quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ética e Religião.


Ética e Religião.
A palavra ética é descrita no dicionário como: “parte da filosofia que estuda os deveres do homem para com Deus e a sociedade; ciência da moral.” E o ético como: “relativo aos costumes, moral”.(...)
Ética nada mais é do que um padrão de normas que devem ser seguidas por todas as pessoas que desejam conviver em sociedade. Muitas vezes essas normas adquirem caráter de lei por meio de sua institucionalização, outras vezes é apenas respeitada por meio de um pacto mútuo não institucionalizado entre as pessoas de uma mesma localidade, buscando assim uma melhor convivência coletiva.
Em geral as religiões não fazem distinção entre o plano ético e o plano religioso. Muitas vezes os costumes e as regras já usadas dentro da tribo são incorporadas dentro da religião que ali surgiu. Sendo essas práticas tão religiosas quanto à própria oração e os sacrifícios.
A religião surgiu quase que como apoio a ética e a disciplina dentro das tradições das antigas civilizações e tribos. Sem um meio legal punitivo, para repreender aqueles que de alguma forma prejudicavam algo ao alguém dentro dos grupos, era necessário apelar a forças divinas que onipresentes, onipotentes e oniscientes poderiam castigar o infrator.
Une-se assim ética e religião em praticamente todas as religiões, para poder desenvolver uma sociedade melhor para se viver para todos os fiéis, que fazendo o bem serão recompensados e fazendo o mal serão castigados. Muitas vezes desenvolvem-se até modos como o fiel deve viver, se vestir e se portar diante de outras pessoas.
Segundo afirma Jostein Gaarder sobre o assunto “Não há distinção entre ética e religião. A noção do ser humano como uma criação divina implica que ele é responsável perante Deus por tudo o que faz....”.
Para os hinduístas temos o costume correto, onde segundo eles o ato de fazer é mais importante que o ato de adorar ou acreditar. O fato de agir corretamente é de extrema importância dentro do hinduísmo, a maioria dos indianos acredita na força do darma que é uma espécie de lei ou ética comum, o que significa que cada casta tem suas obrigações e afazeres respectivos que devem ser respeitados e cumpridos. A boa moral consiste em adotar os preceitos e deveres de sua própria casta.
Buda para os budistas é um exemplo de ética que deve ser seguido, a compaixão e o amor são centrais em sua filosofia. As ações, os sentimentos e o afeto são de extrema importância, pois, a caridade que fazemos não afeta apenas os outros, mas contribui para enobrecer nosso próprio caráter uma vez que no budismo tudo o que fazemos acaba retornando para nós.
O budismo tem também cinco mandamentos de conduta para a vida diária que são sobretudo éticos para uma melhor relação entre as pessoas: 1. não fazer mal a nenhuma criatura viva. 2.não tomar aquilo que não lhe foi dado (não roubar). 3.não se comportar de modo irresponsável nos prazeres sexuais. 4.não falar falsidades. 5.não se entorpecer com álcool ou drogas. Sem contar algumas regras mais estritas que dizem respeito à ostentação.
Uma curiosidade nessas cinco regras de conduta é o fato de o budismo não reconhecer nenhum ser superior capaz de dar ordens ou castigar a humanidade caso esses mandamentos sejam desobedecidos. Essas regras não são fundamentadas através da ordem explicita de uma entidade divina que deseja sua realização, mas são formuladas de maneira que o fiel deve por conta própria tentar de domar, e assim tentar coloca-las em prática.
Dentre os Dez Mandamentos recebidos no monte Sinai por Moisés, alguns se dedicam a religião e outros a ética, como por exemplo, não matarás, não roubarás, respeitará pai e mãe, não desejarás a mulher do próximo, não levantará falso testemunho são todos referentes a ética e o modo de conviver em grupo sem que haja desentendimentos dentro do mesmo.
Há ainda dentro do judaísmo o Talmud, segundo os judeus Moisés não recebeu apenas no monte Sinais as leis escritas nas tábuas dos dez mandamentos, mas também a “lei falada” que não deveria ser escrita. Mas com o tempo com o medo de que se perdesse essa tradição oral, os judeus resolveram registra-la em escrito, surgindo assim o Talmud, um livro de leis, regras, preceitos morais, comentários e opiniões legais. Este não se tornou apenas um livro de ensinamentos, mas sim o texto pelos quais os rabinos orientam de forma concreta seus fiéis.
No judaísmo não há uma distinção nítida entre a parte ética e a parte religiosa da doutrina. Para os judeus tudo pertence à lei de Deus. Existem 248 ordens afirmativas e 365 proibições, totalizando na fé judaica 613 mandamentos. Além desses inúmeros mandamentos há ainda a força da tradição e dos costumes que em muitos casos por sua força sobre as pessoas assemelha-se a uma lei. Em destaque na ética judaica temos a generosidade, a hospitalidade, a boa vontade para ajudar, a honestidade e o respeito pelos pais. Sendo o princípio fundamental “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (levítico 18,18).
