domingo, 28 de outubro de 2012

Fichamento: A Memória Evanescente de Leandro Karnal.


 Resumo:
O que são os documentos? Os documentos falam por si mesmos? Qual o trabalho do historiador? Imparcialidade existe? Um documento falso deve ser descartado?
Estas são algumas das questões apresentadas por Leandro Karnal e Flávia Tatsh. De maneira fácil e objetiva os dois historiadores fazem uma introdução na percepção da relação entre historiadores e documentos.
Boa Leitura!

Fichamento: A Memória Evanescente.
(P.09) O documento é a base para o julgamento histórico. Destruídos todos os documentos sobre um determinado período nada poderia ser dito por um historiador. Uma civilização da qual não tivéssemos nenhum vestígio arqueológico, nenhum texto e nenhuma referência por meio de outros povos, seria uma civilização inexistente para o profissional de História?
(P.10) Se o documento é tão importante, então: o que é um documento histórico? Iniciando da ideia mais difundida, o documento histórico é uma folha – ou várias – escrita por alguém importante. Ex: a carta de Pero Vaz de Caminha.
Carta de Pero Vaz de Caminha.
Essa visão omite a história do documento, ou seja, como determinado grupo e determinada época consideravam que aquela folha estivesse na categoria de um verdadeiro “documento histórico”. Ex. a carta de Pero Vaz de Caminha, nada mais era que uma simples carta perdida por durante duzentos anos na Torre do Tombo, até ser resgatada em 1773 e publicada em 1817. E aos poucos, no contexto da valorização nacional foram publicadas e republicadas durante todo os século XIX e XX.
(P.12) Ou seja, o crescimento da importância da carta de Caminha se deve ao crescimento do Brasil, do surgimento do nacionalismo, etc.
Em suma, o documento não é um documento em si, mas um diálogo claro entre o presente e o documento. Resgatar o passado e transformá-lo pela simples evocação. Todo documento histórico é uma construção permanente.
O documento também pode varar de acordo com os agentes que o leem. Ex. um funcionário da cultura do Estado Novo poderia ver em Caminha a certidão de nascimento do Brasil. Um indigenista a certidão de óbito de muitas populações indígenas. Mesmo ambos reconhecendo a importância do documento, ele pode gerar leituras opostas. Um documento, várias leituras. Além disso, o foco sobre o documento pode mudar de acordo com o recorte feito.
(P.13) Assim, um documento como a Carta de Caminha não tem importância em si, eterna e imutável, mas é um “link” que estabelecemos com o passado. Hoje é uma peça fundamental da história brasileira, mas pode no futuro voltar a ser perdido e considerado irrelevante.
A mutabilidade do documento tem relação com o sentido que o presente confere a tais personagens ou fatos.
(P.14) Um Conceito em Expansão.
Apenas no século XIX triunfou a ideia do documento como “prova histórica” superando o termo usado até então: monumento.
Rapidamente o documento foi reconhecido como fonte. Entretanto: a definição do que vem a ser um documento foi amplamente debatida. No século XIX a Escola Metódica tinha certeza de que um documento é, em essência, algo escrito e todo debate girava em torno de sua autenticidade ou não. Para os autores da Escola Metódica, Langlois e Seignobos, a questão central da história é a heurística documental, sendo única e exclusivamente o trabalho do historiador a busca, seleção, crítica e classificação documental.
A Escola dos Annales, colaborou para o alargamento da noção de fonte. Ao determinar que o historiador seria guiado por tudo que fosse humano.
(P.15) Surgiu a história sobre praticamente tudo, ampliando assim o termo documento histórico.
(P.16) Em síntese, a noção de documento ampliou-se muito mais do que os historiadores tradicionais queriam, mas, igualmente, não atingiu o patamar de “qualquer coisa”. Talvez a mudança mais expressiva do documento não esteja num novo objeto, mas num novo estatuto epistemológico da “verdade” no documento. Na visão tradicional da História, um documento falso era considerado nulo para a interpretação. Assim como o documento fantasioso. Com o advento da história nova até mesmo os documentos falsos ganham interpretação: por qual motivo se inventou este documento?
(P.18) Le papier souffre tout...
Os franceses têm um ditado de que “o papel aguenta qualquer coisa”. Com isso a cultura popular francesa expressa certo ceticismo quanto a papeis usados como documentos históricos. O papel aguenta qualquer coisa, ideia, sofre calado, jamais se rebela contra o autor. O que garante a autenticidade de um documento escrito?
Por mais que hoje, documentos falsos possam servir para análise histórica, a busca pela autenticidade continua fundamental.
(P.19) A falsificação atinge todo objeto de valor, com objetivos variados. Nazistas falsificavam objetos arqueológicos da civilização ariana, Stalin falsificava fotografias , etc.
Conclusão em aberto: O que é um documento histórico?
(P.20) Um documento é tudo aquilo que um determinado momento decidir que é um documento.
(P.21) Um documento é dado como documento histórico em função de uma determinada visão de época. Ou seja, o documento existe em relação ao meio social que o conserva. Mesmo que o conceito de documento se amplie ao limite, sempre haverá documentos mais importantes que outros.
(P.22) O “fetiche” pela fonte primária é uma verdadeira distorção do processo de produção da História (Keith Jenkins). De que esta fonte “falaria por si” e que ao historiador só caberia ler o inquestionável.
(P.24) Em síntese, documento histórico é qualquer fonte sobre o passado, conservado por acidente ou deliberadamente, analisado a partir do presente e estabelecendo diálogos entre a subjetividade atual e a subjetividade pretérita.
Link para o texto completo:
Bibliografia:
KARNAL, L; TATSH; F. G. A Memória Evanescente. In: PINSHY, C.B; LUCA, T.R. de (orgs). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário