domingo, 8 de julho de 2018

Introdução ao pensamento de Descartes


(P.151) Cap. 07: O demônio de Decartes
(P.152) “Penso, logo existo” Descartes.
(P.153) O cético preguiçoso.
René Descartes (1596-1650) viveu em um período de crescente ceticismo onde as certezas da tradição escolástica eram postas em xeque.
(P.154) Descartes percebeu que para cada povo, cada religião, cada escola filosófica, a verdade tinha uma cara distinta. O solo do pensamento humano parecia feito em areia movediça – assim, como avançar em um caminho tão instável?
(P.155) Encontrou a resposta durante um sonho em 1619. Sonhou com duas cidades, primeiro uma totalmente assimétrica, construída por múltiplas mãos ao longo de séculos, onde os escombros do passado impediam que os futuros edifícios se aprumassem direito. A segunda cidade, ao contrário, havia sido planejada por um único arquiteto. Era planejada, limpa, perfeita, sublime, racional.
Descartes convenceu-se de que o mesmo acontecia com a inteligência humana. Antes de erguer o edifício do conhecimento seria necessário limpar o terreno.
(P.156) A partir desse raciocínio surge o método cartesiano: que consiste em duvidar de tudo o que possa ser duvidado. Descartes queria usar a dúvida como uma espécie de filtro para limpar as impurezas do pensamento e assim chegar a verdade.
(P.157) A dúvida hiperbólica.
Descartes começa por identificar as crenças elementares que dão base à nossa visão de mundo – crenças que em nosso dia a dia tomamos como inquestionáveis. Chamadas de necessidades epistemológicas, essas ideias servem para fundamentar o nosso conhecimento de mundo.
O próximo passo é demonstrar que essas bases talvez sejam feitas de barro. Pois, quem garante que a realidade não é uma ilusão, uma vez que meus sentidos podem ser facilmente enganados?
(P.158) Argumento onírico: quando sonhamos tudo nos parece real e não percebemos que estamos sonhando. Portanto, quem me garante que o universo que me cerca não seja uma ilusão criada por um demônio com o objetivo de me ludibriar?
(P.159) O mundo cartesiano.
Descartes mergulha no abismo da dúvida porque desejava sair de lá com certezas sólidas e purificadas.
(P.160) Eis que Descartes resolve sua charada: por mais ardiloso que seja o demônio, ele não poderia me enganar se eu não existisse. Ao pensar que tudo é falso eu não posso negar que estou pensando, se penso, logo existo.
No momento em que duvido de minha própria existência, eu estou comprovando-a, pois se não existisse não poderia duvidar de coisa alguma.
A partir dessa verdade indubitável, Maquiavel parte em busca de outras verdades. Por exemplo, com o penso, logo existo sei de minha existência, mas como posso provar a existência do universo? Maquiavel recorre ao argumento ontológico de Santo Anselmo, onde sem Deus não poderíamos entender o conceito de perfeição, e como Deus é bom criou o universo e não no engana.
(P.161) Com base nestas certezas objetivas, conquistada por meio da dúvida sistemática, Descartes passa então a reconstruir o edifício do conhecimento pelas etapas graduais da razão.
Bom, sabemos que nosso corpo e o universo existem e que essa certeza não veio do mundo físico, mas do pensamento. A partir disso Descartes conclui que existe uma diferença fundamental entre o mundo da matéria e o mundo da mente.
Minha mente é parte essencial de mim mesmo, eu não posso imaginar minha existência sem meus pensamentos. Mas eu posso imaginar uma mente sem olhos, boca, pernas, braços, pele, etc. Sou necessariamente uma coisa que pensa, mas sou apenas acidentalmente um corpo. Assim, Descartes separa o pensamento da matéria. Para ele o mundo físico é determinista ou pré-determinado por eventos anteriores (não há liberdade), apenas há liberdade no mundo da mente.
(P.162) O conhecimento que vem da matéria, por meio dos sentidos, é confuso e inseguro, para ele, só podemos alcançar a essência das coisas por meio da reflexão pura.
Para conhecermos o universo, Descartes busca ideias inatas e intrínsecas da mente humana: o tempo, o movimento, a extensão. A partir disso nos apresenta em seu livro Meditações Metafísicas, o exemplo da cera de abelha que em temperatura ambiente se apresenta de uma forma aos nossos sentidos e em contato com o calor de outra. Assim, para não sermos enganados devemos abstrair todas as conclusões secundárias e analisar a cera a partir de nossas ideias inatas. A cera é uma coisa extensa, flexível e móvel. Dessa maneira, abstraímos as confusões criadas pelos sentidos e compreendemos a cera por meio da razão.
Assim como Platão, Descartes nos conduz por meio da dúvida sistemática às ideias eternas. Com o enigma cético resolvido é possível conhecermos objetivamente o universo, assim como a nós mesmos.
 Fonte:
BOTELHO, José Francisco. Uma Breve História da Filosofia: São Paulo. Abril. 2015. P.151-164

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