A Ideia central de Nietzsche ao escrever O
Anticristo, é a transmutação dos valores. Trocar os valores cristãos platônicos
que negam a vida e o ato de viver, prometendo recompensas pós-mortem e inserir
novos valores que valorizem a vida e a tornem plena.
Introdução por Mauro
Araújo Souza.
Apesar de suas
inúmeras interpretações, o objetivo central de Nietzsche ao escrever O
Anticristo era a crítica aos valores estabelecidos em dois mil anos de
cristianismo e propor a inversão e criação de novos valores...
O título desta obra,
tão polêmico, se deve ao fato de Nietzsche combater o idealismo metafísico
platônico que transformou este mundo em algo inferior e ilusório em nome da
“verdade” de um mundo ideal. Platão era adepto a teoria de que tudo o que
existe aqui no mundo real, em nosso mundo, não passa de uma projeção
materializada do mundo das ideias que está bem além da nossa percepção
sensitiva. Nietzsche chamava o cristianismo de um platonismo para o povo e isto
por si explica o título.
Sua obra luta contra
a metafísica, contra o dualismo proporcionado entre corpo e alma, terra e céu e
assim por diante. É necessário se esclarecer que há uma grande diferença para o
filosofo entre Cristo e o cristianismo. Seu livro se posiciona contra o
cristianismo e suas interpretações da vida de Cristo, que para ela não passou
de um romântico que pretendia mudar o mundo com seu bom coração.
Para Nietzsche não
existe o fato, para ele o que existem são interpretações forjadas pelas forças
expressas em vontade de potência [1]. Por isso ele
proclama que o cristianismo não é a única interpretação do mundo, há outras.
Para se entender alguma coisa há necessidade de não se fechar em apenas uma
perspectiva, como a cristã, que vem dominando o Ocidente por milênios.
O filósofo propõe o
surgimento de um novo tipo humano, o “além-homem”, capaz e conviver com suas
limitações e superações. E Nietzsche vem indicar esses valores novos através do
Anticristo, diante de um mundo sem necessidade de Deus para criá-lo, guiá-lo ou
destruí-lo.
O que o autor mais
nega no cristianismo é o seu favorecimento da vida além-túmulo, em detrimento
desta própria. Nietzsche prega que a vida deve ser entendida a partir da
própria vida, sem o sentimento de culpa da moral cristã. O pecado não existe e
se não há pecado não existe a necessidade de salvação. O ser humano sentiu a
necessidade da criação de um Deus para preencher o seu próprio vazio
existencial e o criou negando sua própria vida terrena.
Auguste Comte que com
seu positivismo criticou a religião e todo o atraso da humanidade decorrente
desta, acabou por transformar sua visão cientificista em uma outra religião, o
“ratiocentrismo” (a razão como centro). Nietzsche não opta nem pela
metafísica-religiosa nem pela ciência como religião. Nem fé, nem razão: sem
dualismos. Tudo é apenas um fluxo de forças e a razão é apenas um acaso, como
acaso são todas as outras coisas.
Isso soa como absurdo
para os cristãos, para eles o mundo não é somente esse absurdo monstro de
forças que nos leva ao acaso. Precisa haver um Deus, há de ter um Bem, um
julgamento e uma vida eterna sem sofrimentos. Para Nietzsche não há nem céu nem
inferno, há somente a existência.
O Anticristo prega que, já é
hora de a vida na Terra ser valorizada. Já que as matrizes socráticas e as
fundamentações platônicas tornaram o mundo concreto um fardo muito pesado. O
mundo foi substituído por uma fábula e a vida tornou-se algo que cansa os
homens.
Entretanto, a crítica
maior do livro não é feita a Sócrates, Platão ou Santo Agostinho que
cristianizou o segundo, mas ao apóstolo Paulo que já trazia ideias platônicas
em sua formulação do cristianismo.
O cristianismo
ordenou, direta ou indiretamente, todas as mentes no Ocidente, então somente um
anticristo para descristianizar o mesmo Ocidente. É assim que Nietzsche se vê.
Ele não se contenta somente com a inversão dos valores, ele parte também para a
criação de novos valores.
O que é o
cristianismo? É uma religião que nega o ato de viver, corrompe os instintos
humanos, impede a felicidade. E o papel do anticristo é denunciar essa corrosão
da alma como contrária a natureza. O que é Deus para Nietzsche? É a própria
contradição da vida, negando-a.
Toda a tensão do
autor é voltada contra a Igreja cristã e não contra Jesus Cristo. Cristo, como
já foi dito antes, foi um romântico que para Nietzsche foi o único cristão que
já existiu, todo o resto depois dele é montagem. Tanto que o filósofo cita “o
evangelho morreu na cruz”.
Quem o filosofo
combate e denomina como fundador da Igreja Cristã é Paulo, o apóstolo. Foi ele
quem unindo a tradição judaica com a helênica, transformou o cristianismo no
“platonismo para o povo”. Cristo não tinha a intenção de criar uma igreja
institucional, tanto que morreu por isso, mas Paulo tinha e a
institucionalizou. Paulo também foi o responsável por criar essa visão de Deus
que conhecemos, que é totalmente diferente da pregada por Jesus. Paulo, para
Nietzsche foi o manipulador da herança de Cristo
Paulo também foi o
inventor do além no cristianismo, antes o Reino de Deus era considerado um
estado de espírito, agora passara a ser algo pós-morte, outra realidade. Paulo
usava da lógica dos Fariseus, que era tudo o que Cristo combatia e por isso foi
crucificado. O sacerdote tornou-se tirânico, tendo ao mesmo tempo o poder de um
rabino e de um soldado romano. Enfim, o cristianismo se institucionalizou, com
dogmas e uma casta sacerdotal.
Como golpe de
misericórdia, Paulo criou o juízo final implantando o medo à vida terrena. O
dualismo platônico estava efetivado. Transformou Jesus no Salvador da
humanidade e culpou a vida odiando-a. Todo cristão tornou-se um ressentido, auto
classificados como “os eleitos”, os “justos”, etc.
Nietzsche entende o
cristianismo como uma automutilação e somente alguém muito carente de amor
poderia ter criado um Deus de puro amor.
Por um período,
Nietzsche chegou a imaginar que o cristianismo estaria perto de uma derrota:
durante o Renascimento e a Reforma religiosa, mas decepcionou-se a ver que
Lutero somente fortaleceu o cristianismo.
Nietzsche é contra
todas as formas e cristianismo, seja ela católica ou protestante, por isso sua
obra é tão atual. Pois a moral do ressentimento e da culpa estão presentes no
mundo cristão. E são muitos que seguem como “rebanhos” a seu pastor, a seu
sacerdote, que falam em nome de Cristo, que Nietzsche lembra, levou com sigo o
verdadeiro Evangelho.
Toda luta do autor é
contra a metafísica platônica e sua popularização através do cristianismo.
Nessa luta sua única arma é seu projeto de uma transvalorização dos valores.
Sites:
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/politica/platao3.htm acesso
realizado em 19/11/2011
http://forum.consciencia.org/index.php?topic=520.0
acesso realizado em 19/11/2011
Bibliografia:
NIETZSCHE; Friedrich:
“O Anticristo”. São Paulo-SP, ed Martin Claret, 2006
[1]A vontade de
potência, é a vontade de expandir-se, tornar-se mais, crescer, desenvolver-se,
ser mais: “a própria vida é vontade de potência.
Mama meu ganso
ResponderExcluirAnônimo né Leandro
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