Ética
e Religião.
A palavra ética é descrita no dicionário
como: “parte da filosofia que estuda os deveres do homem para com Deus e a
sociedade; ciência da moral.” E o ético como: “relativo aos costumes,
moral”.(...)
Ética nada mais é do que um padrão de
normas que devem ser seguidas por todas as pessoas que desejam conviver em
sociedade. Muitas vezes essas normas adquirem caráter de lei por meio de sua
institucionalização, outras vezes é apenas respeitada por meio de um pacto
mútuo não institucionalizado entre as pessoas de uma mesma localidade, buscando
assim uma melhor convivência coletiva.
Em geral as religiões não fazem distinção
entre o plano ético e o plano religioso. Muitas vezes os costumes e as regras
já usadas dentro da tribo são incorporadas dentro da religião que ali surgiu.
Sendo essas práticas tão religiosas quanto à própria oração e os sacrifícios.
A religião surgiu quase que como apoio a
ética e a disciplina dentro das tradições das antigas civilizações e tribos.
Sem um meio legal punitivo, para repreender aqueles que de alguma forma
prejudicavam algo ao alguém dentro dos grupos, era necessário apelar a forças
divinas que onipresentes, onipotentes e oniscientes poderiam castigar o
infrator.
Une-se assim ética e religião em
praticamente todas as religiões, para poder desenvolver uma sociedade melhor
para se viver para todos os fiéis, que fazendo o bem serão recompensados e
fazendo o mal serão castigados. Muitas vezes desenvolvem-se até modos como o
fiel deve viver, se vestir e se portar diante de outras pessoas.
Segundo afirma Jostein Gaarder sobre o
assunto “Não há distinção entre ética e religião. A noção do ser humano como
uma criação divina implica que ele é responsável perante Deus por tudo o que
faz....”.
Para os hinduístas temos o costume
correto, onde segundo eles o ato de fazer é mais importante que o ato de adorar
ou acreditar. O fato de agir corretamente é de extrema importância dentro do hinduísmo,
a maioria dos indianos acredita na força do darma
que é uma espécie de lei ou ética comum, o que significa que cada casta tem
suas obrigações e afazeres respectivos que devem ser respeitados e cumpridos. A
boa moral consiste em adotar os preceitos e deveres de sua própria casta.
Buda para os budistas é um exemplo de
ética que deve ser seguido, a compaixão e o amor são centrais em sua filosofia.
As ações, os sentimentos e o afeto são de extrema importância, pois, a caridade
que fazemos não afeta apenas os outros, mas contribui para enobrecer nosso
próprio caráter uma vez que no budismo tudo o que fazemos acaba retornando para
nós.
O budismo tem também cinco mandamentos de
conduta para a vida diária que são sobretudo éticos para uma melhor relação
entre as pessoas: 1. não fazer mal a nenhuma criatura viva. 2.não tomar aquilo
que não lhe foi dado (não roubar). 3.não se comportar de modo irresponsável nos
prazeres sexuais. 4.não falar falsidades. 5.não se entorpecer com álcool ou
drogas. Sem contar algumas regras mais estritas que dizem respeito à ostentação.
Uma curiosidade nessas cinco regras de
conduta é o fato de o budismo não reconhecer nenhum ser superior capaz de dar
ordens ou castigar a humanidade caso esses mandamentos sejam desobedecidos.
Essas regras não são fundamentadas através da ordem explicita de uma entidade
divina que deseja sua realização, mas são formuladas de maneira que o fiel deve
por conta própria tentar de domar, e assim tentar coloca-las em prática.
Dentre os Dez Mandamentos recebidos no
monte Sinai por Moisés, alguns se dedicam a religião e outros a ética, como por
exemplo, não matarás, não roubarás, respeitará pai e mãe, não desejarás a
mulher do próximo, não levantará falso testemunho são todos referentes a ética
e o modo de conviver em grupo sem que haja desentendimentos dentro do mesmo.
Há ainda dentro do judaísmo o Talmud,
segundo os judeus Moisés não recebeu apenas no monte Sinais as leis escritas
nas tábuas dos dez mandamentos, mas também a “lei falada” que não deveria ser
escrita. Mas com o tempo com o medo de que se perdesse essa tradição oral, os
judeus resolveram registra-la em escrito, surgindo assim o Talmud, um livro de
leis, regras, preceitos morais, comentários e opiniões legais. Este não se
tornou apenas um livro de ensinamentos, mas sim o texto pelos quais os rabinos
orientam de forma concreta seus fiéis.
No judaísmo não há uma distinção nítida
entre a parte ética e a parte religiosa da doutrina. Para os judeus tudo
pertence à lei de Deus. Existem 248 ordens afirmativas e 365 proibições,
totalizando na fé judaica 613 mandamentos. Além desses inúmeros mandamentos há
ainda a força da tradição e dos costumes que em muitos casos por sua força
sobre as pessoas assemelha-se a uma lei. Em destaque na ética judaica temos a
generosidade, a hospitalidade, a boa vontade para ajudar, a honestidade e o
respeito pelos pais. Sendo o princípio fundamental “Amarás o teu próximo como a
ti mesmo” (levítico 18,18).