Dentro do cristianismo temos a ideia da posição de destaque do ser humano sobre as outras criações de Deus, isso porque ele foi criado a sua imagem e semelhança. Diz-se que Deus criou o homem por amor, a fim de compartilhar o mundo com ele, sendo assim é dever do homem agir segundo o desejo de seu criador. Entretanto foi dado ao homem o dom do livre-arbítrio, onde ele mesmo deve distinguir sobre o que é certo ou errado, sendo o ser humano responsável por suas ações. Esse dom pode levar o homem a ir contra a vontade de Deus e esse feito é chamado de pecado.
O pecado é muito mais do que apenas fazer algo errado, através do pecado podemos nos distanciar de Deus. E esse desvio se dá muitas vezes pelos desvios de ética realizados ou até mesmo pensados e não praticados pelos fiéis. Ainda segundo o cristianismo o mal existe de diversas formas, sendo elas humanas ou sobre-humanas (o diabo) sendo necessário que cada pessoa o combata internamente em seu coração, seguindo os mandamentos de Deus.
Os cristãos interpretam o sermão da montanha de diversas formas, mas relativamente a ética existe a chamada regra de ouro que diz: “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas”(Matheus 7,12), tendo o amor como principal meio para se chegar a paz Jesus também disse : “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Matheus 22,39) sendo esse o mandamento chave da caridade.
Os muçulmanos dentre as suas cinco obrigações religiosas (os cinco pilares), há o que obriga a doação de esmolas para os mais necessitados, a caridade. Essa taxa deve ser retirada dos ricos e doada aos pobres, além de ser usada na libertação de escravos ou na ajuda aos viajantes. No islã não existe a distinção entre a religião e a política, muito menos entre fé e moral. Todas as obrigações dos homens estão estabelecidas no xaria à lei sagrada muçulmana. Ela mostra o caminho certo, a conduta correta que foi ensinada ao homem por Deus e por esse motivo deve ser respeitada.
O alcorão apresenta-se muito mais do que apenas um livro religioso. Ele é também um livro de leis contendo instruções fixas e rígidas sobre o governo da sociedade, a economia, o casamento, amoral, o status da mulher etc.
Os muçulmanos também usam como orientação ética o estudo da suna, que são os relatos da vida de Maomé e alguns califas que o sucederam. Para tal utilizam-se da técnica da analogia, que faz uma análise da similaridade de um acontecimento presente com um fato vivido por Maomé, ou utilizam-se do princípio do consenso, onde segundo se acredita que os fiéis nunca poderiam concordar coletivamente sobre um fato se ele estivesse errado. Ou seja, uma decisão tomada em conjunto pelo povo muçulmano é uma decisão certa e pode ser vista como lei pelos seus representantes.
Pregadores religiosos iniciavam seus debates tratando de assuntos de natureza ética de seu tempo. Nas sociedades onde existiam diversas religiões existiam conflitos para o firmamento de uma determinada visão de ética sobre outra.
Os babilônicos com o código de Hamurabi foram os primeiros a estabelecer um conjunto de leis escritas da história, esse código foi baseado nas tradições sumerianas de reciprocidade.
Os romanos também fundamentaram regras únicas e legais que deveriam servir a todos os povos independentemente de sua religião. Surgiu assim o direito romano, que tinha como base dar direitos iguais para as pessoas independentemente de sua religião.
As palavras ética e moral, geralmente são usadas como sinônimos, mas na verdade tem significados bastante distintos. Segundo Gaarder a moral se relaciona a ação enquanto a ética é uma espécie de teoria dessa ação. Sendo esses conceitos quase que como teoria (ética) e prática (moral).
Todas as religiões têm uma ética normativa que busca nos mostrar sobre o que é certo e o que é errado para aquela determinada crença. Por exemplo; os Dez Mandamentos são uma ética normativa, onde segundo essa norma ética toda a sociedade a sua volta tem o dever de segui-la para um melhor relacionamento mútuo entre os fiéis.
Essa ética é colocada em prática por meio do cotidiano do homem, caso em algum momento ele faça alguma coisa que seja de certo modo errada para sua religião e para os valores desta, ele cometeu um pecado. Caso ninguém tenha visto esse fato e ele se livre da repreensão da sociedade, entra em ação a sua própria consciência que o repreenderá. E ao fim da vida, em algumas crenças ele será julgado e condenado por forças divinas, ou em outras reencarnará em uma casta mais baixa que a atual.
Por fim chegamos a conclusão de que a ética é de fato muito presente no cotidiano das religiões. A religião tem como um dos pilares repreender o homem que causa algum mal a seu semelhante, para diversas crenças os homens devem conviver em harmonia e para tal estabelece-se regras de conduta e convivência para um relacionamento melhor e mais justo para todos os seres humanos.
BIBLIOGRAFIA:
GAARDER;Jostein. HELLERN;Victor. NOTAKER;Henry: “O livro das religiões” São Paulo Companhia da letras 2005.
BOWKER; John: “O livro de ouro das religiões” Rio de Janeiro Ediouro 2004.



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