domingo, 20 de novembro de 2011

Análise do Livro O Anticristo de Friedrich Nietzsche


A Ideia central de Nietzsche ao escrever O Anticristo, é a transmutação dos valores. Trocar os valores cristãos platônicos que negam a vida e o ato de viver, prometendo recompensas pós-mortem e inserir novos valores que valorizem a vida e a tornem plena.
Introdução por Mauro Araújo Souza.
Apesar de suas inúmeras interpretações, o objetivo central de Nietzsche ao escrever O Anticristo era a crítica aos valores estabelecidos em dois mil anos de cristianismo e propor a inversão e criação de novos valores...
O título desta obra, tão polêmico, se deve ao fato de Nietzsche combater o idealismo metafísico platônico que transformou este mundo em algo inferior e ilusório em nome da “verdade” de um mundo ideal. Platão era adepto a teoria de que tudo o que existe aqui no mundo real, em nosso mundo, não passa de uma projeção materializada do mundo das ideias que está bem além da nossa percepção sensitiva. Nietzsche chamava o cristianismo de um platonismo para o povo e isto por si explica o título.
Sua obra luta contra a metafísica, contra o dualismo proporcionado entre corpo e alma, terra e céu e assim por diante. É necessário se esclarecer que há uma grande diferença para o filosofo entre Cristo e o cristianismo. Seu livro se posiciona contra o cristianismo e suas interpretações da vida de Cristo, que para ela não passou de um romântico que pretendia mudar o mundo com seu bom coração.
Para Nietzsche não existe o fato, para ele o que existem são interpretações forjadas pelas forças expressas em vontade de potência [1]. Por isso ele proclama que o cristianismo não é a única interpretação do mundo, há outras. Para se entender alguma coisa há necessidade de não se fechar em apenas uma perspectiva, como a cristã, que vem dominando o Ocidente por milênios.
O filósofo propõe o surgimento de um novo tipo humano, o “além-homem”, capaz e conviver com suas limitações e superações. E Nietzsche vem indicar esses valores novos através do Anticristo, diante de um mundo sem necessidade de Deus para criá-lo, guiá-lo ou destruí-lo.
O que o autor mais nega no cristianismo é o seu favorecimento da vida além-túmulo, em detrimento desta própria. Nietzsche prega que a vida deve ser entendida a partir da própria vida, sem o sentimento de culpa da moral cristã. O pecado não existe e se não há pecado não existe a necessidade de salvação. O ser humano sentiu a necessidade da criação de um Deus para preencher o seu próprio vazio existencial e o criou negando sua própria vida terrena.
Auguste Comte que com seu positivismo criticou a religião e todo o atraso da humanidade decorrente desta, acabou por transformar sua visão cientificista em uma outra religião, o “ratiocentrismo” (a razão como centro). Nietzsche não opta nem pela metafísica-religiosa nem pela ciência como religião. Nem fé, nem razão: sem dualismos. Tudo é apenas um fluxo de forças e a razão é apenas um acaso, como acaso são todas as outras coisas.
Isso soa como absurdo para os cristãos, para eles o mundo não é somente esse absurdo monstro de forças que nos leva ao acaso. Precisa haver um Deus, há de ter um Bem, um julgamento e uma vida eterna sem sofrimentos. Para Nietzsche não há nem céu nem inferno, há somente a existência.
O Anticristo prega que, já é hora de a vida na Terra ser valorizada. Já que as matrizes socráticas e as fundamentações platônicas tornaram o mundo concreto um fardo muito pesado. O mundo foi substituído por uma fábula e a vida tornou-se algo que cansa os homens.
Entretanto, a crítica maior do livro não é feita a Sócrates, Platão ou Santo Agostinho que cristianizou o segundo, mas ao apóstolo Paulo que já trazia ideias platônicas em sua formulação do cristianismo.
O cristianismo ordenou, direta ou indiretamente, todas as mentes no Ocidente, então somente um anticristo para descristianizar o mesmo Ocidente. É assim que Nietzsche se vê. Ele não se contenta somente com a inversão dos valores, ele parte também para a criação de novos valores.
O que é o cristianismo? É uma religião que nega o ato de viver, corrompe os instintos humanos, impede a felicidade. E o papel do anticristo é denunciar essa corrosão da alma como contrária a natureza. O que é Deus para Nietzsche? É a própria contradição da vida, negando-a.
Toda a tensão do autor é voltada contra a Igreja cristã e não contra Jesus Cristo. Cristo, como já foi dito antes, foi um romântico que para Nietzsche foi o único cristão que já existiu, todo o resto depois dele é montagem. Tanto que o filósofo cita “o evangelho morreu na cruz”.
Quem o filosofo combate e denomina como fundador da Igreja Cristã é Paulo, o apóstolo. Foi ele quem unindo a tradição judaica com a helênica, transformou o cristianismo no “platonismo para o povo”. Cristo não tinha a intenção de criar uma igreja institucional, tanto que morreu por isso, mas Paulo tinha e a institucionalizou. Paulo também foi o responsável por criar essa visão de Deus que conhecemos, que é totalmente diferente da pregada por Jesus. Paulo, para Nietzsche foi o manipulador da herança de Cristo
Paulo também foi o inventor do além no cristianismo, antes o Reino de Deus era considerado um estado de espírito, agora passara a ser algo pós-morte, outra realidade. Paulo usava da lógica dos Fariseus, que era tudo o que Cristo combatia e por isso foi crucificado. O sacerdote tornou-se tirânico, tendo ao mesmo tempo o poder de um rabino e de um soldado romano. Enfim, o cristianismo se institucionalizou, com dogmas e uma casta sacerdotal.
Como golpe de misericórdia, Paulo criou o juízo final implantando o medo à vida terrena. O dualismo platônico estava efetivado. Transformou Jesus no Salvador da humanidade e culpou a vida odiando-a. Todo cristão tornou-se um ressentido, auto classificados como “os eleitos”, os “justos”, etc.
Nietzsche entende o cristianismo como uma automutilação e somente alguém muito carente de amor poderia ter criado um Deus de puro amor.
Por um período, Nietzsche chegou a imaginar que o cristianismo estaria perto de uma derrota: durante o Renascimento e a Reforma religiosa, mas decepcionou-se a ver que Lutero somente fortaleceu o cristianismo.
Nietzsche é contra todas as formas e cristianismo, seja ela católica ou protestante, por isso sua obra é tão atual. Pois a moral do ressentimento e da culpa estão presentes no mundo cristão. E são muitos que seguem como “rebanhos” a seu pastor, a seu sacerdote, que falam em nome de Cristo, que Nietzsche lembra, levou com sigo o verdadeiro Evangelho.
Toda luta do autor é contra a metafísica platônica e sua popularização através do cristianismo. Nessa luta sua única arma é seu projeto de uma transvalorização dos valores.
Sites:
http://forum.consciencia.org/index.php?topic=520.0     acesso realizado em 19/11/2011
Bibliografia:
NIETZSCHE; Friedrich: “O Anticristo”. São Paulo-SP, ed Martin Claret, 2006
[1]A vontade de potência, é a vontade de expandir-se, tornar-se mais, crescer, desenvolver-se, ser mais: “a própria vida é vontade de potência. 

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