Dentro do cristianismo temos a ideia da
posição de destaque do ser humano sobre as outras criações de Deus, isso porque
ele foi criado a sua imagem e semelhança. Diz-se que Deus criou o homem por
amor, a fim de compartilhar o mundo com ele, sendo assim é dever do homem agir
segundo o desejo de seu criador. Entretanto foi dado ao homem o dom do
livre-arbítrio, onde ele mesmo deve distinguir sobre o que é certo ou errado,
sendo o ser humano responsável por suas ações. Esse dom pode levar o homem a ir
contra a vontade de Deus e esse feito é chamado de pecado.
O pecado é muito mais do que apenas fazer
algo errado, através do pecado podemos nos distanciar de Deus. E esse desvio se
dá muitas vezes pelos desvios de ética realizados ou até mesmo pensados e não
praticados pelos fiéis. Ainda segundo o cristianismo o mal existe de diversas
formas, sendo elas humanas ou sobre-humanas (o diabo) sendo necessário que cada
pessoa o combata internamente em seu coração, seguindo os mandamentos de Deus.
Os cristãos interpretam o sermão da
montanha de diversas formas, mas relativamente a ética existe a chamada regra
de ouro que diz: “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam,
fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas”(Matheus 7,12), tendo o
amor como principal meio para se chegar a paz Jesus também disse : “Amarás o
teu próximo como a ti mesmo” (Matheus 22,39) sendo esse o mandamento chave da
caridade.
Os muçulmanos dentre as suas cinco
obrigações religiosas (os cinco pilares), há o que obriga a doação de esmolas
para os mais necessitados, a caridade. Essa taxa deve ser retirada dos ricos e
doada aos pobres, além de ser usada na libertação de escravos ou na ajuda aos
viajantes. No islã não existe a distinção entre a religião e a política, muito
menos entre fé e moral. Todas as obrigações dos homens estão estabelecidas no xaria
à lei sagrada muçulmana. Ela mostra o caminho certo, a conduta correta que foi
ensinada ao homem por Deus e por esse motivo deve ser respeitada.
O alcorão apresenta-se muito mais do que
apenas um livro religioso. Ele é também um livro de leis contendo instruções
fixas e rígidas sobre o governo da sociedade, a economia, o casamento, amoral,
o status da mulher etc.
Os muçulmanos também usam como orientação
ética o estudo da suna, que são os relatos da vida de Maomé e alguns califas
que o sucederam. Para tal utilizam-se da técnica da analogia, que faz uma análise
da similaridade de um acontecimento presente com um fato vivido por Maomé, ou
utilizam-se do princípio do consenso, onde segundo se acredita que os fiéis
nunca poderiam concordar coletivamente sobre um fato se ele estivesse errado.
Ou seja, uma decisão tomada em conjunto pelo povo muçulmano é uma decisão certa
e pode ser vista como lei pelos seus representantes.
Pregadores religiosos iniciavam seus
debates tratando de assuntos de natureza ética de seu tempo. Nas sociedades
onde existiam diversas religiões existiam conflitos para o firmamento de uma
determinada visão de ética sobre outra.
Os babilônicos com o código de Hamurabi
foram os primeiros a estabelecer um conjunto de leis escritas da história, esse
código foi baseado nas tradições sumerianas de reciprocidade.
Os romanos também fundamentaram regras
únicas e legais que deveriam servir a todos os povos independentemente de sua
religião. Surgiu assim o direito romano, que tinha como base dar direitos
iguais para as pessoas independentemente de sua religião.
As palavras ética e moral, geralmente são
usadas como sinônimos, mas na verdade tem significados bastante distintos.
Segundo Gaarder a moral se relaciona a ação enquanto a ética é uma espécie de
teoria dessa ação. Sendo esses conceitos quase que como teoria (ética) e
prática (moral).
Todas as religiões têm uma ética normativa
que busca nos mostrar sobre o que é certo e o que é errado para aquela
determinada crença. Por exemplo; os Dez Mandamentos são uma ética normativa,
onde segundo essa norma ética toda a sociedade a sua volta tem o dever de
segui-la para um melhor relacionamento mútuo entre os fiéis.
Essa ética é colocada em prática por meio
do cotidiano do homem, caso em algum momento ele faça alguma coisa que seja de
certo modo errada para sua religião e para os valores desta, ele cometeu um
pecado. Caso ninguém tenha visto esse fato e ele se livre da repreensão da
sociedade, entra em ação a sua própria consciência que o repreenderá. E ao fim
da vida, em algumas crenças ele será julgado e condenado por forças divinas, ou
em outras reencarnará em uma casta mais baixa que a atual.
Por fim chegamos a conclusão de que a
ética é de fato muito presente no cotidiano das religiões. A religião tem como
um dos pilares repreender o homem que causa algum mal a seu semelhante, para
diversas crenças os homens devem conviver em harmonia e para tal estabelece-se
regras de conduta e convivência para um relacionamento melhor e mais justo para
todos os seres humanos.
BIBLIOGRAFIA:
GAARDER;Jostein. HELLERN;Victor.
NOTAKER;Henry: “O livro das religiões” São Paulo Companhia da
letras 2005.
BOWKER; John: “O
livro de ouro das religiões” Rio de Janeiro Ediouro 2004.
obrigado, seu texto muito ajudou muito! :D
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