Resumo.
É
indiscutível a importância da China no cenário mundial. Seu apetite por
matéria-prima, trabalhadores qualificados e energia vão mudar o cenário político-econômico.
Seus produtos manufaturados, seus turistas, estudantes, executivos, e principalmente
seu dinheiro e a força de investimento já estão transformando o mundo. Tendo
vivido muitos anos na Ásia e trabalhado como jornalista na China, James Kynge
não conta apenas como e por que este país emergente vai mudar a vida de todos
nós. Também aponta as forças e as fraquezas da China e propõe como o mundo,
Brasil inclusive, pode lidar com elas.
Boa
Leitura.
Introdução:
James
Kynge conhece como poucos ocidentais, as relações e as contradições do modelo
chinês de economia e política. Esteve pela primeira vez na China em 1982 como
estudante de graduação, passou grande parte de sua vida como repórter na Ásia.
Esse livro relata suas experiências pelo país de Confúcio e tem como objetivo
principal demonstrar de qual forma a economia chinesa passou de periférica para
uma posição central nos negócios mundiais. Kynge demonstra ser um grande
conhecedor da cultura e história chinesa, apesar do autor abordar diversas
passagens históricas de várias épocas, ele tem como ponto central o período que
vai do início da liberalização econômica de Deng Xiaoping até a entrada da
China na OMC e o “Boom” econômico de 1998 a 2005.
Análise da obra:
De
forma quase literária e com diversos exemplos vividos pelo próprio James Kynge,
ele escreve sobre o impressionante desenvolvimento da economia chinesa. Como
todo bom jornalista, faz um grande uso de relatos pessoais e entrevistas para
descrever de que modo à China demonstra sua presença no mundo inteiro.
Nesse
primeiro capitulo para exemplificar a eficiência do trabalho chinês, Kynge
relata sobre como uma fábrica inteira localizada na Alemanha foi desmontada e
remontada na China em um prazo impossível para uma empresa ocidental, que nesse
momento discutia sobre a jornada de trabalho semanal de 35 horas, enquanto os
chineses trabalhavam 14,15,16 horas por dia, 7 dias por semana.
Esse
crescimento gigantesco e mal planejado fez a China um consumidor voraz de
matérias-primas e para saciar a fome de ferro do “Dragão” a sucata ganhou
status de luxo graças ao preço que alcançou em razão da grande demanda chinesa.
O primeiro indício do crescimento chinês foi os sumiços das tampas de bueiros
dos países vizinhos para saciar sua necessidade por metal.
James
Kynge demonstra como a abertura econômica não foi imposta de cima pra baixo por
Deng Xiaoping, mas aconteceu graças à desobediência civil de algumas pessoas
que sem empregos públicos montavam pequenos negócios e assim prosperavam
economicamente.
Kynge
compara a Chicago do Século XIX à cidade chinesa de Chongqing, fazendo um
pequeno balanço entre as duas cidades, chega à conclusão que o crescimento de
Chicago, apesar da importância histórica que teve, nem se compara ao que esta
acontecendo na China, onde cidades gigantescas surgem em alguns poucos anos.
O
livro mostra-nos que esse crescimento se fez através de inúmeros sacrifícios
humanos, os quais são retratados com inúmeros exemplos durante o segundo
capitulo.
O
maior paradoxo Chinês é sem duvida, sua enorme massa demográfica, tudo sempre
envolve milhões de pessoas, qualquer movimento, tragédia, política, sempre tem
um grande numero de pessoas envolvidas. Essa grande massa é o trunfo e o
inferno chinês, o grande contingente humano, criou o maior exército industrial
do mundo, junto com a maior reserva de trabalhadores de todos os tempos, sendo
necessário para o Estado chinês a criação de 24 milhões de empregos por ano
para suprir a juventude que ano após ano entra no mercado de trabalho.
Diversas
grandes empresas chinesas surgiram da indisponibilidade de empregos. Quando não
havia vaga para os serviços públicos algumas pessoas eram liberadas a ter em
casa uma pequena loja, oficina, quitanda, etc. para poder sustentar-se. Quando
estas empresas davam certo cresciam de forma espetacular dentro da própria China.
