(P.165) Cap. 08: Sob o olhar da eternidade.
(P.166) “Apenas Deus existe; e além de Deus, nada pode ser concebido” Spinoza.
(P.167) Todo mundo é um capítulo.
(P.168) Baruch Spinoza (1632-1677), descendente
de judeus portugueses que chegaram aos Países Baixos no século XVII. Gentil,
dócil e delicado, Spinoza desde criança apresentava habilidades intelectuais fora
do comum. Em sua comunidade judaica todos acreditavam que seria o próximo líder
espiritual. Lia dos clássicos, mas dedicava-se mesmo ao estudo de Descartes.
Aos 23 anos foi excomungado do judaísmo por opiniões tidas como heréticas, sendo
obrigado a se exilar. Despertou admiradores por toda Europa até que morreu em
1677.
(P.172) O Deus de Spinoza.
Spinoza
sempre foi acusado de ser ateu, o que é uma ironia já que sua obra é dominada
pela ideia de Deus.
No
cerne de seu pensamento, está o intuito de adequar o mundo determinista de
Descartes a um ideal de vida ético, reverente e piedoso.
(P.173) Spinoza tinha como objetivo traçar
um plano filosófico para a máxima felicidade humana neste mundo; mas antes queria
elaborar uma cartografia do universo, buscando a chave essencial para decifrar
tudo o que existe.
Os
pré-socráticos buscavam a physis[1] do universo. Spinoza também
e para ele o elemento constitutivo do universo era Deus ou a Natureza.
(P.174) No monoteísmo Deus e o mundo
existem de forma separada, onde Deus criou e Deus controla o mundo. Para o
ateísmo o mundo existe sem um Deus. Para Spinoza Deus existe dentro do universo.
O
Deus de Spinoza não é um monarca arbitrário que em algum lugar do cosmos dita todos
os acontecimentos terrenos ao sabor de suas oscilações de humor. (P.175) Para ele os acontecimentos do
universo são estritamente lógicos e racionais. Deus não poderia diferente do
que é, e nem criar um universo diferente do que existe.
Segundo
a bíblia, Deus criou o homem a sua imagem e semelhança. Para Spinoza, Deus não
é uma pessoa, nem tem o sexo masculino. O ser humano tende a acreditar que universo
existe em seu proveito. “Se um triângulo pudesse falar diria que Deus tem a forma
de um triângulo”. Para Spinoza o universo apenas existe e pronto. (P.176) Spinoza diz que ao adorarmos um
Deus antropomórfico, estamos adorando a nós mesmos, pois cada cultura cria um
deus a sua imagem. O Deus de Spinoza não exige oração, não é bom nem mau. Ele é
simplesmente tão grandioso que não faz diferença. Deus seria como a relação
entre você e uma célula do seu corpo. Esse Deus impessoal e monstruosamente
infinito causou furor entre seus contemporâneos.
O tempo e a eternidade.
Segundo
filósofos cristãos como Santo Agostinho, a criação do mundo ocorreu em algum
momento específico do passado. O que levantava uma série de perguntas: se nada
existia, também não existia o tempo? Deus criou o tempo junto com o universo? O
que Deus fazia antes de criar o universo?
(P.177) Para Spinoza a angustia humana
decorre de sua limitada visão das coisas. Não percebemos a totalidade do
universo e por isso somos dominados por emoções confusas que Spinoza chama de
afetos e paixões – entre elas o medo, a esperança e o remorso. O antídoto
contra essas mazelas é a compreensão racional do mundo. Sábio é aquele que percebe
a ilusão do tempo e passa a contemplar o mundo com os olhos de Deus.
Descartes
dizia que a matéria é pré-determinada, mas a mente é livre. Isso criava um
paradoxo pois, com minha mente eu influencio a matéria. Ex: jogar uma xícara na
parede.
(P.178) Spinoza conclui que nossa mente é
tão pré-determinada quanto a matéria. Tentar driblar o determinismo é ilusão.
Ex: se ao invés de jogar a xícara eu colocar ela no lugar, já estava tudo
pré-determinado.
A
ideia de um universo pré-determinado pode ser assustadora. Mas o objetivo de
Spinoza não era multiplicar a angústia, mas curá-la. Se tudo é necessário,
nosso sofrimento é apenas uma questão de perspectiva. Como um quadro que ao olharmos
de perto percebemos apenas borrões, mas ao olhar de longe contemplamos sua
beleza.
(P.179) Gottfried Leibnitz defendia o múltiplo.
Para ele Deus não imaginou apenas um, mas infinitos universos possíveis – todos
eles, de acordo com as leis da lógica. Dentre esses mundos, Deus escolhei o
melhor, portanto viveríamos no melhor dos mundos possíveis. Apesar de todo mal
existente, em geral a soma dos bens é superior a soma dos males. O deus de Leibnitz
é um ser pessoal que criou o universo em algum momento do tempo.
BOTELHO, José Francisco. Uma Breve História da Filosofia: São Paulo. Abril. 2015. P.165-179
[1] O
elemento primordial constitutivo de todas as coisas.
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