãos de
Andrew Lloyde Webber e Tim Rice com direção de Alan Parker. Conta à história da
vida de Eva, desde sua infância pobre de filha ilegítima, até chegar ao posto
de primeira dama e finalizando sua morte prematura.
Críticas.
Um filme histórico ou baseado em fatos reais, não é a realidade
resgata com todas suas nuances do passado e transportada direto para as salas
de cinema. Um filme é uma representação do real, uma versão – que assim como os
livros de história – passa pelo filtro ideológico do seu criador.
A recepção do filme na Argentina foi cercada de críticas pela
maneira como ele retrata Eva Perón. A ex-primeira-dama argentina compõe o
panteão argentino de heróis nacionais e o musical justamente desconstrói toda
essa benevolência e imagem imaculada ligada a ela, apresentando-a como uma
mulher interesseira que na busca de ascensão social utilizou-se de toda sua
beleza e sedução. Escalando socialmente graças aos homens que passaram por sua
vida, até chegar ao máximo do poder com presidente da república.
Em outras palavras, o filme foi duramente criticado justamente por
esse caráter desmistificador de uma figura tão querida na Argentina quanto foi
Evita Perón.
Conclusão.
Esta conclusão será baseada na maneira como a imagem do casal
Perón foi, e é resgatada no presente por todos seus sucessores.
Karl Marx filósofo alemão do século XIX escreve em seu livro 18
Brumário de Luís Bonaparte que “a história não se repete a não ser
a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Contextualizando esta
frase, Marx se referia a Luís Bonaparte ou Napoleão III, sobrinho de Napoleão
Bonaparte, que na busca de sua afirmação perante a sociedade francesa resgatou
a figura do tio no passado para ser legitimado no presente junto à sociedade
francesa.
Ou seja, essa prática da busca pela legitimação pelo governo atual
no passado, não é algo novo, cotidianamente os mais diversos governos do mundo
buscam sua legitimação em um passado glorioso. E na Argentina isso não é
diferente.
Evita Perón através dos aparelhos do Estado – e principalmente da
propaganda – tornou-se santa, amada e idolatrada até os dias de hoje.
Aproveitando-se desta imagem seus sucessores se apropriam de sua imagem
buscando legitimar o governo atual.
Segundo Marc Ferro “controlar o passado ajuda a dominar o
presente, a legitimar tanto as dominações como as rebeldias”, a esta frase
complemento a afirmação de Marc Bloch de que “a ignorância do passado
não se limita a prejudicar o conhecimento do presente, compromete no presente,
a própria ação”. Agora analisando em conjunto as duas afirmações pode
se chegar à conclusão de que: 1º um passado glorioso (ou resgatado como
glorioso) legitima as ações do governo atual. 2º a partir do momento que o
Estado se apropria da memória esta passa a ser considerada um monumento, pois
também funciona como um legitimador perante a sociedade. 3º A história oficial
é um instrumento de manutenção da ordem dentro de um Estado. 4º A ignorância
histórica de um povo faz com que essa situação se perpetue.
Finalizo aqui não condenando o Populismo, o Peronismo ou as
artimanhas de Evita Perón em sua busca por ascensão social, mas buscando
compreender como tal forma política surgiu naquele determinado momento e quais
os ecos que, todavia, refletem em nossa realidade. Pois, segundo Marc Bloch “ao
historiador não cabe julgar, mas sim compreender. Contudo compreender nada tem
de uma atitude de passividade”.
Bibliografia.
VICENTINO, Cláudio: História Geral. ed. Atual. São
Paulo; Scipione, 1997.
CÁCERES, Florival: História da América. ed Atual São
Paulo; Scipione, 1992.
BLOCH, Marc: Apologia da História ou o Oficio do
Historiador. Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 2001.
FERRO, Marc: A Manipulação da História nos Ensinos e nas
Telecomunicações. São Paulo. Ibrasa. 1983
GUTFREIND, Cristiane Freitas: O Filme e a Representação do
Real. Revista da Associação Nacional dos programas de prós-graduação em
comunicação. PUC-RS.
Assista ao filme online:
http://www.saudadeeadeus.com.br/filme611.htm
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