Como não possuíam tecnologia suficiente para crescer além de suas fronteiras,
algumas empresas recorriam a pirataria e ao uso da espionagem industrial.
Essas
empresas eram estimuladas a produzir cada vez mais, mas o problema era que
outras empresas do mesmo ramo também eram. Com isso vinha à superprodução que
mantinha os preços incrivelmente baixos, essa competitividade derrubava os
valores dos produtos e inundavam o mercado interno de mercadorias. A única
saída era a exportação, que chegou abalando o mundo com preços, que embora
fossem muito baratos no comércio internacional, eram ainda mais baratos dentro
da China. As empresas chinesas se vêm obrigadas a abaixar as taxas de lucro
graças à concorrência interna, então para obterem maiores lucros elas são
obrigadas a ingressar em diversas áreas da economia, preenchendo diversos nichos
econômicos. Muitas empresas chinesas produzam desde água mineral até motores de
avião.
James
Kynge trata também das migrações de chineses para outras partes do mundo, em
especial a Europa. Milhares de chineses vão todos os anos para a Europa em
busca de trabalho. Eles chegam e se predispõe para trabalhar em áreas onde os
europeus não querem trabalhar. A capacidade do povo chinês para o trabalho é
muito apreciada e de grande serventia já que alguns chegam a trabalhar cerca de
20 horas por dia, enquanto se discute em alguns países da união européia a
jornada de trabalho semanal de 35 horas.
Essas
migrações perigosas e ilegais levam os chineses a ariscar a vida na busca de
uma vida melhor. O maior triunfo para um chinês é conseguir juntar dinheiro
suficiente para voltar à China e dar uma vida melhor para seus parentes.
O
livro mostra bem o uso da mão-de-obra chinesa na produção de produtos de marcas
famosas. Apesar de baratearem os custos de produção, os chineses que vivem na
Europa ganham razoavelmente como europeus, por esse motivo muitas marcas de
grifes famosas transferem suas fabricas para a China, onde após serem
produzidas a preços baixíssimos chegam ao destino europeu apenas para ganhar a
etiqueta. Diversas empresas de roupas, jóias, etc, já migraram para a china
onde o valor de produção é muito mais baixo. Apesar de toda essa ligação com a
China, estas empresas sentem-se desconfortáveis ao falar sobre suas relações de
negócios com os chineses.
Em
outro ponto James Kinge aprofunda esse debate sobre a terceirização da
produção, tendo como base a economia americana. Esse movimento de migração das
empresas para a China é segundo ele prejudicial para a economia local.
As
empresas na ânsia de baratear a produção transferem parte de sua produção para
o território chinês, isso prejudica as pequenas empresas locais que eram as
antigas fornecedoras de componentes para a montagem do produto final. Isso
quando não se transferem integralmente para a China.
Há
vários mitos, sobre, em até que ponto a tecnologia chinesa pode se desenvolver.
Todas essas histórias tem algo em comum, todas acreditam que a China não
ultrapassará o patamar médio tecnológico. Idéia essa que é desconstruída pelo
autor, pois, segundo ele, mesmo a China investindo menos no desenvolvimento de
novas tecnologias que os EUA, ela está chegando perto graças à absorção de
tecnologias estrangeiras que se estalam no país. Se no inicio da abertura
econômica chinesa seus produtos eram caracterizados por possuírem pouca ou
nenhuma qualidade, em 2005 seus produtos estavam em pé de igualdade tecnológica
com países como Japão e E.U.A.
A
China se abre economicamente depois de séculos fechada ao comércio exterior, e
nesse momento os países que muito ansiavam essa abertura se fecham, pois, não
tem condições de competir com essa imensa economia.
Nos
E.U.A a terceirização esta no topo das discussões, como já sabemos a
transferência da linha de produção para a China barateia o custo final de um
produto, se economicamente isso é vantajoso para a empresa e para os setores
mais altos dentro desta mesma empresa, essa terceirização é igualmente trágica
para as áreas administrativas e braçais que perdem seus empregos para a
mão-de-obra estrangeira. Há nos Estados Unidos uma progressiva diminuição do
número de pessoas que integram as chamadas classes médias americanas,
justamente por esse motivo.
