Vargas, Perón e Rujas: exemplos dos governos populistas estabelecidos no continente americano. |
A ideia
deste trabalho é explicar o populismo de forma a não reduzir os líderes e seus
seguidores a simples ideia de manipulação e de anomalia.
Na América
Latina o conceito de populismo é vasto e varia de autor para autor, por
exemplo, ele pode ser definido como: 1) formas de mobilização sociopolítica em
que as massas atrasadas são manipuladas por líderes demagógicos e carismáticos.
2) Movimentos sociais multiclassista com
liderança na classe média ou alta com passe popular operária e/ou
camponesa. 3) Uma fase histórica no desenvolvimento dependente da região ou uma
etapa na transição para a modernidade. 4) Politicas estatais redistributivas,
nacionalistas e excludentes. Essas politicas beneficiam o capital nacional em
detrimento do estrangeiro. 5)Tipo de partido político com liderança nas classes
médias ou alta com base popular forte e retórica nacionalista, com a presença
de um líder carismático e sem uma definição ideológica precisa. 6) Um discurso
político que divide a sociedade em dois campos antagônicos: o povo contra a
oligarquia. 7) Intenções das nações latino-americanas de controlar os processos
de modernização que vem do exterior, fazendo com que o Estado tomo lugar
central na defesa da identidade nacional e como promotor da integração através
do desenvolvimento econômico.
Por mais
vastos que os conceitos de populismo podem ser, alguns autores como Roxborough
e Rafael Quintero propõem que o populismo deve ser entendido como uma etapa do
desenvolvimento latino-americano ligado ao processo de substituição das
importações, além de entenderem que as visões que privilegiam a ideia da
existência de um líder carismático e massas anônimas disponíveis ou de analises
baseadas nas alianças de classes sejam descartadas.
Condições pré-estruturais dos
populismos.
Os
primeiros estudos sobre os populismos latino-americanos, influenciados por
estas teorias de modernização e dependência, trabalharam em especial com a
Argentina, o Brasil e o México nas décadas de trinta e quarenta. Neste período,
estes países passaram por processos de substituição das importações associadas
ao surgimento do peronismo, do varguismo e do cardenismo.
A análise
das experiências históricas populistas, não deve nos levar ao erro de ver o
populismo como somente um fenômeno do passado. O sucesso eleitoral de alguns
lideres populistas a partir do ultimo processo de transição para a democracia
na região é um exemplo.
A sedução populista.
É
importante diferenciar o populismo como regime no poder, da análise do
populismo como movimento social e politico dos movimentos eleitorais
populistas. Para entender a sedução que os lideres populistas provocam e as
expectativas autônomas de seus seguidores devemos ter em mente: 1) A
personalidade do líder carismático, 2) O discurso político maniqueísta, 3)
mecanismos de articulação líder-base clientelista e patronal, 4) analise
sócio-histórica do populismo.
Liderança Populista.
O líder
populista se identifica totalmente com a sua pátria, a nação e o povo em sua
luta contra a oligarquia. O líder devido a sua honestidade, força de vontade
garantirá o cumprimento dos desejos populares. O vínculo que une o líder aos
seus seguidores é místico. O líder é a projeção simbólica do ideal.
Os
atributos pessoais do líder é o segundo elemento do líder carismático. A sua
aparência física. Os líderes carismáticos invocam mitos. Através da metáfora
são assimilados a ícones de suas culturas. Exemplos de Evita como a Madre
Dolorosa ou de Ibarra, ou de Haya de la Torre como Cristos Redentores.
Discurso maniqueísta: o povo contra a
oligarquia.
Ernesto
Lacau introduz a análise do discurso como uma ferramenta para entender os
significados ambíguos do populismo. Ele analisa como Perón se apropriou de uma
série de criticas ao liberalismo e em seu discurso confrontou antagonicamente o
povo contra a oligarquia.
O discurso
populista possui as seguintes características: 1) sua temática é centrada
explicitamente no problema de controle das estruturas institucionais, do Estado
e do poder. 2) São discursos polêmicos que têm o objetivo de refutar e
desqualificar o discurso do opositor. 3) Incluem um certo calculo de seus
efeitos ideológicos e políticos imediatos.
A
característica básicas do discurso e da retórica populistas é que ele
radicaliza o elemento emocional em todo discurso político. Pois o discurso não
quer notificar, nem explicar, mas somente persuadir.
Como dito
anteriormente, o discurso populista divide a população em campos antagônicos: O
povo contra a oligarquia. E este discurso é marcado pelo moralismo,
religiosidade e intransigência frente estas oligarquias que devem ser
destruídas.
Outro
elemento interessante, é que os líderes populistas incorporam em seus discursos
bordões e elementos da cultura popular. Um exemplo clássico são os “descamisados”,
que de expressão pejorativa, tornou-se símbolo do povo argentino, nos discursos
de Perón.
Mecanismos de Clientelismo e
Patrocínio.
Os estudos
que privilegiam o carisma do líder populista, não estudam os mecanismos
concretos da articulação eleitoral e portanto outorgam todo o peso explicativo
à figura e ao discurso político do líder. Isso é possível quando se entende que
os atores envolvidos são massas irracionais e anônimas.
Os estudos
que usam o conceito de clientelismo político, descartam o elemento irracional
dos setores marginalizados e demonstram a sua racionalidade no fato de que por
muitas vezes o clientelismo conquistou mais votos que o carisma. Contudo,
devemos entender que o clientelismo, mais do que trocar votos por serviços cria
um sentimento de pertencimento e identidade.
É
necessário ainda diferenciar analiticamente os fenômenos populistas em
movimentos eleitorais e movimentos sociais, uma vez que não foram todos que
participaram das campanhas que votaram. No Brasil, por exemplo, em 1933 somente
4,1% da população votava. Isso mostra como a mensagem populista transcendeu o
reduzido numero de eleitores.
Talvez a
melhor forma de resolver essa falso dilema: Carisma versus clientelismo seja
analisando estes fenômenos conjuntamente. O líder articula valores,
reivindicações e cria novas linguagens. Por sua vez, a organização política
articula estratégias para a captura de voto. Estas formas de ação política
diferentes se complementam em processos políticos concretos.
História social do populismo.
Os
estudiosos do populismo vêm tentando entender as ações dos seguidores dos
líderes populistas. Alguns buscam inseri-los na concepção de sociedade de
massa, outros na racionalidade instrumental de seus seguidores, outros em
questões ideológicas.
Conclusões: Os paradoxos do populismo
para a democracia.
Ao longo
deste ensaio os autores buscaram enfatizar a necessidade de estudar os
significados ambíguos e contraditórios das experiências populistas.
Aqui foi
proposta a análise histórico-social da ação coletiva que gerou este movimentos,
assim como os discursos políticos da época. Esta proposta ainda levou em
consideração tanto os discursos do líder, como as respostas e expectativas de
seus seguidores.
Isso
possibilitou aos autores chegaram a conclusão de que o principal efeito do
populismo foi o acesso de grandes grupos sociais à dignidade simbólica de ser
alguém, de ser humano em uma sociedade excludente e racista.
Fonte:
Alvarez Junco, José y González
Leandri, Ricardo (comps.), El populismo em España y América, Madrid, Catriel,
1994.
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