Machado de Assis (1839 – 1908).
Joaquim
Maria Machado de Assis, nasceu pobre e epilético no morro do Livramento – RJ.
Este mulato, neto de escravos tornou-se o maior nome de literatura brasileira
de todos os tempos, sua história e sua obra confundem-se com o a história do
nosso país.
Aos
16 anos ingressou como aprendiz em uma topografia, tomou gosto pelas letras, e
logo publicou seus primeiros versos no jornal “A Marmota”, ganhando certa
notoriedade.
Foi
convidado por Quintino Bocaiúva a escrever no “Diário do Rio de Janeiro”, época
marcada por poemas e comédias.
Casou
em 1869, sua esposa Carolina Xavier de Novais fui fundamental para o
amadurecimento do escritor, pois foi ela quem lhe apresentou aos clássicos
portugueses.
Podemos
dividir a obra machadiana em duas fases:
1.
Literatura
Romântica (década de 1870): marcada pelas obras Ressureições, A mão e a luva,
Helena, entre outros.
2.
Realismo (década
de 1880 – até sua morte): iniciada pelo clássico Memórias Póstumas de Brás
Cubas (1881), Dom Casmurro (1889), Quincas Borba (1891), Esaú e Jacó (1904),
Memória de Aires (1908 – obra que fecha o ciclo Realista do autor) entre
outros.
Machado
inaugura o Realismo brasileiro, marcado por um espírito crítico, grande ironia,
pessimismo e uma profunda reflexão sobre a sociedade brasileira de sua época.
Em
1897 fundou a academia brasileira de letras, ocupando a cadeira de número 23.
Ocupou diversos cargos públicos durante a sua vida até o ano de 1904, quando
sua esposa veio a falecer. Triste e isolado, morreu em sua casa localizada na
rua Cosme Velho em 1908.
O Realismo.
Este
movimento artístico e cultural que surgiu na Europa na segunda metade do século
XIX é caracterizado pela abordagem de temas sociais, tratando de forma objetiva
a realidade do ser humano. Possuía um forte caráter ideológico e uma linguagem
politizada denunciando as mazelas sociais de sua época sejam elas sociais como
a miséria, a exploração e a corrupção, ou psicológicas como as fraquezas e o
caráter humano.
Diferente
do Romantismo de linguagem rebuscada e subjetivista o realismo é direto e
claro. Uma martelada. Uma das correntes do realismo é o naturalismo, que também
possuí uma linguagem objetiva, mas sem o caráter ideológico.
Introdução as Memórias
Póstumas de Brás Cubas.
Livro
destinado a expor de maneira irônica os privilégios e as superficialidades da
elite social brasileira do século XIX, passando-se entre 1805 ano de nascimento
de Brás Cubas e 1869 ano de sua morte.
O
maior diferencial deste livro, escrito em primeira pessoa, é o fato dele ser
escrito pelo morto, sendo assim um defunto-autor que após a morte resolveu
contar suas memórias. Mas atenção, o próprio Cubas adverte, ele é um
defunto-autor e não um autor-defunto, pois ele só começou a escrever depois de
morrer.
A
obra possuí dois tempos, o tempo psicológico do autor além-túmulo que vai
narrando os acontecimentos conforme lhe vem à cabeça, e o tempo cronológico
destinado a narrar sua vida desde a infância até o falecimento. Esta
não-linearidade espantou os leitores de sua época, acostumados a linearidade do
Romantismo.
Se
uma expressão pudesse resumir este livro seria: Não-realizações. Neste romance
não há grandes acontecimentos, não há grandes realizações. Brás Cubas é um
homem medíocre, que não realiza nada que projeta, vivendo de fracasso em
fracasso até sua morte. Os leitores do livro ficam à espera de um desenlace que
não vem.
Contudo,
devemos nos lembrar que Cubas era um sujeito da elite carioca do século XIX e
esses caprichos que ele não consegue realizar só o frustra pelo fato dele fazer
parte desta classe social. Certos personagens secundários de classes menos
favorecidas não podiam se dar ao luxo desses caprichos de Cubas.
Personagens.
-
Brás Cubas: narrador e protagonista, é o “defunto autor” de sua própria
biografia, na qual avalia com ceticismo a existência humana.
-
Virgília: esposa do político Lobo Neves e amante de Brás Cubas, sustenta o caso
adúltero para manter as aparências do casamento.
-
Quincas Borba: amigo de Brás, formula a filosofia do humanitismo.
