O
Método Socrático tem como base os diálogos, onde o Sátiro de Atenas começa com
perguntas aparentemente simples e deslocam o interlocutor de sua zona de
conforto. O Objetivo se Sócrates era lançar seu interlocutor em uma espécie de
vazio onde novas reflexões poderiam surgir. Como exemplo usaremos o diálogo
entre Laques e Sócrates onde este pergunta: o que é a coragem?
“Ora,
meu caro Sócrates, não há dificuldade alguma na pergunta – diz Laques – corajoso é aquele que mantém seu posto mesmo sob
ataque dos inimigos e não foge.”
“Ótima
resposta, Laques. Acho, contudo, que minha pergunta não foi muito clara; a
culpa, de certo, é toda minha. Mas devo dizer que sua resposta nada tem a ver
com o que lhe perguntei. – Laques fica
perplexo – Você me diz que corajoso é aquele que mantém seu posto e não
foge ante a investida do inimigo. Mas o que dizer do soldado que luta enquanto
foge? Tenho certeza, Laques, que já ouviu falar dos citas[1].”
“Também
chamamos de corajosos – continua
Sócrates – aqueles que nunca se envolveram em lutas físicas – um marinheiro
que enfrenta os perigos do mar, os trabalhadores de minas, etc.”
Muito
bem, muito bem – Laques concorda. –
A coragem deve ser algo mais amplo do que a capacidade de suportar um ataque
inimigo no campo de batalha. Digamos, então, que coragem seja uma espécie de
perseverança do espírito; isto se aplica a todos os casos que você mencionou.”
Contudo,
Sócrates também desmancha esse argumento, de forma igualmente cordial e
implacável, fazendo com que o próprio interlocutor, de resposta em resposta,
contradiga a si mesmo.
“Laques,
você acha que a coragem é algo bom ou algo reprovável?”
“Algo
bom, certamente.”
“E
quanto à tolice? É também uma coisa boa?”
“De
forma alguma, Sócrates. A tolice é reprovável.”
“Imaginemos
agora dois homens. Um sabe mergulhar, o outro nunca entrou na água. Ambos são
desafiados a fazer um mergulho até o fundo do mar. Ambos aceitam o desafio, com
grande perseverança de espírito. Qual dos dois é o mais corajoso?”
“O
que não sabe mergulhar, é claro.”
“Contudo,
qual é o mais tolo? O que tem o devido conhecimento técnico das artes do
mergulho, ou o que se enfia na água sem mal saber nadar?”
“O
mais tolo, nesse caso, é o mergulhador diletante.”
“Você
havia dito que coragem é algo bom, enquanto a tolice reprovável. Mas agora
chegamos à conclusão de que, nesse caso, o mais corajoso não é o mais
perseverante, e sim o mais tolo.”
É
fato Sócrates.
“Você
continua achando que sua definição está correta?”
“De
forma alguma. Eu estava errado. Que coisa estranha, Sócrates! Parece que não
consigo expressar em palavras o que parecia claro em meus pensamentos; sinto
que sei o que é coragem, mas, se tento defini-la, ela me passa a perna e foge
de mim.”
“Ora,
meu caro Laques, sejamos então como o bom caçador, que jamais desiste de
perseguir sua presa. Tenhamos perseverança de espírito. Avante!”
Referências.
BOTELHO, José
Francisco. Uma Breve História da
Filosofia: São Paulo. Abril. 2015.
[1] Citas: povo guerreiro da Ásia Central,
muito conhecidos por sua tática de atirar flechar para trás enquanto recuavam.
Técnica muito difícil e perigosa de ser realizada.
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