Desse
ponto do livro em diante Kynge trata das conseqüências acarretadas por esse
espetacular crescimento chinês. O primeiro assunto a ser tratado é de grande
relevância e esta no centro das discussões em vários países, que é a degradação
do meio-ambiente e a destruição dos recursos naturais.
Os
recursos naturais chineses chegaram a um patamar desesperador, sua fome por recursos
naturais já vem de longa data, mas agravou-se nos últimos anos. Cada vez mais
ela necessita de matérias-primas como madeira, ferro, petróleo, ouro, etc, e
para suprir essa demanda à China negocia com outros países muitas vezes de
forma ilegal.
Mais
a frente o autor debate sobre desvios de caráter como corrupção, estelionato,
tentativas de tirar proveito do próximo etc, que acontecem na China por
diversos fatores e estão enraizados em quase todas as instituições chinesas.
Como no caso do leite que não nutria as crianças, seus fabricantes acreditavam
que se as crianças permanecessem desnutridas suas mães seriam obrigadas a
comprar mais leite, entretanto esse leite além de não nutrir causava
deformidades nas crianças e da garota que teve sua vida literalmente roubada
por outra que tinha um pai influente dentro da China.
Kynge
analisa também a questão das marcas chinesas no ocidente, muitas pessoas (em
especial norte-americanos e europeus) não aceitam as marcas nascidas e
produzidas na China por diversos fatores, mas aceitam marcas já conhecidas que
fazem parte do cotidiano, mesmo que estas tenham sido totalmente produzidas em
território chinês, com mão-de-obra chinesa, com componentes e peças MADE IN
CHINA. Isso é um paradoxo que as empresas Chinesas conhecem bem e resolvem de
forma bastante simples, comprando a marca. Como ocorreu no caso de Lenovo que
comprou a IBM, um símbolo americano.
Os
dois últimos capítulos do livro abrem uma abordagem sobre a grande contradição
chinesa: como manter uma economia capitalista com a forma política comunista.
Antes
de sua entrada na OMC e a abertura para o mercado internacional, suas formas
políticas e econômicas diziam respeito somente a própria China, mas agora com
essa enorme influência econômica sobre diversos países essa se tornou uma
questão global. Segundo Kynge essa forma de governo associada à economia
capitalista é injusta para com os outros países.
O
que faz com que os EUA e diversos países europeus comecem a utilizarem-se de
táticas protecionistas para barrar o avanço de produtos chineses sobre a
economia nacional. Sendo isso muito utilizado nos discursos políticos desses
países. Entretanto essas idéias muitas vezes fiquem apenas nos discursos, pois,
ao que tudo indica o processo de barateamento nos preços de diversos produtos
tem relação direta com a China. Fato que vem acontecendo a mais de uma década
melhorou materialmente a vida de muitos trabalhadores no mundo inteiro
inclusive nesses países que pretendem fazem uso do protecionismo.
Para
melhorar as relações internacionais da China, a governo instruiu seu povo a
utilizar-se da técnica do Waishi. Técnica que consiste em fazer amizade e
agradar o visitante estrangeiro, mas de forma profissional. Esta prática pode
ser isolada como no caso do tratamento dado a um turista estrangeiro ou
gigantesca como no caso das olimpíadas. Essa tática consiste em criar uma
maquiagem dos problemas chineses diante do mundo.
Kynge
finaliza o livro analisando em até que ponto o crescimento da China será aceito
pelas outras potências. Segundo o autor, o crescimento econômico chinês muitas
vezes vai de encontro com o americano, gerando alguns momentos de tensão entre
os dois países. Como nos casos dos países nomeados parias (eixo do mal) pelo
governo norte americano, que nada mais são do que países que representam algum
tipo de entrave político aos Estados Unidos, a China mantém relações com esses
parias sem nenhum constrangimento.
Apesar
do enorme crescimento da zona de influencia chinesa, do extensivo aumento nos
gastos militares, das relações com países considerados problemáticos, das
contradições políticas e econômicas e da não muito amistosa relação com EUA e
Japão, a China segundo Kynge “esteja casada demais com o mundo, profundamente
imiscuída demais em organizações e tratados, e dependente demais dos outros
(países) para morder as mãos dos que lhe dão de comer”.
Bibliografia:
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