-
Eugênia: jovem manca de quem Brás rouba um beijo, abandonando-a em seguida.
-
Marcela: prostituta de luxo com quem o narrador se envolve na juventude.
-
Cotrim: cunhado de Brás pelo casamento com a irmã deste, Sabina, trata-se de um
homem de hábitos rudes no trato com escravos.
-
Nhã Loló: parenta de Cotrim, é a noiva arranjada por Sabina para o irmão; o
casamento não se realiza em função da morte da pretendente.
-
Dona Plácida: ex-empregada de Virgília, acoberta os encontros amorosos entre
Brás e sua antiga ama.
-
Prudêncio: ex-escravo de Brás; depois de alforriado, torna-se dono de um
escravo, no qual se vinga das violências recebidas na infância.
Resumo da Obra.
“Ao verme que
primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas
memórias póstumas”.
Brás
Cubas nasceu em 20 de outubro de 1805 e morreu na tarde de agosto de 1869, em
sua chácara. Segundo ele, havia morrido de ideia fixa, pois queria criar um emplasto[1] revolucionário que o
garantiria sua fama eterna, após semanas trabalhando no projeto sentiu calor,
abriu a janela recebeu um “golpe de ar” adoeceu e morreu.
O
livro inicia-se pelo velório, passando pelo adoecimento, pelas alucinações
antes da morte e ... seu nascimento. Não há linearidade.
O
defunto-autor nasceu no seio da elite carioca do século XIX, foi menino
birrento, malcriado e mimado pelo pai, Bento Cubas. Ganhou o apelido de menino
diabo por suas traquinagens.
Na
escola conheceu Quincas Borba, por quem nutriu grande simpatia.
Aos
17 se apaixonou por uma espanhola de nome Marcela, uma prostituta de luxo. Com
ela deu seu primeiro beijo. Segundo Cubas, “Marcela
amou-me por 15 meses e 11 contos de réis”. Uma típica interesseira que viu
no garoto inexperiente uma forma de ganhar joias e mimos.
Assim
que seu pai descobriu o romance o rombo bancário tratou de enviar Brás para
estudar Direito em Coimbra. Tentou levar Marcela, mas seu plano foi por água a
baixo e seu pai o colocou à força dentro de um navio rumo a Portugal.
Formou-se
sem entender a matéria, sentia que seu diploma era uma carta de alforria e saiu
pela Europa em viagem e romances. Passou 9 anos no Velho Continente e voltou ao
Rio de Janeiro após receber que sua mãe estava à beira de morte.
Após
a morte da mãe foi morar na Tijuca na companhia de Prudência, escravo que na
infância Brás fazia de cavalo e lhe açoitava.
Recebeu
a visita de seu pai que lhe deu um ultimato: precisava se casar e entrar para a
política. Após uma longa conversa ele aceitou casar se com Virgília (seu pai
estava ajeitando) e disputar uma vaga na câmara dos deputados.
Brás
soube que perto de sua casa morava dona Eusébia, antiga amiga da família. Lá
conheceu Eugênia uma jovem linda e coxa (manca) com quem flertou e depois a
deixou por ser manca.
Como
prometido, seu pai lhe apresenta Virgília filha do influente Conselheiro Dutra.
Romance e política em uma só tacada. Contudo, eis que aparece um homem chamado
Lobo Neves e em pouquíssimo tempo lhe arrebata Virgília e a candidatura de
Brás. Seu pai não aguente e morre de desgosto quatro meses depois dizendo: - Um
Cubas!
Por
destino entrou um uma loja a procura de um vidro para seu relógio e encontra
com Marcela. Estava feia, carrancuda, decrepita e carcomida pelo tempo. Brás
fica horrorizado.
Nesse
meio tempo briga com sua irmã Sabina e com seu cunhado Cotrim pela herança de
seu pai.
Os
anos se passam e eis que Virgília que havia mudado para São Paulo, regressa
para o Rio. Ao vê-la novamente Brás se apaixona e este amor é correspondido.
Beijam-se em frente a casa dela e dão início a um caso de adultério.
Perdidamente
apaixonado Brás Cubas propõe a fuga, imediata rejeitada por Virgília. Cubas
então aluga uma casa e coloca Dona Plácida (amiga da família de Virgília) como
governanta. Estava montado o local dos encontros carnais e extraconjugais dos
dois.
