Esaú e Jacó.
Publicado
em 1904, Esaú e Jacó é mais um romance Realista de Machado de Assis e o
penúltimo publicado pelo autor.
Esta
obra foi publicada alguns meses antes da morte de sua esposa e o tom amargo da
obra pode se dar pela triste fase pela qual passava o casal.
O
autor que sempre ambientou seus romances na era imperial do Brasil, pela
primeira vez trabalha questões ligadas a passagem do Segundo Reinado pera a
República.
O
título da obra mostra o profundo conhecimento de Machado de Assis sobre a
Bíblia. Segundo o livro sagrado dos hebreus, Esaú e Jacó eram filhos de Isaac e
Rebeca, que lutavam desde o ventre da mãe. Rebeca ao se aconselhar com Deus
fica sabendo que seus filhos brigam por representar dois povos inimigos. No
Romance, Natividade dá a luz a dois gêmeos – Pedro e Paulo – que assim como o
conto bíblico, brigam desde o ventre da mãe.
A
narrativa está a cargo do Conselheiro Aires, ex-diplomata e homem astuto nos
assuntos de mediação. Acredito que a escolha de Machado de Assis por um diplomata
para narrar o romance, acontece para que a narrativa dos embates entre
republicanos e monarquistas se dê da maneira mais imparcial possível.
O caso do confeiteiro.
Um
dos casos mais emblemáticos e simbólicos do livro é o caso do Sr. Custódio,
dono da Confeitaria Império. Esta
tradicional confeitaria carioca existia desde 1860 com este nome. Contudo, a
mudança de regime enlouqueceu o dono do estabelecimento que havia acabado de
mandar pintar um caro letreiro novo com o nome da confeitaria relacionada ao
antigo regime. Custódio e Aires debatem sobre qual seria o melhor novo nome
para a Confeitaria.
O episódio
possui um grande simbolismo no sentido de que não se propõe a mudança do
estabelecimento, mas simplesmente a mudança do nome. Não há uma mudança
estrutural, mas apenas uma mudança de substantivo. Seria uma crítica a
República?
Resumo da obra.
O presente livro foi escrito por Conselheiro
Aires, sendo encontrado após sua morte junto com seis memoriais (diários) que
ele escrevia. Tinha na capa o nome Último, mas o editor resolveu nomeá-lo de
Esaú e Jacó.
Natividade
junto com sua irmã Perpetua sobem o morro do Castelo em busca de uma consulta com
a conhecida vidente Bárbara. A aflita mãe queria saber como seria o futuro de
seus filhos, que naquele momento contavam com apenas 1 ano de idade. Lá a mãe
fica sabendo que os filhos teriam um futuro glorioso e que brigavam desde o
útero
Natividade
e Perpétua, felizes com a predição descem o morro e regalam a um pedinte a
quantia de 2 mil réis.
A mãe
dos gêmeos era de origem pobre e casou-se com um rico banqueiro do Rio de
Janeiro, de nome Santos, que apesar de rico também era de origem pobre.
No
dia 07 de abril de 1870, veio a luz um par de varões gêmeos. O nome veio
posteriormente por sugestão de Perpétua. Uma homenagem aos apóstolos Pedro e
Paulo.
Os
meninos cresceram, estudaram no Colégio Pedro II e foram pouco a pouco
tornando-se rivais em tudo.
Na
política Paulo era Republicano e Pedro Monarquista. A diferença ideológica fica
evidente na alegoria da compra dos retratos. Paulo compra um retrato de
Robespierre e Pedro um de Luís XVI. Em casa cada um pendura seu quadro na
cabeceira de sua cama (ambos dividiam o quarto). Há uma briga e um acaba
rasgando o quadro do outro.
Seu
pai, que havia se tornado Barão, encontrou-se para uma reunião política com a
família Batista. Surge pela primeira vez a figura de Flora, uma doce menina que
será alvo da disputa e da paixão de ambos.
Paulo
vai para São Paulo (um reduto historicamente republicano) estudar direito e Pedro
fica no Rio de Janeiro (sede da monarquia) estudando medicina.
Quando
há a Abolição de escravatura (1888), Paulo profere um discurso anunciando o
início de uma Revolução. Já Pedro nada mais via do que um ato de justiça.
O
livro tem por base as investidas de Paulo e as de Pedro, seguida pela indecisão
de Flora que amava os dois e os vias como complementares.
Neste
meio tempo, para a felicidade de Paulo a república é proclamada no dia 15 de novembro
de 1889.
O
tempo passa, o triângulo amoroso se intensifica, a disputa entre os irmãos
preocupa e Aires tem a ideia de enviar Flora para morar com sua irmã, Dona
Rita. A separação é triste e mediada pelo Conselheiro que propôs que acordo
entre os irmãos. Caso um dos dois fosse escolhido por Flora o outro deveria se
submeter ao seu destino.
Não
houve tempo, Flora adoeceu e morreu um dia após a Segundo Revolta da Armada em
13 de setembro de 1894. Os gêmeos juram a reconciliação “ela nos separou, agora, que desapareceu, que nos una”. Esse acordo
não dura muito e eles começam a disputar as visitas ao túmulo.
Meses
depois, Pedro abriu um consultório e Paulo uma banca de advogados. Foram aos
poucos mudando de opinião quanto ao regime. Pedro aceitou a República e Paulo
pôs-se a fazer oposição, pois esta não era a República de seus sonhos. Aires
entende que Pedro é conservador e Paulo Inquieto. Um se contenta e o outro quer
mais, não importando o sistema que governe.
Pedro
e Paulo são eleitos deputados, por partidos rivais. Natividade adoece e faz os
gêmeos juraram diante de seu leito de morte que serem amigo pela eternidade.
Ao
regressarem a câmara pareciam grandes amigos. Andavam juntos, votavam juntos,
defendiam um ao outro, etc. Para desespero de seus partidos, que achavam isso
uma traição. Os irmãos então decidem ser rivais apenas na política e amigos no
particular.
Contudo,
o tempo passou e o acordo de amizade foi mingando. Os dois foram tornando-se
ferrenhos rivais ao ponto dos outros políticos se surpreenderem com tamanha
transformação. Aires dizia que eles não haviam se transformado em nada, eram
apenas eles mesmos.
Fonte:
ASSIS, Machado. Esaú e Jacó. São Paulo: Martin Claret, 2012.
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