(P.151) Cap. 07: O demônio de Decartes
(P.152) “Penso, logo existo” Descartes.
(P.153) O cético preguiçoso.
René
Descartes (1596-1650) viveu em um período de crescente ceticismo onde as
certezas da tradição escolástica eram postas em xeque.
(P.154) Descartes percebeu que para cada
povo, cada religião, cada escola filosófica, a verdade tinha uma cara distinta.
O solo do pensamento humano parecia feito em areia movediça – assim, como
avançar em um caminho tão instável?
(P.155) Encontrou a resposta durante um
sonho em 1619. Sonhou com duas cidades, primeiro uma totalmente assimétrica,
construída por múltiplas mãos ao longo de séculos, onde os escombros do passado
impediam que os futuros edifícios se aprumassem direito. A segunda cidade, ao
contrário, havia sido planejada por um único arquiteto. Era planejada, limpa,
perfeita, sublime, racional.
Descartes
convenceu-se de que o mesmo acontecia com a inteligência humana. Antes de
erguer o edifício do conhecimento seria necessário limpar o terreno.
(P.156) A partir desse raciocínio surge o
método cartesiano: que consiste em duvidar de tudo o que possa ser duvidado.
Descartes queria usar a dúvida como uma espécie de filtro para limpar as
impurezas do pensamento e assim chegar a verdade.
(P.157) A dúvida hiperbólica.
Descartes
começa por identificar as crenças elementares que dão base à nossa visão de
mundo – crenças que em nosso dia a dia tomamos como inquestionáveis. Chamadas
de necessidades epistemológicas, essas ideias servem para fundamentar o nosso conhecimento
de mundo.
O
próximo passo é demonstrar que essas bases talvez sejam feitas de barro. Pois,
quem garante que a realidade não é uma ilusão, uma vez que meus sentidos podem
ser facilmente enganados?
(P.158) Argumento onírico: quando sonhamos
tudo nos parece real e não percebemos que estamos sonhando. Portanto, quem me
garante que o universo que me cerca não seja uma ilusão criada por um demônio
com o objetivo de me ludibriar?
(P.159) O mundo cartesiano.
Descartes
mergulha no abismo da dúvida porque desejava sair de lá com certezas sólidas e
purificadas.
(P.160) Eis que Descartes resolve sua
charada: por mais ardiloso que seja o demônio, ele não poderia me enganar se eu
não existisse. Ao pensar que tudo é falso eu não posso negar que estou
pensando, se penso, logo existo.
No momento
em que duvido de minha própria existência, eu estou comprovando-a, pois se não
existisse não poderia duvidar de coisa alguma.
A
partir dessa verdade indubitável, Maquiavel parte em busca de outras verdades.
Por exemplo, com o penso, logo existo sei de minha existência, mas como posso
provar a existência do universo? Maquiavel recorre ao argumento ontológico de Santo
Anselmo, onde sem Deus não poderíamos entender o conceito de perfeição, e como
Deus é bom criou o universo e não no engana.
(P.161) Com base nestas certezas objetivas,
conquistada por meio da dúvida sistemática, Descartes passa então a reconstruir
o edifício do conhecimento pelas etapas graduais da razão.
Bom,
sabemos que nosso corpo e o universo existem e que essa certeza não veio do
mundo físico, mas do pensamento. A partir disso Descartes conclui que existe
uma diferença fundamental entre o mundo da matéria e o mundo da mente.
Minha
mente é parte essencial de mim mesmo, eu não posso imaginar minha existência
sem meus pensamentos. Mas eu posso imaginar uma mente sem olhos, boca, pernas,
braços, pele, etc. Sou necessariamente
uma coisa que pensa, mas sou apenas acidentalmente
um corpo. Assim, Descartes separa o pensamento da matéria. Para ele o mundo
físico é determinista ou pré-determinado por eventos anteriores (não há liberdade),
apenas há liberdade no mundo da mente.
(P.162) O conhecimento que vem da matéria,
por meio dos sentidos, é confuso e inseguro, para ele, só podemos alcançar a essência
das coisas por meio da reflexão pura.
Para
conhecermos o universo, Descartes busca ideias inatas e intrínsecas da mente
humana: o tempo, o movimento, a extensão. A partir disso nos apresenta em seu
livro Meditações Metafísicas, o exemplo da cera de abelha que em temperatura
ambiente se apresenta de uma forma aos nossos sentidos e em contato com o calor
de outra. Assim, para não sermos enganados devemos abstrair todas as conclusões
secundárias e analisar a cera a partir de nossas ideias inatas. A cera é uma
coisa extensa, flexível e móvel. Dessa maneira, abstraímos as confusões criadas
pelos sentidos e compreendemos a cera por meio da razão.
Assim
como Platão, Descartes nos conduz por meio da dúvida sistemática às ideias
eternas. Com o enigma cético resolvido é possível conhecermos objetivamente o
universo, assim como a nós mesmos.
BOTELHO, José Francisco. Uma Breve História da Filosofia: São Paulo. Abril. 2015. P.151-164
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