Neste
meio tempo Cubas é abordado enquanto caminha por um mendigo. Qual não é sua
surpresa quando percebe que este mendigo é na verdade Quincas Borba, seu amigo
de colégio. Cubas lhe doa 5 mil réis e tem seu relógio roubado por ele.
Lobos
Neves recebe é convidado ao cargo de presidente de uma província do norte.
Cubas e Virgília se desesperam, Neves convida Cubas para ser seu secretário (O
corno não sabia de nada).
Brás
Cubas se reconcilia com a irmã. Seu cunhado Cotrim lhe alertou que o convite
feito por Neves era perigoso, todos -menos ele – desconfiavam da traição.
O
defunto-autor acostumou-se com a ideia de ser secretário de Neves e espalhou a
notícia por todo canto. Eis que sai a nomeação e Lobo Neves misteriosamente
desiste do cargo. Cubas fica sabendo por Virgília que seu marido desistiu pelo
fato da nomeação ser de número 13, número que para ele era de mau agouro.
Virgília
descobre estar grávida e Cubas recebe uma carta de Quincas Borba devolvendo-lhe
o relógio e pedindo um encontro para lhe expor sua nova filosofia o
HUMANITISMO.
Alguns
meses depois Virgília perde o bebê e neste mesmo dia Neves recebe um bilhete
anônimo lhe alertando da traição.
Eis
que em um encontro do casal adúltero na casa de Dona Plácida há uma briga séria
que leva ao rompimento, para piorar chega Lobo Neves de surpresa na casa, Cubas
se esconde em um quarto e Vírgilia e Dona Plácida conseguem contornar a
situação. Cubas recebe um bilhete de Virgília pedindo cautela.
Nesse
meio tempo Brás Cubas recebe a visita de Quincas Borba. Era um novo homem, bem
vestido e elegante. Havia recebido uma herança de um tio de Barbacena. Seu
objetivo nesse encontro era iniciar Cubas em sua filosofia.
Lobo
Neves é nomeado presidente de província e vai com sua esposa para o norte. Desta
vez o decreto foi publicado no dia 31 e não no 13.
Sabina
arranja um casamento para seu irmão com Nhã-loló. Ele aceitou pois já estava
com mais de 40 anos e não queria mais ser um solteirão sem filhos. Quando tudo
parecia arranjado Loló morre aos 19 anos vítima de febre amarela.
O
tempo passou e Cubas tornou-se deputado na mesma câmara que legislava Lobo
Neves que havia voltado depois de alguns anos. Após um belo discurso,
incentivado por Quincas Borba, sobre a farda da guarda nacional foi ignorado e
perdeu o cargo.
Apesar
do regresso, os encontros amor entre Virgília e Cubas – então com 50 anos – não
ocorreram mais.
Brás
revoltado com a perda do cargo decidiu fundar um jornal, onde divulgaria as
ideias do Humanitismo e fazer oposição ao governo. Seu jornal fracassa e não
dura seis meses.
Lobo
Neves morre um pouco antes de se tornar ministro. Cubas sente uma pontada de
prazer. No enterro Virgília desconsolada derrama lágrimas verdadeiras pelo
defunto. “Visrgília traiu o marido com sinceridade, e agora chorava-o com
sinceridade”.
Cubas
ingressa na Ordem Terceira (uma sociedade filantrópica) a convite de Cotrim.
Segundo o defunto-autor, foi a fase mais brilhante de sua vida. No hospital da
ordem viu morrer Marcela e durante a distribuição de esmolas em um cortiço
encontrou Eugênia...tão coxa e tão triste.
Borba
vai a Minas Gerais e volta completamente demente. Queimou seus manuscritos e
queria transformar sua filosofia em uma religião. Possuía até mesmo uma dança
sacra. Morreu alguns meses depois na casa de Cubas.
Cubas
morreu pouco depois, tentando criar seu emplasto.
A vida
de Brás Cubas foi uma vida de negativas:
Ruins.
- · Não tornou-se celebridade com seu emplasto.
- · Não foi ministro.
- · Não conheceu o casamento.
Boas.
- · Não teve que comprar o pão com o suor de seu rosto.
- · Não padeceu da morte solitária de Dona Plácida.
- · Não ficou demente como Quincas.
Para
Cubas ele havia saído quites com a vida, ou melhor com saldo positivo pois: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma
criatura o legado de nossa miséria”.
Fonte:
ASSIS, Machado. Memórias Póstumas de Brás Cubas. 1 ed. São Paulo: Media fashion, 2016.
[1]
Remédio caseiro.
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